Agora não dá mais tempo de rejuntá-los, a cola para isso não foi inventada, a paciência está esgotada desde a última temporada, as chances são mínimas, nenhum cálculo vai me ajudar.
Eu penso se tudo diferente seria tão bom, se o destino trocasse as cartas que jogou na mesa, pequenas diferenças fazem muita diferença, fato provado e comprovado.
A velhice já chegou em qualquer tempo, o simples fato de chorarmos é a prova suficiente daquilo que afirmamos, é inútil esconder nossos fantasmas, eles virão sempre.
Eu peço apenas uma chance, uma chance apenas, nada mais, mas a vida sofre de surdez crônica, não há recurso algum para milagres caros ou baratos, não quer colocar aparelho para surdez.
Os dias que queria prender entre os dedos, acabam fugindo, vão embora, desconhecem a razão exata de querermos tê-los já que as noites chamam por nós, noites boas ou não.
Doem-me as costas, não dá para me abaixar, juntar todos os sonhos que caíram pelo chão, bolinhas de gude que jogamos à vera, toda comédia tem um quê de tragédia.
Os meus desejos tomaram outros ares, a insignificância e a importância inverteram seus papéis, a confusão dos sentidos tomou ares de normalidade, só eu compreendo meus absurdos.
Um faquir deita numa cama macia, anda passos contados em tranquilas praças de guerra, a procura de pequenas emoções já é o bastante para qualquer taquicardia.
Faz tempo que não vejo o mar, as ondas devem estar na mesma frequência, os seus habitantes intranquilamente vivem, eu já sou um estranho que dá sustos no menino que fui.
Agora não dá mais tempo de rejuntá-los, a metafísica falhou, tenho medo de cortar minhas mãos, todo cuidado agora é pouco, nem eu e nem ninguém tem culpa, os cacos estão espalhados pelo chão...
(Extraído do livro "Eu Não Disse Que Era Poeira?" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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