Até meus dentes caírem
até as correntes gemerem
até velhas naus partirem
e os que eram não serem
Até o bobo dançar
até aquela ave subir
até o cadáver falar
e a dúvida não existir
Até ter folia todo ano
até ter enterro todo dia
até não ser mais humano
e eu não sei quando iria
Até meus cabelos crescerem
até meus pensamentos fugirem
até todos os meus ossos doerem
e as minhas tentativas desistirem
Até todo o rio parar
até toda bomba explodir
até eu beber todo o mar
e eu ser feliz como um faquir
Até o sangue deixar de correr
até a mente ficar mais demente
até todo o meu medo morrer
e brote por fim a semente
Até os velhos cantarem
até o homem virar um deus
até os povos lutarem
e eu não dar mais adeus...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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