domingo, 25 de fevereiro de 2018

Isso É Apenas Uma Canção

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Isso é apenas uma canção
Não repare se ela ficou malfeita
É que os olhos estão alagados
Não pode ser direita

É apenas mais um desabafo
Quando muito apenas um grito
Por tempo agora morto
Mas que era tão bonito

É coisa de quem viveu muito
Ter muita e muita saudade
Por isso por favor não repare
É apenas coisa da idade

Isso é apenas uma canção
Que escondo em meu peito
Que não preciso mostrar
Que tem muitos defeitos

Mas se você no entanto ouviu
Agora tenha paciência
De escutar até o final
É o que sobrou da inocência...

Não Fui Santo

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Não fui santo
Nem portanto
Não vim buscar minha reza
Vai que pesa
Até na tal consciência
Tenha santa paciência
Escute as minhas histórias
São memórias
De um desmemoriado
Certo ou errado
Foi o que fiz
Infeliz quase feliz
Nunca é tarde
Prum covarde
Sair daqui no galope
Dá IBOPE
Falar meio americano
Sou humano
Isso significa perigo
Vem comigo
A noite até que é pequena
Será que valeu a pena?
Me esconder pelos becos
E tentar olhos secos
Foi malandragem
Ou uma outra bobagem
Ou até outro sufoco
Feito um louco
Amei até me cansar
Já volto já
Estão me chamando na esquina
É essa danada de sina
Fazer esses tais de versos
Réu confesso
Guardo segredo de Estado
Tudo bem tudo errado
Como manda o figurino
Venha cá seu menino
Tenho muito o que falar
Só precisa saber escutar
Escute esse meu assobio
Faz muito que não rio
Mas eu prometo
Que não mais me meto
De mudar as coisas do mundo
Sou pirata e vagabundo
Tenho que ir aos lugares
Outros céus e outros mares
A minha agenda está cheia
Preciso dar volta e meia
Não fui santo
Mas no entanto
Guardo um par de asinhas
É o que tinha
Para mostrar ao cara lá em cima
Vai que pega vai que rima
É muito batuque
Para tão pouco truque
Me beija de novo amada
Mas que nada
Acabei de acordar inda agora
Faça o café não demora
Que por nada fico contente
Feito gente
Vou agora beber uma Sagres
É meio cansativo fazer milagres...

New Lion

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Pode chegar perto que o leão é manso!
Ele só come os caçadores na hora certa
De acordo com as determinações do nutricionista...
Enquanto isso deixe-me levá-lo à passear
Pelas ruas desta nossa querida cidade
Ele gosta de ver coisas interessantes 
E olhe que isso aqui tem até demais...
Vês aquelas pessoas que estão apressadas?
São representantes da nossa própria selva
Pessoas que vivem pelos seus instintos mais básicos
Comer é preciso, mesmo que erradamente
Aliás, sexo e comida é tudo que nós pensamos
Estar na moda é preciso, mesmo de um jeito idiota
Rir é preciso, mesmo que seja às custas da maldade
Chegar em primeiro lugar mesmo sem corrida
Não tenha medo caro amigo felino!
Eu sei que somos os bichos mais perigosos 
Mas é nosso costume termos auto-piedade
E não podemos deixar a máscara cair...
Vês aquelas pessoas tristes pelas calçadas?
Esse é um trabalho difícil que conseguimos efetuar
São outros seres que nós colocamos por lá
Nós lhes presenteamos com dor miséria e sofrimento
Uma tarefa difícil! Levamos séculos fazendo isso!
Tem sido uma obra de nossos grandes políticos
E dos nossos honrados homens de negócios
Lembra, meu querido leão, dos dias do Coliseu?
Eram tempos bons aqueles, mas agora ultrapassados
Somo agora muito e muito mais requintados
Devoramos com as doenças que inventamos
Com as drogas e os remédios que desenvolvemos
Com as loucuras que nossa amada mídia impõe
Só o antigo costume da guerra não sai da rotina
Já se cansou deste nosso circo de horrores?
Podemos voltar para casa, já está ficando tarde
Que pena que hoje não há chacina para lhe mostrar...
Seria ótimo lhe mostrar á que ponto chegamos
Em termos de banalidade e de vulgaridade
Somos mestres no assunto e caprichamos nisso!
Pode chegar perto que o leão é manso!
Ele só come os caçadores na hora certa
De acordo com as determinações do nutricionista...

