sábado, 21 de dezembro de 2019

Poema das Medidas

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Faço questão de não fazer questão alguma
porque minha alma em cacos tenta ressurgir
não exatamente das cinzas que não tenho
mas dos pesadelos disfarçadas em sonhos
É triste saber que tanta coisa já foi embora!
Cabe a nós decidirmos sua real natureza
Os carros andam em desespero lá fora
E os motoristas nem se preocupam com isto...
Faça chuva ou faça sol haverá sol ou chuva
e as andorinhas andarão em grandes bandos
procurando outros pequenos verões mágicos
Eu acabei escolhendo meu desespero sob medida
e mesmo assim acabei não encontrando
o destino é apenas um viciado em imprevistos
quando menos vemos a lâmina já nos feriu...
Num quadro-negro desenhei tantas coisas...
Não sei se era amor ou era paixão o que senti
misturei todos os dois num copo e bebi num só gole
Se gostássemos de amores bem comportados
isso seria apenas um tiro que acertou por acaso
perderia toda a graça de termos um motivo de chorar
Nunca olhe para os lados com prudência
é o perigo que trouxe o tempero para usarmos
Esqueça de ter pena de grandes desastres
a solução mais indicada pode não ser nenhuma...
Aceito de bom grado todas as críticas
assim como peço que me roubem alguns beijos
A rosa-dos-ventos acabou enlouquecendo!
Recusa-se de forma veemente usar cores rosas
de hoje em diante apreciará algum psicodelismo
se este constar o novo catálogo de produtos...
Os sábios passam-se por tolos por simples opção
perderam a paciência com respostas sem perguntas
até o eremita não resistiu e acabou caindo no samba
Socorro! Ando bebendo muito e muito pouco...
Ontem mesmo não sabia de mais nada logo no começo
e mesmo assim quis continuar meu discurso solene...
Eu só me preocupo com as preocupações
e por isso acabei aprendendo muitos idiomas já mortos
poderão servir se um dia me explicar de meus erros
dois aviões é tudo que guardo em minha mala
os alquimistas estão quase chegando 
e mandam pedir desculpas pelo seu atraso programado
Na minha viola violei alguns poucos segredos fúteis
e assim vou caminhando mesmo que parado...
A única medida que conheço é a da loucura...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Eterno Disfarce

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Uso máscara por puro medo, canto para não chorar, não sei em que lugares ando, mas quero um dia chegar. Meus pés doeram tanto, mas eu tinha que estar lá, em busca de um tempo perdido, nem sei se vou me encontrar...
Não olhe para mim, os tristes não devem ser olhados...
Finjo que não lhe vi, não adianta olhar e tudo que escondi, agora me faz delirar, foram apenas versos bonitos, ninguém quis admirar. O meu caixão está pronto, só falta mesmo deitar, deixar que joguem terra por cima, aí vai ser meu lugar...
Esqueça da hora marcada, o encontro não deve acontecer...
A alegria também faz mal, podemos nos acostumar, depois vem um temporal, deixa tudo de pernas para o ar. Por isso me escondo na noite, a escuridão há de me amparar, não quero ser a próxima presa, a caça para se caçar...
Às vezes nos disfarçamos de nós mesmos, é o único recurso...
E eu não cheguei à tempo, era hora de me atrasar, não escutar tantas bobagens que poderiam me matar. Apague a luz, não se esqueça de apagar, mesmo que eu tropece, ainda é o melhor que há...
Todo mundo se esconde, cada um ao seu jeito...
Me leve embora daqui, por favor, estou à implorar, há tanta maldade no mundo, aquilo que não quero olhar. As pontes já caíram, outras irão desabar, não há mais o que fazer, é isso tudo que há...
Um eterno disfarce, é tudo que todos usam...

