Até hoje só sei que não sei
parecia apenas (ouvia-se falar)
que era uma briga dessas de família
que podem durar alguns minutos
ou ainda podem durar eternidades...
As duas moravam em casas antigas
uma bem do lado da outra
dessas que a porta dá pra calçada
e as paredes são muito altas
ainda mais prum menino que nem eu...
Tia Inês era irmã de meu vô Eusébio
que morreu uns anos antes deu chegar
só sei dele o que os outros contavam
que era barbeiro e bebia muito
e fazia a esposa chorar por seus sonetos...
Eu gostava muito das duas
elas pouco riam e de vez em quando
até riam pra mim um pouco
não sei bem se era por gosto
ou pra melhorar minha cara de triste...
Quando meu pai ia visitar vó Augusta
quase sempre via tia Inês na janela
que pedia pra esperar um pouquinho
ia direto na geladeira da sala
e escolhia um doce pra mim...
Pois eu ali menino sentado na calçada
comendo quase que feliz
um doce que nem lembro mais qual
e que representava mais um ponto
naquela batalha das boas velhinhas...
Pois o tempo foi passando e passando
nem a casas devem existir mais
as pessoas foram indo embora
minha vó e a tia do meu pai
e muita gente mais que veio depois...
Mas preste atenção meu querido leitor
nada nesse mundo morre sem deixar algo
uma lembrança seja a mais tênue que for
no caso daquela briga que havia
existem ainda os meus sorrisos pelos doces...
(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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