Pobre relógio
mais entediado do que eu
Tic-tac tic-tac
Olhando os dias que morrem
passivamente
Testemunha de todos os crimes
Boca quase calada
Não pode falar ou gritar
só repetindo feito louco:
Tic-tac tic-tac...
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Nada e nem ninguém conhece o vento
Mesmo achando que sabe, não sabe
Nada e nem ninguém o detém
Os moinhos de Quixote que o digam
Nada e nem ninguém namora o vento
É ele que fala todas as juras de amor
Nada e nem ninguém assusta o vento
Ele nas madrugadas acorda os mortos...
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Não consigo evitar de ser rude
Um dia a ternura feriu-me
Até que perdesse meu fôlego
Nada impede que eu chore
Choro por cada sonho morto
Repousando no ataúde do peito
Impossível não mais lembrar
Dum tal arremedo de felicidade
Que enganou o menino um dia...
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Café em várias doses
Manhãs sem algum medo
(A noite passada já basta)...
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Guardei os menores versos
para a tristeza que veio
Não houve convite
mas assim mesmo ela chegou
Sente-se logo, tristeza
temos muito que conversar...
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Um inseto insiste em volta da lâmpada...
Morrerá ou virará a própria luz?
A flor insiste de colorir ao seu dia...
Até quando a morte não confiscará sua cor?
As nuvens brincam como fossem crianças...
Até que se cansem e caiam nos chãos?
Um apaixonado escreve suas cartas...
Serão lidas ou serão jogadas fora?
Um inseto insiste em volta da lâmpada...
Será que esse inseto será eu mesmo?...
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Um teto sem telhas
Onde a água escorre.
Um chão sem paredes
Ali o vento invade.
Uma porta sem chave
Entre quem quiser.
Uma janela sem encanto
Não mais o que ver.
A vida é simples casa
que o tempo desabou.
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Aves sem nome disputam lugar
Com flores inconfessas...
Onde está o jardim?
No chão ou no céu?
Eu nunca fui sábio
Para decifrar enigmas
E nem bravo o bastante
Para enfrentar eu mesmo.
Esperar a luz se acender
Ou o sol se apagar é parecido.
As águas que passam por aqui
Ainda andam em outros lugares...
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