segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Certos Anjos


Certos anjos nos protegem, 
Outros nos fazem cair.
Alguns trazem coisas boas,
Alguns o choro que há de vir.
Um beijam nossa testa,
Outros beijam nossa boca.
Uns nos falam de virtudes,
Outros fazem a vida louca.
Um nos fazem ter coragem,
Outros têm medo de barata.
Aqueles me dão a fé,
Estes a paixão que mata.
Alguns deles fazem promessas,
Outros vivem em brincadeira.
Uns falam línguas estranhas,
Outros só falam besteira.
Uns vêm sempre serenos,
Outros às vezes tristonhos.
Os primeiros falam de esperança,
Mas os outros só de sonhos.
Uns vêm sempre que oro,
Outros fogem quando grito.
Uns dão o que mereço,
Outros querem fazer bonito.
Uns riem da minha sandice,
Outros possuem kizila.
Uns são imparciais,
Outros são como da família.
Uns falam de lendas antigas,
Outros trazem um filme inédito.
Uns falam sobre minh'alma,
Outros tem cartão de crédito.
Enquanto uns cantam seus hinos,
Outros pedem minha cerveja.
Uns choram por meus erros
Enquanto outros falam assim seja.
Um fala que me ajuda,
Outro jura que me ama.
Um me afasta do mundo,
Outro me leva pra cama.
Uns me querem tirar o sal,
Outros querem pôr pimenta.
Uns querem a minha cura,
Pra outros minha febre aumenta.
Uns vêm me ver aos domingos,
Outros ficam a semana inteira.
Alguns voam pelo Universo,
Outros vão até lá em casa.
Uns são anjos exemplares,
Outros nem têm mais asa.
Certos anjos me protegem,
Outros nem estão aí.
Uns falam em promessas futuras,
Outros lamentam o que perdi.
Certos anjos...
Certos anjos...

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Somos Modernos

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Somos modernos. Somos eternos. Somos os ternos. Construídos com a mais alta tecnologia. Somos o dia. O prato do dia. A notícia em primeira mão. A comoção nacional. A primeira opção. O mais novo cigarro. E o carro.Vindo na contramão. Somos os pães. As manhãs. Os mais honrados cidadães. O novo vídeo de mil polegadas. A tela. A janela. A estrada sem pegadas. Somos o riso pré-fabricado. A saudade sem distância. O início. O vício. A ânsia. A sandice. A velhice. Sem infância. A comida pré-congelada. O cartão de dados. Dados infinitos. O clamor desesperado. Mas sem gritos. Há mais números. Menos nomes. Na verdade e meia. A piedade alheia. Gestos matando fomes. Somos cantores. Somos atores. Não temos dores. Elas ficaram no Plano de Saúde. Fiz o que pude. Eu faço tudo. Sou bem mandado. É o veludo. Pro caixão ficar forrado. Somos a moda. Somos a foda. Medidas contraceptivas. Várias mortes vivas. Milhares de olhares. Muitos bares. E malabares. É a nova novidade. Legítimo artificial. Menos mal. Eu tento ser sempre igual. Somos modernos. Somos eternos. Não somos ternos. O terno saiu de linha. O trem saiu da linha. Erva daninha. Vamos falar outro idioma. Com todas abreviações. Não sabemos fazer a soma. Mas todas inovações. Corretamente políticos. Apocalípticos. Politicamente corretos. Alguns insetos. Formigas pensantes. E falantes. Quantos mirantes. Mausoléus cheios de movimento. Somos modernos. Somos eternos...

sábado, 20 de outubro de 2012

Não É Noite


Não é noite... É só aflição
É o ritmo acelerado
Aflito desesperado
Lá dentro do coração

E andam meus pesadelos
Como quem vai no mercado
Presságio vindo marcado
Levantam os meus cabelos

Não é noite... É só medo
Do plano ter sua falha
Esquece não espalha
A dor também tem enredo

E nem sei onde é o começo
É triste estar fadado
Nem sei qual é o lado
Ou se mereço teu apreço

Não é noite... É tempestade
Me queima esse mormaço
E me falta o espaço
Pra ficar bem à vontade

A testa queima e arde
Eu sou um pobre coitado
Menino mofino e trancafiado
Pronto pra ser um covarde

