sábado, 1 de novembro de 2014

Sem Lirismo, Sem Flores, Sem Cores


Eu hei de ser sempre apenas um sujeito rude
Chegando aonde pude chegar como eu pude
Com os pés cheios de pó e as mãos calejadas
Conhecendo como conheço todas as estradas

Não parei pelo caminho para colher as flores
E nem reparei sequer quais eram as suas cores
Eu sou apenas isso eu sou apenas um bruto
Com lágrimas nos olhos e um peito em luto

Eu sou apenas isso apenas mais um caminhante
Apenas mais um alguém que segue adiante
Eu não conheço alguns versos cheios de lirismo
Eu conheço apenas as tocaias e todo o abismo

Eu não conheço rimas e metrificações perfeitas
Conheço armadilhas na noite e as ruas estreitas
Conheço quem sofre e quem quer e quem deseja
Conheço a calçada e a cachaça e a cerveja

Conheço a putaria que existe em todos carnavais
Conheço a picardia e conheço até bem mais
Os gritos que permaneceram mortos na boca
E uma alegria contida que foi bem mais louca

Sei de cor a fala que possuem todos os artistas
Conheço todos os crimes e também suas pistas
Fiquei nos andaimes e escalei montanhas altas
Rezei com os pecadores por todas as suas faltas

Senti fome e senti frio e ainda senti o medo
Vi os velhos morrendo e os novos morrendo cedo
Vi também as crianças que a guerra maltrata
E a minha amada foi das putas a mais barata

Eu hei de ser sempre apenas um sujeito rude
Chegando aonde pude chegar como eu pude...

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Poesia Gráfica LXXXVI

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