Faço da minha vida alguns haicais
Como quem morre à mingua sem esperança sequer
Finjam que meus gritos não são escutados
Ignorem meus dias que se arrastam até pararem
Algumas flores morrem primeiro
Enquanto outras teimam em ainda existir
Mesmo quando não falo de alguma tristeza
O meu semblante não consegue negar
Muitas cenas apagadas pelo tempo
Mas que a máquina fotográfica do menino capturou
Aquele índio pequeno e de olhos assustados
Não tirou ainda seu cocar da cabeça
E aquela eterna folia mal começou
Os sinos não cessam de tocar
Mas os mortos não foram descansar sob a terra
Quando muito sou apenas um rio
E seu destino será ser engolido de águas maiores
O espaço acaba me amedrontando
Enquanto rio de tanto tempo de sobreviver
Olho a ternura e choro até mais um pouco
Evitando de entender certos nãos e enigmas também
A única corrida que ganhei foi contra eu mesmo
Mas acabei não escutando uma palma sequer
Meus ossos agora apenas doem e mais nada
E ainda faço gaivotas com os papéis que encontro
Minha fantasia é mais rápida que os automóveis
E minhas ilusões são mais afiadas que facas
A poesia é o único remédio para o paciente terminal
Mesmo que tenha versos que nunca serão lidos
Frases de efeito sem efeito alguma nascem
Eu preferia ser o vento mas a fila é grande
Faço da minha vida alguns haicais...
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