Não é noite... É só dia
O dia está sempre nu
Às vezes é um cruel azul
Mesmo sendo de alegria

Eu rio sem ter motivo
Maluco bandido safado
Mas devo dizer obrigado
Quase morto quase vivo

Não é noite... Não é noite!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Para Renata

Não chore amada
É apenas uma pontada
Que às vezes dá
Pra machucar o coração
É a vida, minha cara
É só somente a vida
Que nem tu odara
Mas bem bandida
É a vida, dividida
Boa mas que nem ferida
Não chore, não adianta
É lá no fundo da garganta
Que sofre a emoção
Uma coisa bem feita
Mas que não está sujeita
A nenhuma explicação
Acontece e acontece
Não há exorcismo
Não há prece
Não há cinismo
Nenhum remédio curou
Quando menos se espera
Lá vem a fera
A fera se chama amor
Bendita maldita
Na hora o pano caiu
É cena é fita
A paixão nunca sumiu
Ainda te amo
Humano profano
Sai ano e entra ano
É hoje e amanhã
Me beija deseja
Que assim seja
Me diz que é minha fã
E o resto é nada
Amada amada
Teu corpo some na curva
Que curva é turva
Eu vou morder tuas ancas
Tão lindas tão francas
Percorrer todo perímetro
Desse teu corpo
Meu porto absorto
Lamber cada centímetro
Me salva me ajuda
Me tira da geladeira
Primeiro primeira
Só não me iluda
Eu vou te chamar de rameira
Quer queira não queira
Não tem nada igual
Saudemos o carnaval
Saudemos o Zé Pereira
Te amo minha abelha
Querida sofrida
Às vezes bandida
Se dá na telha
Morena vermelha
Pentelha que tudo apronta
Me afronta me conta
Me fala queu tou cansado
Nem sei andei andando
Tava te procurando
Pra tudo que era lado
Me traga alguma notícia
Por certo me faz bem
Preguiça delícia
Na hora do vai e vem

Futebol


É como um futebol.
Faça chuva ou faça sol.
O nosso time vai entrando.
Vamos respirando.
E a bola rola na grama.
Ninguém me ama.
A partida é a partida.
E só há a vida.
Bobos ou astutos.
Só há noventa minutos.
As vezes prorrogação.
Pobre coração.
Uma grande sede.
E o olho na rede.
Que sempre espanta.
É tantra. É tanta.
Fúria num peito só.
É tudo. É nó.
É o grito lá na geral.
Que drible fenomenal.
São cores se confundindo.
Só rindo. É lindo.
A nossa febre é alta.
É falta. É falta.
É tudo por um triz.
Xingaram a mãe do juiz.
Não vale botar a mão.
Aqui é a lei é do Cão.
É só correr pro abraço.
Se come mais um pedaço.
No fundo é um combate.
Derrota. Empate.
Se pensa em fazer besteira.
É tudo uma grande feira.
É a tarde de domingo.
Na próxima eu me vingo.
Continuo vendo as imagens.
Fazendo minhas bobagens.
E o resto quem sabe.
No meu peito ainda cabe.
Uma outra vez.
É certo o fim do mês.
E o leite pras crianças.
Quem sabe são esperanças.
São dias do porvir.
Levantar e depois cair.
Cair sempre de novo.
É o novo. É o povo.
Saiu na Revista Veja.
Coloque outra cerveja.
Há muito perdi o nexo.
É o sexo. É o sexo
Com minha patroa.
De boa. De boa.
Amanhã visto a camisa.
Precisa? Precisa.
Eu quero fazer barulho.
É o orgulho. Orgulho.
É um entre os milhões.
Nos sótãos e nos porões.
Pertenço à realeza.
Tá bom. Beleza.
Agora me sinto o tal.
Tá chegando o carnaval...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Que Nada


