terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Perfecto

 

A perfeição

É apenas per feição

Eu sinto

Apenas labirinto

Etéreo

Aéreo

Sim não

Não sim

O amor fugiu

Como dantes

Egos retirantes

Pouco silêncio

Quase quase

Pedra de estilingue

Pedra sem reino

Duvida da dúvida

Dúvida duvida

Um pigarro

Para diz curso

A roda roda

Faróis quebrados

Cinza nulicor

Nudes nus

Gato e preguiça

Ninguém é ninguém

Talvez comida

Fome total

O chá do chá

Remediou o remédio

Umas pernas

São lanternas

Ultra passada

Jogo fora do ar

Vade reto

Vocal bulário

Massa acre

Assa sinado

Caput

Cappuccino

Men nino

Gota por gata

Gata por gota

Dez maios

Baticum de lata

Re nata

Ah Cido

Ah Cida

Nem Teco nem Leco

Lá mento

Só vento

Tabu Sem Totem

Gula sem cabeça

Cresça e desapareça

Esferas quadradas e bem temperadas

Bundas de fora mais que esperadas

Informações antigas páginas amareladas

Compre aqui seu novo spray de pimenta

Pra poder jogar direto nas nossas ventas

Do vento que agora não venta mais

Tento dormir mas não tenho paz

Eis aqui a cachaça e o charuto aceso

Qualquer fumaça tem também seu peso...


O caipora cai fora

A filosofia agora demora

Dispensamos todos e quaisquer conselhos

Os pelos da púbis crescem até os joelhos

Todos os verdes agora estarão vermelhos

Os paus agora não possuem mais araras

Nossas camisas agora possuem doze varas

Eu canto com os olhos sem usar garganta

Enquanto o meu medo também se espanta

E eu assisto com esse meu velho pijama

Que dia enfim irá terminar nosso drama...


O tatu não tem tato

Cada mentira é um fato

Um baile funk acontecerá no Teatro Municipal

A mesma luta já rotineira entre o bem e o mal

Temos todos os temperos e ainda nos falta o sal

Alguns malvados tiveram seu ataque de histeria

Ser um nada é a maior notícia desse nosso dia

A vida mistura de ciranda com roda de capoeira

Toda moral está na santidade de uma rameira

Incitatus foi bem mais sábio do que seu dono

A melhor lucidez pode ser encontrada no sono...


Gula sem cabeça

Cresça e não mais apareça...

domingo, 29 de janeiro de 2023

Totem Sem Tabu

Um tombo sempre será um tombo...

Enquanto suas ancas tremerem no bambolê

Muitas misérias hão de reclamar de si mesmas

E os doces ficarem mais amargos do que são...

Um grito ecoará pela noite mais silenciosa...

Que morram de fome perante o banquete...

Já cansei de toda possível forma de protesto

Enquanto as jovens bailarinas vivem nos quadros

E os destinos se repetem nos quadrinhos sem cor...

Morte e vida no mesmo rio sem Caronte algum...

Abra suas pernas em total desprezo e crueldade

E deixe-me passear em seu campo de batalha

Por intermináveis segundos um tanto que fugazes...

Tropeçar na passarela estava escrito no script...

O teclado estava sujo de poeira e pequenos pedaços

Da rotina dessa minha jaula de velhas grades

Onde um bando de moscas pousam nas fezes...

No banheiro químico da rodoviária o Inferno de Dante...

Uma mágoa sempre será uma mágoa

E não haverão divãs suficientes para contê-la

E todas os comprimidos provarão sua inutilidade...

Acabei de dar um soco bem forte no espelho...

Dão-me náuseas palavras bonitas e tão inúteis

Que valem bem menos que um salgado e um suco

Vendido na rua em sua tão pobre promoção...

Eu piso na merda e a sujo com o meu pé...

Todas as palavras são ditas pela força do hábito

Somos estrangeiros dentro de nosso próprio país

E toda dor é apática quando cumpre seu papel...

A física quântica não está em quantidade suficiente...

Os concretistas não acharam nada mais concreto

Enquanto o dinheiro vai apodrecendo nos cofres

Como cadáveres que estão em nossos planos de vida...

Versos de qualquer tamanho serão insuficientes...

Passar os dias inteiros trancados no quarto sujo

São meras discussões de uma filosofia de almanaque

Onde escolho o primeiro dardo que me atingir...

Falsas ereções espontâneas que desaparecem...

