quinta-feira, 24 de abril de 2025

(In) Continuação 1

O vídeo que foi pausado pelo meio.

A inocência que nunca mais teremos.

As flexões verbais que nos mandam.

A erva daninha se alastrando no jardim.

O que ainda não morreu dia morrerá.

O saco de balas comprados antes da matinê.

As curvas famintas vindas antes das rugas.


Os lápis de cor descansando mudos.

O giz parado quase como um cigarro.

Nada mais era que o sonho noite passada.

O bulliyng que acabou enlouquecendo ela.

A normalidade sempre perdoa a crueldade.

Os jornais agora saem correndo pelas ruas.

Ele dormiu bêbado na porta da igreja.


O velho ventilador agora exige explicações.

Novas palavras inventadas para inutilidades.

A importância de não ser mais importante.

As entrelinhas das estrelas agora apagadas.

Toda a dificuldade possuía uma boa intenção.

Queriam me levar para morar fora da galáxia.

Qualquer baião-de-dois agora dá para três.


Compre nosso novo creme para enfeiamento.

Dom Quixote agora só comerá em fast-food.

Ainda sobrou um pouco de doce no amargo.

Namastê para você seu grande filho-da-puta.

Quanta fofura tem aqui nessa barra de ferro.

Os vampiros fizeram uma fila banco de sangue.

O dentista tem todos os seus dentes cariados.


Vamos brindar com um copo de querosene.

Qualquer doença acaba adoencendo no final.

Mentes rasas com gargantas bem profundas.

Seu passatempo favorito é beber até desmaiar.

Borboletas grafites agora são os novos pets.

Por uma coxinha o cara mata até a mãe dele.

Enfiar o dedo na tomada agora é uma terapia.


Os guaranis agora gostam mais de guaranás.

Toda arte se não for abusada não tem sentido.

Ela deitou no chão e só levantou no dia anterior.

Só gosto de domingos que caírem nas segundas.

Ontem eu pedi socorro para a Maria do Socorro.

O inferno é um bom lugar para comemorações.

Tenho mais grilos na cabeça do que o mato.


Ano passado eu queria um bife bem passado.

O intestino delgado agora está bem grosso.

A pedra foi jogado na água e não se molhou.

Meu estômago é quem dita as minhas regras.

Somos suspeitos para até falar desta suspeita.

A riqueza pode nos ensinar só o que é o vício.

Daqui até aí minhas asas já estão cansadas...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

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