sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Nada à Declarar, My Dear


Nada à declarar, my dear,
Perdi todos os meus sentidos duma vez,
Tateando por mais estreitos labirintos vou, 
No mais mortal dos silêncios humanamente possível...

Nada à declarar, my dear,

Acho que tem um cruel mundo lá fora,
Mas eu mesmo não posso dar a exata possibilidade,
Eu me tranquei no meu sonho como uma casa fechada...

Nada à declarar, my dear,

Quantos erros fiz pra poder acertar,
Quantos riscos por amores impossíveis e baratos,
Quantas sedes que ainda continuam torturando a alma...

Nada à declarar, my dear,

Todos os dias andam direto pro carnaval,
Toda a fantasia nova é igualzinha à do ano passado,
Todo riso não vem se não for causado por alheio choro...

Nada à declarar, my dear,

Os automóveis andam sempre apressados,
A poeira das ruas dançam loucamente zombando de nós,
Somos sempre palhaços mesmo desconhecendo o picadeiro...

Nada à declarar, my dear,

Talvez um dia tudo isso tenha seu fim,
Eu veja um lado bom pra todo esse meu choro,
Rindo então de tristezas que acabaram sendo só piadas...

Nada à declarar, my dear,

Me mande notícias suas, baby...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Infinito Em Mim


Tantas dores, tantas cores,
Tudo misturado, enfim,
Eu juntei todos os amores,
Num infinito em mim...

Guardem as armas, tragam a vida

Porque a guerra já se acabou
E mesmo ainda aberta a ferida
Meu coração hoje se alegrou...

Tantos mares, tantos ares,

Tudo foi liberto, enfim,
E acabei com os meus pesares,
Num infinito em mim...

Abram as portas, abram janelas

Deixemos todo o sol entrar
Já pagamos todas as parcelas
Já não há mais o que pagar...

Tantos tronos, tantos donos,

Foi uma ilusão, enfim,
E se perderam os meus sonos,
Num infinito em mim...

Eu Invejo Aos Tolos


Eu invejo aos tolos...
E seus anestésicos que fazem sorrir na tristeza
E sua ignorância que os livra de sentir perigo
E seu choro pelo último ridículo de gastar alguns tostões...

Eu invejo aos tolos...

E seu vício de palavras novas e sem sentido
E seu disfarce que os coloca mais em evidência
E seus sóis sem propósito queimando a pele...

Eu invejo aos tolos...

E seu mau-caratismo travestido no politicamente correto
E suas virtudes aparentes até que a vantagem chegue
E seus sistemas malditos que oprimem com belos sorrisos...

Eu invejo aos tolos...

E seus modos afetados que querem parecer educação e não é
E seus medos de liberdade pra não perderem suas mil tralhas
E suas pregações falando de um deus que não é...

Eu invejo aos tolos...

E seus espelhos que não aprenderam como refletir
E seus amores que duram apenas o tempo da foda
E suas corridas para o abismo como bom rebanho que é...

Eu invejo aos tolos...

E seus mínimos detalhes que são sempre desapercebidos
E seus méritos que desceram água abaixo pelos esgotos
E sua vida que vai sendo desperdiçada em sutil futilidade...

Eu invejo aos tolos...

Gastadores de todo e qualquer tempo de forma inútil...

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Insaneana Brasileira Número 95 - Compromisso

