Foi num dia desses em que nem sabia que os sonhos morriam, quando queria brinquedos novos e alegrias tão simples e a inocência transbordava de meus olhos até quase não poder mais...
Os relógios malvados correm atrás de mim...
Os sustos acompanham-me por todos os caminhos que eu vá, espreitam-me em todas as esquinas por onde passo, os pesadelos que Dali teve um dia são apenas experiências bobas, tão primárias, em relação ao medo que sinto e não consigo evitar...
A minha impaciência vem da minha imprecisão...
Por nada saber, nada prever, a minha aflição aumenta copo um copo que enche aos poucos até transbordar, talvez a morte chegue logo ou pegue um trânsito engarrafado e na hora que menos espere venha acabar com o carnaval que não tive, a festa que não comemorei enfim...
Todas as tintas esmaecem e caem das paredes...
Cada um, um alvo; cada objetivo, uma falha; cada previsão, uma brincadeira de mau-gosto; e os rostos vão se tornando velhas caretas cheias de desânimo e não há como socorrer tal coisa, nem hoje e nem nunca...
Não há choro suficientes para tantos funerais...
Os pássaros voaram para bem longe procurando melhores estações, as folhas se atiraram no chão como suicidas, as flores enfartaram em seus galhos sem nenhum socorro, só as pedras permanecem em silencioso luto por tudo o que passou em vão...
Eu tento repetir uma melodia que achei bonita...
Não se trata de nos conformarmos com todo o ar que está à nossa volta, estagnado e com mau cheiro, não se trata de rasgarmos a velha fantasia porque o baile acabou, não se trata de darmos um último grito para acordarmos a nós mesmos, não aceitar tudo pode ser ainda uma última vitória qualquer...
O destino é contra nós ou à nosso favor?
Nem eu sei, nem você sabe, acredito que ninguém tenha tal resposta, mas mesmo assim continuemos caminhando com algum sorriso perdido no rosto, com menos impaciência do que de costume, seremos nós que riremos do ranger da roda do tempo...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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