terça-feira, 25 de maio de 2021

Ela É Eterna

 

Ela é sim,

ela é não, 

ela é a eterna dúvida...


Se a amo ou se a odeio, se vou pelos cantos ou pelo meio, se eu faço bonito ou se faço feio, vou direto ao assunto ou faço volteio, se continuo rude ou floreio, se sou mais um cético ou creio, se me distraio ou leio, se abafo a fogueira ou ateio, se me acovardo ou guerreio, se venho vazio de ideias ou cheio...


Ela é sim,

ela é não,

ela é a eterna dívida...


Ou me disfarço ou me denuncio, não sei se sou mar ou se sou rio, se discurso ou dou um assovio, se entro no fogo ou sinto frio, se penso bem ou tenho um desvario, se destruo tudo ou então crio, se faço uma prece ou entro no cio, se peço desculpas ou desafio, se nada sinto ou me arrepio, se tenho gula ou é fastio...


Ela é sim, 

ela é não,

ela é a eterna dádiva...


Ela é meu desamparo ou a minha coberta, o meu maior erro ou a coisa certa, o centro da cidade ou a ilha deserta, a que me faz dormir ou que me desperta, o sinal de paz ou o sinal de alerta, a boca fechada ou a porta aberta, é como uma cobrança ou uma oferta, como um segredo ou uma descoberta, aquilo que me quebra ou me conserta, o que me prende ou me liberta...

Ela é sim,
ela é não,
ela é a eterna dúvida...

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Me Dá Um Pedaço?

Dá um pedaço de sol aí? Preciso correr algumas léguas de tempo sem imaginar cansaço, sem ver a poeira entrando sorrateiramente pelas narinas até que um dia seja sufocado de vez. Todos esperam na fila, mas nem todos sabem. Toda conclusão é apenas mais um engano que fazemos por natureza. Todo tiro acaba errando o alvo e pega no atirador...

Não precisa escancarar as janelas, luz precisa disso não. Um nesguinha é mais que o suficiente para divertidos invasores. Vamos rir do prédio que desabou, era pra isso mesmo. Os pés se cansaram, os dentes caíram, o moinho parou de moer. Nem os poetas com sua ginga conseguiram correr...

Fico na dúvida se sou palhaço ou ator, mas essa dúvida acaba trazendo consigo pelo menos uma certa certeza: quero agora, amanhã já não mais há, as risadas ou as palmas da plateia são necessárias. Mais que qualquer fast-food, anote aí, um dia cada um verá que era desse jeito e não outro...

Quando o bocado vem na boca, que venha logo o gosto, senão irei cuspir. Não sei se não chão ou na minha própria cara, isso não me importa mais como antes. A memória é um cão que nos lambe a mão antes de morde-la, o gato que roça em nossas pernas antes do arranhão. Doeu muito antes que eu o aprendesse...

Alexandre também foi o Grande antes que seus ossos fizessem o seu papel. Todos os generais já calaram a boca. E os anéis saíram correndo dos dedos e ninguém mais os encontrou. Cada carnaval virou as costas e nem deu um adeus e nem declarou um até breve de enganoso consolo...

O remendo não é pano inteiro, nunca foi e depois do erro, a bagunça já está formada. Escutaram os gritos? São de peitos que antes silenciaram suas razões até que implodiram. A minha emoção está acabando aos poucos. Não consigo mais escutar e chorar com os violinos enquanto os misseis caem sobre Gaza...

A morena gagueja sobre o caixão da filha de onze anos morta, eu me escondo até de mim atrás destas paredes frágeis. A maquiagem será um dia comida pelas rugas, jovens são velhos de um amanhã mais cruel ainda. Só a eternidade do meu choro será minha para até que tudo realmente se acabe...

Dia desses tentei sorrir no espelho e vi as falhas dos meus dentes caídos e fiquem muito aflito: Deveria chorar? Ou cair na gargalhada? Ter a certeza que todos os que venceram, um dia serão perdedores acaba consolando esse meu toque de maldade. Quem mata, um dia morre, quem agride sentirá a bofetada logo, logo...

