domingo, 18 de julho de 2021

Morto Apaguei A Vela do Sol

Morto apaguei a vela do sol numa mesma estrutura quase caída de velhas ilusões que só falharam. Eu sou a mesma pergunta não respondida e transformada em cinzas nada brilhantes. Com um pouco de sorte, me transformarei em poeira e então, poderei bailar seguramente em todos os cantos que eu assim o quiser. Eu ataco a presa indefesa e os meus riscos são os maiores possíveis. Estou endividado até a raiz do meu cabelo com os sonhos que acabei esbarrando por aí numa bebedeira que nem me lembro se fiz ou não. Eis a minha única solenidade - abrir portas sem chave alguma. Gosto de observar o correr das águas inexistentes de imaginários rios dos meus quase-pesadelos. Coloco o meu chapéu de abas largas (para que possam conter o mundo todo) e desafio o vento amigo para amistosa competição. O tempo acaba escondendo a realidade de todas as coisas, sobretudo as bobagens que fui testemunha ocular. Eu consigo transformar minha vulgaridade em algo mais do que singular. Podem me revistar à vontade, minhas anormalidades acabaram de acabar quase inda agora. Todas as cinzas me desobedecem e se transformam em bem menos ainda. Tenho várias perguntas, maior é o meu medo de que elas sejam respondidas. As procissões prosseguem como num efeito especial mais ou menos malfeito. Faz tanto frio agora como meu infeliz peito. Minha lista de desaparecidos parece mais com um antigo livro de receitas. A mosca pousou e acabou perdendo toda a sua aerodinâmica. Desculpem-me toda essa minha rudeza, só não sei se consigo superá-la ou se o paciente escapa de hoje. Apenas um delírio, só mais um, mais um pouco de febre também e tudo estará consumado. Nenhum detalhe escapa deste idiota aqui. Construirei mais um templo com as pedras do acaso que acabei topando em vários e vários dias. Nada é tão bom que o tempo não possa destruir e nem tão ruim que alguém não possa gostar, afinal de contas, tudo faz parte de uma dança sem passos. O desespero é uma tática como qualquer uma outra. O nosso romantismo acabou sendo castigado e não sensibilizou ninguém por conta disso. Queimei velhas cartas com meu frequente ódio por um otimismo barato que não vai dar em nada. Em certas ocasiões, até o nada pode ser uma boa escolha. A linha do novelo não me guia pelo labirinto, isso eu tenho mais que certeza. Meu amor se transformou num simples jogo de cartas, todas elas já foram marcadas. Minhas pálpebras obedecem ao mesmo mais puro nervosismo e isso pode até ser bom, nem sempre tragédias acabam sendo tragédias. Morto apaguei a vela do sol numa mesma estrutura quase caída de velhas ilusões que só falharam...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

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