quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tempo Eterno


Eram flores mas não morriam.
E eram frases com virgulas sem propósito.
Eu escuto notícias sem decifrá-las.
E abuso de pontos sem percebê-los.
A música haverá de se repetir.
Mais ainda que jingles da moda.
Vamos passear com os memes.
E atravessar florestas obscuras.
A sensação da morte corre nas veias.
Porque nada é frio como o dia.
Não sei o que comi ontem.
E talvez outra pessoa comeu no meu lugar.
São estas as nossas sentenças.
De bom grado andamos e andamos.
Só há uma pista para vários crimes.
E só uma puta para atender todos.
Cubra sua cabeça e respeite a chuva.
Os pingos tentam voltar e não conseguem.
O rio tem dúvidas mas prossegue.
E versos malfeitos são escritos.
É chique prever o final do mundo.
E mais ainda beber em copos de plástico.
Odeio o politicamente correto.
E velhos desenhos em cartilhas.
Estamos em cores confundidas.
Se é que podemos exibir cores.
É luxo pensar e dizer o que se pensa.
Mas existe Bahia pra qualquer lugar.
No meio da noite ainda acordado.
Com a mesma cara de todos os dias.
Ser feliz é um risco que se corre.
Tradicionalmente inovador.
Com as mangas que dão no quintal.
Num ciclo interminável de se dizer.
No nude e não pude.
Desfilar motivos inteiros e plausíveis.
O último doce virou guerra.
Mas ainda há sóis suficientes em liquidação.
Uma nova fórmula há de ser desejada.
Mas nada ganhou seu quinhão.
Eu tenho nome e todos têm.
Mas em breve serão somente números.
O óbvio vem aí e nós corremos.
As desculpas estão lá na gaveta.
E eu trouxe o meu almoço de casa.
Não ria desse pobre palhaço.
Nem chame a atenção do mágico.
Eu cerquei o circo com um círculo.
E catei todos os papéis do chão.
Não há vestígios de tristeza.
Nem a leveza que envolve pesados pesos.
Os passos nunca foram vacilantes.
Foram sempre etílicos e nada mais.
Muda-se a letra e muda-se a sentença.
Nunca quis fazer o poema de outrem.
E pra falar a verdade nem os meus.
É um porto que o peito quer.
E os pés teimarão até pararem.
Não peçam aos leões boas notícias.
Nem falem ao telefone ao mesmo tempo.
Os séculos passam rápido.
Mas os segundos claudicam muito.
Há várias e novas cirandas.
E projetos caindo do papel.
Francamente por que tanta franqueza?
É só boas-vindas e chega.
O sono também é nosso inimigo.
Só somos quem não somos.
Nosso paladar está esgotado.
E minha paciência também.
Só tenho com dízimas periódicas.
A dançarina não sabe dançar.
E as carpideiras tiveram ataques de riso.
Guarde os ossos dos invertebrados.
Há fantasmas pra serem guardados.
Eram flores mas se mexiam.
Um vento bom às vezes soprado.
Eram os sonhos que me nasciam.
Mas talvez fosse no tempo errado.
Narciso quebrou o espelho.
É o máximo que aconselho.
O tempo é grande seu fedelho.

(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

O Teatro de Pablo 3


O primeiro amor.
O primeiro toque.
O primeiro choque.
O melhor amigo.
Eu deitei contigo.
No rádio o rock.
E uma bela cortina.
Quantas palmas.
No fundo da alma.
Quando termina.
Eu pintei o rosto.
Eu senti o gosto.
Eu virei o gato.
Era tão salgado.
Sem certo ou errado.
Foi um desacato.
Mais que o vento.
O meu alento.
Fogo no mato.
O primeiro beijo.
O primeiro desejo.
O primeiro ensejo.
É o começo.
Do nada e o tudo.
É o arremesso.
Com pés de veludo.
É o mano.
É o ano.
É o pano.
Que cai.
O que é humano.
Se esvai.
É a família.
É tudo que brilha.
Mãe. Filho. Pai.
É o rádio de pilha.
É o meu haicai. 
É o farol de milha.
Que está no escuro.
É a pedra. O muro.
Passado e futuro.
É a cerca caída.
É a vida. É a vida.
É mais que a lida.
Bola dividida.
São fotos das férias.
São apenas pilhérias.
E as minhas idéias.
Piadas que inventei.
Se você não sabe.
O que bem lhe cabe.
Também não sei.
Só sei amar.
Só sei chorar.
Não sou o rei.
Escrevo torto.
Sou quase morto.
Apenas respirando.
São versos perversos.
Desejos inversos.
Me atormentando.
Eu bebo e fumo.
Perdi o rumo.
Perdi a graça.
Faço pirraça.
Engoli fumaça.
Isso tudo passa.
Tudo tem seu preço.
Um endereço.
Fim e começo.
É só teatro.
Fico de quatro.
Fico doente.
Fico febril.
É indecente.
Mas ela riu.
Está dormente.
Quem descobriu?
Foi diferente.
Ninguém dormiu.
Era pra frente.
Que o trem partiu.
Era inverno.
Quase calor.
Não chovia.
Quem me via?
Toda platéia.
Cada um era eu.
Cada um era um.
Toda idéia.
O que morreu.
Era o senso comum.
Era o inaudito.
Dito ou não dito.
Eterno conflito.
Falsa humildade.
Na úmida idade.
Talvez outra peça.
E tudo interessa...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Paraísos Artificiais Número 1