Resultado de imagem para menino fazendo careta
Meu compromisso é com o não-compromisso. Mesmo que os ventos soprem à favor. Com doidivanas ventos que soprem em sei lá que direção. Abaixo a bússola! E as rimas com pretensão imediata de serem o que não forem. Abaixo os caderninhos de nota e as listas de compras! Não há nada mais sem sal do que acertar no sal... Quanto mais açúcar melhor! E a alegria não deve ser dispensada. Nem as alegrias tristes. Viva as contradições! É com elas que acendemos as fogueiras em noites frias...
Meu compromisso é com o absurdo. E com os lagos imaginários que nunca vi. Eram alguns e eu bem não sei. Quando sabemos aí sim ignoramos cada vez mais. Eu nunca beijei princesas. E nem fiz a lição de casa da maneira que deveria ser. Batucadas nas mesas ou nas caixinhas de fósforos. E um ritmo fora de todos eles. Eu conheço todas as ruas. E as casas também. Nunca me abrigaram das chuvas más e só sorriram disfarçadamente quando eu passei. Quando os vidros quebram eu me alegro. E quando a chuva fria cai penso na morte...
Meu compromisso é com o sonho. E faço pose de mau só por fazer. As regras nasceram para serem quebradas. Assim como os olhos sentirem e nunca verem. Ninguém tem culpa de tanta crueldade assim. Os leões não abriram conta bancária. Nossa! Que perfume tem teu corpo. E quanta lascívia na minha tal de inocência. Um prato de trigo para quantos tigres necessários forem. É temporada de caça aos fantasmas...
Meu compromisso é com a ilusão. E o mágico faz mágicas magicamente mágicas. Presto! Agora você vê e agora você não vê. Brinquedos na areia molhada. E uma última chance para os maestros de cabelo desarrumado. O tema deste ano da escola de samba. E a vida indo aos poucos pela avenida. Recife assombrado também é Recife. E os meus propósitos nesta vida ainda são os mesmos...
Meu compromisso é com a paixão. A ardência na minha pobre e nobre testa. E os beijos masturbados de bonitas garotas que passaram num mais ou menos demorado. Pontas de seios e pornograficamente bonitas bundas. Um punhado de terra pego com a mão em pleno cimentado dos pátios. Novas invenções de velhas modas. E a curva escura depois do túnel...
Meu compromisso é com a loucura. Com os mais pesados do que o ar. E com o nom sense bonito das modas eternas. Móveis placidamente descansando na sala de estar. Texturas estranhas pra se testar. E alguns vidros de poções mágicas sem Harry. Tudo é bom e nada presta. Até a prestação de serviços. E cada gole à mais. Estou alegremente entendiado. E me esqueci de todas as regras...
Meu compromisso é com a verdade. Tatuagem logo após ser feita. E a franqueza que se transforma em má educação. São sugestões de figuras delicadamente nuas. Precisão milimétrica. E pés de veludo como alguém já falou. Eis o homem! Não caprichei no idioma porque não o quis. Acabou-se o acabou. De hoje em diante os dias serão bons e as noites continuarão seu choro desabalado...
Meu compromisso é com o não-compromisso. Fodam-se os certinhos de papai... 

sábado, 23 de janeiro de 2016

Eu Escrevi Um Poema


Eu escrevi um poema...
Que pena! Foi um poema torto...
Foi apenas pra mostrar
Que eu ainda não estava morto...

Eu escrevi um poema...
Que pena! Foi um poema cego...
Foi apenas pra dizer
Do amor que eu não nego...

Eu escrevi um poema...
Que pena! Foi um poema vago...
Foi apenas pra tomar
Como mais um trago...

Eu escrevi um poema...

Que pena! Foi um poema leve...
Foi apenas pra fugir
Como quem também deve...

Eu escrevi um poema...

Apenas isso...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Se Tiver Carnaval E Carpideiras



Se for no carnaval e tiver carpideiras
Dará até pra se saber
Que existem mais de mil maneiras
Pra tentar se viver

Se a noite estiver com um sol tremendo

Deixa esse sol brilhar
O meu peito há muito está doendo
Ele precisa se curar

Se aquelas velhas senhoras chorarem

É apenas a sua profissão
Enquanto os foliões ainda se animarem
Ainda teremos a razão

Se for no carnaval e tiver carpideiras

Dará até pra se saber
Que existem mais de mil maneiras
Pra tentar se viver...

Homens ou Bichos?

Homens ou bichos
Não sabemos o que dizer
Eles mexem nos lixos
Para ter o que comer...

Eles não tem nem o dia

Precisam apenas sobreviver
Não sabem o que é alegria
Mas quem é que vai saber?

Escravos da mesma fazenda

O feitor vai à todos bater
Nunca que pára a moenda
Que vai à todos espremer

Homens velhos e crianças

Sem dó ninguém vai ter
Vão se perdendo as esperanças
Nessa estrada à percorrer

Tudo interno tudo externo

Muito temos que temer
O caminho é o inferno
Independente do que se crê

Homens ou bichos

Não sabemos o que fazer
Vamos saiam de seus nichos
Está na hora da onça beber...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Quem Vai Me Namorar?

