sexta-feira, 31 de maio de 2013

A Dor Que Sinto Agora


A dor que sinto agora
Dói mais que a dor que sinto
As juntas doerão porque o corpo pede
Pés cansados teimarão em não andar
E a respiração imita o que foi um dia
Não é essa a minha dor
É outra bem pior...
Eu choro incontáveis mortos
Enfileirados em suas covas rasas
Sem nomes ou datas que os identifique
São apenas alguns números
Numa sucessão monótona
Como num relógio de camelô
Eles que vieram algum dia
Alguns mais contentes outro menos
Mas cada um em sua nuvem
Eles que vieram sem saberem
Que no mundo não há lugar para sonhos
O mundo é feito de ilusões não de sonhos
Os sonhos quase nunca são maus
Mas as ilusões assim o são
Elas apenas nos visitam sempre
Para mostrar castelos de cartas caindo
E quão mesquinha nossa alma é
Como dói como dói como dói
Mais que saber da morte de velhos amigos
Mais que saber que tudo vai mal
E ficar tentando ser moderno
Sem alcançar a velocidade do tempo
Me digam logo a chave da redenção
Ou o caminho certo da loucura
Talvez a dor passe logo
Ou então o sono chegue breve...

Pequeno Êxtase


Que seja um êxtase pequeno
Um êxtase por coisas normais
Que viva em plena guerra
Querendo dias de paz
Mas que seja como os outros
Sempre querendo mais
Talvez tolo ou repetitivo
Como as ondas no cais
Não me importa que seja
Pra mim tanto fez e tanto faz
A vida me fez assim
Passaram tantos carnavais
Cada vez um sonho morto
Outro sonho vindo atrás
Que seja um êxtase pequeno
E o resto sombra lilás...

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Pelo Planeta

Imagem relacionada
Árvores mais valentes
Pássaros guerreiros e cantores
Prender por entre os dentes
Todas as suas dores
Cachoeiras claudicantes
Ar em torno sufocado
Velórios todos instantes
Tudo indo errado
Disfarce com classe
Consciência embotada
Como se bastasse
A passagem para o nada
Fina flor da sociedade
Ganhar é a nossa meta
Sem ter saciedade
Tire o seu da reta
Baleia vira ração
Panda pro churrasco
Mais fumaça pro pulmão
Sem razão e sem asco
Não importa para os cegos
Destruir sem volta
Que alimentem os egos
Sem nenhuma revolta
A mídia tudo esconde
É tudo um mistério
Sem trilhos o bonde
Vai nos tirando do sério
Mais um brinde outro trago
Amanhã não há futuro
Só um gosto amargo
Nenhuma luz no escuro
Vamos brincar na aldeia
Tirem o índio de lá
A mão está cheia
Ainda quer segurar
O choro não resolve
Aquilo que não se sabe
O planeta ainda move
Antes que ele desabe...

sábado, 25 de maio de 2013

Litania Para Os Ossos


Levanta da tua cova
Quebra as tábuas do caixão
Ainda tem tempo, prova
Que a loucura tem razão