Charutos pegos de encruzilhadas mais noturnas

Pelo poeta que passa mancando em imprecações

Por um fim do mundo que afinal já acabou...

Chapéus-de-couro que foram assim falsificados

Enquanto xaxados eram dançados etilicamente

Em lives com propósito de porra nenhuma...

Nem sempre um riso será um riso...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 28 de janeiro de 2023

Quando Os Babuínos Jantam

 

Começo do final,

Não final do começo

(Esse nunca existiu...)...

Mastigando ruidosamente

Em paixões declinantes...

Palmas para o idiotia!

Notícias falsamente comoventes

E poeira cegando olhos...

O prédio acabou de cair!

As chamas comeram tudo!

A bala atingiu o inocente!

Palmas! Muitas palmas!

A votação do reality começou...

O terror da expectativa

Que a carta marcada

Seja logo exposta...

Nome aos bois...

Nome às ovelhas...

Corvos sobrevoando cabeças...

Urubus em carniças...

Curvas em linha reta

E a ignorância sendo curso...

Um crime foi louvado...

Cagar e não usar papel...

Os babuínos jantam

Degustando seus macaquinhos

Na frente do deus-tela...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Poema-Pobreza

Economizar palavras

Dizer o que não se sente e se diz

Esperar em silêncio

Toda injustiça possível

E a impossível também

Mil desculpas, senhor...


Dizer que está tudo bem

Quase escorregando no abismo

Com a casa prestes à cair

A pobreza perdeu a razão

Não pode comprar outra

Foi sem querer, senhor...


Economizar o que não tem

Passar o pó de café duas vezes

Aproveitar as pontas dos cigarros

Contar as moedas pro pão

Pedir ao Deus que não cremos

Foi mal, senhor, foi mal...


Esconder as falhas nos dentes

A falta de um desodorante

A perspectiva de algum amanhã

Realizar um sonhos antes da morte

Não ser um eleito pela mídia

Não tive a intenção, senhor...


Filas intermináveis nossa

Burocracia cruel aos montes

Riso debochado de uma elite

Os mais fracos todos mortos

Enquanto as massas olham telas

É assim a vida, senhor, é assim...


Economizar o nosso cansaço

Com um otimismo inexistente

Não há sexo pros anjos

E nem razão pra algum sorriso

Quem sabe talvez um dia?

Vá se ferrar, senhor, vá se ferrar...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Esfinge às Avessas

Devora-me ou te decifro!..

A notícia ocorre bem cedo. A semente brotou já morta. Eu não sei qual labirinto deste caminho vou entrar. É carnaval sim sem fim e sem mamãe eu quero mamar. Foto. Mande teu nude totalmente vestida, é gato consumado...

Tem gente!...

O Estado tem estado num estado perigoso. Sou tão popular como algo único. O busto do patrono fez uma careta porque uma mosca pousou em seu nariz. Cada palavra me custa quase uma moeda. Certos nascimentos são quase abortos...

Por aqui, por favor!...

O crime conseguiu o que queria, já foi perdoado com todas as suas lantejoulas. Bananas, linguiças, tamancos, na mesma verticalidade silenciosa. Bom dia, seu filho-da-puta, bom dia! Acorde sonhando com as caretas mais feias e possíveis...

Extra! Extra!...

Patinetes e patins são tudo a mesma coisa. Simples DNA. O estádio foi invadido por torcedores que odeiam futebol. Violência em águas calmas. Aos vencedores as cebolas. A carpideira deu um ataque de riso e se mijou toda. O que acontece fora do ar, pouco me importa...

Hoje na promoção!...

Heliogábalo reencarnou num tubarão com asas. Senhas e camarões para qualquer ataque mortal. As escoras caíram e eu nem liguei. Balas e bolas no São Pedro. Riscos nas paredes de infinitas unhas na falta de lápis. Na mais nova maravilha nada mais...

São ossos do ofício!...

Eu já não acredito em porra nenhuma já faz uma porrada de tempo. A minha rudeza veste GG e capricha no moletom. Quero que um nerd lance mais uma teoria babaca pelos meus sofrimentos. O zen caiu no Enem e minhas filosofanças tão desnecessárias...

Mãe e filha, com certeza!...

Acabou dando um branco na memória do mundo. Documentos, por favor. Toda vitória tem um quê de pura mediocridade. Todo passado bate o martelo. Falemos chinês às avessas comodamente. O pão caiu no chão, foi quase sem querer...

Me arrependo de me arrepender!...