Quem vai me namorar?
Quem se arrisca a ganhar rosas fora de época
Nos horários mais absurdos possíveis
Por causa de declarações sem motivos?

Quem vai me namorar?

Quem quer amar o mais triste dos meninos
O que fugiu da morte desde sempre
E por conta disso aprendeu à sonhar?

Quem vai me namorar?

Quem quer namorar aquele que nunca foi herói
O que faltou coragem em todo momento
Mas que via além dos olhos tantas batalhas?

Quem vai me namorar?

Quem vai querer estar com quem sempre foi rude
Mas que herdou um coração cheio de sinceridade
Como as águas que ele só imaginava ver?

Quem vai me namorar?

Quem vai ter amor para dar prum cheio de desamor
Que anda com pés de asas pra não te acordar
E sente ciúmes até do ar que está à tua volta?

Quem vai me namorar?

Quem vai guardar no coração Prometeu e Narciso
Todos dois acorrentados em somente um 
Procurando estrelas pra enfeitar teus cabelos?

Quem vai me namorar?

Quem tem a coragem de ficar sempre ao lado
Do mais tolo dos mortais e mais palhaço de todos
E rir com ele nas mais impróprias horas possíveis?

Quem vai me namorar?

Quem tem a ousadia de contar as ondas do mar
Enquanto espera o barco pirata que nunca vem
Pra me levar em todas as terras de muito mais além?

Quem vai me namorar?

E que seja até a morte...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Nosso Próprio Mal ou Cuida-Te

Cuida-te para que os teus passos não te levem ao nada. Assim são as coisas e assim também são as pessoas. Desaparecer não é deixar de existir. No entanto existir não significa aparecer. Muitas curvas escondem o viajante e o caminho sempre apresenta os maiores perigos possíveis. Os espinhos estarão sempre nos jardins e os perfumes são as iscas mais perfeitas...
Cuida-te para que os teus olhos não brinquem brincadeiras mais que cruéis. O bicho de pelúcia chora silenciosamente em qualquer canto. Tudo chora. Até as palavras que só foram ditas com os olhos. E os decalques descascados e sem cor na velha geladeira que ficava na sala. Não deixa que o tempo te mate de uma vez se ele pode te assassinar aos poucos...
Cuida-te para que as tuas mãos não tremam demais. Nem se impacientem demais. Nem se arrisquem demais. Águas profundas podem parecer rasas e as sombras podem ter uma solidez inglória. Essa solidez apaga as nossas fogueiras com apenas um leve sopro. E se torna mui triste os folguedos que terminam antes da nossa noite terminar...
Cuida-te para que tua própria ternura não te mate. Nem teus sonhos te enlouqueçam. O poço que se transformam é fundo demais para que se saia lá de dentro. A escuridão nos espera e um sono muito profundo pode ser bem pior do que a própria morte. Muitos vivem deste sono mesmo quando acordados...
Cuida-te para que não te apegues à coisas muito boas. Os doces sempre acabam e as boas conversas alegres têm pressa de ir embora. E quando vão desconhecem o adeus. O adeus foi feito para as tragédias gregas ou para tudo aquilo que iria acontecer mas nunca aconteceu...
Cuida-te para que os beijos não te viciem. Os beijos são drogas viciantes e ainda símbolos mágicos. Prende o teu tesão com correntes que deixem que ele sempre se aproxime mas nunca te agarre. Vemos um desfile interminável de belos rostos que se esvaem como cera derretida. Muitos fantasmas saem na luz do dia e o susto é o mesmo ou ainda pior...
Cuida-te para que as tuas contas não sejam erradas. Que as tuas caçadas não sejam vãs. E que as aventuras sejam tuas amigas e não te engulam com sua voracidade. E que as notícias não te façam um perfeito idiota. A ambição dos homens é coisa louca e morrer em vida pode ser o pior castigo...
Cuida-te e tem calma: a morte cumpre seu turno... Sempre...

Tiro ao Alvo

Resultado de imagem para menino brincando com dardos
Mais um copo... Atira naquele ali!
São muitas e mais muitas tempestades
Ouvir tantas sujas meias verdades
Como as que eu sempre ouvi...

