A primeira dor não foi nada. Ela foi só o de repente de um clarão sufocante. Foi um brilho sem estrelas mais que fogo. Que feriu os pulmões e ensinou para o resto da vida. Nela estavam contidos todos os poemas que nunca escrevi. E os perdões que não pedi por falta de chance. É noite sempre noite. Mesmo quando acabamos de acordar para a vida. Mesmo quando distinguimos todas as cores e são muitas. Cores que conheço e outras que nunca conhecerei. É a dor conjugada em todos os modos e tempos possíveis. O culto do improvável que se faz presente em todas as formas. É o jogo joguemos. É fogo queimemos. São as frases malcuidadas que deram certo. São planos infalíveis que deram errado. E assim nosso mundo foi conquistado. Ou será que foi o mundo que nos conquistou? Admirável mundo novo. Um dia não haverão mais tuas amarras.
A segunda dor sim essa doeu. Doeu como os cantos que não queremos escutar. Porque não é a tristeza que invade. É o infarto com saúde. É a reflexão sem idéia. O agitado yoga vulgar e mesquinho. Um sem-palavras que fala demais. Ele sofre de insônia e tem mania. Paranóia inversa. Vamos puxar conversa. Dizer quão ridículo e infeliz quem caiu em suas mãos. Pois o carrasco avisa. E não sabemos se é verdade ou pura estratégia. Não existem palavras erradas. Pois elas estão onde estão. São apenas lâminas que cortam as cordas ou o pescoço. São lâminas que brilham. São lâmpadas para os insetos. Nós somos os insetos. E na manhã seguinte varridos para fora. Borboletas ou estão dormindo ou morreram nestas horas. Somos as mariposas. Há um coral de grilos. Nos temos os nossos. E um bailado de pirilampos dando falsas pistas de um enigma já muito tempo decifrado. Papel gasto. Pétalas espalhadas pelo chão em séria brincadeira. Haja pétalas. Às vezes faltam gemidos na liquidação de inverno. Nada está doente. Mas acaba tudo estando. É assim. Acabaram de inventar uma nova antiguidade de milênios...
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