Nem Menos, Nem Mais

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Sou um cidadão moderno
Minha cidade é Alcatraz
Num perigo domesticado e terno
Eu espero os vendavais
Nem menos, nem mais...

E se não estou enganado
Isso nem bem nem mal me faz
É apenas um leão enjaulado
É a transa no banco de trás
Nem menos, nem mais...

É o ar que me sufoca
São as comoções gerais
É o sanduba e uma coca
E isso já me satisfaz
Nem menos, nem mais...

Todo homem é um faquir
A cama de pregos lhe apraz
E nem estamos aí
Se nos acaba o gás
Nem menos, nem mais...

Vou no meu próprio enterro
Parece com velhos carnavais
Talvez nascer fosse um erro
Mas é que haviam quintais
Nem menos, nem mais...

Sou um cidadão moderno
Que brinca entre os tremendais
Logo ali é o meu inferno
Vade retro Satanás!
Nem menos, nem mais...

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Meu Querido Money

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Meu querido money:
Impulsionador de guerras e discórdias, que faz do homem um predador sanguinolento e mesquinho, que faz que o irmão desconheça o outro, pesadelo dos que não possuem nada, choro das crianças que suplicam por pão...
Meu querido money:
Que derruba castelos sólidos, que desfaz as mais firmes ilusões, devorador contumaz de sonhos, aquele que esvazia as almas e faz que os dias escureçam de repente sem explicação alguma...
Meu querido money:
Que invade os lares sem licença alguma, derruba os móveis, destrói toda e qualquer paz e depois vai embora como se nada acontecesse, herança de Caim, olhos dos mais insanos e bárbaros governantes de nosso pequeno mundo...
Meu querido money:
Tu que fazes do rapaz um desiludido das coisas mais importantes que um ser humano pode ter, que tiras o frescor e o encanto da jovem transformando-a em apenas mais uma, que destróis os jardins, matas as flores e alcança até as estrelas tirando todo e qualquer brilho delas...
Meu querido money:
Desilusão do velho, destruição do moço, tu que usas as fantasias mais absurdas possíveis e possuis mais máscaras que todos os foliões dos carnavais de Veneza, em todas as épocas de uma vez só...
Meu querido money:
Quimera que não faz pergunta alguma, destituída de toda e qualquer lógica, devorador de talentos, fomentador de toda a imbecilidade que alguém pode conceber em seu pior desvario...
Meu querido money:
Tu que gosta de brincar com os marionetes que somos, que dá todas as cartas porque inventaste o próprio jogo e suas regras mais que desleais, vilão de um drama que se repete sem quaisquer finais felizes...
Meu querido money:
Na verdade não és sequer um dos sete pecados capitais, até eles estão sob tuas ordens, são mais inocentes do que tua pessoa, grande gerador de incoerência, pai gentil de todas as atrocidades cometidas durante a história...
Meu querido money:
Tu que escolhes o que comemos, o que vestimos, se podemos dormir ou não, quando amamos e se nosso gozo pode valer apenas ou se será apenas uma tarefa à realizar, dono das palavras que apenas saem de nossa boca sem ter vindo de coração algum...
Meu querido money:
Queria eu fugir do teu espectro aterrorizante, escapar de escutar tua voz arrogante e desagradável, ir para o monte mais alto ou para o abismo mais profundo tentando não te encontrar, mas segues pela noite dos dias como um cão feroz e cujo o faro é o melhor de todos...
Meu querido money:
Quisera eu te dominar pelo menos um instante, subir em teu dorso como o cavaleiro que doma um cavalo xucro e raivoso, te espalhar como quem joga flores pelo caminho, sabendo que os meus sonhos e meus versos valem mais...
Meu querido money:
A nossa luta é apenas uma competição desigual, porque, meu querido além de todas estas atrocidades que fazes, também fazes o oposto de tudo isso, tuas maldições e tuas bençãos andam lado a lado, num estranho e interminável caleidoscópio chamado vida e, assim tem que ser e assim o será, pagando a madeira e os pregos para construir meu último barco...
Meu querido money...

