quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Insaneana Brasileira Número 58 - Vila K. K.

Não ter nada e nada ter. À não ser o que viver. E viver da pior forma possível. Viver como se as nuvens fossem pedras. E cada suspiro uma morte esperada ou anunciada. Não use o telefone. Seja usuário. Não use a razão. A razão pode ser perigosa. E a verdade um demônio que nos persegue todo instante. Pensar pode ser uma mania luxuosa. E seu preço é muito alto. São urubus e gaviões que sobrevoam nossas cabeças. Pombas da paz e andorinhas estão em falta no mercado. Todo dia é dia de uma festa medonha. E a estética manca e é feita às avessas. O luxo é o lixo. E Dom João tinha razão. Em plena avenida mostramos nossas bundas. E com elas nossas cicatrizes mais escondidas. É o tema. E é o lema. E um dilema que nos atrai. Assim nascemos. Como quem cai de pára-quedas sem que este abra. Sem vírgulas e sem números. E as coisas mais fáceis são as mais difíceis em cada maldito momento. Não ter nada e nada ver. À não ser o que comer. Sem sombra de dúvida. E enlouquecer por mais de um motivo. Copos vazios em cima do balcão sujo. Onde moscas bailam desesperadamente. E se suicidam nos restos da cachaça. E enlouquecer por mais de um motivo. E rir à toa com olhos vermelhos de pura aflição. Que hajam carpideiras para todos os falidos neurônios. E um gosto doce de sei lá o que. Todas as opções são na verdade uma só. E enlouquecer por mais de um motivo. E as narinas arderem como numa referência nefasta. Tudo conspira para o fim inesperado. Por melhor que este seja. Ou não. Eu quero o mundo. Mas o mundo não me quer. Eis a grande frase dita em sujos muros. Não ter nada e nada ser. À não ser mais um contando na estatística muitas vezes manipulada de jornais baratos. Bons de se embrulharem as sardinhas que caem bem com cerveja bem barata. A barata se encolhe num canto e ganha mais um dia. A nossa se fecha e ganha mais uma hora. Os nossos olhos viram e não viram. Os nossos ouvidos estavam de folga na hora em que os estampidos aconteceram. Não sabemos fazer frases bonitas como artistas famosos. Mas a nossa realidade é mais jiló. Nem sabemos como em verdade somos mas somos em verdade. O que veio e o que sobrou. O que veio e acabou ficando por aqui. Obrigado Senhor por toda a miséria e lascívia imoral que possuímos. Obrigado Senhor por pecarmos sem ao menos sabermos regras sociais. Obrigado Senhor por sermos um arremedo feio de Sua imagem. São bonitos os coleiros que fugiram da gaiola que caiu. E se aproxima o fim de mais um ano inútil e bom. Eu engulo as esperanças como quem espera o pior. Mas nem sempre ele é o que é. A placa ainda está lá. Pelo menos eu acho. Eternidades são tão fáceis de fazer... Os nomes são mais fortes que as espadas. E aparecem mais do que as bandeiras em serenas batalhas. É sangue no chão. E visíveis arrependimentos sem choro. Nem sempre a cor preta é luto. É a nossa moda de não escolher e sim de usar. Cada feio tem o seu modo bonito de ser. Os cabelos embranquecem. E viramos zumbis em doces comemorações. Não valemos nada e por isso que valemos alguma coisa. Alguma coisa e coisa alguma...

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