Que nada. Não precisa pedir desculpa. Não foi sua culpa. Não foi sua mancada. Foi a vida. Que já vem corrida. Pra ser cumprida. Qual carta marcada. Levanta essa cabeça. Não tenha vergonha. Desde nascença. A vida é tristonha. E qual seja a crença. Qual seja a fé. Não se evita. A vida simplesmente é. A vida é por um pouco. As vezes é sombra e as vezes brilha. Eu sou o louco. Você é pai de família. Você faz as contas. E eu dou os gritos. Você aguenta as pontas. E eu vou fazendo meus ritos. A tua vida é a casa. A minha lida é a rua. É cada um na sua. Há anjos que não batem asa. É duro. Ver na frente o futuro. E o futuro a Deus pertence. Nem pense. É o mesmo todo caminho. Faz parte a rosa e também o espinho. Sozinho. Cada um nasceu pelado. Fadado. Pra todos as coisas do mundo. Marcado. Marcado. Está qualquer segundo. Mas ainda é cedo. Ter medo. Acabar com esse samba-enredo. Espera. A fera. As vezes nem tem fome. É nome. Te dome. O resto nem é complicado. Coitado. Coitado de quem não chora. De quem não salga o rosto. Confessa que me adora. Eu sou o rei de agosto. Tudo tarda mas não demora. Aflora. Na pele feito um choque. É o rock. E a minha saideira. Doideira. De toda e qualquer maneira. Na esteira. Na beira. Do velho abismo. Eu cismo. Mas foi só uma brincadeira. Zoeira. Que nada. Eu volto pra velha estrada. Charada. Quem vai adivinhar meu enigma. Estigma. Nem diga que foi intriga. Foi apenas uma soma malfeita. Maleita. Foi febre que me queimou. Aflito. Bendito. Ninguém nunca me amou. Foi feito um golpe de estado. Errado. O rei fica no trono. Que sono. Sem dono. Há tanto pra se fazer. É ser não-ser. Quantas vezes vou renascer. É um trago.  É o mago. É o bruxo é o feiticeiro. Não conto. Desconto. As mágoas no travesseiro. Inteiro. Certeiro. Maneiro. Quem sabe um dia. Minha vadia...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Balada para Um Dia Qualquer

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Existem dias que são um dia qualquer.
E existem outros que são dias especiais.
Esses serão lembrados sempre.
Mas os outros não.
Desses eu tenho pena.
São parecidos comigo e meus sonhos.
Eles não tiveram sóis lindos.
Mas a chuva que caiu neles
Enfeitaram os jardins dos dias especiais.
Quando não, foram apenas dias nublados
Em que todos os tristes cansaram seus pés
Em busca de alguma felicidade.
Desses eu tenho dó.
Foram dias que nada novo aconteceu.
Neles a rotina nos abençoou com sua irritação
E nos livrou pelo menos da morte.
Neles a televisão ligou
E com nossos cegos olhos
Enxergamos novas mentiras e novas modas
Que fazem parte de nossa leve escravidão.
Neles sentimos um frio diferente,
O frio que incomoda mais a alma que a mente,
Mais a cabeça que o estômago,
E, afinal, não são tão feios para algumas fotos.
Desses eu também gosto.
Mesmo em sua uniformidade,
Mesmo em sua mesmice insossa,
Há sempre algo mais.
Eles são iguais aos belos dias,
Os dias que não esqueceremos jamais,
As datas mais importantes,
As que mais lembramos, sentimos falta
E ainda hoje nos fazem chorar.
Por que? Porque os dias são iguais...
Dias tristes e insossos nunca hei de esquecer...

domingo, 14 de outubro de 2012

São Jogos

São jogos tudo que fazemos
Jogos se quer queira ou não
E o resultados que obtemos
Marcados desde o início estão
Nós somos escravos de Jó
As pedras estão na mão
As pedras não têm algum dó
Com certeza nos sangrarão

São jogos tudo que cremos
Todo o resto é só ilusão
E o que pensamos que vemos
Está fora de qualquer razão
Nós brincamos de ciranda
E cansados caímos no chão
O destino então nos manda
Ficarmos quietos nesta solidão

São jogos tudo o que fazemos
Mesmo fora de nossa percepção
E as desculpas que inventemos
Não serão a nossa salvação
Nós rimos de qualquer piada
E nem prestamos atenção
Além do riso não há mais nada
Que alegre nosso coração

São jogos tudo o que lemos
São textos sagrados da religião
Só comemos e só bebemos
Tudo vai nesta combustão
É o jogo que tudo alcança
O mundo roda que nem pião
Então só sobra a esperança
A derradeira maldição

