sábado, 16 de agosto de 2025

Isto Também É Poesia

Isto também é poesia... Isto é...

A primeira ave que canta quando clareia o dia

Interrompendo seu humilde sono 

Que foi em um galho qualquer...


Isto também é poesia... Isto é...

A barata correndo esquiva de um canto a outro

De um quarto quase que sujo

Para poder não ser pisada...


Isto também é poesia... Isto é...

O cigarro que morreu no cinzeiro que está pousado

Numa mesa como nave espacial

E vai ser limpo se estiver cheio...


Isto também é poesia... Isto é...

Os passos dos loucos que perambulam pelo meu bairro

Sem noção alguma porque o fazem

E até podem sorrir mesmo que tristes...


Isto também é poesia... Isto é...

As roupas velhas e rasgadas como se fossem bandeiras

Penduradas por quintais pobres

Que vestirão seus futuros cadáveres...


Isto também é poesia... Isto é...

O sorriso do menino que encontrou um real jogado na rua

Sua alegria é tão bem parecida

Como quem pode comprar o mundo...


Isto também é poesia... Isto é...

A mãe que levanta com seu filho mamando em seu seio

Para abrir a porta pro pai da criança

Que chegou vivo do trabalho no barraco...


Isto também é poesia... Isto é...

A multidão que grita protestando pelas ruas da cidade

Para que a maldade se acabe

E que todos possam ser iguais...


Isto também é poesia... Isto é...

A bondade do coração de uma puta barata de rua

Que pagou um salgado e um suco

Para o velho mendigo que nada pediu...


Isto também é poesia... Isto é...

Qualquer nota que foi escrita em sincero

Ou um coração na casca da árvore

Ou um epitáfio mais do que triste...


Isto também é poesia... Isto é...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Folhas Para O Chá

(A vontade de ir ao banheiro, um incentivo como qualquer outro. A saudade mórbida, um sintoma do pobre paciente)...

Até o silêncio tem seus berros! Até o silêncio tem seus berros! Tem sim...

Lembro-me quase bem de coelhos que não eram coelhos, corriam num círculo desesperado em noites barulhentas, frias e inocentes que a eternidade levou e que jamais vão voltar... Fui testemunhar ocular de feitos banais e heroicos que poderiam ter valido manchetes em revistas de colorido desbotado e não foram...

Até o pecado tem sua inocência! Até o pecado tem sua inocência! Ah, tem sim...

O que fomos um dia, não o seremos mais, mesmo um segundo entra na conta dessa roda de Sansara sem karma algum... Pode rir de mim à vontade, eu não ligo, uma hora chega a sua vez de ser atingido pelo tiro da velhice e do ridículo que acerta todos sem pena e sem dó algum...

Até o medo tem seus limites! Até o medo tem seus limites! Ah, e como tem...

Nossos cinco sentidos são cinco inimigos amistosos que colocam o pé na frente e que fingem se lamentar por nossa queda, até nos ajudam a levantar... Houve a colisão de dois carros de brinquedo, acidente muito sério, como toda brincadeira sempre é, mesmo que não aparente tal fato...

Até a nudez tem seu vestido! Até a nudez tem seu vestido! Não duvide, como tem...

Acabei virando o mestre de minhas tolices mais que absurdas, porém as mais simples que existem... Um cão late lá longe, deve ter insônia, pobre coitado e eu aqui ainda posso sentir aromas mesmo inexistentes, afinal cada dia deu sua contribuição...

As folhas secas e trituradas esperam na caixinha a água fervente para o chá! As folhas secas e trituradas esperam para o chá! Ah, isso esperam, esperam sim...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Tá Não?

Tá não?

Olha o gigante anão!

Quem tem dinheiro

Vai no banheiro

Limpa com a mão!


Tá não?

O gato mia feito cão!

A linda donzela

Foi na favela

Foi rodar pião!


Tá não?

Eu me casei de calção!

Quase que engulo

Olha que eu bulo

Nesse teu bundão!


Tá não?

Só quero ter um milhão!