As novas drogas. 
Estão em voga.
Estão aí. 
A nova moda. 
A nova foda. 
À nos divertir. 
Novo temor. 
Novo assalto. 
O estupor. 
Morreu o salto. 
Mãos pro alto. 
Ai meu amor. 
Curral de gente. 
Tudo largado. 
Alma doente. 
Pobre do Estado. 
Pobre do mal. 
Pobre do bem. 
Mas no carnaval. 
Dizem amém. 
A nova onda. 
O novo brilho. 
A nova pane. 
Faça essa ronda. 
Se não é meu filho. 
Então se dane. 
Em todo canto. 
É o meu medo. 
Evite o espanto. 
Chegue mais cedo.
É o Mandrake.
Olha essa mágica.
Se fuma crack.
A coisa é trágica.
Mas é normal.
É só deleite.
É só enfeite.
Pro carnaval.
É tua a rua.
A rua é minha.
A rua é nossa.
Já tem mais lua.
Minha rainha.
A nova bossa.
Enquanto a grana.
Fizer a gana.
Toda semana.
Tem mais de um.
Enquanto a sede.
Fizer a rede.
Tem mais bebum.
Não há mais pena.
Ou até há.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Nova Paisagem


Não são mais aquelas...
São paisagens menos belas
E entretanto mais reais...
Fechem suas janelas...
Acabaram-se as aquarelas
Mas não veio a paz...
Acabou de vez o carnaval...
Está vindo cada funeral
E carpideiras são as tais...
Vão chorar por cada mal
E por um sonho normal...
Tanto fez e tanto faz...
Coma quieto seu jantar...
E se mesmo falta o ar
Ou não há velas no cais...
Tente ainda respirar...
Isso é tudo que há
Mas não há festivais...

sábado, 24 de novembro de 2012

Reais Medos, Medos Imaginários

Eu nunca fui em Beirute
Não gosto de iogurte
Nunca vi tonton macoute
Eu virei escravo da moda
Eu virei escravo da roda
Sei que viver é foda
Eu quero amor de verdade
Eu quero a feliz cidade
Mas inda sou um covarde
Não acampei no deserto
Fiquei sem ninguém por perto
Minha vida um livro aberto
Nem terminei a corrida
Não pedi viver essa vida
Tudo passa sem despedida
Não tenho modos na mesa
Nunca tive festa surpresa
Na caçada fui a presa
Não gosto de gelatina
Não fico parado na esquina
Não senti a dor da morfina
Entra ano e sai ano
Não queria ser humano
Mas não há outro plano
Minha carne está fria
Minha mente sempre vazia
E eu ainda amo esta vadia
Eu já tive alguns anéis
Já cumpri alguns papéis
E fugi dos coronéis
Não curti esse natal
Não ganhei menos mal
Seco que nem bacalhau
Eu espero nos jornais
As mesmas notícias iguais
Que acabou não tem mais
Tudo falta nesta obra
Há muita picada de cobra
Tudo falta e nada sobra
Eu não gosto de coxinha
Nem de andar na linha
Já morreu minha madrinha
A felicidade é uma lenda
A tristeza às vezes é prenda
É o imposto de venda
Dez entre nove pessoas
Se dizem muito boas
E na hora pulam nas canoas
E vão parar em águas turvas
E vão olhas as novas curvas
Nossas carpideiras são viúvas
Nossos eventos marcados
Moedas de tantos lados
Sensacionalmente vendados
A justiça está injustiçada
Do banquete não sobrou nada
Até a Serra é Pelada
Até o desastre tem nome
Minha amada é um homem
O artigo do dia é fome
Um terremoto no Japão
Faz um índio perder a razão
Subtraio e não sei adição
Linda a feiura da hora
O dique perdeu a escora
O perfume foi embora
Foi embora o bom-senso
Não falo o que penso
O meu sono é imenso
Nunca venci um combate
Nem passeei de iate
Acabou-se meu chocolate
É um tiro bem na testa
Nem tudo que é bom presta
Mas vem logo o fim da festa
Vem logo o fim do tesão
Já cansei de tanto sermão
Estou sozinho na multidão
Estou gritando com o abismo
Todo desastre serve pro turismo
Nem tudo que eu teimo cismo
Esperas e esperas em espera
Flores órfãs de primavera
É mais real toda quimera
Eu não vi o galo cantando
Estou apenas me programando
Para a morte que está aguardando...

