quarta-feira, 14 de julho de 2021

Sinal de Transe

Espero mais nada e assim mesmo esta espera me cansa. Espumo num canto da boca como quem espera na fila de boletos. Talvez um bando de borboletas voe em volta de mim. Sou um cidadão cuidadoso com todos os meus pecados para que nenhum deles falhe.

Um tiro é apenas mais um tiro, vida ou morte...

Sou como um leão após almoçar sua pobre presa. As lâmpadas se acenderam e os insetos cantam em coro. Agora tanto faz o sol da madrugada ou a lua das manhãs. As palavras estão embaralhadas em minha mente e eu mal sei falar...

Um estalo de dedos, somente um estalo de dedos...

Esqueci todos os preciosismos e todas as táticas agora inúteis jazem num canto. Multifacetados poetas com seus castelos como os que nunca conheci até agora. Águas escorregadias de chuvas malfadadas que ainda caem de dentro de mim...

Touros e toureiros arrancam exclamações da plateia...

As folhas planam no seu último tombo do cimo das árvores. As abelhas exercem seu ofício enquanto o cientista aperta o botão. O amante sente o gosto da saliva da mulher amada enquanto o bebum está sentindo o gosto do vômito surgindo como um monstro que emerge de suja lagoa...

Acabou o combustível no meio do voo e é só isso...

Estamos no meio do meio de uma discussão quase interminável. E ainda desconhecemos as cores que os olhos da madrugada terão quando ocorrer isso mais tarde. Seria convidativo se pudesse dançar sob a chuva sem impossibilidades. Meu classicismo é tão atual...

Agora só acenderemos velas para os que vivos estão...

Os androides batem palmas emocionados com gregas tragédias e espinhos ferem com certa ternura. É tudo uma simples questão de física quântica de singelos pais assalariados. Enquanto cato os ossos dos mortos de improváveis enchentes...

Passeio no parque como quem percorre o mundo...

Preciso de alguma insanidade imediata que me alivie do meu próprio caos de uma vez por todas. Encham de moedas o meu pobre chapéu que coloquei no meu chão. Todos os vícios podem dar em nada e meu silêncio é mais um deles...

Para ser imortal preciso urgentemente de um minuto...

Os porcos se soltaram do chiqueiro e correram direto para a liquidação nos shoppings. O novo ministro declarou em cadeia nacional que não tem mais nada à declarar. Quero usar capa e cartola no meio de mais vadia modernidade...

Posso não vencer o sono e acabará apenas dando empate...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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