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Está Ventando Muito

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Feche a janela depressa!
Lá fora está ventando muito...
Você não pode imaginar
quanto medo isso me dá...
Além de papéis rasgados,
de folhas mais que mortas,
de poeira malvada, 
me traz tantas recordações...
Recordações que eu não quero,
desastres que aconteceram, 
sonhos abortados,
amores mais que ingratos...
Eu sei que o vento está fraco,
mas mais fraco do que ele 
assim estou eu aqui sofrendo,
as dores que o frio me traz,
tem marcas que o tempo não leva
por serem pesadas demais...
Talvez a chuva venha junto
pra acabar de vez 
com o meu pouco de alegria,
eu tão-pouco gosto delas,
o céu se encobrirá novamente,
é como um enterro antigo
de um tempo que tudo morreu...
Não posso sair com chuva,
aquele passeio não aconteceu,
o parque não funcionou hoje
e as ruas que gosto tanto
parecem que estão a chorar...
Estou triste, feche logo isso,
a tristeza é rápida feito a luz,
para mim basta o meu fim
que nunca acaba chegando...
O boêmio já está aposentado,
não tem mais forças
para poder se embebedar
e não se importar com mais nada...
Eu agora me importo com tudo,
o meu medo nunca esteve tão grande...
Eu ouço passos no corredor,
cismo que tudo muda de lugar
que nem num filme americano
e isso é muito e muito ruim...
Feche a janela rápido!
A casa pode não cair 
mas é quase assim que parece,
talvez ele passe logo,
mas para mim tudo é tarde demais...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Logo Ali

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Tudo é uma farsa bem montada, com cenário, figurino e personagens bem transados. Nada mais é, é puro teatro. Os nossos enganos aplaudem ardorosamente de pé toda essa farsa. É logo ali o abismo, pode pular de cabeça...
O sol bate no alto de todas as torres, até quando ninguém sabe, não sabia e nem saberá. Esta é a vida, começo de morte. As nossas esperanças saíram correndo assustadas. É logo ali o mar, pode mergulhar bem fundo...
O vento varre folhas para bem longe, seu destino é ali, é lá e é qualquer lugar. O destino é assim mesmo, imprevisível. De repente damos de cara com o inevitável. É logo ali a escuridão, se esconda quietinho nela...
Todo amor é uma empreitada cheia de riscos, desencontros, desilusões que matam. Dele ninguém poderá fugir. Nem os deuses e nem os demônios podem nos salvar. É logo ali o infinito, conte logo as estrelas...
A solidão me acompanhou, me seguirá, vai me acarinhar, essa é sua função, nada mais. Somos sozinhos acompanhados. Eu me acostumo com quase tudo. É logo ali a fogueira, entre direto nela...
Toda razão carece de lógica, de base, de fatos concretos que lhe apoiem. A loucura sempre esteve em alta. Há muitos loucos dentro e também fora das celas. É logo ali a estrada, ande nela até sumir...
A nossa espera é inevitável, desesperadora, irritante, um rude carrasco. Todos os relógios acabam se atrasando. E vamos levando todo esse peso. É logo ali a cela, não se esqueça de apagar a luz...
Vários carnavais já se passaram, morreram, ficaram sob as cinzas das quartas. Tudo o que é bom passa logo. Mas o que é mau pode ficar mais um pouco. É logo ali a felicidade, mas ela passa logo...
Tudo é uma farsa bem fadada, com horário, itinerário e personagens mascarados. Nada mais é, é puro teatro. Os nossos enganos aplaudem ardorosamente de pé toda essa farsa. É logo ali o abismo, pode pular de cabeça...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria Carlinhos de Almeida).

Verbalidade Insana

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Até meus dentes caírem
até as correntes gemerem
até velhas naus partirem
e os que eram não serem

Até o bobo dançar
até aquela ave subir
até o cadáver falar
e a dúvida não existir

Até ter folia todo ano
até ter enterro todo dia
até não ser mais humano
e eu não sei quando iria

Até meus cabelos crescerem
até meus pensamentos fugirem
até todos os meus ossos doerem
e as minhas tentativas desistirem

Até todo o rio parar
até toda bomba explodir
até eu beber todo o mar
e eu ser feliz como um faquir

Até o sangue deixar de correr
até a mente ficar mais demente
até todo o meu medo morrer
e brote por fim a semente

Até os velhos cantarem
até o homem virar um deus
até os povos lutarem
e eu não dar mais adeus...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