O macaco entrou na loja de cristais para dançar um tango. Dispensou a orquestra e ele mesmo fez a música. Todo desespero é fugaz, nada vale a pena senão a ternura. Essa faca amolada que eu beijo até que meu sangue escorra até o chão. Prometo não xingar mais as chuvas e nem tentar correr dos ventos, prometo solenemente...

Qualquer dia desses eu saio andando de bicicleta ou voando sobre as nuvens, é quase a mesma coisa. Lantejoulas nas fantasias ou lágrimas nos rostos é quase a mesma coisa. Eu não tenho culpa dos meus pecados, só tenho culpa de ser eu mesmo. Não se escolhem amores, eles não estão nas vitrines, até alguns que possuem preço...

Havia tanta coisa que eu queria e hoje passo na rua sem mesmo olhar. A dor não dói mais. O destino deu com os burros n'água. Minha lápide não me assustará mais, meu epitáfio apenas mais um. Não há morbidez alguma em falar a verdade, por mais suja que ela seja...

Eu não quero nem mais o sol, como o menino olho com meus olhos pedindo esse doce: Me dá um pedaço aí?...

sábado, 22 de maio de 2021

Barturê No Berdiar

 


Não me importo em ser o último desde que seja o primeiro. As suas feições me fazem tremer ao mesmo tempo que rio, como um rio que nem se cansa e nem para. Esqueceram as vírgulas lá trás e eu como um autômato bato palmas para minhas próprias misérias. Vesti uma armadura de seda e papelão suficientemente forte para os meus desamores, sejam eles quais forem. Sofrer pode até ter alguma vantagem nesse itinerário de labirinto.

Eu sou aquele que faz discursos numa língua morta para que todos entendam que o silêncio pode valer algumas moedas. A minha nudez constante acaba me causando náuseas e até aquilo que me esqueci com sofreguidão. Sua terra é muito fria, acenda-me uma fogueira e eu entrarei nela, será minha cama pelas noites em que aqui ficar. Eu não me importo de desenhar novos símbolos pelas cavernas de meus inconfessáveis desejos. Está tudo quase perdido e consumado.

O pássaro fugiu da gaiola, mas acabou voltando. De manducará pra lá toda a sina é lilás, mas sem repetições. Desde quando o pintor se feriu com excessivas cores que nenhuma água parou em terras. Descubra isso e até ganhará um doce. Ai, meu caramba! Não há mais coquinhos e nem extremas-unções para os vivos. O meu computador enlouqueceu de confissões e desejos inconfessáveis. Não há mais pão, só não. Tanto berro, quanto encerro.

De Pirituba pra cá é chão muito. Nem uma broa sobrou pra contar história. Pabulagem pura e acabou tudo. Sou do tempo que centavo era centavo. E as caixas grandes de madeira funcionavam depois de muita calma do freguês. Manoel já foi embora e Fernando foi junto, até nunca mais. Peço todos os dias que a genética tenha funcionado. De mim vou só mesmo, está muito é bom.

A quenga bebeu cachaça toda e nem tonteou. Foi isso? Ria que nem muíé do catiço e quase trepou na mesa e deu discurso e apontou dedo nas fuças de quem tivesse pigarro. Esteira pronta, ninguém quer deitar, sai todo mundo de fino sem fazer barulho no sapato. É assim que se vai e fica no mesmo lugar. 

Respiro com dificuldade mais de metro, é só sair alguma redondilha que o verso cai de maduro. Nem quero mais saber de saber nada. Os fuxicos todos acabaram-se e na mesa acabou a loura. Nem pé, só pó e assim caminha o caminho. Minha cabeça dói que nem Judas, mas mesmo assim nem ganhei. Ventana nunca foi ventania, ventarola, muito menos. 

No barturê, no Berdiar fiz até o que não podia...


(Texto extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 101

 

A própria poeira se cansou

baixou na estrada

nem sei para onde vou

talvez para o nada

Não sei, não sabe, nunca sabemos

a vida é um livro que escrevemos

se lidos seremos é uma outra história...