Mais um motivo... Acerta naquele ali!

Ainda haverão muitos temporais
Prum corpo que não aguenta mais
Afinal de contas de nada servi...

Mais uma explicação... Dispara naquele ali!

Muitos ventos ainda estão soprando
E muitos mitos eu estou desacreditando
São poemas que eu não escrevi...

Mais uma teoria... Pega naquele ali!

Eu ainda vou andando naquelas ruas
Com suas calçadas sujas e todas nuas
Onde a minha tristeza se desespera e ri...

Mais um copo... Atira naquele ali!

São muitas e mais muitas inverdades
Me desesperar no meio destas cidades
E quem me dera não estar nem mais aqui...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

AntiPoético


Eu não sou poeta...
Talvez nunca tenha sido...
Não enxergo o lirismo de lírios brancos
Nem de pombas da paz bailando faceiras
E muito menos nuvens gordas sorrindo...

Eu não sou poeta...

Talvez tenha enganado à eu mesmo...
Não possuo gestos heroicos como um salvador
Nem as minhas mãos acostumaram à fazer carinhos
E muito menos a minha boca declarações de amor...

Eu não sou poeta...

Talvez isso seja o pesadelo da noite passada...
Não possuo olhos de um visionário sonhador
E nem miraculosas pedras filosofais que façam
Desse lixo de mundo um lugar só de felicidade...

Eu sou não poeta...

Talvez seja apenas um velho bêbado à dormir...
E os meus sonhos me livram do labirinto de corredores
Onde eu procurava por você até desistir de uma vez
E casar com a prostituta que se chama vida...

Eu não sou poeta...

Talvez seja apenas mais um idiota alfabetizado...
Que muito mal faz algumas rimas sem propósito
E que anda desengonçadamente por aí sem rumo
Querendo se comparar aos que realmente sentem...

Eu não sou poeta...

Talvez haja verdadeira razão nos que escarnecem...
De minha boca só saem bobagens e palavras sujas
Tentando explicar aquilo que nunca enfim entendi
O bobo da corte desejando ser apenas o menestrel...

Eu não sou poeta...

Talvez seja hora de declarar toda a minha falsidade...
Parem de ler e esqueçam de vez esses versos sujos
Esqueçam também esse velho sujo e também insone
Já é tarde demais passaram-se anos inutilmente...

O vidro se quebrou... E o amor já se acabou...

O Cara


O cara era até um cara normal
Curtia futebol cachaça mulher e tal
Esperava um ano inteiro o carnaval
Tinha medo de bandido de policial
Só opinava quando opinava geral
E se surtava lá vem vindo o gadernal

O cara era até um cara bacana

Fugia pra selva no fim de semana
A virada de ano era em Copacabana
Gritava: - Yes, nós temos bananas!
De vez em quando acendia a bagana
Como todo brasileiro um cara sacana

O cara era até um cara letrado

Só saía de casa se bem arrumado
Teve a sorte um dia de ser sorteado
Também sabia jogar seu carteado
Na hora do bicho saía apressado
Mas não sabia qual era o seu lado

O cara era até um cara normal

Tinha dinheiro mulher filhos e tal
Esperava que viesse a alegria afinal
Tinha grande medo de ser um boçal
Só não sabia que aí vinha temporal
E que esse era o nosso grande final...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

SobreTudo

Não há mais nada que fazer...
Sobretudo quando o amor chega
E se diz ser o proprietário de nossa alma...

Não há mais nada que temer...
Sobretudo quando perdemos nossa razão
E todos os nossos sonhos se tornam pesadelos...

Não há mais nada que falar...
Sobretudo quando o dinheiro compra a vergonha
E as paredes dos prédios acabam nos sufocando...

Não há mais nada que pensar...
Sobretudo quando do poder nos desumaniza 
E todas as crueldades acabam se tornando normais...

Não há mais nada que reclamar...
Sobretudo quando somos nós os cúmplices
De toda a opressão que o poder nos faz...

Não há mais nada que protestar...
Sobretudo quando temos duas ou mais morais
Dependendo da ocasião e da vontade do freguês...