A Loucura Segundo A Loucura

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faltam exatamente agora
em algum momento passado
alguns observações catatônicas
sobre onde andarão as nuvens...
solitários em bandos vamos...
não há outras soluções imediatas
para tortuosos labirintos
do que pular tão altas janelas...
eu conservo um mundo dentro de mim...
tão grande como pequenas formigas
e também constelações inteiras...
já desisti de ter medo de pragas
pois a boca dos homens é tão vã...
fico em total silêncio aos berros
enquanto me entedio até o óbito...
parei de dormir tem anos
e isso pode ser bom ou muito mal
de acordo com a vontade do freguês...
alto lá! alto lá! alto lá!
identifique-se prontamente
não ser máquina é bem perigoso...
a semelhança é a palavra de ordem
e a tolice o maior dos predicados...
só e muito bem acompanhado
é o que me sinto nesse exato momento...
o morto já morreu faz tempo
e o seu testemunha também foi atrás...
de galope acaba indo tudo...
eu me espelho em certos detalhes
até que o rei possa cair do cavalo...
em caso de incêndio pule no fogo...
se tiver razão de alguma coisa esconda...
minhas tatuagens são bem vivas
e as fragrâncias que sinto reviveram...
classifico os anjos em duas classes:
os que nunca foram e os que nunca serão
assim fica bem mais práticos
organizar os mais seletos funerais...
os camelos são animais tão alegres
e os vulcões costumam meditar
sobre a própria inconstância da constância...
tudo já foi embora e eu nem vi...
preciso de uma lâmpada para clarear a outra...
eu mesmo acabei brigando comigo
e faz alguns séculos que não nos falamos...

(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Não Amanhece Mais Em Mim

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Não amanhece mais em mim...
as rosas estão mortas,
os girassóis desnorteados,
os rios perderam sua pressa...

Não amanhece mais em mim...
os sonhos de vidro quebraram,
as palavras contidas estão,
tudo perdeu sua graça...

Não amanhece mais em mim...
os ventos pararam de soprar,
o riso se recolheu tão triste,
não quero contar as estrelas...

Não amanhece mais em mim...
a teimosia já se conteve,
a chama de velha se extinguiu,
agora nada mais importa...

Não amanhece mais em mim...
um sono me atinge aos poucos,
não sei se cansaço ou morte,
não posso mais escolher...

Não amanhece mais em mim...
talvez nunca tenha amanhecido
e eu estava só enganado...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Dias Como Estes

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Dias como estes...
Em que a saudade chama a tristeza
para lhe acompanhar
em minha visita diária...
Em que a maldade grita bem alto
para acordar os meninos
e lhes fazer chorar...

Dias como estes...
Em que absurdo visita todos os lares
oferecendo aos homens
sua promoção da semana...
Em que o medo aparece na rede
respondendo às perguntas
que não foram perguntadas...

Dias como estes...
Em que aquele meu sossego
se transforma de súbito
nas preocupações mais básicas...
Em que as feras estão soltas
mas não nos fazem mal 
porque somos piores que elas...

Dias como estes...
Em que o dinheiro vale a alma
e todas podem ser compradas
é só se saber qual o preço...
Em que somos o menos do menos
porque queremos em vão
ser apenas o mais do mais...

Dias como estes...
Em que as assombrações vagam
em plena luz do dia atentas
esperando sua próxima vítima...
Em que o sol se esconde nas nuvens
mostrando as tempestades vivas
que estão em todos nós...

Dias como estes...
Cinzas mesmo sem o serem...

(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 46

Resultado de imagem para menino maltrapilho
a grande feira está preparada
para todos os dias
nela a mercadoria - somos nós...
não há como escapar desta sina
tudo vai ocorrer do jeito que é
não gritemos - não há piedade...
alguns abaixam a cabeça
outros se debatem forçosamente
mas sempre o resultado - é o mesmo...
o que nos faz escapar?
nossa sina já está marcada?
o perigo é que nos salva - são os sonhos...

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nem eu mesmo sei o que penso
há um carrossel em minha mente
nem eu mesmo sei onde vou
há um girassol em minha alma
tampouco sei o que eu quero
são tantos sonhos ao mesmo tempo
sou carnaval todos os dias
e sou uma tristeza que invade
o meu próprio país
nem eu mesmo sei o que penso
um eterno moinho faz as perguntas
nem eu mesmo sei onde vou
um catavento gira e gira sem parar...

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eu sou o mundo
não insista
sou todas as flechas
atiradas ou não
os desejos todos 
se reuniram
para me fazer
eu bem o sei

eu sou a esfinge
que não se responde
devorar é o de menos
pior é meu riso
as piadas que faço
não são engraçadas
elas apenas mostram
aquilo que não se quer

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silêncio 
nossos sonhos estão dormindo
silêncio 
acordarão mau-humorados
e aí
acabarão brigando conosco
e jurando que irão
embora
silêncio
há muito perigo lá fora
são as verdades 
que nos espreitam
cada rua nos atordoa
e não há mais
como nos socorrermos...