Amarelo agora é a Suprema moda. Pastéis de cacos de vidro ainda se salvam. Morre um, morre dois e acabou o inacabado. Meu vampiro prefere bocas e não pescoços. A ignorância é boa cabra parideira...

Auto lá, mãos para o autor!...

Segundas são quase terças e quartas certamente. Tenho todo o tempo do mundo, menos um segundo. Os nenúfares de Ofélia vivos em sua morta mão. Quase torre, isso basta. Noites com um tombo fulminante sem dizer nem tchau...

Vale a pena não ver de novo!...

Apenas as brincadeiras são sérias...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 222

 

Desenganos se escondem nos bolsos

Para poderem passear por aí

Cantos praças e vertigens...

Sonhos voam sobre nossas cabeças

Parecendo pequenas estrelas

Começou o desenho animado...

Eu andarei despreocupadamente

Como se o mundo se acabou

Por ruas que não conheço...


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Que comece logo o tango

Com certa dramaticidade

De todas as coisas bonitas

Mesmo que sejam tristes...

Que comece logo a ciranda

Ainda que com a tontura

De todas as coisas bonitas

Mesmo que sejam tristes...

Que comece logo a poesia

Até quando nos faça o choro

De todas as coisas bonitas

Mesmo que sejam tristes...


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Sono às avessas

O que poderei fazer?

Em muitas de minhas noites

Sacrifico muitos cigarros

E tenho alguns sonhos

(Ou será ao contrário?)

Depois pesada manhã

Onde passarinhos em seus galhos

Cantam algumas óperas

Enquanto as flores

Dançam tangos com borboletas...


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Nervos doloridos

Cabeça rodando

Carrosséis malvados

Flores taciturnas

Estoura um som no ar

E o plano malvado

Malvado falha

Uma criança sorri

E triunfalmente diz:

- Bom dia!...


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Moedas contadas

Antes quase vinténs

Numa máquina do tempo

No meu andar de cima

Lembro-me

Castigo ou saudade?

Deve ser os dois

Não tem assim

Muita diferença...


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O juiz leu minha sentença (com o mesmo semblante dos que não sabem nada ou não queria saber): - Perante as provas aqui apresentadas e por decisão unânime do júri, o réu fica condenado à sonhar até o último dia de sua existência, sendo-lhe vedada sentir tristezas, exceto aquelas acompanhadas de saudade, deverá também ficar alegre em dias de carnaval mesmo se esses forem em dias de chuva. A sessão está encerrada! - E bateu seu martelo...


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Tem alguma carpideira por aí?

Se tiver, tenho alguns trocados

No fundo de meu bolso sujo, eu pago...

Já estive em numerosos funerais

E soube da partida sem volta

De muitos que um dia amei...

Não quero mais, chorem no meu lugar!

Tem alguma carpideira por aí?...


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domingo, 22 de janeiro de 2023

Contentação

Nada justifica o fim

Se para tudo existe num recomeço

Mesmo quando pareça assim

Ainda que seja alto o seu preço...


A brisa, a rede, a varanda,

A festa, o canto e a ciranda...


O motivo do riso é o riso

Assim como o da arte é a arte

Quando ele é preciso

Está em qualquer parte...


O mar, os sóis, todos os cais,

Os segredos, tão meus e gerais...


As estrelas continuam brilhando

A noite só as coloca em mais destaque

Entremos na selva observando

Tudo aquilo que possa ser ataque...


Os sons, os cheiros e os gostos,

As máscaras, as fotos e os rostos...


Eu quero poder olhar o horizonte,

Olhar até que me venha cansaço,

Com muito cuidado passar a ponte

De muitas estrelas lá do espaço...


As palavras, o que sinto e a razão,

Olhos fixos, repouso e contentação...


sábado, 21 de janeiro de 2023

Não É Assim

Não é assim, Não se engane. Não precisa ser cruel. A vida já faz seu papel. São desnecessárias tocaias. O que tem de acontecer. Assim o será. As tempestades não são cegas e os raios não caem no mesmo lugar. A solenidade dos funerais não disfarça o desespero e nem tapar os ouvidos acaba totalmente com o barulho.

Toda dor há de doer enquanto doerá. Quando água não mais houver, cessará. Vamos tentar rir porque passou. A velhice veio da novidade. A solidão veio da cidade. A graça já acabou. Respirar cansa. Enlouquece a esperança. Tudo se torna lugar-comum. A praga não pega. A vida é que nega. Depois de algum tempo tudo explode - bum!