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Foda-Se

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Foda-se o desvario dos burgueses
Que querem nos tratar como reses
A falsa moral que coloca a mão na cara
Que não vê a desgraça humana não repara
O rubor nas faces toda vez que xingo
Quero dar o troco e dessa vez me vingo
O troco pela merda que vocês fizeram
Porque dum mesmo buraco é que vieram
E para um mesmo buraco que irão
Quem se banqueteia sempre é o chão

Foda-se o conjunto de regras de etiqueta
O politicamente correto e o careta
A sua cara deslavada a cara de pau
Somos humanos somos o bem e o mal
Eu erro você erra e todo mundo erra
Até o perigoso na hora do perigo berra
Não sou nem quero nem serei bonzinho
Deixe-me em paz para seguir meu caminho
Isso é que podemos chamar de vida
Não queira tentar viver outra coisa parecida

Foda-se a maldade dos maus políticos
Com seus argumentos idiotas e raquíticos
Não quero santinho e nem seu abraço
A vida não é circo e eu não sou o palhaço
Nem quero me arriscar no globo da morte
Não invejo àquele que teve alguma sorte
Eu até que poderia ter nascido mais bonito
Sem essa cara assim de meio esquisito
Mas esse é apenas o meu destino - fodeu
Se eu tivesse outra cara não seria mais eu

Foda-se os honrados pais-de-família
Que escondem os podres de filhos e filhas
A mãe que é certinha e na rua tem amante
Cada um que tenha sua cruz e siga adiante
Eu não critico mas por favor não critique
Deixe de frescura e nem tenha um chilique
Existe muito mas eu nem quero mais falar
Porque meu latim eu não quero mais gostar
Deixem que eu fume e beba a minha cachaça
A vida só vale quando se tem pirraça

Foda-se foda-se e foda-se... 

Yes, Nós Temos Bacanas

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Yes, nós temos bacanas,
Bacanas pra dar e vender
Temos um povo mal amado
Um povo mal nutrido
Um povo mal alimentado
Jeca Tatu vivendo escondido
Num edifício inacabado

Yes, nós temos bundas de fora
Pra que o gringo possa ver
Nativas locais para a exportação
Faça aquela linda pose
Não precisa de motivo não
É apenas mais aquele close
Que não tem qualquer explicação

Yes, nós temos crianças nas ruas,
Que vivem de matar ou morrer
Uma infância desamparada
Transformada em morte adulta
Cuidado com a barra pesada
Olhe o michê e olhe a puta
Não somos culpados de nada

Yes, nós temos políticos safados
Leis pra não se entender
É tão bom o final de semana
Vamos lá visitar os nossos parentes
Só assobie não chupe cana
Pode fazer mal aos cacos de dentes
Copacabana você não me engana

Yes, nós temos bacanas,
Bacanas pra dar e vender
Vamos acabar com esse mal
Tenho cara mas não sou otário
Amanhã pode ser carnaval
Tire esse seu defunto do armário
Lá vem vindo um temporal

Yes, nós temos bananas...
Yes, nós temos bacanas...

Dancemos

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Dancemos - sem hora e sem lugar
Não cremos, mas é para acreditar
Vivemos e isto em qualquer lugar...

E quando estamos tristes - choramos
Mas se ainda podemos, cantamos
E mesmo batendo a preguiça, nós vamos...

Somos humanos - sem compaixão
E dizemos que temos a razão
Mas não sabemos o X da questão...

Cantemos - mesmo fora da hora
Pois não sabemos quando ir embora
É questão de tempo, o aqui e o agora...

É noite - quem dera que fosse dia
Nem sempre podemos ter alegria
Mas quem sabe? Aí vem outra folia...

Tudo é - apenas mais uma surpresa
Na caça - é o caçador e sua presa
Mas a alma ainda tem a leveza...

Já falei muito - vamos parando por aqui
Não é noite, mas já é hora de dormir
Esperemos - outra vida que vai vir,,,

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Sem Nome

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Sem nome... Sem ninguém...
Não tem vida... Não tem...
Nem tem mal... E nem bem...

Nada quer... Nada espera...
Não adormece... Nem desespera...
Não se ilude... Não tem quimera...

Sem falha... Sem razão...
Sem folha... Sem estação...
Sem medo... Sem emoção...