Meu advogado

É cara safado

Me afogou no chão!


Tá não?

Vaca braba boi bumbão!

Essa foi a sobra 

Do pé da cobra

Calcinha pro varão!


Tá não?

Vou rezar pro deus-televisão!

Nós raspou pentelho

Com o aparelho

Que comprei na liquidação!


Tá não?

Filhote de blusa é blusão!

Lá vem seu Bibico

Trouxe um pinico

Pra fumar um bão!


Tá não?

Fui num cabaré fazer oração!

Achei uma meleca

Bem na minha cueca

Chorei de emoção!


Tá não?...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Aos Caçadores de Cabeças

Cace minha cabeça

E não se esqueça

De fincá-la numa estaca no caminho

Vai ficar tão bonitinho...


Grite na escuridão

Até a exaustão

Até acabar com o meu pobre sono

Diga que é meu dono...


Me deixa sem resposta

Todo mundo gosta

Finja que não me conhece na rua

Isso é bondade sua...


Aponte  na minha cara

Se puder dispara

Agora é normal não ser mais normal

É quase um carnaval...


Me pega e pinta e borda

No pescoço a corda

Quem sabe eu precisa de carpideira

Ou outra besteira...


Cospe no meu copo

Olha que eu topo

Todo vivente é um masoquista

Chamem o analista...


Cace minha cabeça

E não se esqueça

De fincá-la numa estaca no caminho

Hoje eu quero vinho...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

De Marca

Essa é a nulidade desde os primórdios

Nós só queremos o que não queremos

E isso é que nos satisfaz

Para onde vai tudo isso?


São esses os prédios que não são nossos

Cercados de muros feitos para desabar

O amanhã é o mesmo ontem

Onde estará nosso relógio?


Dançar sobre cacos de vidro é nova moda

O engolidor de espadas me deu um lanche

Voar como se fosse uma anêmona

Os vermes precisam ter asas?


Fazer silêncio no nosso próprio funeral

Tudo que vi e que não vi já me basta

Não há fantasmas suficientes

Quem vai apertar o botão?


Toda fama escorrerá feito água na calçada

Só as lápides testemunham as nossas sagas

Eu nem sei quem sou agora

Quem descobrirá isso por mim?


As sextas apenas são convulsões de sábados

E os domingos chegam querendo nos matar

Toda a ingratidão nos cerca

Você gosta de roupa de marca?...


(Extraído da obra "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Absoluta Mente

A vodca mais barata do mercado.

O energético também.

Nem toda a estética é pra ser entendida.

Toda razão acaba existindo.

Só conhecemos o que vem na tela.

Mosquitos matam mais do que guerra

Mas a mentira é sempre o prato do dia.

Sungas de marca vendidas na feira.

São tantos gritos.

Jogar algo fora é apenas jogar.

Nossa ignorância é sempre bem-vinda.

Todo mundo já mijou na piscina.

A fome pode ser mais triste que a morte

Mas as novelas cegam bem mais olhos.

Só conseguimos reparar na sua bunda.

É o mais comum.

Qualquer uma hora dessas o avião cai.

Vamos para a felicidade na hora do lanche.

A tumba do faraó é atração turística.

Uma nave espacial pousou  no meu quintal

Mas eu não tive tempo de fazer um rock.

Eu me xingo tanto em frente ao espelho.

Quase um costume.

Uma tontura chega quase de mansinho.

Há muitas palavras que eu me esqueci.

Nem me lembro mais quando bebi alguma.

A minha mente não deixa rastros

Mas só vez em quando fico rindo sozinho...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 357

Tudo muda

Nada muda

A aparência é simples engano

Somos as mesmas crianças

Como sempre fomos e seremos

Temos estrelas

Somos estrelas

Só os lugares é que mudam

Ainda não percebeu isso?


