sábado, 7 de agosto de 2021

Faço da Minha Vida Alguns Haicais

Faço da minha vida alguns haicais

Como quem morre à mingua sem esperança sequer

Finjam que meus gritos não são escutados

Ignorem meus dias que se arrastam até pararem

Algumas flores morrem primeiro

Enquanto outras teimam em ainda existir

Mesmo quando não falo de alguma tristeza

O meu semblante não consegue negar

Muitas cenas apagadas pelo tempo

Mas que a máquina fotográfica do menino capturou

Aquele índio pequeno e de olhos assustados

Não tirou ainda seu cocar da cabeça

E aquela eterna folia mal começou

Os sinos não cessam de tocar

Mas os mortos não foram descansar sob a terra

Quando muito sou apenas um rio

E seu destino será ser engolido de águas maiores

O espaço acaba me amedrontando

Enquanto rio de tanto tempo de sobreviver

Olho a ternura e choro até mais um pouco

Evitando de entender certos nãos e enigmas também

A única corrida que ganhei foi contra eu mesmo

Mas acabei não escutando uma palma sequer

Meus ossos agora apenas doem e mais nada

E ainda faço gaivotas com os papéis que encontro

Minha fantasia é mais rápida que os automóveis

E minhas ilusões são mais afiadas que facas

A poesia é o único remédio para o paciente terminal

Mesmo que tenha versos que nunca serão lidos

Frases de efeito sem efeito alguma nascem

Eu preferia ser o vento mas a fila é grande

Faço da minha vida alguns haicais...


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