Sacode o pó da mortalha

Estala logo teus ossos
Retorno logo à batalha
Pelos sonhos que são nossos

Porque mesmo enterrado

Teu sonho ainda não morreu
E mesmo que abandonado
Nem tudo se perdeu

Levanta da fria terra

Esquece a tua antiga dor
Um dia acabará a guerra
E brotará de novo o amor

Esquece o medo dos vivos

Que correrão ao te ver
A vida tem mais motivos
Pra chorar e pra sofrer

Mesmo que ossos chacoalhem

E as órbitas sejam vazias
Que as novas se espalhem
Que haverão novos dias

Levanta da tua cova

Quebra as tábuas do caixão
A vida assim se renova
Brotando aí do chão

sexta-feira, 24 de maio de 2013

In Sinceris


Joguei bola de gude fui rude fiz o que pude
Tremi na base qual kamikazi feliz fui quase
Esqueci defeitos eram planos perfeitos teus peitos
Eu quase acordei fui quase rei ainda não sei
Vamos ao ataque vamos ao conhaque cartola e fraque
Choque na tomada obra acabada eis aí Torquemada
É a hora da cerveja é a hora do não veja que seja
Nada vai mal tudo vai igual quando é carnaval
Engana o bobo engabela o lobo tudo é roubo
Isso não é poesia não é putaria é outro dia
Eu falo e tremo é ao extremo eu sonho e temo
Viva cansado bico calado certo e errado
Fechado pra balanço sem descanso corno manso
Cinema nacional cenário mundial etc e tal
É como um disco é como um risco é um cisco
Maldade extrema rude poema novo emblema
É quase nada é quase estrada não há chegada
Mais pesado mais cercado mais errado
Eu nunca vi eu nunca ri não estou aqui
São só metais todos iguais só anormais
São dias chuvosos são nervosos e trevosos
Não há solidão é tudo invenção depende da estação
Foi desde o início um precipício o mesmo vício
Não tem parelha ferrão de abelha uma centelha
Governo de fato governo de rato cão sem gato
Apenas foto apenas moto apenas loto
Raiva fraterna guerra eterna doutrina palerma
Tudo muda com ou sem ajuda Deus nos acuda!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Para As Estrelas


Amores possíveis no jardim
No jardim as possíveis cores
Chega bem perto de mim
E me leva aonde fores
Pode ser no bolso assim
Me perdoe pelas dores...

Festas possíveis nas ruas

Nas ruas bandeiras tremulando
Tenho minhas mãos ainda tuas
E meu coração palpitando
São lembranças mais cruas
Que o tempo vai descascando...

Milhares de estrelas nos céus

Nos céus muitas estrelas reais
Eu sentei no banco dos réus
Mesmo nesses tempos de paz
Dos olhos caíram os véus
E para lá não voltarão mais...

Me esquece no fim do dia

No fim do dia  a partida
Sem dor ou tristeza ou alegria
Apenas o que se chama vida
Que partiu numa alma vadia
Levando apenas uma ferida...

Sentido

Resultado de imagem para fila de escola
Palavras de duplo sentido
Motivos de dupla razão
Um dos lados é escolhido
Mas continua a solidão
Nativo mais estrangeiro
Uma única multidão
O último será primeiro
Dependendo da seleção
Sou caixeiro-viajante
Levo água pro sertão
Não ando um instante
Sem sair da contramão
Eu estou bem aqui longe
Amo com sofreguidão
Me visto que nem monge
Com roupas da estação
Minha amada detesta
Quando falo em paixão
É uma triste festa
Que tem até sermão
Nada mais interessa
Que perder a razão
Rápido também é pressa
Em pedra se fez o pão
O carrasco tem pena
Alguns prédios cairão
Lírios brotam na arena
Nas cordas do violão
As moscas saem andando
Elefantes pegam avião
Carpideiras festejando
A pane no vulcão
Que conto bem contado
Sobre nossa extinção
É segredo bem guardado
Em toda publicação
Se tem boca fica em coma
Covardia dá galão
Borboleta não se doma
É andorinha sem verão
A direita é canhota
Mel parece limão
O gato tirou a bota
Só anda de pé no chão
É tudo tão delicado
Tire o dedo ponha a mão
Honesto jogo de dado
Quem vence é patrão
Fiquei tonto na ciranda
Foi apenas um dia de cão
Um soldado é que comanda
O terceiro batalhão
Eu escondo na peneira
Segredos de escuridão
E a minha maior besteira
Vale mais que um milhão
É perigoso o carneiro
E covarde esse leão
Um farol sem faroleiro
Pode trazer salvação
Umas coisas são boas
Mesmo se más elas são
Lá trás estão as proas
Do barco sem direção
A estrela matutina
Escurece meu sertão
Começando se termina
Faça logo a lição
Eu fiz várias piadas
De um mundo chorão
São várias dentadas
Do mesmo escorpião
Palavras de triplo sentido
Motivos sem ter razão
Esperem o rei está vivo
Vai levantar do caixão...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Poema de Ninguém

Ninguém é feliz
Apenas está
Mesmo que voe
Está no mesmo lugar
Ninguém é triste
Apenas permanece
No maior pecado
Há uma prece
Ninguém canta
Finge alegria
E quando vemos
Já é outro dia
Ninguém chora
É pego de surpresa
Mesmo sem fome
Está na mesa
Ninguém defende
Apenas apela
Não há verdade
Apenas a tela
Ninguém nos ama
Apenas faz sexo
Porque o amar
É mais complexo
Ninguém acaricia
Apenas roça
Se há culpa
A culpa é nossa
Ninguém idealiza
Apenas deseja
Na mesa do bar
Só há cerveja
Ninguém olha
Apenas enxerga
O que o olho vê
As vezes cega
Ninguém ataca
Apenas prossegue
Se há fardo pesado
Há quem carregue
Ninguém aceita
Apenas engole
Assim é a vida
E não é mole
Ninguém escapa
Só se engana
A gaiola está aberta
Mas é bacana
Ninguém mostra
Apenas disfarça
Não existe caçador
Tudo é caça
Ninguém inventou
Fez parecido
É esse enredo
Papel definido
Ninguém venceu
Há perdedores
E nossos prêmios
São nossas dores
Ninguém é feliz
Apenas está
E quando muito
Nem aqui é lá...