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Ainda bem que eu quase não passo mais lá. Meus pés estão cansados. Minha alma está cansada. Bastam as tristezas que os dias me dão de presente. Mesmo que o mar fique no final da rua. Isso já importou. Não me importa mais. Importa para tanta gente. Não eu. Os bolsos estão tão cheios de lembrança. Portão fechado. Plantas invasoras. Janelas escancaradas ou arrancadas, Tanta poeira, entulho e lixo. Os anos se passam. O apetite do tempo é tão voraz. Não posso fazer nada, ninguém pode. Ainda bem que eu quase não passo mais lá...


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Minha rua se chama silêncio

No inverno até os medos se recolhem

Se porventura chove cada gota dói

As lâmpadas dos postes pouco fazem

Qualquer barulho jaz sufocado

Escuto um avião passando ao longe

Mas ele também já foi embora

Minhas pálpebras ainda pesam

Mas permanece a dúbia teimosia

De continuar em frente ao computador...


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Aconteceu? Virou acontecimento! Eis porque o nada se transforma em alguma coisa. Uma palavra ecoou no ar - acabou o silêncio. Um pássaro cantou - eis uma cantoria. No primeiro olhar nasceu o amor - eis o novo romance, ocorrendo ou não. O primeiro suspiro ou o último - eis uma história. Aconteceu? Virou acontecimento...


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Quantas vezes terei de repetir que te amo?

E que a impossibilidade desse amor é apenas detalhe?

Que não queria invadir sua vida mas que você fez isso comigo?

Quantas vezes terei que fazer o mesmo verso?

E terei de dizer que não preciso de asas para voar?

Quantas vezes os meus sonhos irão me ajudar a fazer isso?


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Toda normalidade acaba sendo excepcional. Todos os passos dados ficam registrados. A mesma luz do sol que ontem iluminou continua seu caminho. Somos grandes enganados. Nada realmente acaba. A eternidade sabe se disfarçar muito bem. Tolos é o que somos. Nem percebemos que a vida registra todas as cenas...


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O espelho é meu amigo...

Não fala nada, nunca me criticou...

Tão solidário!

Se rio, ri comigo;

Se choro, também chora...

E nunca reclama

Quando vou embora de repente,

Sem lhe dizer um até logo...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 356

Um dia hei de ser rei do meu próprio reino...

Onde margaridas e manacás floresçam sempre...

Onde haja sempre um riacho no meu quintal...

Onde sejam estações de pitangas o ano todo...

Onde possamos andar pelas ruas sem medo...

Onde os meninos assim permaneçam sempre...

Onde o mal foi embora e acabou não voltando...

Onde os diferentes sejam todos tão mais iguais...

Onde ela diga finalmente que sempre me amará...

Um dia hei de ser rei do meu próprio reino...


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Eu preciso amar o amor

(Assim como todos os poetas tentam)

Mesmo que ele se faça de sério e nunca sorria

Mesmo que me acorde dando tapas na cara

Mesmo que me dê rosas sem tirar os espinhos

Quando ele sai voando e eu esqueci de pôr minhas asas

Até quando o tempo envelheça e venham dores

Até quando o mar está revolto e não possa entrar nele

Mesmo quando a vida não me querer mais e a morte sim...

Eu preciso amar o amor...


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Aquele que é forte sabe chorar

O que tem medo sabe amedrontá-lo

Boas intenções necessitam de gestos

A ternura se acumula como a lembrança

Cada passo que damos não poderá voltar

Os meus olhos são fiéis testemunhas calados

Aquele que chora pode ser forte


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Que meu falar seja breve

(Para meus olhos falarem mais)

Que minha verdade seja única

(A mesma que mora em todos corações)

Que minha dúvida seja a mais sã

(Para que meus pés não mais tropecem)

Que meu sonho viva bem mais que eu

(Só ele pode me levar para a eternidade)...


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Quando o sol se apagar em mim

Quando os pássaros pousarem cansados

Quando a noite se recusar ir embora

Tudo será apenas silêncio

E até neste silêncio haverá uma canção...


