Um tombo sempre será um tombo...
Enquanto suas ancas tremerem no bambolê
Muitas misérias hão de reclamar de si mesmas
E os doces ficarem mais amargos do que são...
Um grito ecoará pela noite mais silenciosa...
Que morram de fome perante o banquete...
Já cansei de toda possível forma de protesto
Enquanto as jovens bailarinas vivem nos quadros
E os destinos se repetem nos quadrinhos sem cor...
Morte e vida no mesmo rio sem Caronte algum...
Abra suas pernas em total desprezo e crueldade
E deixe-me passear em seu campo de batalha
Por intermináveis segundos um tanto que fugazes...
Tropeçar na passarela estava escrito no script...
O teclado estava sujo de poeira e pequenos pedaços
Da rotina dessa minha jaula de velhas grades
Onde um bando de moscas pousam nas fezes...
No banheiro químico da rodoviária o Inferno de Dante...
Uma mágoa sempre será uma mágoa
E não haverão divãs suficientes para contê-la
E todas os comprimidos provarão sua inutilidade...
Acabei de dar um soco bem forte no espelho...
Dão-me náuseas palavras bonitas e tão inúteis
Que valem bem menos que um salgado e um suco
Vendido na rua em sua tão pobre promoção...
Eu piso na merda e a sujo com o meu pé...
Todas as palavras são ditas pela força do hábito
Somos estrangeiros dentro de nosso próprio país
E toda dor é apática quando cumpre seu papel...
A física quântica não está em quantidade suficiente...
Os concretistas não acharam nada mais concreto
Enquanto o dinheiro vai apodrecendo nos cofres
Como cadáveres que estão em nossos planos de vida...
Versos de qualquer tamanho serão insuficientes...
Passar os dias inteiros trancados no quarto sujo
São meras discussões de uma filosofia de almanaque
Onde escolho o primeiro dardo que me atingir...
Falsas ereções espontâneas que desaparecem...
Charutos pegos de encruzilhadas mais noturnas
Pelo poeta que passa mancando em imprecações
Por um fim do mundo que afinal já acabou...
Chapéus-de-couro que foram assim falsificados
Enquanto xaxados eram dançados etilicamente
Em lives com propósito de porra nenhuma...
Nem sempre um riso será um riso...
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).
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