Não há mais tantos sóis como antigamente
e nem calçadas que poderiam nos alegrar
E como um peixe fora d'água inutilmente
eu me debato querendo me salvar...
Caí desesperadamente fora do aquário
pensando ter asas para poder voar
Enquanto feria o meu imaginário
Tentando conjugar o verbo amar...
Não há mais conjugações, só infinitivo...
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Meu coração feito um tambor
é o que tem
Escuto passos que não existem
imagino fantasmas
Os dias já chegam me machucando
a impiedade acordou cedo
Os pássaros irão enfim acordar
isso irão com certeza
Tudo parecerá como sempre normal
mas nunca foram
Um fantasma real andará sobre a terra
esse fantasma sou eu...
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Muitos gostam de muitas coisas
é normal tentar parecer normal
Enquanto teimo por outras cores
também usadas e esquecidas também
Quem disse que gosto de tristeza?
Está re-don-da-men-te enganado
(Não fez bem sua lição de casa)
Eu tenho a malícia dos palhaços
que choram para fazerem rirem...
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Todas as coisas acabam se repetindo
inclusive a maldade entre os homens
Não existem meras coincidências
nossa tontura sempre aconteceu ontem
A noção de tempo é apenas brincadeira
feita com muito mau-gosto e insistência
Todas as naturezas-mortas vivas estão
E eu sou mais um cavaleiro andante
que nunca ouviu falar de Quixote...
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Brigo contra a minha própria natureza
Tentando me matar com minha contrariedade
Persisto com uma normalidade inexistente
Como todos os que entram em filas
Mas afinal, de que adianta ficar parado?
A minha pressa é a mais lenta de todas
Poderia aprender com coisas, plantas e bichos
Verdadeiras lições que me salvariam...
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Não há diferença em diferença alguma
Quanto mais enxergo, mais fico cego...
Qualquer dia desses precisarei de óculos escuros
De uma bengala e de um cão-guia...
A pior de todas as pandemias mata mais
Espertamente deixando todos os seres vivos -
O preconceito constrói saudáveis zumbis...
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Gostaria de ser um poeta desses
que pegam o primeiro avião e voam
direto para Paris
para tomar o primeiro café
quando o sol nasce
mas há milhares de crianças feridas
em guerras idiotas
que precisam de minha lembrança...
Desses que suspiram de amor
quando a primeira rosa floresce
em jardins exatos e singelos
mas meus olhos se desviam
para as calçadas desta cidade
onde corpos invisíveis
guardam singelos sonhos
transformados á força em pesadelos...
Minha poesia não é asséptica
e nem limpa e nem exata
como as paredes recém-pintadas
por um pintor sorridente
minha poesia traz a sujeira
de antigas e sujas paredes
onde ainda choram antigos dramas...
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Livros de história sem memória
dramas teimosos desconhecidos
no entanto em suas brancas páginas
possuem dramas interessantes
quanto qualquer uma colossal batalha
a batalha dos simples
querendo coisas mais simples ainda
e que acabaram não obtendo
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