Não há mais nada que cantar...
Sobretudo quando o vento foi de vez embora
E as outras paragens nem ao menos nos conhece...

Não há mais nada que sentir...
Sobretudo quando a vida acabou na própria vida
E não se tem mais nem pra onde se ir...

Não há mais nada... Sobretudo...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Memórias de Culpa


São tantos planos... 
São tantos anos...
São tantos danos...

Fui eu o culpado de todas as minhas culpas

O que estava errado e é sem desculpas
O brinquedo quebrado a brincadeira terminada
E aquele labirinto que vai dar em nada...

São tantas ideias...

São tantas plateias...
São tantas panaceias... 

Fui eu o cúmplice do meu próprio ardil

O que fez o crime e ninguém nunca viu
A espera que não foi assim tão esperada
E aquele sonho que ficou só pela estrada...

São tantos temporais...

São tantos lamaçais...
São tantos carnavais...

Fui eu que vestiu a velha roupa descolorida

Porque queria porque queria ter só a vida
Quebrei qualquer silêncio apenas gritando
Perdido entre o por enquanto e o até quando...

São tantos gatos...

São tantos ratos...
São tantos fatos...

Fui eu que não escutou o mais sóbrio conselho

Porque queria enxergar depois do espelho
Deveriam ter coisas bem mais bonitas de se ver
E ainda a minha própria vontade de escolher...

São tantas cruzes...

São tantas luzes...
São tantos obuses...

Mea culpa... Mea culpa... Mea culpa...

Um Alto Preço


Já nascemos devendo...
Devendo o ar que respiramos,
O caminho por onde vamos,
A comida que enche a barriga,
O carinho, a mão amiga,
Tudo que nos faz humanos
E nem sempre pagamos...

Já nascemos devendo...

Devendo a mente que funciona,
A riqueza que é a nossa dona,
O teto que vai nos cobrir,
Alegrias aqui, tristezas ali,
Toda bomba que se detona
E a verdade que decepciona...

Já nascemos devendo...

Devendo o emprego garantido,
O nosso sono mal dormido,
O pagamento que nunca vem,
A meta que ficou mais além,
A guerra que não faz sentido,
O riso que se tornou gemido...

Já nascemos devendo...

A cartas que estão marcadas,
Os acidentes pelas estradas,
O veneno vindo do fast food,
O povo morrendo sem saúde,
As mais célebres mancadas,
Todas as verdades estão erradas...

Já nascemos devendo...

Como vamos pagar???

domingo, 10 de janeiro de 2016

Insaneana Brasileira Número 94 - Capital Capital

Tudo que eu reparo na verdade não dá pra reparar. E as flores até possuem um colorido bonito mas nem tanto. Que se dane a gramática se meus sentimentos doem mais. Eu fiz de tudo para acertar e os erros gostam mais de mim. Não que eu me esqueça frequentemente de muitas coisas. Somente as listas do supermercado. As teclas estão nervosas. E cada verdade intensa é mais leve que o vento. Engula tudo. Essa é a pílula que salva de tudo menos da sua doença. As previsões meteorológicas foram feitas pra falhar. E apenas admiramos os bons sons que chegam até nós. Sem erro algum. Apenas enganos mil de uma cor nova que foi inventada num laboratório. Os fins de semana foram tão esperados mas acabam morrendo. Foi apenas um domingo na praia vendo bundas e areia grudada nos pés. Não amamos mais. Só velhas marcas que cobram nossa fidelidade. Eu não gosto de nada mais do que aquilo que vai em minha boca. O coração é uma loja fechada de repente com todas as suas coisas intactas. É tudo um anime. De muito mau gosto. Até que eu tento fazer certinho. Algumas moedinhas me bastavam. E nada mais. Muitas e muitas expressões grotescas nasceram do meu rosto desajeitado. Fora! Fu! Não quero mais solenidades que no fundo até enjoam. Nada é belo somente os olhos. É o porco engordando nos olhos do dono. Isso sim é sabedoria. Aceitar a crueldade com a maior calma do mundo. Isso sim é sabedoria. Ver que cada sentimento foi feito de encomenda. Bolos e salgadinhos. Numa grande festa que poderia ter sido diferente. Não que eu defenda os tolos. Os tolos sabem se defender com sua tolice. Não que eu defenda os loucos. Os loucos somos todos nós. Nós patenteamos a maldade. E depois disso ela se transformou numa tatuagem bem bacana. Queremos beijos de quase todas as bocas. Você é o famoso. Eu sou o desconhecido. Mas é o desconhecido que conhece todos os caminhos. Seus passos são bem vigiados. E os meus dão em vários lugares. Faço o que eu quero. Se gostam ou não a história é bem outra...