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eu rio de quase tudo
quase tudo me diverte
mesmo quando seja de mim...
depois de passados 
muitos e muitos anos
nos acostumamos com tudo
sobretudo o ridículo...
eu choro por quase tudo
quase tudo me entristece
eu sempre estive assim...
as velhas dores se tornam
velhas amigas até queridas
e as levamos conosco
como parte da bagagem...
nem rio e nem choro
nem choro e nem rio
mas ao mesmo tempo faço...
aqui e agora tudo acontece
mesmo o que não queremos
ou o que não sonhamos
ou o que não fazemos
mas é isso o que acontece...

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um cão sem dono
um vento sem rumo
dias e dias assim
um barco sem vela
uma onda sem mar
e a flor sem jardim
um mundo feroz
um destino triste
história com fim...

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mercadorias expostas em bizarras vitrines
mentiras espalhadas como folhas mortas
e todos andando sem rumo...
semblantes carregados de puro medo
apreensões mais do que rotineiras
com um prédio caindo aos poucos...
guerras dos mais variáveis níveis
esperanças levadas pelas correntezas
como velhos acordes desafinados...
velhos desesperançados nas praças
meninos dormindo pelas calçadas
e nem podemos esconder nossa vergonha...
versos só fazem sentido fazendo chorar
gritos só valem se nos acordar
mas nem tudo funciona desse jeito...

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domingo, 15 de dezembro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 45

estáticos como sempre fomos
mesmo em quaisquer movimentos
evidentes
eu sou aquele que vaga entre nuvens
no ar parado de quem chora sempre
disfarçado
não há areias tão mais suficientes
para divagações sem motivo algum
embriagado
nada que possa ter em minha posse
poderá compensar o que já perdi
pobremente
a música parou e acho que de vez
as fumaças dos carros sufocam agora
mortalmente...

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não sei mais o que canto
mas eu canto
não sei mais o que digo
mas eu digo
como só dizem antigas frases
velhas paredes
e alguns jardins esquecidos
um cheiro de morte 
traz alguns medos
e um pouco de desespero
não sei mais o que canto
mas eu canto
não sei mais o que digo
mas eu digo
não sei mais o que faço
mas eu vivo...

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tenho muitas dúvidas
mas algumas certezas falam bem mais...
pulei de pára-quedas na vida
e assim viveremos até qualquer tempo...
as pessoas complicam tudo
mesmo aquilo que é incomplicável...
as guerras furam a fila das prioridades
e seu resultado é apenas um só...
num arriscado malabarismo tentemos
mesmo que o preço disso seja alto...
há bem pouco o que falar
mas muito mais o que se fazer...
há figuras espalhadas em muitos cantos...
mas hei de confessar feito um ladrão
que largaria tudo pelo brilho de teus olhos...

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o sangue das manhãs acabou
na pressa dos homens
e suas tristes máquinas
o ânimo de sonhar acabou
com a crueldade reinante
e com aquilo que não tivemos
mas a esperança essa teimosa
ainda anda por aí
escolhendo novas vítimas

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que a tempestade não dure tanto tempo
que nem o tempo queira assumir
o tanto que ocorreu neste intervalo
que os sonhos não estejam cansados
com tanto desengano que bateu na porta
que para a festa ainda tenha motivos
mesmo que estes sejam apenas costume
eu sinto a pressão das teclas em minha alma
e os versos acabam forçando seu próprio parto

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no brilho da luz
aprendi a dançar
no silêncio d'alma
me defendi
fui queimado
em fogueiras
por algo 
que eu nunca fiz
gire o mundo
quantas vezes
assim forem
e eu tranquilo
mostrarei onde estão
todos os abismos

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morremos certamente
mas facilmente renascemos
quase sempre
renascemos certamente
mas facilmente morremos
não me preocupo com tal
isso já aconteceu 
alguns milhares de vezes
cada dia isso se repete
o que me amedronta
mais do que mais que tudo
é saber que tudo era apenas
uma piada engraçada
desprovida de qualquer graça...

sábado, 14 de dezembro de 2019

Mudança

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Tudo muda,
deus-acuda,
me ajuda, 
São Neruda!

Eu mesmo mudei e nem sei
em qual bicho me transformarei,
agora são poucas as opções,
os homens não têm mais corações...

Tudo muda,
deus-acuda,
me ajuda
São Neruda!

O vinho está amargo demais
e as saudades ficaram pra trás,
agora tenho que ter cuidado
pra não apertar o botão errado...

Tudo muda,
deus-acuda,
me ajuda
São Neruda!