Não é assim. Os dias não possuem heróis. E nem vilões também. Salvar pode ser cruel. Dependendo do que vem. Os passos somem das areias. E nas noites das luas cheias. Ninguém se transforma em ninguém. É a vista que engana. E toda alegria do final-de-semana, simplesmente não tem.

Os soldados não são eternos. Nem os ricos com seus ternos. Nem carrões, nem mansões, nem castelos. Os feios um dia foram belos. É apenas um jogo. O correr do tempo apaga o fogo. Arrefece a brasa. O pássaro não voará mais mesmo com asa. Os pés andaram, mas não andam pelo caminho. Quem morre, morre sozinho. Mesmo que no mesmo lugar, no dia e na hora, alguém mais ir embora.

Não é assim. Mesmo com medo inevitável. Tudo foi formidável. A loucura, a lucidez. O que não fizemos e o que se fez. Os silêncios e os gritos. O perene e o finito. Tudo acaba, tudo cessa. Não precisamos ter ao menos pressa. Tudo terá um seu fim. Caem as folhas dos galhos, morrem as flores do jardim. Até as pedras viram pó. O fio perde o seu próprio nó.

A memória é coisa fraca. Até seu corte perde a faca. A noite perde seu encanto. Nada é pouco e nem é tanto. Palavras cruéis ou acalanto. As antíteses cessam, os versos perfeitos tropeçam. A modelo tropeçou na passarela. Não gostaram do fim da novela. O Hit acabou esquecido. Nunca mais será ouvido. O convite foi esquecido. 

Não é assim...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 221

Melhor assim

Sair sapateando 

E dando berros de alegria

Sem motivo algum...

Acordar todos desta triste cidade

Que está de cara feia...

Dar bom dia para desconhecidos...

Se acharem que estou maluco

Estou sim e daí?

Mais tarde vem uma estrela

Pra me buscar...


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Não toquem em feridas antigas

Elas querem dormir agora

Atormentaram a noite

De quem as possuía...

Não sintam certas saudades

Elas podem nos atacar

E o coração pode ser fraco

Para suportar tanta coisa...


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Versos e borboletas

Minha alma acaba se confundindo

Não tenho culpa disso

Os versos voam pelos jardins

Causando esse tipo de confusão...


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Um pé de pau

Me pede sal

Me pede vento

Um pé de vento

Não entendo

Me rendo

O que a vida fez de mim?


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Cubro-me de cinzas como alguém de luto

Não há algum morto meu para prantear

As cinzas não são de alguma fogueira

Que no meio da noite se colocou a apagar...


As cinzas são minhas

Não fui cremado

Mas estou mais 

Que nuvens caladas

Que logo desabarão...


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Como desesperado, meu povo anda sem direção. Não há o que comer, quem tem prefere alheia desgraça. Nunca fomos tão apáticos. Como zumbis, a massa repete as mesmas fórmulas. Pensar é muito perigoso nestes dias. Os idiotas são bem-vindos. Como expulsos, desconhecemos se existe um verdadeiro paraíso. Falaremos de uma felicidade sem gosto que se esvai bum sopro. A morte apenas cumpre seu papel. Como desesperado, eu como...


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Deus-dinheiro de palavras poucas

Que enche apenas algumas bocas

Que seca quando quer algum choro

Que gosta de trazer mau-agouro

O teu barulho me perturba a paz

O tilintar da moeda, teu capataz

A tua mortalha cobrindo o mundo

A tua bomba que dura um segundo

Deus-dinheiro de muitos nomes

Parceiro, amante de muitas fomes...


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O Que Me Faz. O Que Me Traz

O que me faz um torto,

O que me faz um morto,

O óbvio me faz,

Soldado sem paz,

O que me faz a curva,

A água está turva,

A chuva caiu,

O barco partiu,

O que me faz sentido

Ou anjo decaído,

Palhaço, bufão,

Ou herói ou vilão,

O que faz perfeito,

O me traz defeito,

Estou acorrentado,

Só tenho chorado,

O que traz  na rédea,

O que me faz tragédia,

O que me aborrece

Ou que me entristece,

O que eu ponho a mão,

O que me dá tesão,

O que mente pra mim,

O que começa o fim,

O que me põe de joelho,

Que me faz vermelho,

Que me dá um susto,

Que tem seu custo,

O que me joga fora,

Que me leva embora,

Que me traz carinho,

Me deixa tão sozinho,

Aquela ideia tosca,

Quase engulo mosca,

Aquilo que me atropela, 

Que acende vela,

Que morro de medo,

Que me acorda cedo,

Que me beija à tarde,

Me chama de covarde,

 que me faz trapaça

O que me faz pirraça,

Me tira do eixo,

Pede que eu deixo,

O que me faz vulgar,

O que me faz sem par,

O que me leva no carnaval,

O que me deixa no temporal,

O que não tem razão,

Que passa na televisão,

Não é meu, é do povo,

Não é velho e nem novo.