Um Poeta

Resultado de imagem para bêbado na calçada
Um poeta mergulha nas nuvens
Não sabe onde é que vai parar
Um poeta acaba perdendo o sono
Porque só sabe mesmo sonhar
Um poeta anda por estas ruas
Mas nunca sabe onde vai chegar
Um poeta espera pelo carnaval
Mas tem medo de tudo se acabar
Um poeta sempre ri e bem alto
Se reparam não vai se importar
Um poeta esconde mil segredos
Mas não tem onde os guardar
Um poeta bebe de seu veneno
E não tem medo de se matar
Um poeta bebe todo seu vinho
Até que possa se embriagar
Um poeta espera a madrugada
Até que o bar possa então fechar...

sábado, 9 de janeiro de 2016

Pobre Cobre


Pobre cobre compra o nobre
Mas não compra a vida
Pobre cobre compra o pobre
Mas não fecha a ferida

Compra carro compra prédio

Compra a rotina compra o tédio
Compra a roupa compra o corpo
Compra o vivo e compra o morto

Pobre cobre compra o nobre

Mas não compra a sorte
Pobre cobre compra o pobre
Mas não compra a morte

Compra rei compra governo

Compra o são compra o enfermo
Compra o perfume compra o cheiro
Compra o último compra o primeiro

Pobre cobre compra o nobre

Mas não compra a nobreza
Pobre cobre compra o pobre
Mas não compra a certeza

Compra o barco compra o trem

Compra o mal e compra o bem
Compra o juiz e compra os jurados
Compra a verdade e compra os lados

Pobre cobre compra o nobre
Mas não compra a nossa arte
Pobre cobre compra o pobre
Mas não compra a outra parte...

Lua Lua


Lua lua
Lua nua
Lua tua
Lua rua

Fetiches de um lobo solitário

Sonhos deste maior otário
Masturbações sob a coberta
Minha alma está deserta

Lua lua

Lua nua
Lua tua
Lua rua

Não sei nada e nada sei

Nesta terra sem dono sou rei
Tenho imagens bem guardadas
Que afinal só são meus nadas

Lua lua

Lua nua
Lua tua
Lua rua

Havia suor na minha testa

Tudo é bom mas nada presta
De muitas coisas eu careço
Algumas não têm nem preço

Lua lua

Lua nua
Lua tua
Lua rua

A vida era um corredor estreito

Sem haver pelo menos um jeito
É apenas um ano após outro ano
É apenas tentar ser humano

Lua lua

Lua nua
Lua tua
Lua rua...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Insaneana Brasileira Número 92 - Mais Insano Ainda