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Pois eu te quero mais que te quero

Assim como quem está no alto 

Acaba sofrendo pela força da gravidade

Pois eu te quero mais que te quero

Como um bicho necessita de carinho

Mesmo sendo criado dentro de uma jaula

Pois eu te quero mais que te quero

Assim como o poema mais desesperado

Que acabou perdendo os versos de uma vez...


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Morda minhas carnes com selvageria

Sem dó algum, marque com os seus dentes...

Conte-me as histórias mais impossíveis

Para que esse menino aqui possa acreditar...

Me dê a rosa mais bonita que encontrou,

Não se importe com o jardim de onde veio...

Rapte-me sem pedir um resgate algum

Ou se pedir, peça que deem a brisa mansa...

Muito Pra Nada

Muito pra nada.

O sexo no alto da escada.

A canseira dada pelo rio.

A fome. A sede. O frio.

Quanto mais cheio mais vazio.


Muito pra nada.

A beleza é só uma fachada.

Morte matada morte morrida.

A canseira. A sorte. A lida.

A morte também faz parte da vida.


Muito pra nada.

Começar pode ser o fim da jornada.

Eu permaneço nesse mesmo lugar.

Não sei. Não sabe. Não saberá.

Nosso maior veneno é o nosso teimar.


Muito pra nada.

Não existe no livro nenhum conto de fada.

A máquina já veio da fábrica com defeito.

Quase errado. Quase certo. Perfeito.

A tua verdadeira casa é o meu peito.


Muito pra nada.

Eu só aprendi a dar mancada...


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 355



O frio é a evidência do calor.

Os desertos são mares opostos?

Tudo que passa está no passado.

Vivi o suficiente para um vivo?

Toda ternura pode ser perigosa.

Por que todo brinquedo parte?

Até o nada é um acontecimento...


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Nada que esteja acima do chão permanece

Os pássaros se cansam e acabam pousando

Os aviões vão para os aeroportos ou caem

As nuvens quando a chuva chega jogam-se

As lágrimas conhecem bem a gravidade

Até a fumaça deve ter algum destino

Quase nada que esteja acima do chão permanece

Só os sonhos são autossuficientes para tal...


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Morte que te quero vida

Tristeza que te quero alegria

Meu nome é um outro

Mas pode me chamar teimosia

Pode me chamar de ternura

Pode me chamar de fim de dor

Pode me chamar de qualquer coisa

Só não me chame de desamor...


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Esqueça o jornal.

Esqueça que o sol não saiu hoje.

Que os malvados estão por aí.

Nosso tempo é muito pouco

E temos dar importância 

Ao que é mais importante:

Sonhar, amar e sorrir...


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É do povo o choro.

A luta pelo pão também.

Contra a mentira, o roubo,

Contra o que os malvados fazem...

Não sei se estarei por aqui

No dia da vitória, 

Mas o riso será do povo também...


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Nossa cumplicidade eram de tardes tristes

Que se transformavam em tardes alegres.

Nem íamos para o lado de fora,

Mas sabíamos que os pássaros cantavam.

Nenhum daqueles choros que tivemos

Não ficou dividido entre nós dóis.

Nunca apagamos a luz, não teve um beijo,

Mas nossa felicidade estava ali escondida.

Por que fui logo te amar sendo impossível?


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Estar vivo é apenas um ponto de vista

As pedras também estão vivas e nunca morrem

As ondas nunca pararam um segundo sequer

O vento se disfarça e quando vemos volta

As nuvens caem lá de cima e um dia voltam

O riso de uma criança beira a eternidade

A maldade um dia acaba acabando

Estar morto é apenas um ponto de vista

Carliniana XCV ( O Primeiro dos Últimos )

Apático.

O que sobra vai para o lixo.

A guerra longe é mais uma notícia.

O doente terminal não sou eu.

O cachorro de rua não é meu pet.

O planeta não é meu quintal.

Então que foda-se a vida alheia.

Apático...


Inculto.

A filosofia não serve pra nada.

A riqueza é a nossa meta verdadeira.

Quero ser famoso por qualquer merda.

Minha vergonha acabou anteontem.

Não sabemos nem porque existimos.

A terra é plana porque deu na televisão.