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a mosca caiu no sal

o sal acertou na mosca

palavras e ideias brincam de roda

sobre a minha pobre cabeça

não há fatos verídicos

apenas mentiras mais fracas

evitar nossos sonhos

é o mesmo que prender o ar

acordamos pela manhã

como se todo mundo se chamasse Lázaro


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Tirei a cartola da cabeça

para começar à fazer mágicas

Descobri dia desses

que para ser rude desnecessito

de palavras tão amargas

O pombo que de lá saiu

era cinza como muitos são

Sempre se está em algum lugar

mesmo quando se chama nenhum

o nada acaba não existindo

As palmas lá da plateia

levei-as comigo com cuidado

Não tenho certeza

de quando ganharei outras

antes que o meu relógio pare...


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Vejo um filme sem trilha sonora

que faltam cores em suas tristes cenas

estou sentado numa velha poltrona empoeirada

e nem sei quando o filme começou ou terminará

presto atenção porque paguei caro pela entrada

alguns segundos e as cenas serão esquecidas

meu coração acaba se acelerando

todas as vidas são filmes velhos bem parecidos


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Não acredite em minhas boas intenções

eu mesmo acabo não acreditando

Eu fiz de uma lata de leite um cofre

onde guardo minhas saudades

Queria gastar cada moeda de recordação

para ter sorrisos que não tenho mais

Mas a avareza do tempo acaba me proibindo

e então me contento com seu barulho na lata


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Minha fraqueza acaba sendo forte

meus pesadelos acabam me divertindo

Encontrei a chave! Encontrei a chave!

Não tropeçarei mais pelas madrugadas

e nem correrei sem destino em escuras vielas

Se não posso evitar o inevitável

pelo menos dancemos juntos uma vez


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Tudo é quase igual, quase igual...

Godzilla surgindo na baía de Tóquio

ou uma joaninha com andando numa folha

são quase bem parecidos...

Tudo é quase igual, quase igual...

Troca-se apenas uma simples letra

e o caminha irá para o lado oposto

e o que gritava agora está calado...

Tudo é quase igual, quase igual...

Num jogo de bolinhas de gude

o Absoluto se diverte antes dos milagres...


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Penso-me bastante

antes que a morosidade da fila

vire alguma pressa

toda a embriaguez que não tive

agora me dói até demais

aqueles que foram antes

jogam dados com alguma paciência


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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Quase Tango

 

Quase tango, quase espanto,

sem ter nada além do espaço

Uma história quando muito,

é a mistura de brisa e cansaço...

Quase pena, quase um luto,

perdeu a guerra, veio fracasso,

Tudo é simples enredo triste,

enredo que eu mesmo traço...

Não há mais gato e nem linha,

esse novelo eu mesmo embaraço

Mas foi tudo ou quase nada,

em cada dia eu morro e renasço...

Triste gosto, quase um veneno,

sou passarinho caindo no laço,

Me dói tudo ou quase tudo,

tome cuidado, nem mais um passo...

Quase um estilo, quase sono,

já fumei tudo, quase um maço,

Se te amei, eu não mais sei,

foi apenas um erro crasso...

Quase música, quase festa,

terno e rude tal qual o aço,

Façam silêncio, fechem a boca,

ouço passos lá no terraço...

Quase tango, quase espanto,

sem ter nada além do espaço

Uma história quando muito,

é a mistura de brisa e cansaço...

sábado, 15 de maio de 2021

De Estrelas e De Sol

 


Pontos distantes

quais meus sonhos

e meus olhos

que mesmo assim veem...

Eu queria estar o mais perto possível

de algum lugar que seja mais longe

de todas as tristezas que existem por aqui...

Pontos azuis

de variadas cores

que brincam 

sempre de mais infinitos...

Afastado de uma solidão não desejada

com milhões de lindas companheiras

que brincam de se esconder do dia...

Ponto sozinho

reinado mais triste

sobre o que passa

que me acalanta chorando...

Mesmo no luto de escuras nuvens

eis que a vida vence e sempre

até que não possa ter mais o sol...

Pontos meus

todos eles meus amores

perdidos por muitos lugares

até que eu os encontre de vez...