Em Cada Porto


Eram poses estáticas que eu via
Eram rostos sumidos que eu mirava
E minha alma aos poucos vazia
E entretanto a vida ainda ficava
Nada era aquilo que eu queria
Mas era aquilo que me restava

Se alguma coisa resta
Foi esse fim de festa...

Eram nomes numa grande lista
Eram destinos seguindo adiante
E os meus crimes foram sem pista
E foi eterna a dor deste instante
E de novo me escureceu a vista
E nada mais me foi importante

Na verdade o que importa
Saiu por aquela porta...

E o que podia ser não tem mais jeito
Cada história por si já envelheceu
E eu nem sei mesmo contar direito
O que foi que me aconteceu
Muita coisa guardei no peito
Mas até a minha chave se perdeu

E cada morto que enterrava
Era um pedaço meu que ficava...

Eram doses éticas que eu lia
Eram gostos sumidos que eu teimava
E minha alma aos poucos bebia
E entretanto a sede ficava
Nada daquilo eu pedia
Mas era o que eu esperava

Se alguma coisa resta
É porque não presta...

Eram fomes à perder de vista
Eram desatinos perseguindo amantes
E meus crimes eram uma lista
Aumentando em cada instante
E de novo ensandeceu a vista
E nada foi como era antes

Na verdade o que importa
Ficou de vez morta...

E o que dormia acordou sem jeito
Cada medo viu que amanheceu
E eu não pude nem correr direito
Nem ver o que me ocorreu
Muita coisa do que tinha feito
Ninguém sabe e nem eu

E cada porto que eu atracava
Era um pedaço meu ficava...

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Alguma Procura


O galo que canta quando quer.
O brilho ofuscante de alguns cristais.
A poeira dançando em vários pés.
A caça constante de novo gozo.
Não há violetas faltam no mercado.
A fantasia de mãos vazias.
Cada passo é um novo e repetido passo.
O trânsito está sempre caótico.
São anunciadas novas liquidações.
As cidades nos olham desconfiadas.
Quanto ainda falta pra ser feliz?
Os anéis seguem nos dedos.
E por onde eu vá não há novas canções.
É guerra todas as manchetes lidas.
E o pajé ainda não entrou na net hoje.
Temos orgulho mas sem o que.
A orgia de ontem ainda traz saudade.
Ainda é carnaval em França.
E cada um com seu muro de lamentações.
O pagode da laje mal começou.
Mas os meninos já fazem arranha-céus.
O bom senso ainda não vendeu moda.
Mas a unanimidade continua de pé.
Quem salva quem nisso tudo?
É comum ser ridículo sejamos.
Acabei de inventar um novo idioma.
Mas um novo medo também é inventado.
Tudo azul mesmo quando está cinza.
E vermelho quando quero cantar.
Meu analista desistiu de mim.
Mas ainda flerto às vezes com o divã.
Não riam de mim eu mesmo faço isso.
Conheço todos os caminhos que não vou à Roma.
E gosto de todas águas ainda estão aqui.
Ainda hei de voltar a ver o Tejo.
E prometo ser um bom menino antes do Natal.
Comecem a escrever cartas mais longas.
E desenhos sofisticados sobre o que não viram.
Essa será a nova ordem emitida.
Sapatos apertados e roupas largas.
Nada realmente faz algum sentido.
Mas as vezes uns versos aparentam ser.
Todas as máscaras já caíram no chão.
Mas o ventilador ainda está ligado.
A luz esconde mais coisas que a escuridão.
Que o galo cante de novo.
Estou procurando algo mas não sei o que é.