Inculto...


Insano.

A moda supera qualquer senso de ridículo.

Enganar é apenas uma questão de método.

Vamos fazer vários cursos pra sermos idiotas.

O preconceito é a base normal da sociedade.

Sem as redes sociais não somos merda nenhuma.

A velhice é aquilo que não teremos jamais.

Insano...


Descrente.

Nossa fé é a mistura da formalidade e do medo.

É Deus aquele que tem milhões de seguidores.

Eu não penso na morte porque até evito de pensar.

O melhor jeito de resolver algo é não resolver.

Temos que aparentar que não somos uns boçais.

Nossa lápide tentar ser uma desculpa esfarrapada.

Descrente...


Idiota.

O poder me joga na lama e é o que eu quero.

Qualquer cara bonita consegue me enganar.

Ninguém é mais confiável do que o inimigo.

Fazer sexo mesmo sem amor é meu esporte.

Nossa fome é a única coisa que nos interessa.

Somos a mistura de tudo aquilo que não presta.

Idiotas...

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Vila dos Impossíveis

Qualquer palavra é válida

Mesmo em outro idioma

Que não é o nosso...


Todas as cores são cores

O arco-íris é prova 

Mais viva de tal fato...


Todas as águas reais

Acabam no mar

Inúmeras gotas...


Não há uma solidão

Que não seja morta

Mesmo que teimando...


O vidro acabou caindo

E a metamorfose aconteceu:

Um são agora vários...


A mágica sempre acontece

Mesmo entre máquinas

E até o metal vive...


Nesta vila de impossíveis

Todos acabam vivendo

E assim é o mundo...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Desenhos Na Madrugada

Eu faço tudo aquilo que pode ser apenas feito.

Raramente consigo respirar sem vogais e consoantes.

Vejo as estrelas nos antigos jornais das bancas.

Ainda temos cabelos porque a moda está valendo.

Tenho a faca e o queijo e agora só me falta o rato.

Os restos mortais de todos os famosos não sobraram.

Um simples sussurro pode acordar nosso dragão.

Ela fica tão bonita vestindo só som as suas meias.

O estado distribuirá para a população pulgas de graça.

Macunaíma teve seu nome modificado para John Peter.

Tenho tesão inconteste por nádegas e por geometria.

Tatu no fubá vai ser liberado nos feriados que caiam neve.

O meu vizinho ganhou um tiro na cara naquela rifa.

Só sei fazer conta das quatro operações dormindo em pé.

Vendem-se vassouras à jato e varas de condão eletrônicas.

O meu português agora está mais do que irreconhecível.

Os antigos só sabiam falar as coisas mais modernas.

O último que morrer pode apagar a luz e fechar a porta.

Minha solidão me traz todos os inconvenientes possíveis.

Só vou continuar se me restar alguma tola continuação.

Assistir televisão desligada parece ser um bom ofício.

Consigo xingar apenas em todas as vezes que penso.

A maior invenção do nosso século é a geleia de mosca.

Pior do que morrer é estar morto e nem saber disso.

Algum dia até mesmo a poesia me dá um pé na bunda...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 10 de agosto de 2025

Toda Minha ou Eu Ainda Não Fui Pra Marte

 

Até um tempo atrás não gostava de peitos grandes,

Mas agora acho que acabei mudando de ideia,

Seus seios são lindos, sagrada que sustenta meu mundo...


Não é machismo, eu sou seu pai, seu filho, seu amante...


Sua boca é sem dúvida alguma a que mais beijei,

Trocamos de saliva como quem engoliu o mar,

Gastaria meu tempo  fazendo tudo novamente...


Não é maldade, é só tesão, é só ternura, só desejo...


No meio das suas pernas eu me sinto como em casa,

Aquela mesma casa que já não vejo faz muito tempo

E a qual queria voltar de novo e chorar e chorar...


Não é desespero, é saudade, é lembrança, querer voltar...


Não apague a luz, por favor,  deixe a luz acesa,

Quero me perder nas avenidas dessas suas carnes

Como um cão fujão no centro na hora do rush...


