segunda-feira, 12 de julho de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome N° 104

 Não há mais tantos sóis como antigamente

e nem calçadas que poderiam nos alegrar

E como um peixe fora d'água inutilmente

eu me debato querendo me salvar...


Caí desesperadamente fora do aquário

pensando ter asas para poder voar

Enquanto feria o meu imaginário

Tentando conjugar o verbo amar...


Não há mais conjugações, só infinitivo...


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Meu coração feito um tambor

é o que tem

Escuto passos que não existem

imagino fantasmas

Os dias já chegam me machucando

a impiedade acordou cedo

Os pássaros irão enfim acordar

isso irão com certeza

Tudo parecerá como sempre normal

mas nunca foram

Um fantasma real andará sobre a terra

esse fantasma sou eu...


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Muitos gostam de muitas coisas

é normal tentar parecer normal

Enquanto teimo por outras cores

também usadas e esquecidas também

Quem disse que gosto de tristeza?

Está re-don-da-men-te enganado

(Não fez bem sua lição de casa)

Eu tenho a malícia dos palhaços

que choram para fazerem rirem...


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Todas as coisas acabam se repetindo

inclusive a maldade entre os homens

Não existem meras coincidências

nossa tontura sempre aconteceu ontem

A noção de tempo é apenas brincadeira

feita com muito mau-gosto e insistência

Todas as naturezas-mortas vivas estão

E eu sou mais um cavaleiro andante

que nunca ouviu falar de Quixote...


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Brigo contra a minha própria natureza

Tentando me matar com minha contrariedade

Persisto com uma normalidade inexistente

Como todos os que entram em filas

Mas afinal, de que adianta ficar parado?

A minha pressa é a mais lenta de todas

Poderia aprender com coisas, plantas e bichos

Verdadeiras lições que me salvariam...


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Não há diferença em diferença alguma

Quanto mais enxergo, mais fico cego...

Qualquer dia desses precisarei de óculos escuros

De uma bengala e de um cão-guia...

A pior de todas as pandemias mata mais

Espertamente deixando todos os seres vivos - 

O preconceito constrói saudáveis zumbis...


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Gostaria de ser um poeta desses

que pegam o primeiro avião e voam

direto para Paris

para tomar o primeiro café

quando o sol nasce

mas há milhares de crianças feridas 

em guerras idiotas

que precisam de minha lembrança...

Desses que suspiram de amor

quando a primeira rosa floresce

em jardins exatos e singelos

mas meus olhos se desviam

para as calçadas desta cidade

onde corpos invisíveis

guardam singelos sonhos

transformados á força em pesadelos...

Minha poesia não é asséptica 

e nem limpa e nem exata

como as paredes recém-pintadas

por um pintor sorridente

minha poesia traz a sujeira

de antigas e sujas paredes

onde ainda choram antigos dramas...


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Livros de história sem memória

dramas teimosos desconhecidos

no entanto em suas brancas páginas

possuem dramas interessantes

quanto qualquer uma colossal batalha

a batalha dos simples 

querendo coisas mais simples ainda

e que acabaram não obtendo


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