domingo, 9 de maio de 2021

Nada Nunca Foi Tão SImples

Nada nunca foi tão simples, é que os olhos tentam não enxergar. Eu sou o rio, a canoa, o barqueiro e o naufrágio, tudo ao mesmo tempo. Até o meu tempo sou eu e só me acabo quando tento engolir as pílulas que me deram para o mal que nunca tive. 

Não preciso de novas cores, já tenho todas elas. A lembrança é o maior dos enganos que nos incomodam, eu mesmo faço o painel para apagá-lo no instante seguinte ao seu término. Tudo valerá a pena se a simplicidade ali estar contida, sejamos como o menino que não teme a noite porque quer as estrelas.

Rezo em silêncio a maior de todas as orações, cheio de medo, mas sem aflição alguma. Todas as paredes que me cercam podem cair, o teto pode desabar, a poeira pode subir rindo de mim, isso pouco me importa agora. Só não quero me transformar num sorriso de maldade diante de qualquer choro, mesmo que ele seja bem pequeno.

Dou um simples estalo em meus dedos, todos os enigmas estão resolvidos. Nem a solidão consegue ferir-me como queria e acaba na carreira pela escuridão da noite. Eu vesti azul em meu constante luto e acabei ficando mais bonito.

Cheguem logo, a grande festa está para começar. As luzes já se acenderam e tecem comentários entre si de como tudo será bom. Nada é tão ruim que não nos ensine coisa alguma, até espinhos trazem suas lições de casa, só nos resta prestar atenção.

Envelheci o bastante para que detalhes não me incomodem, o meu desengano sobre sonhos inacabados também se acabou. Eu trago todos eles, sem exceção alguma, em meus cheios bolsos e a minha memória pode ser testemunha desde a criação do Universo.

Sinto ainda o gosto das bocas que beijei, alguns deles como as flores que colhi e outros, não se pode evitar isso, como as pedras que feriram meus pobres pés. Tudo pode ser um lago, sereno ou não, dependendo do vento que vem.

Nada nunca foi tão simples, é que os olhos tentam não enxergar. Enxergue mais um pouco meu menino, não chore se o brinquedo quebrou ou o doce caiu no chão... 

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