Não Foi, Foi, Não Foi, Foi

Não foi a rua
Não foi a lua
Não foi a nua
Foi só um coração doente
Que sente
Que mente 
Ardente
Não foi o tédio
Não tem remédio
Alto do prédio
Foi só uma alegria impaciente
Que tente
Que rente
Invente
Não foi a cama
Não foi o drama 
Não foi a chama
Foi só uma loucura permanente
Que gente
Que lente
Ausente
Não foi o ano
Não foi o plano
Não foi humano
Foi só um amor de adolescente
Que rente
Que crente
Esquente
Não foi a fantasia
Não foi a luz do dia
Não foi a correria
Foi só uma dor latente
Que patente
Que parente
Dente
Não foi a preferência
Não foi a ciência
Não foi a paciência
Foi um coração doente
Que em frente
Que atente
Ausente
Não foi e foi...

domingo, 19 de maio de 2013

De Um Cansado Coração

Resultado de imagem para homem velho com a cabeça em suas mãos
A estrela que brilha agora é a sua
A minha se apagou tem muito tempo
O riso é o seu sem dúvida
Porque a graça saiu dos meus olhos faz tempo
Deixemos pra lá erros e acertos
As contas já foram acertadas pelo destino
Há todo um mundo lá fora para ser descoberto
E eu não quero mais andar com esses pés
Tudo cansa e tudo dói
E a única certeza que tenho sobre coisas
É que sonhar pode ser tortura
Para os que deixaram a esperança de lado
Se eu faço versos ainda é por teimosia
Ninguém os lerá sentindo coisa alguma
E se acharem alguma coisa não dirão
Porque a pena não deve ser contada
Pois fere mais ainda quem sofre
É frio o tempo e é assim mesmo
Nada pode mudar as estações
E se pudesse eu não estaria mais aqui
Estaria num bar qualquer bebendo e cantando
Ou em alguma terra que esqueci o nome
Não diga que eu não tentei
Eu tentei muito e você muito bem disso
Tentei até que o desespero fechou-me os olhos
Pra que não enxergasse mais o dia
E fizesse as luzes da noite minhas companheiras
Não é que esteja tudo acabado
Pelo contrário tudo continua
Mas é o ritmo das marés que traz tristeza
E tudo agora é uma grande festa
Mas minha alma não foi convidada
Se puder me dê um beijo novamente - adeus...

Um Canto de Guerra


É guerra tanta
É guerra santa
Que ninguém vê
E vamos rindo
E nem sentindo
Quando vai ser
Lá vem do norte
Lá vem sem sorte
Pra nos prender
É essa grana
Que nos engana
Sempre a crescer
Que tira o nome
Que traz a fome
Pra nos comer
É padre-nosso
É sem remorso
Por quem vai ser
Ninguém é tanto
Pra secar o pranto
Que vai nascer
Tome cuidado
Escolha o lado
Que vai vencer
O velho sistema
Já matou esse poema
E o que vai nascer
Esqueça o drama
Esqueça a trama
Vamos correr
Correr pra briga
Que é tão antiga
Temos que vencer
É guerra santa
É guerra tanta
Sem perceber
Choro e aflição
Na cidade no sertão
Onde possa ter
É o embaraço
É a briga pelo espaço
Quando vai ser

sábado, 18 de maio de 2013

Faz Falta

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A flauta faz falta
A paz faz mais
E a boca
Ainda é pouca
Pros versos
Bons e perversos
O coração não explode
Enquanto pode
E eu me contenho
Enquanto tenho
Mais motivos
De estar entre vivos
E me calar
Até onde dar
A rima é bonita
Mas é aflita
Aí escuto Chico
E fico e fico
A chuva cai
Sem mãe sem pai
Cai por cair
Sem ter onde ir
Como o rio anda
Sem ter ciranda
Como o mar volta
Sem revolta
Livre e solto
Às vezes revolto
Às vezes normal
Noutras fatal
É tudo isso
Tal compromisso
É toda espera
É toda esfera
É uma conta
É uma ponta
É desvio de percurso
É abraço de urso
É a mão da esmola
Pouco me consola
A lira traz saudade
Mas é vaidade...