São jogos são todos jogos
Está encerrada a questão
Podem acender os fogos
Vamos assistir ao clarão
Dançar em volta da fogueira
Tudo é pura diversão
Não há outra maneira
De cumprir sua missão...

sábado, 13 de outubro de 2012

A Segunda Dor


A primeira dor não foi nada. Ela foi só o de repente de um clarão sufocante. Foi um brilho sem estrelas mais que fogo. Que feriu os pulmões e ensinou para o resto da vida. Nela estavam contidos todos os poemas que nunca escrevi. E os perdões que não pedi por falta de chance. É noite sempre noite. Mesmo quando acabamos de acordar para a vida. Mesmo quando distinguimos todas as cores e são muitas. Cores que conheço e outras que nunca conhecerei. É a dor conjugada em todos os modos e tempos possíveis. O culto do improvável que se faz presente em todas as formas. É o jogo joguemos. É fogo queimemos. São as frases malcuidadas que deram certo. São planos infalíveis que deram errado. E assim nosso mundo foi conquistado. Ou será que foi o mundo que nos conquistou? Admirável mundo novo. Um dia não haverão mais tuas amarras.
A segunda dor sim essa doeu. Doeu como os cantos que não queremos escutar. Porque não é a tristeza que invade. É o infarto com saúde. É a reflexão sem idéia. O agitado yoga vulgar e mesquinho. Um sem-palavras que fala demais. Ele sofre de insônia e tem mania. Paranóia inversa. Vamos puxar conversa. Dizer quão ridículo e infeliz quem caiu em suas mãos. Pois o carrasco avisa. E não sabemos se é verdade ou pura estratégia. Não existem palavras erradas. Pois elas estão onde estão. São apenas lâminas que cortam as cordas ou o pescoço. São lâminas que brilham. São lâmpadas para os insetos. Nós somos os insetos. E na manhã seguinte varridos para fora. Borboletas ou estão dormindo ou morreram nestas horas. Somos as mariposas. Há um coral de grilos. Nos temos os nossos. E um bailado de pirilampos dando falsas pistas de um enigma já muito tempo decifrado. Papel gasto. Pétalas espalhadas pelo chão em séria brincadeira. Haja pétalas. Às vezes faltam gemidos na liquidação de inverno. Nada está doente. Mas acaba tudo estando. É assim. Acabaram de inventar uma nova antiguidade de milênios...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Outros Dias de Guerra

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São outros dias de guerra
Lutando sem arma na mão
Lutando por tudo que encerra
Lá no fundo do meu coração
São dias de um céu nublado
O sol oculto na escuridão
O rio correndo pro outro lado
E um sinal místico na minha mão
E o terceiro olho na testa
Viajando sempre então
E o amor que ainda resta
Guardado com servidão
Sou servo das suas garras
Que um dia dilacerarão
É nau com suas amarras
Navegando na imensidão.

São outros dias de guerra

Lutando sem arma na mão
Lutando por tudo que encerra
Lá no fundo do meu coração
São dias de um céu parado
Perdido entre sim e não
O rio correndo pra outro estado
E um sinal místico feito clarão
E o terceiro olho na testa
Tentando uma explicação
Para o final desta festa
A melhor de toda a estação
Sou servo de seus quereres
Não é preciso ter nem razão
Combato coisas e seres
Ó meu amor sem compaixão...

Magias

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Magia negra, magia branca,
Vermelha ou da cor que quiser
Magia escondida, magia franca
A que mais lhe convier

Magia grande, magia menor,

Magia com ou sem varinha de condão
Magia no deserto, magia de esquimó
Feita nos olhos ou no caldeirão

Magia feita de beijos e beijos,

Magia brinquedo de criança,
Feita de rezas ou de desejos
Feita de sonhos ou de esperanças

Magia na aranha que tece,

Magia no pássaro que voa,
Antes que se veja ela acontece
Seja má ou seja boa

Magia de magos como eu,

Magia de bruxas como você,
De quem se achou ou se perdeu,
Do encanto que vai acontecer

Magia de canto de viola,

Magia do toque do atabaque,
Magia do pé chutando a bola,
Magia da cartola de Mandrake

Magia de ser santo ou humano,

De um acerto e vários erros,
Dança do sagrado com o profano,
Célebre mistério dos enterros