Sempre amei, antes das estrelas, antes do tempo, no caos...

Toda minha... Toda minha... Toda minha...


(Para Renata, extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Estranha Delicadeza das Pedras

- Se não têm pão,

Que comam morangos...


Vamos ao Jardim das Delícias

Catar algumas estrelas-do-mar

Que espartanos deixaram por lá...


- O rei está nu!  -

Assim falou o GP estrábico...


Nada é maior que o menor

Pois grãos de poeira só caem

Se o vento assim o desejar...


- Meu reino por um cavalo! -

Lema dito no primeiro páreo...


Ele conseguiu montar na mosca

Que acabou de chegar de Roma

Trazendo notícias inesperadas...


- Prefiro votar no Diabo... -

Eis o lema do colonizador safado...


Gregos e troianos bebem cerveja

Enquanto comem pôneis armênios

Como excelentes tira-gostos...


- Só sei que tudo sei... -

Lema motivacional para suricates..


O pandeirista mais afamado

Gosta mesmo de tocar tuba

Em concertos de forró hindu...


- Eis a próxima desatração! -

Falou morcego-cristal...


.A dor acabou se distraindo

No meio daquela romaria

Dos mais contritos ateus...


- Juro pela sua mãe! -

Gritou o viciado em guaraná...


Ainda chora a morte da bezerra

Mostrando a sua língua

Que me lambeu noite toda...


- Vai pra puta que o pariu! -

Eis o maior dos elogios...


Qualquer um dia desses

Eu sambo no mambo

Só usando minhas meias...


- Se não têm pão,

Que comam morangos...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 9 de agosto de 2025

Ligeira Lentidão de Estrelas

Não tenho pressa alguma de viver

Deixarei que meus sonhos o façam por mim...

Para eles todo o tempo do mundo

E o meu riso e o meu choro e meus amores...


Não tenho pressa de ir embora

A morte é a única pergunta sem resposta...

E todas as outras perguntas

Sei que um vento irá responder por mim...


Assim como a luz somos nós

O tempo não importa tanto assim...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Em Nome do Jogo

Ela se masturba porque está no script.

Por dinheiro engoliremos ratos vivos.

As décimas intenções são as melhores.

O desejo é carro sem freio na contramão.

No outdoor está escrito: vá se foder.

Gratuita agora só mesmo a maldade.

Vou passear para ver alguma tragédia.


O comediante chorou por suas piadas.

Nosso caldo de mocotó foi censurado.

Pornografia moralista para os fiéis.

Fraldas descartáveis agora comestíveis.

Putas virgens para tarados assexuais.

Ele sacudiu o pau para sua plateia.

Contém glúten para todos os glúteos.


Novo perfume com aroma de fezes.

Meu cão só bebe água do esgoto.

Estou quase inteiro pela metade.

Só teremos dores assintomáticas.

A asma só ficará resolvida com tiros.

Churrasco de gato cura impotência.

Só será corno quem estiver solteiro.


Buchada de bode para vegetarianos.

Fico brabo se me chamam de honesto.

Temos twinks para todos os gostos.

Valsas vienenses em ritmo de funk.

Era viciado em não ter um vício.

Mousse de maracujá artificial.

Roupas descartáveis de papelão.


Farinha de mandioca sintética.

Mendigos profissionais concursados.

Felação só para fins reprodutivos.

Todo luto está fechado para balanço.

Estamos deitados em redes sociais.

Devagar só se pode ir aqui perto.

Mãe pragueja seu filho diariamente.


Aposta de enfiar o dedo na tomada.

Ganhar de presente a tampa do bueiro.

Hambúrguer com sabor carniça.

Ninfeta calçando cinquenta e oito.

Luta de pandas para terem mosquitos.

Performance de rolar na bosta.

Fez jejum durante quarenta anos.


Possuímos muitas falsas certezas.

Foi à lona antes mesmo de lutar.

Teve prazer em se envenenar.

Prestou sempre falso testemunho.