Quando a Vista Cega


Quando a minha vista cega
E não vejo nada mais
E o coração junto também se nega
A me deixar em paz...

E eu só vejo você na minha frente

E não vejo nada mais
E até fraqueja a minha mente
Sem pensar jamais...

Não adianta procurar um canto

Se não vejo nada mais
E além disso não há encanto
Até nas ondas do cais...

Quando a minha vista cega

E não vejo nada mais
A minha mão sua mão pega
E acaba minha paz...

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Aquela História Esquecida


Aquele história esquecida será uma mancha em minha mente. E uma ferida em meu coração. Me perturbará todos os dias. E mesmo que isso seja inconsciente.
Eram todos os dias. O corpo acima do peso e enfadado da vida obedecia aos meus caprichos. E mesmo com o medo presente de cada brincadeira de mau gosto. Eu te buscava. Como era lindo chegar cedo e ficar sozinho. E quando você chegava com aquela cara de sono. Era até mais linda. De olhos claros. E aparelho nos dentes. O cabelo amarrado pra cima. Como era linda.
E eu falava tudo o que podia. Menos aquilo que queria. Eu era o açoitado que pedia mais. Eu era o andarilho num deserto de multidão. Diferente. Palavra maldita que me afligia. Nas piadas. Nos trotes. Na vida vazia de escola e casa. A casa era a cela. E a escola o pátio onde se toma sol. Mas de nada adianta. 
Eu nunca fui só o amigo. Eu amei. Como nunca antes. E nem depois. E fiz a companheira das noites que não havia sono. E consolo para cada coisa que não escolhia. Cada tapa. Cada empurrão. De mãos e da vida. 
Nem por isso me enganei. Todos amavam. Todos queriam. E nessa corrida eu só chegaria em último. Andando. Como quem não desiste. E nem por isso ganha a maratona.
Não há rosas nesses versos. Nem rosas na tua partida. E nem na pouca coisa que restou. Nem naquela vez depois. Nem na rua quando da guerra. 
Não há rosas e nem ervas. O chão está seco. Ou cimentado. A vida continua na mesma mesmice de dizer tudo atrasado. Está tudo errado. E a culpa já é do réu antes do julgamento. Provar inocência é nesse caso indício de culpa. 
As bruxas estão amarradas nos postes. Salvem suas almas queimando suas carnes. Gritar é só mais uma prova do erro. Reclamar é proibido. Paguem primeiro a conta e depois vão embora.
Se adianta alguma coisa. Mesmo que valha só um riso. E o deboche nasça no único lugar onde não vi tal coisa. Deixa eu falar depois de tanto tempo:
- Eu te amo!

(Para Mônica de Souza Araújo, meu grande amor de adolescente).

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Clara Maldição


se afasta de mim o mais depressa possível esquece de ter pena não olhe para trás o tempo já consumiu as minhas chances como se fossem apenas carnes expostas num açougue se afasta de mim não ouça as súplicas que porventura gritar são falsas não cometi pecados mas tive sonhos o que é bem pior se afasta de mim nem me toques pode ser contagioso a ânsia de alçar aos céus e mais ainda abrir a boca e falar somente a verdade isso é perigoso nos bons dias de hoje se afasta de mim some entre a multidão cumpre o seu papel de cidadão de bem homem honrado cumpridor das normas sociais e ditames da moda tudo o que cega protege e tudo que cala faz bem aos dentes se afasta de mim não me deves nada nada ninguém deve ao próximo segundo a lei da indiferença que beneficia com um sono tranquilo e um gesto de pena de quem passa a bola para outro fazer o gol se afasta de mim sou um maldito chorei por aqueles corredores até não poder mais como quem abriu os braços e fez um Cristo de si mesmo bobo da corte sem remuneração se afasta de mim esquece que me conheceu por mim falam as nuvens por mim cantam as águas e as montanhas ecoam as canções que eu fiz um dia em noites de tempestades velhas frases que um dia disse serão repetidas nos tambores das nuvens e os raios serão os lampejos que tive em amores que já morreram esquece desse velho rosto que talvez tenha sido velho sempre ande em passos largos não olhe para trás finge que apenas um susto sem motivo e que algum estranho rosto lembrou de um sonho mau que aconteceu dia desses aliás noite dessas quando o suor escorria na testa e os mosquitos zumbiam em seus ouvidos...