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 101

Pobre relógio 

mais entediado do que eu

Tic-tac tic-tac

Olhando os dias que morrem

passivamente

Testemunha de todos os crimes

Boca quase calada

Não pode falar ou gritar

só repetindo feito louco:

Tic-tac tic-tac...


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 Nada e nem ninguém conhece o vento

Mesmo achando que sabe, não sabe

Nada e nem ninguém o detém

Os moinhos de Quixote que o digam

Nada e nem ninguém namora o vento

É ele que fala todas as juras de amor

Nada e nem ninguém assusta o vento

Ele nas madrugadas acorda os mortos...


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Não consigo evitar de ser rude

Um dia a ternura feriu-me

Até que perdesse meu fôlego


Nada impede que eu chore

Choro por cada sonho morto

Repousando no ataúde do peito


Impossível não mais lembrar

Dum tal arremedo de felicidade

Que enganou o menino um dia...


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Café em várias doses

Manhãs sem algum medo

(A noite passada já basta)...


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Guardei os menores versos

para a tristeza que veio

Não houve convite

mas assim mesmo ela chegou

Sente-se logo, tristeza

temos muito que conversar...


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Um inseto insiste em volta da lâmpada...

Morrerá ou virará a própria luz?

A flor insiste de colorir ao seu dia...

Até quando a morte não confiscará sua cor?

As nuvens brincam como fossem crianças...

Até que se cansem e caiam nos chãos?

Um apaixonado escreve suas cartas...

Serão lidas ou serão jogadas fora?

Um inseto insiste em volta da lâmpada...

Será que esse inseto será eu mesmo?...


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Um teto sem telhas

Onde a água escorre.

Um chão sem paredes

Ali o vento invade.

Uma porta sem chave

Entre quem quiser.

Uma janela sem encanto

Não mais o que ver.

A vida é simples casa

que o tempo desabou.


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Aves sem nome disputam lugar

Com flores inconfessas...

Onde está o jardim?

No chão ou no céu?

Eu nunca fui sábio

Para decifrar enigmas

E nem bravo o bastante

Para enfrentar eu mesmo.

Esperar a luz se acender

Ou o sol se apagar é parecido.

As águas que passam por aqui

Ainda andam em outros lugares...


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Paulinho Dançando Na Frente do Nada

 

Tá bom demais. Sedas rasgadas que nunca existiram. São festas muitas com a desgraça humana toda em pedacinhos. Nunca uma espiral foi tão precisa em seus golpes sem mãos. É quase um poema todo esse nom sense. Abismos sem cor, mas totalmente coloridos. Dá gosto não ver. E quando meus pesadelos me atacam, saem correndo pois sou vem pior que eles. Eu sou a queimadura da água que esfriou e a carícia de um fogo quase eterno. Muitas teorias foram feitas à meu respeito, mas nem uma delas me explicou por um simples segundo. Não sei onde ando, esqueci de perguntar aos meus pés. Porra, sô! A madrugada passou por aqui e esqueci de assediá-la. Enquanto os gatos dormem seu predador sono, os ratos rezam solenes por mais um tantinho. Minha elegância de andrajos comove o mundo, mas todos estão ocupados em suas redes sociais. Coloquei flores para todos os meus mortos, alguns deles até sorriram. Em nuvens cinzas escrevi um testamento que só pode ser lido pelos cegos. Não sei de mais nada tem quase meio século, a razão virou-me as costas na hora do gol. Não é para entender, o ator já agradeceu as palmas antes de cair de lá de cima. Alto de altas alturas. Nem os pombos se preocuparam com as mandigas que fizeram. O brilho das velas acesas atraem gregos e profanos. Quase assim e quase não. Por um triz que o veneno não entrou em minhas veias. O mundo é uma laranja que caiu do pé antes de ficar madura. Letras e gostos não fazem rir mais. Passou de moda, sim, senhor. Aqui faz muito frio quando não faz calor. E os bárbaros querem nos massacrar com suas flores. O carro está enguiçado, mas anda, quebra um galho danado para a metafísica mais importante. O beijo não houve e o que eu queria é o que eu menos tive. A fila anda, anda, anda, mas acabo não chegando minha derradeira vez. Nem sei o que poderia ser, só sei que me encharco as águas de todos os turvos brejos e saio sem perigo algum. É uma grande farsa que as letras arquitetaram para que ninguém percebesse as armadilhas do contrato. Os filósofos engoliram em seco, não há mais esfinges perguntando amenidades. Eu sei tudo, especialmente, o que nunca tive noção alguma. Poderia ter sido melhor ou pior. Dependendo do senso de humor de quando o destino chegou por aqui. O mapa se rasgou com o vento e caiu n'água. Juro por Nossa Senhora que era mentira e eu que menti mesmo. Não sou bom e nem sou mau, ser ridículo pode ser uma sina ou uma arte, um tiro certeiro ou uma sorte inusitada. Fiquem em silêncio absoluto que eu quero dançar...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 11 de maio de 2021