Teve futilidade até a hora final.

Foi escravizado pela tecnologia.

Esperou o fim da feira para a xepa...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Fiquei Como Ficam Os Pássaros Sob O Temporal

É compreensível que existam tantos teatros por aí, principalmente agora. Nossos espelhos estão distorcidos como nunca estiveram e nossos olhos colaboram bem mais para isto. A apatia nos atingiu como uma faísca que não apenas fere, mas acaba cegando.

Comoções de um mundo mais insano, supremacia dos idiotas, capitalismo babando com o surto que ele mesmo provocou...

Peças de dominó que caem uma após a oura num espetáculo digno de qualquer esquecimento. Musas ao avesso nas redes sociais, heróis de nada, o talento saiu para tomar um café e não voltou. A piora do paciente acontece do jeito que o médico assim o quis...

Coleção de diferentes beijos em noites banalmente cheias de uma libido em que apenas faltava um pouco mais de tesão...

Para vivermos basta estarmos mortos. Silvícolas de paletó e gravata da melhor grife que o dinheiro pode pagar. Os palhaços com cara cruel correm atrás de nós e a única saída foi aquele beco sem saída. Mais uma, por favor.

Há muitos nomes agora quase que esquecidos, principalmente aquele que foi meu...

A nuvens cor-de-rosa agora estão mais do que acinzentadas. Os anjos surtaram e deram ataques de riso na nova comédia que é a velha guerra que teima de permanecer entre todos os homens. A inocência é agora um palheiro numa agulha.

Escuto a tristeza de um blues com alguns toques de um samba-canção que um poeta fez em sua embriaguez...

Tão bonita, tão feia, arte moderna de tons mais que milenares. Os tamanduás não comem mais formigas, sentem saudades de esquecidos formigueiros. Cada ideia há de falhar para que possa valer alguma coisa.

O milionário acabou de perder tudo e praticou haraquiri com sua escova de dentes importada...

Um radinho de pilhas sem pilhas de repente tocou. Todos os odores repugnantes agora fazem certo sentido. Batam as palmas mais efusivas para o começo de qualquer um fim.

Gosto por demais de todos os absurdos que podem ser servidos em meu pobre desjejum...

O corpo dela apodrece na gaveta enquanto todo choro agora seco foi substituído pela diversão que o nada pode proporcionar. O tanque do automóvel acaba explodindo. A cena de nudez da novela foi um prato vazio.

Muitas palmas, muitas mesmo, agora e sempre, agora e nunca, para os fantasiados com a sua nudez...

O catador de reciclagens tem mais trabalho do que possa imaginar. Cata o não que foi jogado fora, o que foi também jogado, o que nem existe para ser jogado. Agora os rios vêm vindo do mar.

Lanternas chinesas para noites russas onde cisnes imitam perfeitamente os rouxinóis...

O nó de Górdio, o cardiograma que trouxe preocupantes resultados. Você tem saúde de ferro e poderá estar enferrujado daqui uns meses porque mora bem na frente do mar.

O adolescente tem uma ejaculação involuntária toda vez que ganha uma partida de videogame...

Acabou a pressa do beija-flor e de agora em diante as flores que se virem sozinhas. É um enxame de abelhas mutantes que preferem flores de plástico ou de papel alumínio.

Em qualquer uma das vinte e cinco horas do dia mais um desesperado tenta beber de sua saliva...

O monge ascensionado  grita impropérios no boteco da esquina enquanto atrai os passantes. O preço das marmitas não é o mesmo do ano passado. E sempre temos dito. Maldito proprietário dono do sacolão do bairro.

As raízes secaram por conta da umidade excessiva de uma quinta estação desse ano de trezentos e sessenta e sete dias...

Onde estão meus óculos? Onde estão meus óculos? Sem eles me sinto como os pássaros sob esse temporal de chuva seca...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Isto Também É Poesia

Isto também é poesia... Isto é... A primeira ave que canta quando clareia o dia Interrompendo seu humilde sono  Que foi em um galho qualquer...