O que dança ciranda,

O que me comanda,

O que dá trabalho,

Os ases do baralho,

A hora e a vez,

O jogo de xadrez,

O que me traz a\ roupa nova,

O que me põe à prova,

O que me tatua,

O que é minha e sua,

Soldados na trincheira,

Uma roda de capoeira,

O que me faz seu robô,

O que me enganou,

O que me fez um nada,

O que contou piada,

Me rasga, me cose,

Me dá overdose,

O que me faz pose,

Meia dúzia de dose,

O que me suja,

Me lambe e lambuja,

O que me flerta,

O que afrouxa e aperta,

Me prende nas malhas,

Me joga migalhas,

Me alongo nos dias,

Ando em romarias,

Sinal de perigo,

Comigo e contigo,

O que te faz um porto,

O que me deixa morto,

O óbvio se faz,

Tão calma e voraz

Você...

O Homem Que Tinha Um Corpo

Um homem

Que tinha um corpo

(Teria alma?

Não sabe, 

Nunca viu, nunca verá...)...

Um homem

Que só tinha um corpo

(Está nu?

Sempre está,

Nasceu e morrerá...)...

Um homem

Que só tinha apenas um corpo,

(Depende dele?

Sim, mesmo cansado

Tem que respirar...)...

Feito bicho na corrente,

Tão igual, tão diferente,

Se autodenomina gente...

Um homem

Que só tinha apenas um corpo seu,

(Sofre bastante?

O suficiente para enlouquecer,

Para a razão não retornar...)...

Um homem

Que só tinha apenas um corpo seu e nada,

(Ele ri de tudo?

Tem o riso da hiena

E também seu paladar...)...

Feito bicho caçado,

Tão correto, tão errado,

Amanhã vai ser enterrado...

Um homem

Que tinha um corpo...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Alguns Poemetos Sem Nome N° 220

Caixas, caixões, caixinhas,

a vida segue, a sua, a minha,

a vida de quem se cansou

ou de quem nem chegou a viver,

a vida de quem sonhou

ou de quem só soube sofrer...

Caixas, caixões, caixinhas,

a vida segue, mesmo sozinha...


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O tudo segue o nada - transforma-se

em ilusões prementes

em paixões carentes

em questões evidentes

no ninho abandonado

no plano que deu errado

no destino marcado

uma memória esquecida

uma glória perdida

uma história vencida

O nada segue o tudo - transforma-se...


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Queria ser uma pedra,

simples,

de pouca voz,

que resiste às chuvas,

nunca chora,

sempre olha,

testemunha dos dias,

das noites,

resistente ao tempo,

apenas ocupando espaço,

queria se uma pedra...


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Bebi um pouco do vinho, fiquei tonto

Comecei um poema, não ficou pronto,

Eu queria falar de flor e de passarinho,

Acabei falando que estou tão sozinho...


Acendi um cigarro, eu sei que me faz mal,

Há tantos sonhos que morreram, isso é normal,

Vou catando todos do chão, os que eu tive,

Cada sonho morto, mesmo assim ainda vive...


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Todas as rugas

todas as fugas

vamos pular nos espelhos

vamos ficar de joelhos

fugir fugir fugir

daqui e daí

todos os planos

todos enganos

vamos mergulhar nas águas

vamos afogar nossas mágoas

fugir fugir e fugir

daqui e daí...


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Olho em torno como quem está na selva. Onde estão as feras? Será a hora do seu cochilo? Estão aproveitando o sol sob o frescor das árvores? Algum passarinho canta agora. Que mensagem trarão em tais canções? São lembranças de já passados tempos? Amores que ainda teimam em existir? Os gatos se espreguiçam. Estarão filosofando consigo mesmo? Maquinarão novas caçadas para o dia? Ou novas brincadeiras com belos novelos de lã? Os cães passeiam pelas ruas. Serão seus verdadeiros donos? Esperam para ensinar aos homens outras lições? Querem explicar o verdadeiro sentido da vida? Olho em torno como quem respira...