Magia negra, magia branca

Vermelha ou da cor que vier
Magia escondida, magia franca
Ao gosto que o freguês quiser...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Teoria da Decisão

É você que decide. É você que diz sim ou não. Você que se sente humano. Ou culpa sua razão. Você que dá o passo. Você que sabe o que é melhor. Porque as vezes o fracasso. Era a nota que faltava e só. Você que passa a ponte. Você que olha o alto. Você que sobe que sobe o monte. Ou que anda no asfalto. Você e suas miragens. Andando em seu deserto. São reais todas imagens. Se você não anda perto. Você que bate no peito. Você rasga a camisa. Mesmo que pra tudo há um jeito. Menos pra aquilo que se precisa. Você dá sua nota. Você seu próprio jurado. O chefe de sua própria revolta. O rei que foi entronado. Você que anda e mesmo nota. Todo sonho que está guardado. Você pergunta e também responde. Mesmo quando a resposta não é notada. E anda aonde. Só há sua caminhada. É a noite chegando. O sono indo. Os olhos pesando. Novos sonhos surgindo. Sonhos bons e outros nem tanto. Mas todos feitos pra sonhar. Uns de riso outros de prato. Mais nada à declarar. Foi a fuga pra rua. Foi o passeio no mercado. A viagem pra lua. Partindo do lado errado. Foi a pena e foi a indiferença. A moeda igual dos dois lados. O crime e sua recompensa. Ao qual estamos todos fadados. É quem dorme e quem acorda. Quem reza ou fala o palavrão. Pega o machado ou puxa a corda. Ou abre as portas da prisão. Ou não. Escute o som. Escute o bom. No último volume. Nota por nota. Afie o gume. Veja se assume. Abra essa porta. É você que decide. Você que diz sim ou não. É você que continua firme. Faz o filme. Continua sua continuação...

Era Ela


Era força, era crença,
Mania, doença,
Praga ou bença,
Mas no fundo era
Mais que tudo a espera
De dias felizes,
Quase no abismo,
Quase no achismo,
Sem limites ou crises.
Era o verso pra ser imperfeito,
Paciente sem jeito,
Latente em meu peito.
Era rosa, margarida,
Mais que um ritual,
Era tal e qual
Como se fosse vida.
Era força, era medo,
Muito tarde, muito cedo,
Ir embora ou ficar,
Era hora, sem demorar,
Tanto faz rir ou chorar.
Era uma canção antiga,
Uma razão amiga,
De rasgar bandeiras,
Ultrapassar fronteiras
Sem arredar o pé,
Era e foi e é.
Era a chuva sem molhar,
Era ir e mesmo assim ficar,
Um fim sem terminar.
Era verso, era nada,
Bonita e mal arrumada,
Era a câmera no desfoque,
Era samba, era tango, era rock,
Pra acordar da vizinhança,
Gemido de amantes, choro de criança.
Esqueçam a métrica,
Estrangulem o bem falar,
Sobreviva só a estética
Do mau-jeito de amar.
Era riso, era riso,
Era improviso
Sem ter a viola,
Era dádiva, era prêmio, era esmola,
Era o doce comido na calçada,
Era o mago, era a bruxa, era a fada,
Era também o cientista, o alquimista,
Era a nota bem guardada
Bem no peito do artista.
Meu cigarro está aceso,
Morre aos poucos no cinzeiro,
Na fumaça vai o peso
Do meu amor primeiro.
Era força, era crença,
Mania, doença,
Praga ou bença,
A mais feia, a mais bela,
Era ela! Era ela!

Não Sabia

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Não sabia
Quantos anos faz um dia
Quantos planos faz a alegria
Quanto humano é a agonia

E não sabendo pensava que sonhava
Teimava que amava
E a vida caminhava

Não sabia
Que a fera logo viria
Que a espera é dura e fria
Que a primavera pode ser vazia

E não sabendo achava que achava
Andava e não andava
Era a morte que me procurava

 Não sabia
O que pode ser a verdadeira alegria
O que é traiçoeira mas acaricia
O que é a maneira pode virar mania

E não chorava porque achava
E não calava porque cantava
E não parava porque dançava

Não sabia
E ria e ria e ria...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Americano e Mais