Uma de Tédio

Tédio drama

ninguém me ama 

ninguém ninguém...


Os metais substituíram as margaridas

os ruídos se apossaram dos sons

Sou como o cão lambendo suas feridas

já foram embora todos os sonhos bons...


Farsa trama

ninguém me chama

ninguém ninguém...


Os passarinhos não mais voam

estão cansados de tanto voar

E os meus pecados me amaldiçoam

não se importando com o meu penar


Água lama

ninguém telegrama

ninguém ninguém...


Todos os malvados riem de mim

sua maldade os acompanha

Todo começo tem sempre um fim

é apenas uma banal façanha


Valete dama

ninguém proclama

ninguém ninguém...

domingo, 9 de maio de 2021

Nada Nunca Foi Tão SImples

Nada nunca foi tão simples, é que os olhos tentam não enxergar. Eu sou o rio, a canoa, o barqueiro e o naufrágio, tudo ao mesmo tempo. Até o meu tempo sou eu e só me acabo quando tento engolir as pílulas que me deram para o mal que nunca tive. 

Não preciso de novas cores, já tenho todas elas. A lembrança é o maior dos enganos que nos incomodam, eu mesmo faço o painel para apagá-lo no instante seguinte ao seu término. Tudo valerá a pena se a simplicidade ali estar contida, sejamos como o menino que não teme a noite porque quer as estrelas.

Rezo em silêncio a maior de todas as orações, cheio de medo, mas sem aflição alguma. Todas as paredes que me cercam podem cair, o teto pode desabar, a poeira pode subir rindo de mim, isso pouco me importa agora. Só não quero me transformar num sorriso de maldade diante de qualquer choro, mesmo que ele seja bem pequeno.

Dou um simples estalo em meus dedos, todos os enigmas estão resolvidos. Nem a solidão consegue ferir-me como queria e acaba na carreira pela escuridão da noite. Eu vesti azul em meu constante luto e acabei ficando mais bonito.

Cheguem logo, a grande festa está para começar. As luzes já se acenderam e tecem comentários entre si de como tudo será bom. Nada é tão ruim que não nos ensine coisa alguma, até espinhos trazem suas lições de casa, só nos resta prestar atenção.

Envelheci o bastante para que detalhes não me incomodem, o meu desengano sobre sonhos inacabados também se acabou. Eu trago todos eles, sem exceção alguma, em meus cheios bolsos e a minha memória pode ser testemunha desde a criação do Universo.

Sinto ainda o gosto das bocas que beijei, alguns deles como as flores que colhi e outros, não se pode evitar isso, como as pedras que feriram meus pobres pés. Tudo pode ser um lago, sereno ou não, dependendo do vento que vem.

Nada nunca foi tão simples, é que os olhos tentam não enxergar. Enxergue mais um pouco meu menino, não chore se o brinquedo quebrou ou o doce caiu no chão... 

