quinta-feira, 29 de julho de 2021

Altamente Inflamável

 

Quero sair pelo mundo de bolsos vazios, sem ter a preocupação de algo cair no chão e se perder. Não chorarei por perda alguma, todos nós vivemos tristes por muitas insignificâncias. O tempo se perdeu, os dias correram, as semanas nos viraram as costas, os meses não possuem mais sentido, os anos estão todos sepultados, o futuro é apenas um túnel escuro cheio de pálidos fantasmas...

Esquecer meus caprichos é o mais ideal, se os jardins não mais florescerem, não tem mais importância. Cada estação é aquilo que é, não mais que isso, indiferente se apreciamos mais o frio ou o calor. O destino é um cara surdo que vedou os olhos e esqueceu de abri-los novamente...

As paredes fraquejam, os ventos colaboram para tal, os sonhos são pobres vítimas de um crime mais do que perfeito. Os sinais nos avisam, mas a nossa teimosia cresce cada vez mais, não importando com a nossa falha mais do que evidente. Tudo muda, tudo se transforma, os mapas não podem nos apontar exatas direções, assim como nem todas as receitas dos livros irão dar certo...

Eu tropeço entre vírgulas, entre frases malfeitas, erros grosseiros da gramática de um cotidiano em que homens se matam por praticamente nada. Tudo em filas se transformam, mostrando que nem sempre os suicidas param de viver apenas em certidões de óbito...

Amar é como tentar desenrolar intermináveis quilômetros de linhas enroscadas, montar quebra-cabeças que faltam algumas peças e só percebemos isso depois que a nossa paciência se esgotou. Nada é o que é, as frases mais bonitas possuem um pouco da mais inocente das mentiras. Nada para enquanto não chega ao seu fim...

Mais que um simples espelho, somos máquinas que se preocupam com alheias opiniões que de nada acrescentarão na conta bancária de nossa passageira existência. Vencer é uma forma como qualquer outra do resultado do jogo que desconhece algumas das regras mais essenciais. O nosso placar é de zero à zero...

Não me peça explicação alguma. Aspirante à vivente, tenho muito que desaprender, uma delas é chorar, outra é esquecer do tom cinza que agora cobre este céu. Qualquer vidro vagabundo brilha que nem diamante, só o perigo é bem menos, só quando se quebra...

A estética escorregou, deu de boca no chão, não pode mais sorrir porque lhe faltam os dentes. A inocência acabou, afinal, pode nunca ter existido e foi só mera questão de um cálculo em que erramos seus resultados. Eram bruxas ou fadas? Isso só depende do que acha a plateia. Na hora do gol o juiz esqueceu de apitar...

Uma pausa para o café, tomar um fôlego pode ser bom, nunca mais seremos os mesmos. Aliás, acho que nunca fomos. Uma sombra e mais nada, minha mente gosta de me pregar muitas peças. Como qualquer sujeito identificado ou não...

Quero sair pelo mundo de bolsos vazios, sem ter a preocupação de algo cair no chão e se perder. Não chorarei por perda alguma, todos nós vivemos tristes por muitas insignificâncias. O tempo se perdeu, os dias correram, as semanas nos viraram as costas, os meses não possuem mais sentido, os anos estão todos sepultados, o futuro é apenas um túnel escuro cheio de pálidos fantasmas. E a vontade de viver é altamente inflamável...

(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

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