Mais insano ainda. Como pétetetipéti em areais escaldantes de que nunca vi. Nós escutamos de longe. E ainda assim um discurso é feito. Cordinhas e cordões em nuvens bem gordinhas dançando de peito de fora. Ah! Ih! Símbolos e sinais fazendo fita e na verdade a verdade acabou mentindo e até gostou disso. O disco na vitrola antiga se repete porque quer. Porque eu quero sinais de fumaça faltando o céu necessário. Procura-se céu em altas doses. Quase que nem uma overdose que nos deixará de bode. O fogo nas fogueiras fala coisas impublicáveis. Deixa pra lá. O segredo é conhecido por todos. E cara fica quente. Uma vontade de tacar pedras pra todos os lados. E eu nem falei porra nenhuma. Só queria você que nem música bonita da guitarra que inda não sei tocar. Umas palavras aqui e outras ali. E um cansaço só de alma. O corpo já entregou as suas cartas e os trunfos já são públicos. Não sei e não sei e não sei mais nada. A casca aparenta um doce que não mais se tem. Porque é assim e assim sempre será. Não há mais vestígios de festa. A faxina foi feita. Os nós somos nós. Os enigmas são fáceis e as coisas simples que nos complicam. É que nem um pão na mão do menino. E olhar pra todos os lados. Dói a cabeça e dói o milagre que se esperou e nunca veio. Eu o sou. Acabaram os bandos de andorinhas e acabaram as razões que nos argumentamos um passado dia. Eu queria ser o nada e acabei sendo tudo. Tudo de bom e tudo de ruim servido na mesma bandeja. Eu quero que espera não me espere mais. Tudo foram brincadeiras. Mas às vezes as brincadeiras podem ser perversas. E o cantar dos grilos podem dar mais medo que o dos bacurais pela escuridão. Eu levo adagas escondidas na minha cinta. E razões pré-fabricadas como pura defesa. Um dois três mil. Estartejas que me lambam demais. O que tem alguma rima até me serve. Eu economizo nos elogios. E faço bandeirinhas de festa. Reparo em bocas e bundas. Tudo se parece com uma convenção de bruxas e de escoteiros também. Estou com a noção que me falta a noção de alguma qualquer coisa. E as despedidas não me fazem chorar mais. Fiado só amanhã. E as coisas eram tão estranhas... E tudo é mais escuro com os olhos mais novos. Podem dar as cartas. E minha carteirinha de maluco. Não sei nem bem o que houve com aqueles rostos. Só sei que tudo ao passar fica bem mais feio. Ficar bonito? Isso é balela. Acredito mais na descrença do que em outras matizes. Rimas boas e rimas mais. Rasguei minha carta de alforria. Somos escravos voluntários de uma mentira que sapateia bem. Frase por frase é o grande segredo. Os detalhes de um detalhista que sabe detalhar detalhadamente cada detalhe. Samba em cima do disco. E num asfalto quente descalços sempre. Com tudo e com nada. Ramalhetes bem cuidados sem flor alguma. Apenas fitas e papéis e sei lá mais o que. Já temos o pastel e o caldo de cana e só falta a feira... O ananás e o abacaxi saíram na porrada pra ver quem usa a coroa do rei. Cada absurdo é totalmente válido e o bom senso se engasgou com um simples copo de água. Era vinho e o vinho era rascante. Era sono e era apenas sono. Nada mais...

Todo Dia


Todo dia um sol sobre a cabeça
E as ruas cheias de gente apressada
E a moral que resta toda avessa
E a ida em direção do nada

Toda dia o mesmo propósito na vida

E as mesmas bugigangas postas à venda
Queremos sexo e queremos comida
O resto é só se cegar com a venda

Todo o dia o mesmo disse-me-disse

Os jornais sempre e sempre mentindo
E o País das Maravilhas sem Alice
Apenas o preço do dólar vai subindo

Todo o dia um destino mais feio

E o nosso sonho agora sabe dizer não
E já fecharam o Caminho do Meio
E só nos resta as roupas da estação

Todo o dia nossa obrigação de acordar

Forçar os pés a irem pelo caminho
E é proibido pelo menos se chorar
Mesmo que se pise no espinho

Todo dia um sol sobre todos e tudo

E as ruas cheias de gente enlouquecida
E eu andando como um viajante mudo
Nesse nada que chamamos vida...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O Teatro Sem Pablo