Ponto de Vista

 

Cacos de lixo espalhados pelas ruas

Cheiros de um lindo domingo estragado

Eu cato espinhos com as mãos nuas

E nem percebo se o tempo foi atrasado


Cachorros sem dono com a cara triste

Eu vou respirando o meu ar viciado

Sonhar é o que o meu coração insiste

Mesmo que o prisioneiro seja executado


O garoto de programa já envelheceu

E a garota está com o rosto enrugado

Não há luto para a moda que morreu

O meu medo não olha mais pro lado


Mais um dia é apenas menos um dia

A minha estratégia agora é ficar calado

Guardar o que puder da minha alegria

Antes que tudo esteja terminado


Pedaços de uma solidão mórbida

Correndo perigo se fico acostumado

A ilusão é uma barreira sólida

Qual ponto de vista está errado?...

sábado, 8 de maio de 2021

O Nosso Selo de Cada Dia

Esplendorosamente pequenos ao ponto de passarmos desapercebidos, nenhum alarido é suficiente para que tal regra seja quebrada. Insetos pensantes, num delírio fora de todo e qualquer esquadro. O impossível é a regra a ser seguida, mas até que tudo cesse...

Cansados após todo descanso, numa disputa para ver quem tem as olheiras mais profundas. A noite passada, passada está, mas seu registro está feito nas besteiras que cometemos, mesmo quando tentamos seguir à risca todas as instruções da bula...

Ouço algo que me ensurdece e mesmo quando tento tapar meus ouvidos, meu desespero não acaba adiantando de nada, todo esforço é inútil, o destino nos deixando uma marca ou outra. Toda teimosia teve o seu alto preço e castelos, na verdade, acabam sempre caindo de algum jeito...

Toda e qualquer fila acaba sendo ocupada, o seu tamanho não tem importância alguma, todo tempo é gasto com elas. Alguns de nós, ou quem sabe, a maioria, acaba tendo pressa de mostrar sua idiotice das formas mais originais possíveis...

Estamos presos em cercas de arame farpado, até quando a guerra não parece estar declarada, mas está e isso tem tanto tempo, não percebemos. Cada sonho é um novo soldado que jaz morto no grande front e não houve tempo nem para mandar uma carta de despedida sequer...

Os pássaros já estão entediados com seu próprio canto, as nuvens se recusam de fazer desenhos no papel do céu, o movimento das águas se tornou apenas um mecânico reflexo. Novos abismos para pularmos, os velhos acabaram saindo de moda, a vulgaridade acabou empatando a partida...

Apenas nomes se possuímos alguma sorte, apenas números se a fera nos alcançou antes que a corrida fosse iniciada. Somos apenas uma lembrança malfeita enquanto o esquecimento faz sua lição de casa, a parcela de arrependimento de alguém que acabou dando em nada...

Como fosse a nossa última carta sob a manga, lancemos nossa loucura em cena, essa mesma loucura que morre num arremedo de cru pelos pecados que não cometeu. Todo nom sense acabou nos estendendo sua capa para que não pisássemos molhando nossos delicados pés...

Cada centímetro de nossa pele já ocupado está, cada milímetro talvez e não damos conta de tal façanha, todo ar expirou seu prazo de validade e ainda estamos mortos, mesmo faltando nossa certidão de óbito, até aí meros enganos. Não como retificarmos tais equívocos...

Um ferro em brasa queima nossa pele, mas mesmo assim rimos de tal dor e pedimos até bem mais do que isso. Um cheiro de carne queimada se mistura com milhares de odores, mas estamos confundidos, as ruas estão sujas o suficiente para isso. E sem saber, andamos exibindo este nosso selo de cada dia, mesmo tão patético... 

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 100

 

Não, nunca, desconheço essas palavras pela metade. Hei de teimar até o fim. Nossos sonhos são espinhos que deverão ser sentidos, doer é apenas uma circunstância inevitável ou não. Rir, é o que mais podemos, mesmo na hora do choro. Esperar, mesmo que o tempo pareça ser pouco, mas isso é um grande engano, o tempo só nos manda quando desistimos de não sermos o seu mestre. Não, nunca, devemos prestar mais atenção, os nossos enganos são outros...