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Caço estrelas...

Quer me ajudar?

Quero achar uma

Onde possa morar...

Caço nuvens...

O que quero com elas?

Quero apenas brincar

Com as mais belas...

Caço céus...

Tem algum por aí?

Ando tão triste

Não quero ficar por aqui...


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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Sobre Algumas Borboletas

Violões voadores,

Telas aéreas,

Fazem cursos de fadas,

Numa vida tão breve

Como o próprio infinito,

Viver de beijos 

Apenas em passeios,

Será que chove hoje?

Senão chover, bailaremos...

Toda a tristeza do mundo,

É algo estranho...

A maldade dos homens

Também é...

Caixas de madeira e alfinetes

Não nos trazem medo...

Se a noite enfim chega,

Mudamos nossa roupa

Num luto bonito também...

Somos o que somos,

Apenas sonhos que voam...

Algumas vezes até estamos

Desenhados na pele de alguém

Ou pela mão dos meninos...

Lá vem vindo feito um trenzinho

Quem será uma de nós...

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Lama Limpa

Conserva-se em sua brancura enganosa

Assim mundo e pessoas

Olhem só! As obturações escondem cáries

E a maldade maquiada com falsa estética

Falemos do amor que não temos

De nuvens que não veremos de pertos

Pesadelos tão maquiados...

Debaixo do tapete cinza dos mortos

Tudo que temos agora

Na invisibilidade seres miseráveis

Que cumprem a pena do nascimento

Vida e morte faces do mesmo espelho

Aquele espelho repleto de manchas

Do creme dental de todas as manhãs...

Mãos limpas e cabelo penteado

E roupas impecáveis de marca famosa

Serenos hábitos de pura educação

Inexistência total de choro

Amor enjoativo como doce 

Que alguém errou no açúcar

E ainda toda a podridão existente...

Maniqueísmo Para O Café das Manhãs

Os cafés cansaram-se...

Cansaram-se de escutar mentiras

De verem dissertações absurdas...

Ausência de lógica

Carência de piedade

Apatia viciante...

 Sua fumaça aromática sai contrariada

De máquinas metálicas de puro disfarce

Não existe mais a inocência dos lares

Nem a elegância de antigos cafés...

Aliás, essa elegância jaz entre escombros...

Mas, milagre feito,

Ainda sobrevive em semblantes sonhadores

E pequenos rostos infantis:

- Mãe, tem café?...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Vertical

 

O cansaço obrigatório

Aqui estamos

Entre nuvens que não vemos

E demais pesadelos

O peso quase certo

De dias e dias e dias

Algumas reticências certamente

Brilho de metais

E tempestades de poeira

Comendo tantos olhos

Um pouco de calma

E tudo pode ou não

O talvez nos mostra seus dentes

Que expressam serena ira

Um estalo de dedos

E as cartas cairão

Apertar de botões

O cigarro quase aceso

O prato do dia

É um nó apertado

Rir sem propósito

A praxe sem graça

Agora há grilos sob o sol

E inexplicações contundentes

Espadas de fogo em papel

O fruto proibido

A recompensa do culpado

Qualquer hora

Nenhuma dádiva

A fama desconhecida

Catacumbas sem Paris

Bonde sem desejo

Música surda-muda

Seriados antigos

Não há perguntas

O bêbado esqueceu

Nada atrás da cortina

Somos frangos

Talvez ratos

Do que não foi nosso

O que não se mira

É o que se acerta

O samba caiu

O fio do plumo

Não faça perguntas

O gênio da lâmpada elétrica

Carros de boi vegetarianos

Farofa na praia

Velas na encruzilhada

Escândalo da elite

Nem nos vimos

Mas aqui estamos...

domingo, 15 de janeiro de 2023

Guerra de Nuvens

 

Até elas guerreiam...

Quem primeiro dará um mergulho?

Quem primeiro virá ao chão?

O sertão precisa de água...

Os jardins precisam de água...

Encham logo os rios

E escrevam mensagens nos lagos...

Disfarcem o choro dos tristes

Parecendo que é a chuva...

Esbarram umas nas outras...

Grandes tiros dos canhões

De celestes exércitos...

Batalhas repentinas ou anunciadas...

De brancas estão cinzas...

De cinzas transformarão em água...

Até elas guerreiam...


(Extraído do livro "Até Poesia" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...