Americano da América. E por isto cidadão do mundo. Corre em minhas veias gerais. Corres sonhos e cidades. E até o que eu saiba bem mais. Corre sem paradas. Sem fronteiras. Cidades sonhadas. Sem bandeiras. Corre o sonho latino. E esse sonho não morre jamais. Corre terras e águas. Procurando sua paz. Procurando por seu destino. Velho e ao mesmo tempo menino. Com a mala pesada de planos. Com a cara cheia de cores. Com seus erros humanos. E com seus humanos amores. Corre a rudeza e a ternura. De mãos dadas lado a lado. Clama o fim de qualquer ditadura. O mapa que vá em El Dourado. Cidadão daqui e de lá. Conhecendo de perto a morte. Não sabe ao certo onde vai dar. A estrada que conduz sua sorte. Mas confia em dias que virão. Sem saber a hora e o lugar. Sem saber qual estação. Se longe ou perto do mar. Americano continente. Misturado em rara beleza. Flor fruta e semente. A terra brota com presteza. Velho que dança ciranda. Garoto marchando em fileiras. Viva o general da banda! Viva o Zé Pereira! Gentileza gera gentileza. Gente lesa. Prepare a mesa. Vamos comer todos juntos. Vamos brindar a alegria. São vários os nossos assuntos. Felicidades no dia a dia. É hora de ir andando. É hora de marchar adiante. Sem armas e de flores armando. O que há de vir adiante. Americano sim. Brasileiro mais. São flores no jardim. Xô seu capataz! É cerveja no bar da esquina. É Chico batucando na mesa. É beijo da minha menina. É a nêga chamada Teresa. É tudo e nada ao mesmo segundo. É a gente! O continente e o mundo...

domingo, 7 de outubro de 2012

Nomes


São nomes. E um coração para guardá-los. E levá-los aonde for. São nomes que viram cenas. E as cenas serão filmes inacabados e bonitos. Em dias de sol que a vida palpitava em batidas aceleradas. Em dias de chuva em que a lentidão ainda era doce. São nomes que viraram abrigo. Quando a vida lá fora ri perversamente dos medos que são companheiros de rotina. São nomes de histórias bonitas. Às vezes ingratas mas sempre bonitas. Histórias de adeus em gestos ternos. Ou sem gesto algum. São fotos antigas em preto e branco. São estampas antigas em tons amarelos. É a inércia expressa em movimentos. É o sangue circulando em rápidos gestos. É a missa. É a curimba. São enterros que desesperaram. E folias que aconteceram ou não. É um baú do tesouro guardado. Não em praias distantes de solitárias ilhas. Mas ali mesmo. Bem pertinho. Mesmo quando se esquece a chave. São nomes. São códigos. São caminhos. São divertidos enigmas. Uma herança sem herdeiros. Eternamente em nós...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Sete Capitais - A Ira

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Normalmente em dias vazios. Quando o peito fica vazio. E vazio permanece. Não que se queira. Mas é como inevitáveis datas de choro. É o carro que entra na pista errada e não consegue freiar. Movimentos involuntários em uma sequencia pré-programada. São rápidos. Nada os impede. São cheios de uma alegria às avessas. Quase cem por cento má. Caiu o prédio. Que engraçado. Morreu o sonho. Ainda bem. Sem mal pra ninguém quase sempre. Mas mordendo a sí mesmo como um guerreiro furioso. 
E nesses dias o gosto muda. Mesmo quando não há gosto. E não queremos mais que o anjo nos acompanhe. Estou só. Em eternos labirintos de mim mesmo. Não há demônios à minha espreita. Eu mesmo o sou. O único perigo que existe sou eu mesmo. A única fera que poderia me devorar ocupa o mesmo espaço. Eu quebro espelhos com meu semblante. Antes mesmo de qualquer resposta para as perguntas que não quis. Parei de fazer perguntas. Me transformo em bicho e a presa que persigo não tem nome. 
Quando me arrepender será tarde. Ou então só me arrependerei de ter sido menos cruel. Deveria avisar ao menos... Ser o pesadelo anunciado de dias que não se acreita. Não quero falar mais nada. A dor é um grande novelo que o gato brinca.  E o desespero é quando ele rola. Colecionar tsunamis é a nova moda. Ou outros tipos de catástrofes que abalem apenas a minha aparência. Eu sou um homem moderno. E politicamente correto. Nada sei. Mas de tudo entendo. Quero sentar no trono do rei. Mesmo que cortem minha cabeça. 
Não chegue perto. Eu repito. Não há nada que acabe com a fome e a sede. Nem novidades da hora...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Museu de Modernidades


