segunda-feira, 7 de abril de 2025

Poesia Gráfica LXLI

A MINHA POESIA REDONDA É QUADRADA

A MINHA POESIA QUADRADA É REDONDA

A MINHA ÁGUA SOBE MORRO ACIMA

O MEU PÁSSARO VOA PELO CHÃO

O MEU AMOR ME ODEIA CADA VEZ MAIS


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O  CARA TÁ PASSANDO FOME

A CALÇADA AGORA VIROU HOME

QUEM NÃO TEM É QUEM NÃO COME

JÁ TROCARAM ATÉ DE NOME

USE NO BANHO A PEDRA-POME

CHEGARAM AQUI OS HOME


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NÃO ENTENDI PATAVINAS

NÃO ENTENDI PATALINAS

NÃO ENTENDI PATARINAS

NÃO ENTENDI PATASINAS

NÃO ENTENDI PATASINAS


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DESAFINANDO O CORO DOS CONTENTES

DESAFINANDO O CORO DOS CARENTES

DESAFINANDO O CORO DOS DOENTES

DESAFINANDO O CORO DOS DEMENTES

DESAFINANDO O CORO DOS PATENTES

DESAFINANDO O CORO DOS PARENTES

DESAFINANDO O CORO DAS CORRENTES


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SE VOCÊ QUER SORRIR É COM PARAAQUI

SE VOCÊ QUER CHORAR É COM PARACÁ

SE VOCÊ QUER SORRIR E CHORAR PARAAQUI E PARACÁ


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NADA MAIS

NADA MENOS

MINHA POESIA É TRISTE

COMO UM CIGARRO QUE CAIU NA ÁGUA

E ERA O ÚLTIMO DO MAÇO

NADA MAIS

NADA MENOS...


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O TEMPO FRIO

O SANGUE QUENTE

NUVENS PEQUENAS E VELOZES

DA PÓLVORA DOS TIROS

O MEU RIO DE JANEIRO

TÃO BELO E TÃO MALVADO

FATALIDADE MORTAL

O TEMPO QUENTE

O SANGUE FRIO

 

domingo, 6 de abril de 2025

Poesia Gráfica LXL

U S E C A M I S I N H A

U S E C A M I S E T A

U S E C A M I S O L A

U S E C A M I S A P Ó L O


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A B A R A T A É B A R A T A

A B A R A T A D Á B A R A T O

A B A R A T A T Á B A R A T A

A B A R A T A T E M B A R A T O

A B A R A T A F O I B A R A T A 

A B A R A T A A G O R A T Á C A R A 


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C O M U M A M A M Ã O P E G U E I O M A M Ã O C O M U M A M Ã O E N C E R R E I A Q U E S TÃO C O M U M A M Ã O P E G U E I O L A D R Ã O C O U M M A M Ã O F U I R E I D O S E R T Ã O


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T I V E U M P I R I P A Q U E

T I V E U M P O R I P I Q U E

T I V E U M P A R I P E Q U E

T I V E U M P U R I P U Q U E

T I V E UM P E R I P E Q U E

O Q U E E U T I V E M E S M O?


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C O M P R E I N A B O S E M S A C O S

C O M P R E I N A B O S E M C A C O S

C O M P R E I N A B O S E M T A C O S

C O M P R E I N A B O S E M N A C O S

C O M P R E I N A B O S E M P A C O S


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A G A L I N H A D O V I Z I N H O

A F A R I N H A D O V I Z I N H O

A B A L I N H A D O V I Z I N H O

A C A R I N H A D O V I Z I N H O

A M A L I N H A D O V I Z I N H O

A V A R I N H A D O V I Z I N H O


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M E U P É N Ã O T E M P E N A 

N Ã O T E M P E N A DA C E N A

M I N H A M Ã O N Ã O T E M P E N A

N Ã O T E M P E N A D A A R E N A


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O T I M I S M O

P E S S I M I S M O

E S T R A B I S M O

E X T R A B I S M O

N O E X T R A

sábado, 5 de abril de 2025

Pássaro Pousado No Fio

Em muitos fios por aí,

Ventos frios, mesmo em dias de calor,

Em uma solidão feita de muitos,

O que passa os que passam lá embaixo?

A maioria das respostas não tem pergunta...

Os postes são as novas cruzes,

Acabam trafegando por eles - desenganos...

Ficar sereno, quieto feito o morto,

Talvez seja a única das saídas possíveis...

A festa acabou e não tem outra,

Eu sou o alvo de muitos tiros,

A mira para muitas pedras e gatos...

Em muitos fios por aí...

Cada fio é apenas um rio,

Um rio sem água e sem seca também,

Um dia tudo isso acabará...

Os fios, os postes, as ruas, as casas,

Acabarão todos os bichos e homens, 

É tudo só uma questão de tempo...

Só sobrarão lembranças estáticas,

Como estou agora aqui - pousado...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Ando Em Tuas Ruas


 Ando em tuas ruas

Com pés que já não tenho mais...

Agora são asas, agora são asas!

Asas que só a imaginação pode ter...


Ando em tuas ruas

Procurando aquele rosto dela...

Já fazem séculos, muito séculos!

Cada dia contado em meus dedos...


Ando em tuas ruas

Como um pobre vira-latas faminto...

Eu nem mais uivo, não uivo não!

Não há nem jardim para me enterrarem...


Ando em tuas ruas

Como um demônio que veio te visitar...