Sem sede... Sem sono...
Sem objeto... Sem dono...
Sem companhia... Sem abandono...

Falta estrela... Não tem sorte...
Não tem vida... Só tem morte...
Nada dói... Nenhum corte...

Não tem pressa... Nem tem calma...
Só tem corpo... Não tem alma...
Nem um drama... Nenhum trauma...

Não tem partido... Não tem voto...
Só um papel... Talvez uma foto...
Não é ateu... Nem é um devoto...

Não tem flor... Não terá vela...
Não tem pudor... Não terá cela...
Não cantou mais... Não verá a novela...

Não é culpado... Tão-pouco inocente...
Caso encerrado... Algarismo somente...
Mais um enterrado... Mais um indigente...

Me Chamo Vento

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Nada tenho, tudo sou...
Não sei donde venho, não sei onde vou...
Nada levo, tudo transporto
O que faço? Não me importo...
Sou noite, sou dia...
Meu nome? Ventania...
Nada espero, sou impaciente
Levo casa, poeira, gente...
Levo as folhas pra dançar...
Onde estou? Em qualquer lugar...
De tudo rio, pra tudo choro
Tenho pressa, não me demoro...
Meu dono? Eu nunca tive...
Eu sou tudo aquilo que vive
E também a morte chegando...
Não tenho pés, vou voando
E não conheço obstáculo,
Sou o uivo, o espetáculo,
Sou brisa roubando beijos,
Sem nenhum motivo, todos ensejos
Carinhos delicados no jardim,
Sou o drama, a trama e o fim...
Sou a vida que espanta,
O mar que se levanta...
Sou a fúria e o perdão,
Sou deus e sou o cão...
Nada tenho, tudo sou...
Não sei onde ir, só sei que eu vou...
Nada levo, tudo carrego...
Sou bom, sou mau, não nego...
Sou desespero e sou alegria...
Meu nome? Ventania!...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

É O Que É

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É o que é
E mais nada...

Um espraguejo 
Ou uma mentira contada
É um beijo
Numa face gelada
Uma promessa
Bem ou mal cumprida
É a vida... É a vida...

É o começo
Que pode ir terminando
Não mereço
Mas posso estar ganhando
Uma tortura
Que acabou mal cumprida
É a vida... É a vida...

A obra prima
Que pode estar rabiscada
Pinta um clima
Que pode ser furada
Todo risco
É a bola dividida
É a vida... É a vida...

Sem maquiagem
É a cara lavada
A minha viagem
Não tem Terra Encantada
Só um deboche
Tipo uma farsa escondida
É a vida... É a vida...

É o que é
E mais nada...

Considerações Perante a Pálida Face da Morte


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Morrer sem sabe saber se mais novo ou mais velho
Porque os imbecis não aparentam ter alguma idade
Era um dia desses um dia comum um dia qualquer
Porque qualquer dia é o último na verdade

Nasceu sem ao menos ter noção de estar vivo
Morreu sem também qualquer uma noção de morrer
Assim todos nos haveremos de um dia de descansar
Porque a única coisa que conhecemos é o sofrer

Ele mal podia dormir e não podia comer sozinho
E comia tudo aquilo que por acaso de lhe davam
E se chorava por alguma coisa parecida com saudade
Seus companheiros de destino pouco se importavam

Lembra daquele bicho de pelúcia meio sujo e resgado?
Deviam tê-lo colocado pelo menos em seu caixão...
Ele era tão querido e não saía de seus braços
E  agora é apenas uma coisa caída no sujo chão

Dizem que vai ser enterrado no cemitério da cidade
Se existirem parentes alguns parentes sentirão alívio decerto
Mas pelo menos um que sou eu menos indiferente
Sentirei saudades de sua presença aqui por perto

Os que choram choram e é o tempo todo chorando
E há ainda aqueles que nem podem chorar
E se alguma coisa que falam que não é memória
Se há alguma coisa que é céu ele deve lá estar... 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Fazem a Certeza


