sábado, 10 de fevereiro de 2018

Eu Até Sei

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Eu até sei, ou pelo menos, penso que sei quais são as suas mágoas neste momento, meu querido filho, mas não se desespere. O desespero é um intruso que chegou no final da festa e não há de nos fazer mal algum...
Eu até sei que os anos estão chegando para você. Eles chegam para todo mundo e nem por isso vamos desistir das coisas que sonhamos. Guardar aquele menino que temos é a nossa única chance de sobrevida. Esconder bem escondido em nossos bolsos cada sonho é mais do que esconder as cartas na manga para o jogo bobo da vida...
Eu até sei que os homens são maus e o mundo perigoso. O sorriso que carregamos pelos nossos dias é o elixir mágico que garante nossa total vitória. Deixemos para lá o preconceito, as diferenças, as coisas bobas, enfim. O nosso respirar é sempre o mesmo, os rios do nosso sangue continuam a sua correnteza até o dia em que não correrem mais...
Também sei que acreditar é difícil, mas não acreditar é bem pior. Há mágica em todos os cantos possíveis e tudo não passa de uma mera questão de saber olhar. Olhos não servem apenas para chorar...
Eu até sei que estamos no meio de uma guerra e que os projéteis nos atingem pelos minutos que correm. Mas a paz só será alcançada em nós mesmos. Pense nisso...
Vivemos tanto! E hoje ainda vivemos. Só os tolos não percebem que o grande motivo desta vida é simplesmente viver e que tudo que restar possivelmente é mais um lucro proveitoso...
Não fique com medo. No dia em que partir, será apenas a surpresa que esperamos como a noite que vem, mesmo quando adoramos o dia. Nesse dia, não chore, lembre das coisas boas que aconteceram e veja que elas não foram poucas...
Eu até sei que você ainda não viu as terras que queria ver, mas isso não é tão ruim assim. Outras terras estão ao nosso alcance sem ao menos notarmos tal coisa, as terras dos sonhos mais simples que podemos alcançar em todo instante que quisermos...
Eu até penso que você talvez não leia isso. São só coisas tristes que esse velho bobo vive teimando em escrever. Mas, quem sabe? Um dia a sua curiosidade seja maior que o desinteresse. E nesse dia, você possa talvez me dar alguma razão...

(Para Leonardo de Oliveira Vicente, meu filho, do livro "Leonardo e o Chão" de autoria de Carlinhos de Almeida)

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