Agora não sei necessariamente
se ainda estou são ou se doente,
se o amor é uma simples balela
ou se meu amor é por ela...

Tudo muda,
deus-acuda,
me ajuda
São Neruda!

Espinhos ferem e sempre doem,
sonhos a si mesmas destroem,
eu ainda sou o menino que era
e que quis salvar a primavera...

Tudo muda,
deus-acuda,
me ajuda
São Neruda!

Tudo muda, muda até a mudança,
vira velho quem já foi um dia criança,
o pobre enrica e o rico empobrece,
tem coisa que sobe e tem que desce...

Tudo muda,
deus-acuda,
me ajuda
São Neruda!...

Chão

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Chão donde vim,
Chão pr'onde vou,
Tudo tem fim,
Mal começou...

Chão tantas vezes pisado,
Cuspido e tão maltratado,
Chão ferido, chão sangrado,
Dono do certo e do errado...

Chão donde deito,
Chão donde levanto,
Não começou o eito,
Mas sim o espanto...

Chão tantas vezes trilhado,
Querido e tão desejado,
Chão temido, chão cavado,
Onde estarei enterrado...

Chão donde cavo,
Chão donde vou levantar,
Senhor e escravo,
Que pode até matar...

Chão tantas vezes cavado,
Que grita, que fica calado,
Chão réu, chão advogado,
Donde terei um dia voado...

Chão donde vim,
Chão pr'onde vou,
Tudo tem fim,
Mal começou...

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Simplesmente Complicado

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Eu faço uma ideia inexata de quaisquer medidas válidas que porventura houverem por aqui. Danço uma dança da chuva sem resposta. Misturo todos os gostos até que não saiba mais quem é quem. 
Simplesmente complicado...
Não deu certo, deu errado...
Nem mais sei qual o meu lado...
Num grande banquete de discrepâncias faço o prato que me saciará me envenenando. Eu zombo de todas as maiores verdades porque porque as enxergo com defeito de fábrica. Não consigo voar apesar de tantos tombos.
Simplesmente complicado...
Não deu certo, deu errado...
O meu destino é um cara zangado...
As estrelas dormem e esquecem de enfeitar algum céu. O barulho do meu silêncio acaba me incomodando. Eu sou um cara que faz muitas exigências para não ser atendido.
Simplesmente complicado...
Não deu certo, deu errado...
Todas as esperanças vivem no passado...
Mais um pouco e eu me acostumo com os espinhos. Quase sempre sou mais embriagado do que minha embriaguez. Alguns chãos se irritam e deixam os tetos sozinhos.
Simplesmente complicado...
Não deu certo, deu errado...
Não mais dance, fique parado...
Nosso mundo é uma grande procissão de miseráveis. Todos os anseios estão contidos em um grande desperdício de tempo. Alguns choros são reais e outros são apenas de fachada.
Simplesmente complicado...
Não deu certo, deu errado...
E o sonho está para lá de cansado...
Não há mais artifícios suficientes para tais artimanhas. Os jogadores acabam perdendo as cartas que esconderam nas mangas. Às vezes tudo corre bem e isso faz com que tremamos de genuíno medo.
Simplesmente complicado...
Não deu certo, deu errado...
Meu enterro será festejado...
Os antigos riam da modernidade que ainda não tínhamos. A corrupção faz suas compras em lojas de marca. E os novos profetas esqueceram os discursos que iam fazer pelas praças e acabaram repetindo versículos inexistentes.
Simplesmente complicado...
Não deu certo, deu errado...
De tanto me vestir, fiquei pelado...
O sono exagera em sua própria dose e acaba despertando. Meninas e meninos dançam sabás em qualquer novo ritmo. E eu acho tão complicado as coisas que forem as mais simples... 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Ruas Desertas