Elefantes e miosótis fazem a certeza
Que era apenas um velho cobertor pelo caminho
O velho cão abana a cauda e lambe minhas mãos
Não há perigo algum mas tire-o daqui logo!
Aqui passam naves espaciais e antigas diligências
Eu não quero ser o responsável por mais um drama
Aquilo se coloca sobre minhas pernas e me assusta
Não há descoberta maior que a descoberta
E o sangue espalhado em teu rosto me dá carinho
Nada mais enternece que a solidão em pedras macias
Eu quero a certeza de todas as minhas dúvidas
Já falam nisso ditados antigos talvez já soterrados
Nunca mais me fale em tristeza!
Estou faminto para comer todos os teus sorrisos
E teus beijos podem até ser a Pedra Filosofal
Não somos apenas selvagens somos muito mais
Eu gosto do teu corpo como quem esmaga colibris
Tire essa venda que me cega cada instante mais
Eu não queria ouvir tanta e tanta coisa!
Mas agudamente os dentes acabam rangendo
E isso faz com que nova febre se anuncie
Somos irmãos agora e isso pode ser muito bom
Estive muitas vezes no céu e não encontrei anjo algum
As massas poderão gritar aquilo que lhes aprouver
Eu sou aquilo que é desconhecido entre todas as gentes
Calma! Muita calma! Eu não subi ainda ao cadafalso
E quando subir será por divertimento e causa própria
Estive pensando nessa lenda de forma triste
E acordei antes que o relógio despertasse
Mas mesmo assim já era dia alto
Tragam-me o sono novamente se puderem
Sonhar contigo é a maior de todas as dádivas...

(Extraído de "O Livro do Insólito e do Absurdo" de Carlinhos de Almeida)

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Diga

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Diga o milagre não diga o nome do santo
Pois é tudo apenas uma questão de espanto
É que às vezes não escapamos da intriga
Não pense duas vezes diga diga
Eu já chorei e agora chorar não quero mais
Agora sou rei desse e de outros carnavais
Até a morte já se tornou a minha amiga
Sinta-se em casa diga diga
É uma dor tão grande que já dei até bobeira
Não é a última nem tão-pouco a minha primeira
E você pode até fingir que não liga
Mas não se faça de rogado diga diga
Eu quero e quero todas as coisas de mim
Nunca vou esquecer daquele meu jardim
Vem aquela vontade que aflige e instiga
Não precisa resistir diga diga
O mundo é um eterno estado de conflito
Deve ser o sonho estou me sentido esquisito
Mesmo cansado vá adiante e siga
Abre logo essa boca e diga diga
Preciso pouco quando muito uma esteira
É cada qual escondendo sua sujeira
Hoje nem vamos puxar briga
Você me trouxe a resposta? diga diga
Acho que a menina gostou do meu cabelo
Mas se visse ontem seria um pesadelo
E amo tanto aquela minha rapariga
Esqueça um pouco o problema e diga diga
O meu tempo é agora ele já veio
Não importo de me chamarem de feio
Já levantei na cama já deu formiga
Estou variando seja sincero e diga diga...

Eu Até Sei

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Eu até sei, ou pelo menos, penso que sei quais são as suas mágoas neste momento, meu querido filho, mas não se desespere. O desespero é um intruso que chegou no final da festa e não há de nos fazer mal algum...
Eu até sei que os anos estão chegando para você. Eles chegam para todo mundo e nem por isso vamos desistir das coisas que sonhamos. Guardar aquele menino que temos é a nossa única chance de sobrevida. Esconder bem escondido em nossos bolsos cada sonho é mais do que esconder as cartas na manga para o jogo bobo da vida...
Eu até sei que os homens são maus e o mundo perigoso. O sorriso que carregamos pelos nossos dias é o elixir mágico que garante nossa total vitória. Deixemos para lá o preconceito, as diferenças, as coisas bobas, enfim. O nosso respirar é sempre o mesmo, os rios do nosso sangue continuam a sua correnteza até o dia em que não correrem mais...
Também sei que acreditar é difícil, mas não acreditar é bem pior. Há mágica em todos os cantos possíveis e tudo não passa de uma mera questão de saber olhar. Olhos não servem apenas para chorar...
Eu até sei que estamos no meio de uma guerra e que os projéteis nos atingem pelos minutos que correm. Mas a paz só será alcançada em nós mesmos. Pense nisso...
Vivemos tanto! E hoje ainda vivemos. Só os tolos não percebem que o grande motivo desta vida é simplesmente viver e que tudo que restar possivelmente é mais um lucro proveitoso...
Não fique com medo. No dia em que partir, será apenas a surpresa que esperamos como a noite que vem, mesmo quando adoramos o dia. Nesse dia, não chore, lembre das coisas boas que aconteceram e veja que elas não foram poucas...
Eu até sei que você ainda não viu as terras que queria ver, mas isso não é tão ruim assim. Outras terras estão ao nosso alcance sem ao menos notarmos tal coisa, as terras dos sonhos mais simples que podemos alcançar em todo instante que quisermos...
Eu até penso que você talvez não leia isso. São só coisas tristes que esse velho bobo vive teimando em escrever. Mas, quem sabe? Um dia a sua curiosidade seja maior que o desinteresse. E nesse dia, você possa talvez me dar alguma razão...