A invenção do momento foi feita ontem. E agora desfila na passarela. E quanto mais precisamos. Mais dependemos dela. O desnecessário se torna necessário. Ao ponto de desesperar. Mesmo que seja o contrário. Daquilo que vamos precisar. Esvaziem suas carteiras. Usem seus cartões de crédito. Obter tudo de quaisquer maneiras. É apenas um propósito ético. Ter não é preciso ter sentido. É um bando de ovelhas no abismo. Comprar é um dever cumprido. E viver só um fatalismo. 
A invenção do momento foi feita agora. E no momento desfila na passarela. E quanto mais nos demora. Mais queremos ela. O fútil é a necessidade. Ao ponto de nos matar. Nos mata a vontade sem vontade. Viver é apenas gastar. Balancem suas cabeças. A voz de Deus é a voz do povo. Não sejam crianças travessas. Comam seu pão com ovo. Ter não precisa ter razão. É um bando de galos cantando. Lá vem a nova estação. É tão bom estar desperdiçando. Agasalhos para nosso verão.
A invenção do momento não foi feita. E no momento está descansando. E quanto mais se fica parado. Mais vemos a tela. Eu quero você quer nós queremos. Que tudo seja assim. E nunca perceberemos. Se existe um fim. E se existir tanto faz. Não esperamos mais nada. Não dão manchetes a paz. A paz não é grande jogada. A jogada é o último modismo. O modismo sabe fazer. O resto é o nosso estrelismo. Até quando se pensa em morrer...

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Paralelo

Paralelo. Verde e amarelo. Das cores que você pensar. Porque você pensa que pensa. E sua recompensa é não chorar. Paralelamente mandando. Se movimentando. E nunca parar. Não pára um momento. Nem teu pensamento. Na música a tocar. A música sem nexo. Que fala de sexo. Ou do que precisar. É o que te coloca no poço. É o que manda no bolso. Que te fere sem encostar. É quem abre a ferida. É a bala perdida. Para quem endereçar. Vote assim. Vote em mim. Porque vou ganhar. Ganhar a certeza. Em forma de surpresa. Mas sem assustar. Porque se espera o pior. A rima do melhor. É o melhor que há. Poder paralelo. Força paralela. Balela. Mas que pode matar. Matar quem pode. Mata quem se fode. Rápido ou devagar. É o assalto. Mãos para o alto. É hora de rebolar. É a hora do show. Quem será que ganhou. É quem pode ganhar. Já marcaram o gol. É só você chutar. É a arma. É o karma. É o darma. E o que mais se inventar. Eletrodoméstico. Elétrico e doméstico. Com a função que lhe dar. É a meta. É a reta. Que faz uma curva fechada. É tudo. É o nada. E o que mais lhe agradar. É teu peito. É tua bunda. É a chuva que tudo inunda. É o pão. É o não. É a pane. Que tudo que te insane. Eu me chamo. Ser humano. Sou burguês. Fim de mês. Fim de ano. Qual o plano. De subir sem escalas. Faça as malas. Fuja pra qualquer lugar. Serve o mar. Serve Hong Kong ou Paris. Peça bis. Pro final da novela. Pro final da história. É como se fosse sequela. Não temos muita memória. Esquecemos quem deu a porrada. Não foi nada. Não doeu. Pode pegar o que é meu. O meu é seu. O meu sangue corre na tua veia. É com areia. Vai passando e rasgando. Não fique olhando. Olhando dói o olhar. Vá pro bar. Peça logo a saideira. Sai por aí de bobeira. Tem quem queira. Pensar muito deve doer. Bom é fuder. Mesmo que seja só a paciência. Tenha bondade. É milagre da ciência. É a facilidade. Compra a vida em suaves prestações. Escute nossos sermões. Escute mas não entenda. Use a venda. Use a lenda. Tome a prenda. Pare e se renda. Se prepare pra queda. Já foi jogada a moeda. Mas que merda. Paralelo. Lindo e belo. Bom. Good. Well. 

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...