sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Passado, Presente e Futuro

Rimas sem propósito algum

Alguns sóis e olhe lá

A falsa cigana me enlouquece

Com tragédias banais

Juro que serei um bom menino

Até que faltem novas ideias

Tudo é quase tão parecido

Que vamos ao chão sem tropeçar

A ninfeta expõe a bunda no Instagram

Para ser motivo de chacotas

De milhares de almas

E algumas masturbações solitárias

A fila dos ossos aumenta

Até dobrar a esquina da dignidade

E nada está acabado

Eu limpo minhas cavidades nasais

Com meus curtos dedos

Tentando debalde inventar

Novos estrangeirismos eufêmicos

Para minhas tragédias biológicas

Parabéns grandes poetas amorosos

Eu ultimamente só conheço

Murais em preto-e-branco

Seriam murais ou muralhas?

Juro pelos bigodes de Frida

Um otimismo desses baratos

Como Schopenhauer engasgando

Por uma piada que ainda

Vai escutar qualquer dia desses

Passarinhos cantam pela manhã

Esperando nossas novas cagadas

Só mais um gole e perderei o juízo

Só mais um trago e o encontrarei

É irrelevante nossos papéis

A não ser para nossos espelhos

Viver é apenas uma escada

Mal percebemos e miau!

O apresentador sorri do meu tédio

A felicidade é o fiado

No bar do português da esquina

Sumiram os cordões dos meus sapatos

A estética me deixou sozinho

No meio daquela minha festa

Não vou ao meu enterro

Vai ser um golpe de estado

Como um outro qualquer

Todo destino é quase canino

Todos os sons vão embora

Deveríamos ter mais guarda-chuvas

E passistas rezando 

Que o carnaval acabe logo

Respeite minhas tolices

Que eu respeito as suas

Dispenso a injeção

E faço cara feia para o remédio

O que se deixa de fazer é pior

Todos os pobres semblantes 

Acabam sendo gêmeos

Nem eu mesmo me respeito

Quando escolho amores sujos

Vamos começar a partida

Com nossa bola de cristal

O vento sopra quase tudo

Só não sopra a si próprio

Nenhuma surpresa se surpreende

Uma letra tudo muda

A barba cresceu no rosto do adolescente

E isso é deveras muito sério

Nada se constrói com desatino

Nem coreografias espetaculares

Vamos jogar pedrinhas no poço

Até que não exista mais nenhuma

E os encantos fujam para longe

Cada um é maniqueísta ao seu modo

Está em todas as manchetes

Cada qual perdoa a si mesmo

Desde que não seja o outro

Quase engoli a mosca

Que fez mergulho em meu copo

E chorei de emoção por novelas

Confundo-me com grandes contagens

Os segundos são réus confessos

E estimativas não estimam ninguém

Nos revoltamos por conveniência

E a nossa zona de conforto se extinguiu

Letra por letra tenhamos cuidado

Caixas de Pandora enchem os mercados

Eu espero encontrar a cigana pela rua

para saber do meu passado

(do presente já me desespero

e o futuro já não quero mais...)


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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