(Para Leonardo de Oliveira Vicente, meu filho, do livro "Leonardo e o Chão" de autoria de Carlinhos de Almeida)

A Barra da Poesia


Eis a barra da poesia
Não muito diferente
Fala de coisas de mundos
Fala de sóis e de gente
Fala do que faz chorar
Também fala do contente

E eu aqui estou parado
Silencioso em frente à tela
Tipo quem espera
O desfecho dessa novela
Sabendo que a vida é triste
Mas que também é tão bela

Eis a barra da poesia
Tudo vê tudo alcança
O que viveu o que vive
O velho o moço a criança
Aquilo que nós perdemos
E o que sobrou de esperança...


Uma Festa

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Uma festa, a cara suja do cotidiano
Vamos agora apenas nos pintar
E cantar e dançar e pular
Com o ano que repete outro ano

Uma perfeição feita de imperfeições
Vamos viver enquanto vai dando
E sobreviver mesmo que blasfemando
Pois assim são nossos corações

Uma festa, com e sem qualquer motivo
Vamos fazer o mais alto dos alaridos
Sobraram alguns dos cinco sentidos
Sobrevivi e ainda não sei se estou vivo

Uma festa, o bloco do sujo vai indo
Por que chamarmos a nossa razão?
Resistimos à qualquer uma traição
E ainda de quebra vamos rindo

Uma imperfeição feita de perfeições
Por isso não me leve à mal
Mesmo sem beijo hoje é carnaval
A grande emoção de todas emoções...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Talvez Eu Morra

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Talvez eu morra numa dessas noites com chuva. Sem deixar órfãos, herança ou viúva. Como um caminhante que não deixou rastro. Não fui um astro. Não brilhei em nenhuma estreia. Não arranquei aplausos da plateia. Não fui sequer um número à mais. Não fui pra guerra. Nem lutei pela paz...
Talvez eu morra num desses becos da vida. Sem ferida. Sem doença aparente. Mais do que um indigente. Apenas mais mais um desiludido. Um traído. Um distraído. Apenas mais um alguém. Que não fez mal e nem fez bem. Que olhou atentamente as telas. Que desejou o final das novelas. Tudo deu certo e tudo deu errado. Está tudo acabado...
Talvez eu morra por erro do calculado. Na hora certa e no momento errado. Poderia ter vivido mais um pouco. Ter sido mais louco. Com menos sufoco. Rindo para o fim do mês. Ter sido menos burguês. Ter sonhado mais. Ter dado risadas sem motivo. Não ter tido tanto medo do cais. Alçado velas e ter partido. Não estaria aqui a essa hora. E nem teria ido embora...
Talvez eu morro de susto. Com o custo da água. Com o preço da luz. Com uma antiga mágoa. Com o antigo amor que teima. Com a brasa que pensei apagada e que queima. Com a alegria até. Com descrença e com fé. Contraditório. Humano e paradoxal sim. Com as alegrias que ficaram no jardim...
Talvez eu morra em plena folia. No último dia. Junto com as maiores ressacas. Com o brilho da faca me ferindo. Enquanto vou indo e nem sentindo. Fazendo os versos mais banais. Eu que sentei nas calçadas, eu que brinquei nos quintais. O menino malvado e quietinho. Que quis ter asas como passarinho. E que chorou e chorou. Porque nunca voou...
Talvez eu morra por meus vícios. Por impraticados sacrifícios. Crucificado num calvário particular. Desviando das quedas. Contando as moedas. Que deveriam estar lá. A fumaça que invade os pulmões. A cachaça que desvia as razões. O jogo que é toda a nossa vida. Tudo fere sem deixar ferida...
Talvez eu morra fazendo o verso. Fui humano e isso confesso. O animal do topo da cadeia alimentar. Não tenho muito o que deixar. Talvez meu riso, talvez meu chorar. Já rezaram por mim? Fechem a tampa e deixem para lá...