Um teatro com riso. Um teatro sem pudor. Consciente e sem siso. Pleno e prenhe de amor. Um teatro sem penas e cruzes. Um teatro de luzes. Um teatro sem dor. Um teatro só de teatro. De admirar e ficar de quatro. Um teatro de pavor. Um teatro demente. Um teatro de gente. Que ninguém maquiou. Um teatro bonito e feio. Um teatro de louco e meio. Que o tolo desprezou. O teatro da fera. O teatro da espera. Que por alguém chorou. Um teatro com e sem Deus. Um teatro dos meus. Um teatro que sou. Um teatro sem ideia. Que se foda a plateia. Ninguém te chamou. Um teatro sozinho. Que pode ter algum carinho. Aqui eu sou o ator. Um teatro de tintas. De terças e quintas. Só você não reparou. Que eu estava ao seu lado. Apesar de cansado. Nada me magoou. E eu te acompanhava. Eu quase te amava. Só você não notou. E era fantasia. Quando vi era folia. Feliz invasor. Viva o Zé Pereira! Viva nossa besteira! Até o Diabo gostou. É a nossa frege. Eu sou o herege. Alguém me criou. É uma campanha. Tão tamanha. Que nunca acabou. Viva o toque! Viva o choque! Viva o rock n'roll. Teatro do amigo. Teatro do abrigo. O abrigo que você me negou. A religião. A perseguição. Nada mudou. Passamos de dois mil. É a puta que pariu. O sonho não acabou. O rosto pintado. O medo encenado. Minha ideia mudou. Minha cabeça roda. Viver é foda. E viva vivou! Um teatro de corredores. Um teatro sem amores. Mas que sempre amou. Um teatro sem escola. Um teatro de esmola. De quem sempre implorou. Eu não tenho palavras. As palavras são as escravas. De quem as capturou. Palavras cínicas. Opiniões clínicas. Quem disfarçou? Aceito carinhos. Dispenso os espinhos. De quem dispensou. Eu corro de tudo. Eu faço um escudo. Cuidado com o andor. Um teatro com riso. Um teatro sem pudor. Consciente e sem siso. Pleno e prenhe de amor... 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Simples Filosofia


É pouca coisa o que eu quero...
Quero um cesto cheio de alegrias!
Um sol gordo e bem amarelo
Pra poder acender os meus dias!

Comer o pão e beber a água...

Comer o pão e beber o vinho...
Lavar o coração de qualquer mágoa
E poder demonstrar meu carinho!

É pouca coisa o que eu desejo...

Poder seguir feliz por essa estrada!
Roubar nem que seja um beijo
Apenas um beijo da minha amada!

Gritar bem alto e fazer pirraça...

Mostrar a língua e mostrar o dedo...
Fazer discursos em plena praça
Porque há muito acabou o medo!

É pouco coisa o que eu anseio...

Fazer uma seta naquela direção!
Mostrar ao homem de onde veio
E qual será o caminho do coração!

Simples assim...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O Problema


O problema é esse:
Estamos mal amados estamos fodidos
Mal alimentados e mal vestidos
Num mato sem cachorro perdidos
Não sabemos se nossa hora vai chegar
Perdemos o teto o tato não há onde morar
Nos falta até o precipício pra pular

O problema é esse:

Falta a cachaça não temos nem o limão
Falta o argumento e falta a razão
Cale a o boca e olhe pro chão
Temos a casa não temos a cidade
A mentira é a nossa maior verdade
Engula essa tal de falsidade

O problema é esse:

Os dados já estão todos eles viciados
Os esquemas já estão todos armados
Só há tiros pra todos os lados
Tenho todos os motivos pra não crer
Todas as razões pra me foder
É que a morte sempre pode vencer

O problema é esse:

Nossas mãos estão como sempre vazias
Nossas manhãs ainda continuam frias
Perdemos todas as nossas alegrias
O paciente acabou caindo da maca
E eu fiquei que nem um babaca
Olhando quem me ataca

O problema é esse:

Estamos mal amados estamos fodidos
Mal tratados e mal nutridos
Num mato sem cachorro perdidos
Não sabemos se nossa hora vai chegar
Perdemos o foto o fato não há o que olhar
Nos falta até o benefício de respirar...

Nosso Bloco - Um Poema de Pré Carnaval

Resultado de imagem para bloco de sujo
Nosso bloco sai o ano inteiro
Sai de janeiro à janeiro
Nosso bloco não precisa de fantasia
A roupa é o dia à dia...

Nosso bloco nunca teve um nome

Seu nome é a sede e a fome...

Viva os nossos muitos foliões

Todos alegres e esfarrapados
Carregando o peso de seus corações
Vamos dançando todos embriagados...

Nosso bloco nunca teve chegada

É nossa vida que vai dar em nada...

Viva a nossa porta-estandarte!

Viva o nosso mestre-sala!
Sobreviver é a nossa maior arte
Como se fosse um baile de gala

Nosso bloco vem passando na rua

Talvez um dia chegue na lua...

Nosso bloco sai o ano inteiro

Sai de janeiro à janeiro
Nosso bloco não precisa dos panos
Somos apenas bonecos humanos...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...