sábado, 26 de setembro de 2015

Não Tem Um Minuto


Não tem um minuto que comecei à chorar e as lágrimas já secaram como que por encanto. Toda dor por pior que seja acaba acostumando o corpo e quando a gente reclama é mais por força do hábito. Sem carpideiras - nada feito. O cego aprende à tatear e tudo vem ao alcance de suas mãos. 
Não tem um minuto que comecei à correr e as pernas já pesam chumbo e param no meio do caminho. Todo medo por maior que esteja dentro de nós acaba se esvaindo diante da possibilidade de alcançar nossos sonhos. Tudo é vício - tudo embriaga. O condenado esqueceu da morte e que penderá no cadafalso.
Não tem um minuto que o grito saiu de minha garganta e agora já emudeceu. Era a coragem que também foi embora e há mares e muitos deles pra se navegar. Tudo muda - como os ventos. E o furacão também vira brisa.
Não tem um minuto que a face era bela e as rugas acabaram chegando. É tudo que pertence ao tempo. É tudo presente dele. Às vezes presente de grego e sempre uma nova caixa de Pandora. Quem de nós pode se reconhecer? Os espelhos só mostram estranhos.
Não tem um minuto que a festa havia começado. Estavam acesas - todas as fogueiras. E a sua luz brilhava em nossos olhos que iam até longe. Mas que hoje não passam das lentes. Mas que amanhã se fecharão para sempre. É a sequência natural de todas as coisas.
Não tem um minuto que o menino brincava - se divertia. A calçada era seu mundo à parte. Mas até as casas passam como um cenário que muda numa grande teatro. Quem fez a peça? Quem são os atores?
Não tem um minuto que o dia começou e já está terminando. Tudo é muito rápido e como é. Uma sucessão de estrelas na frente dos teus olhos. E muitos e muitos códigos pra decifrar. Quem há de saber quantos enigmas se escondem na barra do longo e curto manto do tempo????

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Carliniana XLV (Indissolúvel)

  Plano A... Plano B... O amor é uma pedra Que teima se dissolver na água Quem poderá consegui-lo? Plano A... Plano B... O pássaro encontrou...