Economizar palavras
Dizer o que não se sente e se diz
Esperar em silêncio
Toda injustiça possível
E a impossível também
Mil desculpas, senhor...
Dizer que está tudo bem
Quase escorregando no abismo
Com a casa prestes à cair
A pobreza perdeu a razão
Não pode comprar outra
Foi sem querer, senhor...
Economizar o que não tem
Passar o pó de café duas vezes
Aproveitar as pontas dos cigarros
Contar as moedas pro pão
Pedir ao Deus que não cremos
Foi mal, senhor, foi mal...
Esconder as falhas nos dentes
A falta de um desodorante
A perspectiva de algum amanhã
Realizar um sonhos antes da morte
Não ser um eleito pela mídia
Não tive a intenção, senhor...
Filas intermináveis nossa
Burocracia cruel aos montes
Riso debochado de uma elite
Os mais fracos todos mortos
Enquanto as massas olham telas
É assim a vida, senhor, é assim...
Economizar o nosso cansaço
Com um otimismo inexistente
Não há sexo pros anjos
E nem razão pra algum sorriso
Quem sabe talvez um dia?
Vá se ferrar, senhor, vá se ferrar...
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