São Eles


São eles - os meus medos noturnos
São eles - os enganos mais que diários
São eles - os passos dos coturnos
São eles - os fatos nada extraordinários

São eles - meus sonhos abortados
São eles - não ouvem meus apelos
São eles - os contados trocados
São eles - fim de mês pesadelos

São eles - rostos de rua indiferentes
São eles - comentários desconcertantes
São eles - produtos de um mundo doente
São eles - consumistas delirantes 

São eles - que marcham para o nada
São eles - que não param pra respirar
São eles - que se acham da pesada
São eles - que têm medo do que não há

São eles - que fecham suas janelas
São eles - que fecham seu coração
São eles - suas idiotices tão belas
São eles - senhores do sim e do não

São eles - que cospem no prato
São eles - que quebram o ovo
São eles - que brincam de gato e rato
São eles - que enganam o povo

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Meu Silêncio


O meu silêncio tem a boca grande
Tão grande e não dá pra fechar
E ele fala por aonde ande
Fala até que possa cansar

Ele fala de coisas feias

Coisas que não são de se admirar
Fala do sangue quente nas veias
Que não pára de queimar

O meu silêncio começou nos versos

Mas agora foi pra rua
E ainda tem segredos já confessos
De um dia ir pra lua

Ele anda em largos passos
Vou ocupando todo meu dia
Se triste ocupa todos os espaços
Tentando se tornar alegria

O meu silêncio tem idades eternas

Sempre existiu e existirá
Foi de um homem das cavernas
E em lendas já está

Ele anda de pés limpos sobre as lamas

Em qualquer lugar pode andar
E seus sons são garotos de programa
Que estão sempre a me ligar

O meu silêncio tem a boca pequena

Mas é grande esse seu grito
Mesmo quando ele envenena
Ele consegue ser bonito...

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Mais Rápido!

Resultado de imagem para corrida de são silvestre
Mais rápido assista a novela
Mais rápido sinta a emoção
Botaram fogo na favela
O carro entrou na contramão
A roupa é feia mas é bela
É que manda a estação

Mais rápido coma logo tudo
Tem que deixar o prato vazio
Mais rápido com pés de veludo
A vida treme de frio
Aceite logo o absurdo
De ser um poço vazio

Mais rápido seja sempre igual
Mais uma ovelha é o rebanho
Não é natural ser natural
Ter um diferente tamanho
É diferente ser normal
Em terra que só tem estranho

Mais rápido pé no acelerador
Não há tempo nem pra dormir
Sinta tesão não sinta amor
É aquilo que está por vir
Segurem direito o andor
Porque ele esta prestes à cair

Mais rápido não olhe pro céu
Só dá tempo de olhar o extrato
Você tem que cumprir seu papel
Está na hora do primeiro ato
Não é preciso tirar o véu
Na brincadeira de gato e rato

Mais rápido acabou a poesia
Não há mais porque sorrir ou chorar
São iguais as horas do dia
E os dias estão a se igualar
Acabou? Mas quem diria...
Mesmo assim vamos teimar

Mais rápido! Mais rápido!

Era Um Rio


Era um rio diferente...
Levava barcos... Levava gente...
Levava prum mar profundo
Ou era mar ou outro mundo...
Nele também iam folhas e flores...
Tantas alegrias e tantas dores...
E não havia noite nem havia dia
Nunca parava e sempre ia...
Levava tudo sem distinção...
O que era sim e o que era não...
O que era rua e o que era ninho...
O que era água e o que era vinho...
Levava sempre... Sempre adiante...
O que era amor e o que era amante...
Levava treva e levava luz...
O que afasta e o que seduz...
Só que quase ninguém o enxergava...
Nem mesmo os sonhos que ele levava...
E ele partia da mesma ponte...
Sem ter moedas... Sem ter Caronte...
Sem perda ou ganho... Sem ter bagagens...
Tudo ficava em suas margens...
Era um rio diferente...
Levava a alma... Levava a mente...
Levava prum mar distante
Ou era vida indo em cada instante...