Meu Demônio Eu


Não há demônio em mim que não seja eu. Em versos sem cor que sempre torno à repetir. São sonhos esparsos sob um sol de meio-dia. Eles incomodam. Mas necessários são. Não penso em mais nada. Somente em velhos dias que não foram tão felizes assim. Mas eram meus. Eram velhos e agora possuem uma só cor. São fotos de antigas revistas em preto e branco que amarelaram. As poses se tornaram caricatas. E rio quando as vejo de novo. Não há palmeiras nem sabiás sobrando no mercado. E muito menos declarações formais em estreitas rimas. Nada sei. Nada posso. Mas tudo quero. E fico em meu canto esperando minha nova vítima. Não me toque. Será por sua conta e risco. Tenho as unhas de espinhosas roseiras. E olhos das brasas de esquecidas fogueiras. Não me toque. Nem me encare. Não me roce. Nem me instigue. Eu sou todos os tesões que foram reprimidos e todos os beijos que não foram dados. Eu sou a paciência esgotada em dose dupla. Sem gelo e sem limão e sem fantasia. Eu sou a fantasia de passados carnavais que perdeu seus adereços. A máscara caiu e eu a peguei novamente. Está tudo indo. As coisas sempre vão. E só os sonhos ficam. As palavras saem fáceis da boca. Dançam no ar. Mas nunca passam de pessoa pra pessoa. Cada mente é um vidro embaçado que muda toda luz. E cada coração é uma barreira intransponível em luta e desespero. Violetas são azuis dependendo de quem as pinta. Sóis em xeque-mate vão saindo à francesa. Divinos adultérios. Eu puxando teus cabelos com força. E dando tapas na tua bunda. E rindo e rindo e rindo. Nem sempre há vice-versa. Eu quero beber todas elas. E ser prolixamente desconexo mostrando as razões que não tenho. Não peço perdão. Não reparem nas asas. Nem todas as cartas estão marcadas. Os leões estão feridos. Foram os cordeiros. Que eles paguem sua dívida. Não quero aplausos. Só oferendas de sangue. Não foi assim um dia. Mas agora é. Não quero conversas. Sou calado. Mesmo quando grito e xingo inocentemente. Paredes também são belas paisagens. Cantos escuros são meus favoritos. Não há retoques para estas paisagens. Mais do que isso - impossível. Apesar do impossível sempre atrair. É a isca perfeita. A saudade também. Só que a saudade é bem mais perigosa. O impossível vem e vai embora. A saudade se acumula nas veias até o derradeiro final. Se derradeiro for. Meu Demônio solitário que anda sozinho em noturnas ruas. Ore por mim... 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

De Um Livro de Receitas


Nove entre dez tristezas. 
São apenas certezas. 
De um velho drama. 
Ninguém me ama. 
Tudo é lama. 
Eu quero cama.
Uma pitada de sal.
Às vezes não faz mal.
Às vezes faz sim.
Pra você e pra mim.
Nesse sonho sem fim.
Nem sei porque vim.
Uma gotinha de mel.
Caim sem Abel.
Queria estar contigo.
Seguro em um abrigo.
Eu quero e não consigo.
Lamento meu amigo.
É tudo uma ciência.
Me falta paciência.
Cozinhe em fogo brando.
Mas olhe vez em quando.
Cuidado! Está queimando.
E eu aqui falando.
Palavras que não entendo.
Mas entende quem está lendo.
Se é que lendo está.
E ainda tudo continuará.
Cada ingrediente lá.
E alguém de novo fará.
E eu levo fé no meu Orixá...

domingo, 18 de novembro de 2012

O Verdadeiro Voo da Ave

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A ave voou e caiu
A ave voou e ninguém viu
A ave caiu puta que pariu
O meu sonho tentou
Não deu
Mas ninguém chorou
Nem eu
Você criticou
Não me importo
O que é seu
Eu suporto
A ave voou sem esquema
E se algo sobrou 
Foi o poema
A minha testa ardeu
E se ninguém gostou
Nem eu
A febre logo passa
Voando
E minha cachaça
É ir te amando
Como a ave ama o ninho
Mas quando ele voa
Vai sozinho
O céu era o palco da cena
E é bonita qualquer pena
É o duplo sentido
Um artista
E o seu voo sem pista
Eu não gosto mais de nada
O palco do céu é a estrada
O fim de tudo é a entrada
A ave voou e quem diria?
A alegria falsa é mais um dia
A ave voou e ninguém viu
O botão virou rosa e explodiu
O que eu tinha acabou
E se eu voei quem notou?
A ave se protegeu veio a chuva
A cortina é bonita mas é turva
Mais na frente do rio tem a curva
A ave já voou ninguém viu
Só quem amou
É que sentiu
Uma leve tontura
Pela altura
As vezes o medo
É a cura
Palavras repetidas
Na mata escura
São várias vidas
Mesma loucura
Não enxuguem meus olhos
Eu mesmo faço
Meu lenço são meus dedos
Eu disfarço
Águas de cada março
A ave voou ninguém viu
Ninguém me amou
Puta que pariu...

