sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Poema-Pobreza

Economizar palavras

Dizer o que não se sente e se diz

Esperar em silêncio

Toda injustiça possível

E a impossível também

Mil desculpas, senhor...


Dizer que está tudo bem

Quase escorregando no abismo

Com a casa prestes à cair

A pobreza perdeu a razão

Não pode comprar outra

Foi sem querer, senhor...


Economizar o que não tem

Passar o pó de café duas vezes

Aproveitar as pontas dos cigarros

Contar as moedas pro pão

Pedir ao Deus que não cremos

Foi mal, senhor, foi mal...


Esconder as falhas nos dentes

A falta de um desodorante

A perspectiva de algum amanhã

Realizar um sonhos antes da morte

Não ser um eleito pela mídia

Não tive a intenção, senhor...


Filas intermináveis nossa

Burocracia cruel aos montes

Riso debochado de uma elite

Os mais fracos todos mortos

Enquanto as massas olham telas

É assim a vida, senhor, é assim...


Economizar o nosso cansaço

Com um otimismo inexistente

Não há sexo pros anjos

E nem razão pra algum sorriso

Quem sabe talvez um dia?

Vá se ferrar, senhor, vá se ferrar...

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