terça-feira, 14 de maio de 2013

Talvez Cinzas, Nem Sei

Imagem relacionada
Cinzas na fogueira da noite passada
Cicatrizes na alma que foi violada
Anseios que nem chegaram ao papel
Tivemos tudo menos algum céu
Cavaleiros andantes sem ter figura
Passos incertos na noite escura
É tanta coisa que eu nem me lembro
As portas fechadas do meu dezembro
Carros que não vão mais à passeio
A dor que não sabemos de onde veio
Façamos tudo menos chorar
Não há mais música para dançar
Eu me pergunto sem ter porquê
E em silêncio chamo você
Aquele espelho já se quebrou
Eu já vou indo nem sei quem sou
Tudo é óbvio menos a vida
Nada é certo só a nossa despedida
Não espere nada deste cinema
O que nos resta é só poema
O que nos falta é tão pouco
Mas se eu digo me chamam de louco
Falta jogar todos os anéis fora
Antes que a alma já vá embora
Falta rir do que é mais sério
Falta ver que não há mistério
Não falta dinheiro não falta
É só ilusão de uma febre alta
Não falta poder pois já temos
É que antes da briga nos rendemos
Eu não sou o arco eu sou a seta
Não sou o projeto sou a meta
Eu não sou a ordem sou o desmando
Não dou adeus mas até quando
Não sou alegre mas já sei rir
Não sei voar mas já sei cair
E se o discurso ficou mudo
Seja bonzinho e coma tudo
Já me espera um outro carnaval
E pra quem fica boa noite e tchau!

Teoria da Dispersão de Alguns Sonhos


Não são mais estrelas num qualquer céu
São apenas versos dispersos sob um véu

Não são lembranças ternas e eternas por aí

São às vezes sonhos que eu não vivi

É tudo estranho e às vezes tudo confuso

Como a mente estando tipo em parafuso

Eu vi teu rosto mesmo quando não vi

Tipo uma febre amarela que não senti

E eu estava sem relógio pra contar o dia

E eram vinte e quatro dores numa agonia

Eu engoli tanta coisa certamente engoli

Eram gostos amargos que eu não escolhi

Por trás de todo vidro o menino olhava

Janela e olhos e tudo enfim desabava

Não há salvação nem daqui nem dali

E a foto antiga na parede ainda me ri

Não é mais voo e sim a queda da ave

Era um gol garantido que bateu na trave


Não são mais estrelas num qualquer céu
São apenas versos dispersos sob um véu

Não são lembranças ternas e eternas por aí

São às vezes sonhos que eu não vivi...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Canção do Desatino


Se eu pudesse mudar o destino
E cada dia que vivi pudesse voltar
Fazer as vontades do meu menino
Fazer ele não mais chorar
Emendar o tempo que é fio fino
Eu juro que fazia, Naná!

Se eu pudesse ressuscitar a esperança

Abrir a voz de novo e cantar
Mandar continuar os passos da dança
E desta vez não fosse mais acabar
Fazer ventar uma brisa mansa
Eu juro que fazia, Naná!

Se eu pudesse dizer mais loucuras

Dizer e alguém ao menos escutar
Pudesse alcançar mais alturas
Pudesse não parar de voar
Pudesse espantar as noites escuras
Eu juro que fazia, Naná!

Se eu pudesse escrever mais versos

De coisas mais bonitas de se olhar
De meus desejos agora dispersos
Que me ardem de febre e fazem delirar
Fechava estes meus olhos perversos
Eu juro que fazia, Naná!

Se eu pudesse estar em todos os lugares

Ou como um barco ir e não mais voltar
Ver a alegria da dança de todos pares
Dançarmos todos sem poder parar
Acender os incensos em todos os altares
Eu juro que fazia, Naná!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Estar Estar


Estar em todos os lugares
Ao mesmo tempo diversos ares
Estar pintado de várias cores
Em todos os sentidos todos amores
Estar vivendo todos os fados
A mesma moeda e seus dois lados
Estar vivendo todos momentos
Numa alquimia todos elementos
Estar vivendo estar palhaço
E ocupar todo este espaço
Estar voando estar passarinho
O céu é pouco pra estar sozinho
Estar cantando tudo que é nota
É fonte d'água no peito brota
Estar cego de ser tanta luz
E a escuridão ainda seduz
Estar negro e estar vermelho
E ser loucura e ser conselho
Estar em água e estar em fogo
E isso é estar parte no jogo
Estar curado ao estar doente
E ser feliz como tanta gente
Estar sentado e estar em pé
Sem diferença entre ser e é

