O outro poeta nunca viu um castelo de perto
E nunca subiu em torres que iam dar nos céus
Ele não possuía sequer espadas e lanças
E nunca usou uma daquelas armaduras pesadas...
O outro poeta viveu em escuras sombras
E em arranha-céus que iam dar muito lá em cima
Metal e vidro sem o sentimento das pedras
E sua grande arma consumia todo o tempo do mundo...
O outro poeta nunca usou ginetes cor de marfim
Que levantavam poeira e que iam adiante
Por terras que nunca viu muito além dos sonhos
E que eram povoadas de dragões e grandes serpentes...
O outro poeta conhecia aos automóveis antigos
E ainda seu brilho de metal sob os mil sóis
As ruas de terra e seus vilões feitos de poeira
E ainda as casas que sempre desejou em fantasias...
O outro poeta não tinha virgens rosadas de tranças longas
Tocadoras de alaúde em seus bailes intermináveis
Donzelas que se valia a pena lutar e correr risco
Flautistas pastoras de rebanhos de brancos carneirinhos
O outro poeta bebe e se embriaga com suas musas
Que possuem cáries e contas no final do mês pra pagar
Que às vezes nem se depilam direito e suam muito
E que não possuem nunca a idade que falam
O outro poeta não percorria eternos labirintos
Com seus intermináveis fios através de corredores
Onde um monstro de bovino cabeça ruge alto
Porque os monstros guardam em si um amor
O outro poeta ginga entre vielas e becos
Tem pesadelos com incursões dos homens da lei
Sente verdadeiro frisson pelas liquidações do dia
E apóia o candidato que fez a última carreata
O outro poeta é um cidadão mais que comum...
Oremos por ele...
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