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Ruas desertas, alma deserta, uma grande multidão em torno, mas eu sem ninguém. Passos aflitos, incertos, dentro de uma escuridão mais escura possível, sem som algum, mesmo os mais preocupantes de um perigo certo.
Assim sou eu, somos todos nós, nesse mundo de eternas ilusões e quase sem gosto, quase sem sal algum.
Manhã fria, manhã quente, o que há para escolher é quase sem escolha, não podemos apontar para direção nenhuma, pois a direção somos nós mesmos. Eu clamo por piedade, mas a firma está fechada para balanço.
As notícias correm pelo mundo afora, mas tudo que começa acaba, sobretudo qualquer uma alegria.
Neste exato momento, choro, aliás, muitos choram por variados motivos. Alguns reais como pedras que pesam por si mesmas, paradas numa imobilidade irritante; outras simples fumaça, que quando vemos, já fugiram.
Eu queria ter algo, alguma coisa que pudesse dizer que é meu, mas até as lembranças somem sem que perceba tal coisa.
A memória das coisas, a memória de tudo já está sepultada em frases secas como em epitáfios que foram escritos por mera formalidade e, quanto menos disserem, melhores são, pois decepções foram feitas para serem disfarçadas, nunca para serem evidenciadas mostrando nosso fracasso.
Todas as músicas são iguais e todos os projetos são a mesma coisa, o começo e o final dolorosos são, só o meio nos distrai.
O que fazer agora? Faltam tangos argentinos para evidenciar alguma dramaticidade mais em conta, falta um palco para que velhas e repetidas tramas sejam encenadas, tudo é tão normal e o que normal pode matar que nem qualquer outro veneno.
Preciso de uma vela acesa sob a luz mais forte, nada é mais malvado que o quase.
Amanhã ou depois de amanhã talvez eu possa pensar que me enganei e que está tudo bem, mas é o hoje que me apunhala pelas costas como um amigo que bebeu comigo e que decidiu me matar por capricho ou por pura banalidade.
Eu sou aquele que perdia o sono enquanto todos dormiam, o que olhava um céu claro em busca de tempestades invisíveis.
Num tempo bem distante, distante sem medidas exatas, no fundo de uma caverna fazia meus vaticínios, em meio a hordas de soldados furiosos encontrei alguma relativa paz, náufrago de uma ilha deserta encontrei certo sentido para acalmar meu desespero.
Enquanto respiro, montanhas tremem e mil castelos acabaram de desmoronar.
Bebo mais café, fumo mais um cigarro, já não me importo de enxugar as lágrimas, já não são mais dignas de preocupação, o costumo faz certas coisas ficarem invisíveis, mesmo que postas em galopante evidência. Minha totalidade ficou de repente nula como num passe de mágica.
O tempo rosna como um cachorro bravo que se soltou de sua corrente, pronto para nos abocanhar.
Ruas desertas, alma deserta, uma grande multidão em torno, mas eu sem ninguém. Passos aflitos, incertos, dentro de uma escuridão mais escura possível, sem som algum, mesmo os mais preocupantes de um perigo certo. Ai, meu Deus! Que falta eu sinto de mim...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Roda do Tempo


Roda do tempo gira e quase me esmaga...
Foi num dia desses em que nem sabia que os sonhos morriam, quando queria brinquedos novos e alegrias tão simples e a inocência transbordava de meus olhos até quase não poder mais...
Os relógios malvados correm atrás de mim...
Os sustos acompanham-me por todos os caminhos que eu vá, espreitam-me em todas as esquinas por onde passo, os pesadelos que Dali teve um dia são apenas experiências bobas, tão primárias, em relação ao medo que sinto e não consigo evitar...
A minha impaciência vem da minha imprecisão...
Por nada saber, nada prever, a minha aflição aumenta copo um copo que enche aos poucos até transbordar, talvez a morte chegue logo ou pegue um trânsito engarrafado e na hora que menos espere venha acabar com o carnaval que não tive, a festa que não comemorei enfim...
Todas as tintas esmaecem e caem das paredes...
Cada um, um alvo; cada objetivo, uma falha; cada previsão, uma brincadeira de mau-gosto; e os rostos vão se tornando velhas caretas cheias de desânimo e não há como socorrer tal coisa, nem hoje e nem nunca...
Não há choro suficientes para tantos funerais...
Os pássaros voaram para bem longe procurando melhores estações, as folhas se atiraram no chão como suicidas, as flores enfartaram em seus galhos sem nenhum socorro, só as pedras permanecem em silencioso luto por tudo o que passou em vão...
Eu tento repetir uma melodia que achei bonita...
Não se trata de nos conformarmos com todo o ar que está à nossa volta, estagnado e com mau cheiro, não se trata de rasgarmos a velha fantasia porque o baile acabou, não se trata de darmos um último grito para acordarmos a nós mesmos, não aceitar tudo pode ser ainda uma última vitória qualquer...
O destino é contra nós ou à nosso favor?
Nem eu sei, nem você sabe, acredito que ninguém tenha tal resposta, mas mesmo assim continuemos caminhando com algum sorriso perdido no rosto, com menos impaciência do que de costume, seremos nós que riremos do ranger da roda do tempo...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Meus Cacos