Sindicato do Nada


Não sei onde vamos. Mas que vamos. Isso vamos. Com passos bem medidos como nunca foi. Numa sucessividade prevista do imprevisto. Há leis e leis. Mas nenhuma delas expressa nossa mágoa. Eu calo minha boca. Talvez o único direito concreto. E deixo o galo cantar até que ele canse. Podia ser de outra forma se assim quisessem. Mas o mais difícil é o comum. Tenham sol de reserva em seus bolsos. Pode ser que ele falte na hora mais necessária. E os anjos do céu digam amém. Tudo é poesia enquanto não incomoda. Tudo basta enquanto não atrapalha. Todo mundo é bom enquanto isso convêm. A desculpa é a mestra de todos erros. E se traveste em perdão como um lobo em pele de cordeiro. Não estamos fadados a nada desde que seja ao contrário. Grandes homens são aqueles que passaram de dois metros. Triste é a comédia. E as palavras são comichões que incomodam dispersos em minha pele. O lamento só acontece perto da tragédia. E o esquecimento esqueceu de ir embora. São lápides. Apenas isso. Cada poema é uma. Alguém lerá por curiosidade e nada mais. A vantagem disso tudo é muita. Contamos a piada para nós mesmos. Se querem aplausos usem suas próprias mãos. As mesmas que fazem o verdadeiro sexo. A consciência pesada caiu no chão. Vamos varrer para debaixo do tapete. Funerais são legais. É hora de fazer a mesma cena diversas vezes. A solidão não é a exceção. É a regra. Meditar é bom para quem aconselha. Mas quando o estômago dói a máscara cai. Não peça respostas. Eu só tenho as perguntas. Eu sou um triste. E os tristes na verdade não têm pena. Nunca têm. É mais um engano como qualquer outro. Lembram daquele tempo? Pois é. O que fizeram lá está aqui. Gostaram do que fizeram? Ótimo. Forjaram a lâmina que os decapitará. Foi sem querer? Ótimo. Inocentemente o mesmo demônio comerá suas vísceras. Cada dia desde aquele momento. Um pedaço de cada vez. Porque a homeopatia nesse caso da certo. É tarde. Já inventei palavras que só eu mesmo entendo. Não esperem mais nada. Quem deve paga. Ou não paga. E o não-pagar é uma forma válida como qualquer outra. Tiradas geniais e idiotas também. Tudo é tradição depois de muita insistência. Nada deu certo. Só permaneceu. A carne se acostumou com o espinho. A rosa emprestou e não quer de volta. O sangue pingou no chão. A terra sempre come. Quem dá merece ter. É matemática. É química. Por favor. Filosofia. Queira ter a bondade de se retirar. Sua ajuda foi tanta. Que facilitou o trabalho da covardia. Nem sempre são covardes os que apanham. Mas o que batem e vão dormir tranquilamente. Sem comentários como sempre foi. Vocês são os bons. Fiquem com o que é seu. Vocês são os filhos. Eu não pedi nada. Obrigado por tudo. E por nada. Já estamos de partida faz muito tempo...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Teatro de Pablo Número 2