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A verdadeira sabedoria ri da nossa cara. Ter não é mais importante de que ser. Tudo o que atingimos, de uma forma ou outra, acaba nos escapando entre os dedos. Os metais enferrujam, os tecidos rasgam, os brinquedos quebram. Os versos são mais duradouros que os castelos; as canções em nossa memória são mais eternas que aquilo que vivemos disputando para depois não querermos mais. A verdadeira sabedoria ri da nossa cara. E muito...


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A minha sombra me segue, não se cansa, não se enfada, não se entedia. Espera pacientemente que eu prossiga pelo caminho. Ela não me condena, nem me absorve. Não me ataca e nem me defende. Não me faz perguntas inconvenientes sobre o que faço ou deixo de fazer. Mesmo quando desaparece no meio da escuridão, continua lá. Calma, tranquila, sempre. A minha melhor companhia.


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Teus olhos assim me seguem

Fera por toda noite...

Quanta luz mesmo escura!

Falta-me o ar

E falta-me o tino decerto...

Mesmo que não penses

Mais em mim

Continuo em minha teimosia...

Por que me mataste?...


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Rasguei minha fantasia

de uma só vez...

Calei todos os blocos

matei esse carnaval...

Fiquemos em silêncio

como bons meninos...

Só nossas asas

continuam batendo...


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Acendi um cigarro como se fosse o último

Falta-me a venda nos olhos feito condenado

Lancei a fumaça como quem desenha

Mesmo que faltem as cores mais necessárias

O amor é assim mesmo e sempre foi

Nunca é pobre, é sempre rico

Mesmo quando dorme em calçadas...


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Tenho tanta pressa

de mim mesmo

Como sol 

pra entrar em janelas

Como tempo

matando relógios

Terças logo serão

apenas quartas

com gosto de quintas

Tudo é uma simples

partida de dominó

Um brinquedo novo

quase quebrado

Tenho tanta pressa

que agora nem 

me conheço mais...


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Urubus e bem-te-vis

disputam espaço 

pelos flashes das câmeras

com seus sorrisos caprichados...

Não há razão 

(pelo menos por ora)

de lembrarmos

de circunstâncias forçadas...

Os loucos tocam clarins

para que a Rainha de copas

ordene logo logo

que cabeças sejam cortadas...


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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Simples Enigma

 

A vida que é cata-vento

Cata o vento devagar

Eternidade ou momento

Gota de chuva ou o mar


A vida folha caída

Sempre à amarelar

Chegada ou despedida

Vamos rir ou chorar


A vida da rosa espinho

Pode ferir ou matar

Eu ando tão sozinho

Até sem rima pra rimar


A vida sem ter apelo

Não posso nem gritar

Triste feito camelo

Tão feio assim não há


A vida feito enigma

Alguém vai me devorar?

Eu sangro sem estigmas

Até quando me acabar...

sábado, 1 de maio de 2021

Outra Paisagem

 

Um sol sem calor...

Não é verão certamente...

Não tenho nenhum rancor

Mas continuo doente...


Mar... Tua beleza me ofende...

O coração ataca a minha mente...

Os peixes que o pescador não vende

Os urubus comem tranquilamente...


A esperança fugidia...

O tesão quase latente...

Não há noite e nem há dia

Para o desejo somente...


Mar... Tua beleza me ataca...

Silenciosa como uma serpente...

A solidão me vem como uma faca...

Me corta tão profundamente...


Adeus sem despedida...

Caminhar sempre para frente...

Estar morto e com vida

Não podia ser diferente...

Sobre Aquela Rosa Desprezada

Do alto de um muro que não existia

eu via tudo e não sorria...


Porque a piada não teve graça

A história não terminou nada bem

A própria vida assim disfarça

A morte que sempre vem...


De um castelo que ninguém morava

meu sonho ainda esperava...


Pois alguns castelos são assim

Foram construídos para depois cair

Os castelos as esperanças o jardim

Vem o tempo para tudo destruir...


Era uma rosa que ninguém queria

que surgiu o espinho e feria...


Um machucado que muito ardia

não ter você pra nunca mais

que meu sono seja apenas covardia

se pode trazer alguma paz...


Do alto de um abismo que não existia

eu não mais hesitava e caía...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...