terça-feira, 6 de maio de 2014

Você Não Me Perguntou...

Você não me perguntou onde estavam os canhões que agora cheiram à morte e ameaçam encobrir aos céus. Eram céus tão azuis como palavras óbvias que saem de nossa boca à cada instante sem que o percebamos. 
Você não me perguntou onde estavam os sonhos agora despedaçados como se fossem rosas violadas. Eram rosas tão vermelhas como a face dos anjos que caíram no mais profundo abismo.
Você não me perguntou qual era a hora que chegou o amor de verdade. Verdade seja dita ele chegou como um ladrão que roubou todo o fôlego e que nos deixou falando palavras sem qualquer razão.
Você não me perguntou onde estava o menino que fugiu da vida como quem cavalga em brancas nuvens. Em brancas nuvens que se escureceram quando veio esse temporal malvado que matou as pipas e assassinou os balões.
Você não me perguntou onde anda a onda que parecia lasciva curva em muitos detalhes tão bons de se olhar. O olhar de inocente pecado que me arrastou durante anos e anos por dentro de páginas amareladas do livro da vida.
Você não me perguntou onde andam tantos mistérios que foram os mais claros que pudemos viver em bons dias. Eram bons dias em que planos de estados com conquistas mais inocentes povoavam nosso imaginário.
Você não me perguntou onde anda a escada solitário que já brincamos com os sustos do sozinho e do infinito. E o infinito tinha meu nome e cabia na minha mão mais pequena ainda.
Você não me perguntou sobre as fileiras enfileiradas em dias de um setembro tão longe e longe que me dá um vazio que dói. E a dor é esse companheira que às vezes incomoda e às vezes não porque o costume já fez a escuridão ser nítido caminho.
Você não me perguntou sobre entradas e bandeiras e sobre as aventuras deste lobo marginal que vive fora do bando por culpa própria e risco. Riscos riscavam o céu em dança cuja coreografia era o próprio corpo e mais nada além dele.
Você não me perguntou onde estava o cântaro cheio de idéias que perseguiam o caminhante e seu caminho e ainda abafava como o céu antes da chuva. Era a chuva a minha inimiga lealmente declarada que povoava de medo as promessas de passeio.
Você não me perguntou quem eu era... Nem o que eu fazia ali naquele momento... Nem quanto tempo tinha para lhe ofertar... Nem se eu era a vida ou a morte... Nem quantos cigarros eu fumava por dia... Ou se era tudo tão cruel para se viver mais... Você não me perguntou.

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