Esqueça os Versos

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Esqueça os versos, mate a canção,
Sonhar não faz tanta falta,
Se nossa febre anda meio alta,
Se na noite só há escuridão.

Vá fazer outra coisa, vá caminhar
Apesar da neblina estar densa!
É coisa perigosa tentar pensar,
É como um crime que não compensa.

Mas se assim mesmo você teima,
Escute este conselho de um amigo,
Cuidado com fogo pois ele queima,
Querer a humana glória é perigo.

Fique pois num canto fazendo contas,
Como todo bom burguês que se preza,
Continue em suas pragas e na reza,
Fazer determinadas rimas são afrontas...

Vérsia e Controvérsia

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Eu parado ando mais
Sou o senhor da guerra
Quero paz!

Carros amontoados
Na contramão
Estamos acompanhados
Nesta solidão...

Eu calado falo mais
Sou um moralista
Quero bacanais!

Olhos arregalados
Na escuridão
Depois de examinados
Vem a extrema-unção...

Eu sedado vejo mais
Estou satisfeito
Quero mais!

Corpos catalogados
Com sofreguidão
Os alvos estão apontados
Disparem o canhão...

Eu parado ando mais
Sou dono da tristeza
Quero carnavais!

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Cigano

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Eu tenho mil estradas
Por elas todas vou andar
Não sei se vai dar em nada
E se há muito pra chorar

Eu só conheço os dias
As fogueiras assim acesas
O ouro dessas alegrias
A prata das minhas tristezas

Os rios que ultrapasso
As pontes que vou passar
Não importa o que faço
E se um dia eu vou chegar

Sou pirata e sou vidente
Sou amante e amo a paixão
Vejam o ouro no meu dente
E a adaga em minha mão

Eu tenho mil estradas
Por elas todas vou andar
Não sei se vai dar em nada
Só sei que vai dar lá...

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Canção das Alegres Carpideiras

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As carpideiras estão alegres, estão contentes
Elas adoram curtir seu barato
As camas estão cheias de doentes
Há muito o que encher o seu prato

Lá vão elas pelas ruas, dançando
Até disfarçam pra ninguém ver
Que quando elas estão chorando
Elas o fazem por que tem de ser

As carpideiras estão alegres, muito felizes
Nunca acham seu ofício feio
São velhas e moças de todas as matizes
O que importa é seu bolso cheio

Paga quem puder lhes pagar
Até o choro tem o seu preço
A morte um dia vai chegar
Mesmo sem nome e sem endereço

As carpideiras estão alegres, satisfeitas
Como os foliões nos carnavais
E as lápides já estão perfeitas:
Idiotas, descansem em paz!...

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Eu Falo

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Eu falo porque falo 
Hei sempre de falar
E até o igualo
Com o meu pensar

E as flores até doentes
Irão desabrochar
Pois ficaram contentes
De se admirar

E a luz do sol o dia
Há de nos queimar
É certo que a alegria
Não vai mais passar

E sempre é cedo
Para se apagar
Continuo o brinquedo
Até eu me cansar

Peguemos as palavras
Vamos desenhar
Não são nossas escravas
Vão nos acompanhar

É esse o meu destino
Não vou mais teimar
Que seja desatino
Mas o que que há?