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Agora não dá mais tempo de rejuntá-los, a cola para isso não foi inventada, a paciência está esgotada desde a última temporada, as chances são mínimas, nenhum cálculo vai me ajudar. 
Eu penso se tudo diferente seria tão bom, se o destino trocasse as cartas que jogou na mesa, pequenas diferenças fazem muita diferença, fato provado e comprovado.
A velhice já chegou em qualquer tempo, o simples fato de chorarmos é a prova suficiente daquilo que afirmamos, é inútil esconder nossos fantasmas, eles virão sempre.
Eu peço apenas uma chance, uma chance apenas, nada mais, mas a vida sofre de surdez crônica, não há recurso algum para milagres caros ou baratos, não quer colocar aparelho para surdez.
Os dias que queria prender entre os dedos, acabam fugindo, vão embora, desconhecem a razão exata de querermos tê-los já que as noites chamam por nós, noites boas ou não.
Doem-me as costas, não dá para me abaixar, juntar todos os sonhos que caíram pelo chão, bolinhas de gude que jogamos à vera, toda comédia tem um quê de tragédia.
Os meus desejos tomaram outros ares, a insignificância e a importância inverteram seus papéis, a confusão dos sentidos tomou ares de normalidade, só eu compreendo meus absurdos.
Um faquir deita numa cama macia, anda passos contados em tranquilas praças de guerra, a procura de pequenas emoções já é o bastante para qualquer taquicardia.
Faz tempo que não vejo o mar, as ondas devem estar na mesma frequência, os seus habitantes intranquilamente vivem, eu já sou um estranho que dá sustos no menino que fui.
Agora não dá mais tempo de rejuntá-los, a metafísica falhou, tenho medo de cortar minhas mãos, todo cuidado agora é pouco, nem eu e nem ninguém tem culpa, os cacos estão espalhados pelo chão...

(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Para V. A.

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Pense num pesadelo acordado
em espectros andando na luz do dia
os pés não cansam na insanidade
e os caminhos sempre são muitos...
Tudo acabou perdendo seu sentido
e todos os venenos perdem seu medo
deitemos por cima de cacos de vidro
ressonando entre roupas sujas...
A pequena casa agora está vazia
e não existem mais homens nem mulheres
só existem os espectros com andrajos
e isso é apenas um caso entre muitos...
Por mais que lamentem as pessoas
que façam suas orações antes do sono
ninguém irá fazer mais do que nada
porque é apenas mais uma brincadeira...
Os calendários estão agora rasgados
os compromissos espalhados pelo chão
apenas um futuro sem futuro lhe espera
um número ou com sorte mais um nome...
O possível e o impossível jogam cartas
e achar graça sem algum sério motivo
ainda é o um prato muito apreciado
não importando se é etílico ou não é...
Projéteis disparados de sujas armas
ou lâminas preparadas para o silêncio
eis o mínimo do mínimo do mínimo
porque o medo agora é um outro...
Virem o rosto para um outro lado
façam de conta que não existe nada
que não está acontecendo coisa alguma
que o alheio não nos interessa nunca...
Os opostos ocupam o mesmo espaço
e uma guerra é travada sem nenhum céu
até que a poeira do esquecimento cubra
tudo e todos e a história fique esquecida...

(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

In Absurdum Número 4

Resultado de imagem para aquário vazio
Faço espirais com a simplicidade dos teatros
e minhas alucinações são mais frequentes
A vida e a morte imitam a loucura sempre
e não há mais gestos que caibam em si...

Haviam muitas fogueiras andando em quando
e agora apagaram-se por conta própria e risco
Tremer de frio é a coisa mais comum do mundo
mas não fazemos mais questão desta questão...

Todos os pássaros desceram do alto dos céus
para escutar minhas histórias com finais tristes
Agora sim, estou pronto para ir ao pelotão
e desejo apenas um cigarro e uma bela gravata...

Dado que estou entretido com ansiosos enigmas
meus divinos passatempo acabaram se esgotando
Conheço demasiados muros e demasiadas cercas
mas um certo requinte acaba implodindo todos eles...

Desnecessários se fazem fazer certos rodeios
que apenas nos tonteiam sem nada mais poder fazer
O meu tino acabou tirando algumas férias definitivas
e agora não sou mais a persona non grata anterior...