entre encenações e cenas vivemos e nem sabemos até quando falem o que quiserem na mesma ponte ainda existem sonhos e sonhos e amigos e amores inauditos quando quisermos nada é tão como o melhor eu conto as estrelas até o fim e ainda conto de novo só por brincadeira eu mudei? não sei só sei que os verbos conjugam-se sozinhos em matérias mais ou menos sensacionais pela internet cadê a estrela? mandou mil beijos para a platéia sem que o poeta tenha tempo para recolhê-los em seus pobres versos cadê o sol? saiu para brincar e ainda não chegou é cinza a roupa que vestimos em solene luto e os calafrios que sentimos coloca uma febre ao contrário em nossa testa não se cale continue pensando é como o espinho necessário da rosa e as carpideiras que fazem hora extra ora veja os sonhos são imortais mas os homens não quando estes partem aqueles arranjam outro lar quando a canção se calam eles arranjam outras notas e a dança continua os amantes a mulher e o marido a rotina celebrada com a solenidade necessária vamos decorar a tabuada zero vezes um é nada e o nada se transforma naquilo que bem quiser somos inocentes e culpados ao mesmo tempo como a poeira das ruas que acaba nos acompanhando em seu cínico passeio cada grão testemunha em nosso favor mas nos condena foi sem querer que queremos alguma coisa ou coisa alguma foi sem querer que vimos a luz e nosso choro testemunhou isso depois dele veio o riso que de santo a cruel passa sem que percebemos tudo vale só não sabemos fazer as contas calcular o real preço dos juros à perder de vista a água que mata a sede também poderá me matar a luz me iluminará mas perderei o sono nas sombras nascem mais coisas do que imaginamos e a rotina também pode ser o imprevisto disfarçado para mais uma jornada quem terá a chave? a porta espera calmamente e os cães dormem tranquilamente no tapete da sala de estar a satisfação é o peso que veio à mais sem ser cobrado por isso tudo é leve e me vejo rimando mesmo quando o perceber já foi embora a caça é que caça o caçador só passeia olhando ao redor a bela e a fera estão tomando chá todos os mitos se reúnem semanalmente para trocar suas receitas cada verso que flutua deve ser pego com mãos de ferro e um dia conseguiremos beber o mar sem sobrar gota alguma quem sabe? enquanto isso acendamos a vela sem chama e oremos pelo fim dessa guerra e esperemos o novo carnaval os cocares multicoloridos e o baticum dos tambores cada palavra nova virá ao nosso encontro

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Eram Águas


Eram águas, todas elas
Eram portas ou janelas,
Eram meus pés no caminho,
Sem amor, ando sozinho,
Sem calor, sem carinho.

Eram choros, todas vontades,

Eram dias ou eram cidades,
Eram meus sonos interrompidos,
Sem ninguém, sem meus sentidos,
Sem sonhos, foram esquecidos.

Eram águas, todas elas,

Eram feias ou eram belas,
Eram apenas o meu destino,
A sina, a saga do meu menino,
Triste, belo e traquino.

Eram risos, eram loucos,

Eram vindos aos poucos,
Era bom rir no meu canto
E espantar meu espanto
E talvez um outro tanto.

Eram águas, todas elas,

Eram as fotos ou eram as telas,
Podia ser noite ou podia ser dia,
Mas era tudo que eu queria,
O fim da tristeza, nasceu a alegria...

Eram águas, todas elas...

Querença


É a loucura na minha cabeça
E por incrível que pareça
Quero deixá-la lá
É uma marca de nascença
Que só age e não pensa
O impulso sem pensar
É o crime com recompensa
É a incômoda presença
Variação do verbo amar
É a cega crença
O pedido de valença
Mas quem vai abençoar?
É a fumaça que incensa
É a respiração tensa
Que vai nos sufocar
Não há mais nenhuma havença
Nem nenhuma parecença
Que possa impressionar
E agora me dê licença
E tchau e bença
Que eu vou descansar...

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A Mesma Cantiga Antiga


Foi a mesma cantiga
Mas quem dirá?
A mesma letra
Um outro cantar
Outra tristeza
E o mesmo chorar
Diferente amor
O mesmo suspirar
Uma outra água
O mesmo mar
Foi a mesma cantiga
À nos embalar...