Eu falo porque falo 
Hei sempre de falar
E até o igualo
Com o meu cantar...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Eu Quero Falar

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Eu quero falar. Toda hora é hora e nem vou pedir desculpas por isso. Não me venham com convenções baratas e nem com o modismo que já acabou semana passada. Eu consigo ser elegante como um paquiderme passeando entre os lírios...
Eu quero falar. Mesmo que passado o pleito não fui nem um reles candidato. Eu sou cidadão do mundo. Desconheço as cercas de arame e as linhas dos mapas. Sou mau e mesquinho como qualquer um. Mas pelo menos tento não ser. As minhas bandeiras são mais coloridas. São aquelas que secam nos varais e que minha mãe corria para pegar em dias de triste chuva.
Eu quero falar. Sou a voz de tantos que moram sob o céu. Me visto com o mesmo farrapo dos injustiçados. E faço de trono as inúmeras calçadas que a vida nos legou. Não queiram me calar. Seu esforço é inútil.
Eu quero falar. Com a rudeza dos que calejam as mãos na terra. Com a sutileza dos que manejam as cores na tela. E com o ar da desesperança dos que vivem versos. A minha voz são todas as vozes ao mesmo tempo.
Eu quero falar. Já perdi o medo dos batalhões que poderão vir por aí. Descobri humanos sob as fardas. E medos por sob todos os olhos. Me descobri como sou e isso foi mais que o bastante.
Eu quero falar. Deixem que eu xingue e esbraveje e incomode o sono dos que não possuem pena e nem dó. Eu quero tremer o teto das mansões e o piso dos apartamentos de cobertura. Eu nunca tive bons modos e já é muito tarde para tê-los. 
Eu quero falar. Que meu grito derrube as máscaras. Nem todo dia é carnaval em Veneza. O carnaval é outro. É aqui quando fazemos coisas pequenas que o contentamento vem junto. Nada mais e nada menos.
Eu quero falar. Apontar o dedo em direção aos carrascos e dizer: Agora é a sua vez! Abrir a porta de invisíveis prisões e espantar os fantasmas escondidos sob encardidos lençóis.
Eu quero falar. Hoje e amanhã e depois. Todos os dias que os dias me derem de presente. Não posso esperar mais. Cato meu tempo como o velho mendigo que conta suas moedinhas para o próximo café.
Eu quero falar. Declarar meu amor pelos que sofrem. Pedir desculpas por ter feito tão pouco...

Sangram Pés

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Sangram pés. Porque o caminho é indiferente aos sons da tristeza e da desesperança. Ele os escuta e quase se deleita. Sangram pés. Porque assim o querem ou um vento mais forte fez como fazem os rios. Sangram pés. E a roda de muitos ou poucos dias e noites não cessará jamais. O manual de instruções é milimetricamente calculado. Sangram pés. E as nossas via-crucis não irão dar em redenção alguma. O terceiro dia veio depois do segundo e antes do quarto. Sangram pés. E meus olhos atentos têm visto muitas loucuras mais sãs por aí. Há mais virtudes em certos pecados do que na beatitude dos covardes. Sangram pés. E as feiticeiras sorriem enquanto executam seus noturnos vôos. Há surpresas em seus novos sabás e o Todo-Poderoso veio dar uma voltinha. Sangram pés. E as minhas besteiras acabam tendo algum bom senso. Não porque escolhi as palavras e sim porque fui escolhido por elas. Fui o último da fila. Acabam faltando a minha dose de vacina para me imunizar dos sonhos. Sangram pés. E o relógio escapa do pulso e acaba caindo na areia movediça. Eu sou o próprio movimento mesmo enquanto parado. E o capítulo da novela que foi cortado. Sangram pés. Não olhe diretamente para o meu rosto. Nos meus olhos podem conter duas coisas: o meu amor e a tua ingratidão. Mesmo os vilões mais malvados às vezes escondidos choram. Sangram pés. E muitas vezes faltou sorte aos pés de coelho. Os tratores passam por cima dos trevos de quatro folhas. E acabam faltando pétalas nos mal-me-queres para que se decifre algum enigma. Sangram pés. Não temos culpa se os bordados falharam. E se algumas minúcias foram até esquecidas. Esquecer pode ser até bom quando se bebe demais. Vamos batucar nas mesas aqueles sambas sem carnavais. Sangram pés. E nem o doutor poderá nos socorrer. Hoje é o dia mais importante para esquecermos o dia de ontem. A memória nunca foi nosso forte. Sangram pés. E estão faltando alguns degraus na escada de Jacó. Só iremos pular amarelinha se nos derem aquelas nossas asas. É tempo de nossas brincadeiras. Sangram pés e sangram muito. Nossos pés...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...