Estar em todos os lugares

Ao mesmo tempo diversos bares
Estar sentindo todas as dores
Por ter vivido grandes amores
Estar jogando todos os dados
Sobre meu manto esfarrapado
Estar vivendo todos os momentos
Numa polifonia todos os ventos
Estar vivendo estar palhaço
Engolindo tudo bebendo o espaço
Estar voando estar sozinho
E ser a rosa e ser o espinho
Estar olhando e tudo se nota
São sete léguas e nenhuma bota
Estar pregado em qualquer cruz
Nascemos sós e estamos nus
Estar branco ou estar lilás
É tudo vida e tato me faz
Estar em ar ou estar em terra
Mesmo na paz há outra guerra
Estar tão bem e estar tão mal
Era enterro e era carnaval
Estar sentado e estar em pé
Sem diferença entre ser e é...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Canção Feita de Retalhos de Sinceridade


Água na concha das mãos de um menino
Na beira calma de um riacho
Flores bem pequenas espalhadas pelo campo
A tristeza se acabando num sorriso
Um beijo sincero em minhas faces
Se não há sol a chuva vem de mansinho ou não
O mar balança eternamente contando coisas
Um zumbido de abelhas é escutado longe
E os pássaros teimando em pintar o dia
É cedo para sofrer de novo e hora de amar
As coisas que não vi guardo com mais carinho
E os fantasmas já foram para outras paragens
O orvalho em pequenas teias agora descansa
E eu continuo escolhendo frases mais bonitas
Pra poder te falar um dia quem sabe
O frio nos pés não os entristece como antes
E no fim de cada caminho um novo nasce
Eu não fiz as estrelas mas tenho todas elas
E fiéis vêm todas as noites ver seu dono
Não se preocupe pois sempre estarei bem
O tempo mau agora é meu amigo
Acabou meu tempo pra discursos mais longos
Jogos de futebol de rua são mais importantes
Eu tirei os sapatos não repare
E joguei a gravata num canto qualquer da sala
A sorte falou que atenderá meus apelos
E que se não fez antes não foi por maldade
Ave César! Nós que vamos viver te damos tchau!
Esse tempo é tão bom como qualquer outro
Pra colher morangos pelo chão
E contar os segredos mais inauditos
As fogueiras serão acesas pelas noites
E haverão novos astros nascendo no chão
Vamos comigo não espere mais
As pedras dos castelos cairão um dia
Se formos fazer façamos hoje
Com o carinho extremo como um bicho
E com ternura suficiente como eles também
O poder já se confundiu todo 
E em suas palavras está sua condenação
Nada mais nos engana só a inocência
Mas aí é um jogo bom que repetimos
O menino já bebeu a água e sorri
Sorrisos são pedaços abertos do céu em cada um
Vale a pena ver de novo aquele velho filme
Em que sou o mocinho e não há perigo no final
Ave César! Nós que vamos viver te damos tchau!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Maria Pegue As Tralhas


Maria pegue as tralhas
Vamos embora desse lugar
Aqui existem malhas
Que não existem no além-mar
Aqui o homem trabalha
Com outro homem a lhe explorar
Aqui se lutam batalhas
Sem ao menos se provocar
E a tristeza se espalha
Como uma peste no ar
E nem todas essas falhas
Tiveram nossas mãos a ajudar

Maria pegue vamos embora
Um barco nos espera lá no cais
Qualquer tempo já é hora
De procurarmos nossa paz
E me agonia se há demora
Ver as coisas que a maldade traz
Aqui todo mundo grita e não ora
Diz que é bom e só maldade faz
O lobo mata o cordeiro e chora
Pra não se ver a maldade por trás
E enquanto sua presa devora
Já fica olhando e achando mais

Maria pegue nossos trens
Junte tudo numa trouxa só
Não é preciso tantos bens
Quando se tem um bem maior
Quando se sabe que mais além
Há o que não acumule pó
Existe o alma num eterno zen
Uma mente sem complicados nós
Se perdermos o barco que vem
Sabe-se lá o que venha após
Se ficar eu grito e você sabe bem
Como grito se a dor é atroz

Maria pegue as tralhas
Esse mundo de maldade não é nosso...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...