O Teatro de Pablo


Não havia tempo para que o tempo parasse
E em mudas visões houveram mais gritos
A perfeição é a meta dos que nada entendem
Ou nada querem ou nada esperam
Dependendo da perspectiva de quem veja
São muitas cenas em um ato só
Com diversos monólogos simultâneos
Representados somente por surdos atores
Não é o vidro que embaça a vista
Nem são estranhos sons que nos invadem
O peito é uma fortaleza inexpugnável 
Mas quem só mortos estão lá dentro
O pano sobe e o pano desce
E novas velhas fotografias são feitas
Amizade em textos sóbrios ou loucos
Eu sei aonde está a chave
Mas não sei onde está o baú
As palavras estão vindo na boca e nos olhos
E lá se espalham diretamente para o ar
Eu nunca vi os peixes
Mas sempre estive lá na ponte
E quando o mar avançava em ondas
Assim iam meus sonhos para distantes lugares
Minhas lágrimas eternizadas e escorridas
São protagonistas de velhos mambembes
Alegria e tristeza são moças de família
Que passam de mãos dadas
Por um jardim de brancas nuvens
Onde brotam maçãs douradas e rosas azuis
Hoje é dia de todo o dia!
Salve o cordão mágico de meus sapatos!
Ninguém pinta a cara melhor do que eu!
Há muito esqueci meu rosto num espelho
E agora o procuro em todos
São infinitos labirintos e intricadas cirandas
São normas refeitas e desordenadas leis
Os cigarros que não fumei me matando aos poucos
Espreitam meus passos sempre
Mas eu os despisto e sigo em frente
Acabaram-se os refrões
E as falas calaram-se claramente
As luzes se apagaram de repente
E um repente novo irá gargalhar
Todas as perguntas irão ser repetidas
Para que novas respostas apareçam 
O poeta morrerá um dia
Mas o verso desconhece seu fim
O ator voltará ao seu mundo
Mas nunca sairá do sonho
A obra acaba superando o criador
A loucura é a mãe da lucidez
E só ela acende a luz desse escuro quarto
Palmas, senhores! Palmas!

sábado, 10 de novembro de 2012

São Apenas...

Resultado de imagem para céu nublado
São apenas nuvens que cobrem o sol
Trazendo a ilusão do fim do mundo
E se chove e não vai haver futebol
Talvez haja outro motivo profundo
E se um canto nessa hora abriga
E a parede nos olha o rosto
Talvez a outra hora nos diga
Aonde está um outro gosto
É apenas um minuto que passa
Um gesto simples que se perdeu
É o cigarro queimando e a fumaça
Mostrando o tanto que se sofreu
Não se desespere nem corra
A fera não é tão feia como parece
Não é preciso que se morra
Para fazermos a nossa prece
São apenas alguns meros detalhes
Eles não estragarão a nossa obra
Nem todos segredos são em braille
Nem sempre é alto o preço que se cobra
Me dê dois beijos pois um é pouco
Não economize a minha bebida
A real sanidade pertence ao louco
E nossa ladeira só tem subida
Cansa mas é o que podemos
Só não temos o luxo de parar
Se são quimeras o que escolhemos
Vamos então as acalentar
Como filhos queridos e delicados
Nós levantamos à noite sem reclamar
Pois são frágeis e requerem cuidados
Mas seu carinho nunca vai acabar
São apenas velhas revistas
Que falam de fatos já consumados
E enigmas cheios de pistas
Há muito tempo solucionados
Como é linda nossa ciranda
Vamos rodando e cantando
Aquela estrela vadia que anda
É que vai na frente nos guiando
É uma estrela de várias cores
É a última que ainda nos brilha
Que carrega consigo todos os amores
Do pai, da mãe, do filho, da filha
E se o tempo fechou por enquanto
Esperemos na doce expectativa
Que há de acabar o pranto
E a vida viva! E a vida viva!

domingo, 4 de novembro de 2012

Entre


Ninguém escolhe. Pega e recolhe. E não dá mole. Ninguém tem pressa. Tá bom à beça. Não tem mais essa. Ninguém opina. Ninguém faz graça. A vida ensina. Que tudo passa. Ninguém faz festa. E nem faz fita. A flor que resta. É a mais bonita. E se não fosse. Nos tanto faz. Se o gosto é doce. Queremos mais. Se toca o som. Que mal tem nisso? Às vezes é bom. E às vezes vício. Trocaram o tom. Desde o início. Trocaram a rima. E a verdade. Tudo é o clima. Na maternidade. É a mesma lima. Pra humanidade. Não tem quem olhe. Caiu pegou. Toda coragem se encolhe. Perto de quem amou. Eu comprei a vida. Ou ela que me comprou? Tem que ser vivida. Enquanto o prazo não expirou. Tem que ser sentida. Dorida. Sofrida. Mesmo no meio do riso. Precisamos. Eu preciso. Ninguém faz regras. Mas alguém há de quebrar. Tudo é às cegas. E tu me negas. Até me dar. Me dar a chance. Mas me enganar. Quem quer alcance. Se alcançar. Ser ou não ser. Eis a questão. Não quero me aborrecer. Em pleno verão. Não quero parecer diferente. Da multidão. Não quero obedecer. Meu coração. Não há mais ciência. Não consciência. Não há nada mais. De janeiro à janeiro. A cabeça no travesseiro. E dormir em paz. A nova crença. É a nova moda também. Não há diferença. Entre o mal e o bem. 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...