Não sei a conta exata de quantos violinos cabem
na sinfonia de alguns pássaros denominados vadios
Podem quebrar algum galho em dias tristes
quando não mais nos existem companhia alguma...

Inúmeras águas já ferveram procurando seus chás
e mais ainda subiram diretamente para os céus
Tudo apesar das agitações está meio que calmo
porque todas ordens dadas são ordem executadas...

domingo, 1 de dezembro de 2019

Cadê O Meu Sal?

Resultado de imagem para copo com água e sal
Cadê o meu sal?
Fugiu da minha boca 
e me deixou sem gosto nenhum...
Com ele foram todos encantos
que tinham sobrado
depois que paguei a conta alta
que não fiz e tive que pagar -
a vida...

Cadê o sentido de tudo?
Ainda pergunto até hoje
porque corri e me cansei tanto...
Os meus ídolos caíram todos
lá do alto e quebraram
não pude juntar seus cacos
porque nunca existiram -
ilusão...

Cadê a cor deste dia?
Pegou o galope das nuvens
como uma pressa que nunca vi...
Vai para longe das cidades
onde os homens são maus
os metais são muito frios
e só lhes interessa - 
a morte,,,

Cadê o som das estrelas?
Fizeram um voto de silêncio
nunca mais falarão coisa alguma...
Não cantarão mais meus versos
não serão mais minhas rimas
posso ir agora embora
porque já perdi -
o encanto...

Cadê o meu sal?
Alguém aí viu?...

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Chama Morta

Resultado de imagem para fogueira apagada
Tentei guardar em vão 
a minha velha chama
enquanto sentado na sala
mudo de programa

Eu vivo em dias estagnados
é tudo apenas um quase morrer
e vou por caminhos errados
tentando apenas sobreviver

Tentei guardar em vão
a minha velha chama
mas não posso nem gritar
porque ninguém me ama

Eu vivo em dias de guerra
guerras aqui dentro, guerras lá fora
e enquanto mais a alma erra,
mais dá vontade de ir embora

Tentei guardar em vão
a minha velha chama
não há porque chorar
acabou-se o drama...

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Alguns Poemetos Sem Nome Número 44

Resultado de imagem para menino sentado no chão
Eu sinto tipo uma agonia
por números que não sei explicar
guardiões implacáveis
de uma certa incompreensão
impregnada de muita lógica
persegue-nos por onde vamos
e quer nos vender sempre
aquela tranquilidade inexistente
o incerto é a certeza
que está olhando para o outro lado
nada tenho à declarar...

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Remexer em determinadas memórias
é o mesmo que desenterrar mortos.
Relembrar de certas tristezas
é o mesmo que multiplicar dores.
Repetir os mais teimosos erros
é como se atirar do alto sem pára-quedas.
Remoer já passadas paixões
é como insistir em caminhos malvados.
Não é necessário ferir-se com espinhos
já basta teimar em reviver alguns sonhos...

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o sinal está fechado
o tempo está fechado
até o sorriso fechou...
em ritmo acelerado
em passo alucinado
nem sei onde vou...
e são tantas
as coisas que 
tento explicar
e ainda não consigo...
por que eu
estou por aqui?

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não posso dançar na chuva
mas posso olha-lá
e assim ir sonhando...
não posso caminhar como antes
mas posso tentar
dar mais alguns passos...
os passos que dei pelo caminho
minha alma acabou gravando...
as ilusões que tive um dia
estão lá no mesmo lugar
esperando que eu as reencontre...
os sorrisos são bem melhores
mas só o choro me serviu 
para que não ficasse mais só...

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a solidão não traz paz
mas traz calma...
o choro não alegra
mas lava a alma...
andemos cientes
que tudo pode acabar
tanto o mal
quanto o bem...

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eu me lembro de quase tudo
(o quase fica por conta da memó
ria)
eu ri e chorei por quase tudo
(o que não aconteceu não importa)
eu desejei muito quase tudo
(paixões mornas não existem)
eu pintei a minha desilusão com cores novas
(a poeira do tempo leva tudo embora)
eu quase não sei de mais nada
(o instante seguinte é um mestre)
eu queria contar as estrelas do céu
(mas meus olhos não conseguem desviar do abismo)...

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o tempo me esqueceu aqui
enquanto
distraidamente 
conversava com meus brinquedos
tudo foi indo embora
e eu não notei
que era apenas mais um só
tudo mudou
agora é tarde
continuo sendo um velho menino
chorando em meio
à sombras malvadas...

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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...