(Extraído do livro "Muitos Dias Já Passaram" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 31 de março de 2025

Quem Caga Aí Levanta O Dedo

Passaredo, passaralho,

Vai pra casa do caralho!

Eu tou pobre, eu tou rico,

Tomo sopa no pinico!...


Menina do pentelho enrolado,

Não repare que eu tou cagado...

Seu grelo é tão comprimido,

Dá até pra ser dividido...


Passaredo, passaru,

Vai tomar no seu cu!

Eu tou velho, eu tou moderno,

Moro dentro do Inferno!...


Menino do rabo coçando,

Eu nem reparo se você tá dando...

Isso faz parte do teu ofício,

Na vida vale qualquer sacrifício...


Passaredo, passarilho,

Vai deitar em cima do trilho!

Eu falo merda, eu falo bosta,

Se escuta é porque gosta!...


Quem caga aí, levanta o dedo!...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

New Chaos

Carpideiras morrendo de rir.

Policiais cometendo crimes.

Novos morrendo de velhice.

Fui abençoado com uma praga...


Ganhei um soco de presente.

O médico me receitou veneno.

Só me alimento quando durmo.

Minha inocência quer putaria...


Pornografia só na escola.

O gato se caga de medo do rato.

Ícaro agora só anda de jet-ski.

Mostre seu cu na rede social...


Bezerros alérgicos à lactose.

O assaltante ontem foi assaltado.

O defunto saiu correndo assustado.

Só transo com quem desconheço...


Nunca mais xingo porra nenhuma.

Nossa reputação parece uma lixeira.

Até o feiticeiro morrerá qualquer dia.

Estaremos prontos para o novo caos...


(Extraído do livro "Pane na Casa Das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

domingo, 30 de março de 2025

Alguns Poemetos Sem Nome N° 340

Lembrar que não se lembra mais. Eis dias quase chuvosos ou não. Ser triste como um outro qualquer. As fogueiras se apagaram em algumas noites que não foram de São João. A solidão também sabe nos acompanhar. E a dor nos ensina alguma coisa. Palmas, senhores, palmas para quem soube ficar em silêncio às vezes...


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Todos os brinquedos quase sem graça

(Só a novidade tem verdadeiro encanto)

As manhãs são repletas de seu sono

(Muitos enigmas e todos eles à granel)

Hoje mais que nunca o nunca aqui está

(Os sonhos são pássaros desembestados)

Nunca ninguém saberá o que pensamos

(Pra falar a verdade nem nós mesmos)...


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Um poeta jovem me falou assim:

- Se você continuar só escrevendo como faz

Poderá morrer em extrema solidão...

Estás enganado, meu nobre e caro amigo!

Mesmo que ninguém leia uma só letra

O meus cantos atingiram todo o ar em volta

Toda eternidade dispensa aplausos da plateia...

Só a loucura pode valer alguma coisa...


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Eu nunca fiz um poema pra morte

Ela que faz algum todos os meus dias

E eu (por enquanto) me recuso a ler...

Queria outros beijos que não abismos

Mas eles fazem seu fiel delivery

E afinal precisam ser atendidos...

Meus versos não são o sangue que tenho

São todos eles as minhas próprias veias

Que pulsam por um coração que tem medo...

Eu nunca quis que a morte chegasse

Mas sei que um dia ela vai chegar

E será irrecusável a velha proposta de namoro...


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Trem sobre os trilhos...

Sonhos em nossas cabeças...

Nuvens para nos acompanhar...

Quem acendeu o dia?

Barcos cortando mares...

Acompanhamento de pássaros...

Flores para todos nós...

Quem apagou a noite?


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É hora da chamada

Nossa teimosia: Presente!

Como todas as estações

Que assim se repetem

Ou assim como goteiras

Quando chove:

Ping, ping, ping...


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Uma estrela? Não! Um verso...

Aquele que deveria ter escrito

Mas que não pude fazer...

Que deveria ter gravado

Naquela árvore da praça...

Ou marcado no coração

Até o final dos tempos...

sexta-feira, 28 de março de 2025

Vale O Que Não Está Escrito

Todo normal tem um quê de estranho

Tudo que é pequeno é de maior tamanho

Com as minhas mão estrelas apanho...


O que está escrito? Não vale!


Eu sempre corro no meio da escuridão

Tudo é apático sobretudo minha emoção

O carro da história só vai na contramão...


O que está escrito? Não vale!


A novidade já chegou mais ultrapassada

O que vale tanto é o que vale mais nada

Quando descemos estamos no alto da escada...


O que está escrito? Não vale!


Nossas calças jeans foram feitas de papel

Todo carinho pode ser também o mais cruel

Há muitos infernos que estão dentro do céu


O que está escrito? Não vale!


Uns falam de alegria enquanto eu de tristeza

É desesperante ir deitar sem ter sobremesa

Na maioria das vezes o caçador vira a presa


O que está escrito? Não vale!


Todo possível nasce do que é mais impossível

Meus olhos agora só acreditam no invisível

O automóvel só consegue andar sem combustível


O que está escrito? Não vale...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Inquisitionis II

Quem sou eu na fila do não?


Onde estão as meninas e os meninos?

Somos nós que escolhemos os destinos?

É de acordo com a bula ou é um atraso?

O fruto mais amargo será o do acaso?


Quem sou eu na fila do Cão?


Dar um soco na pedra também dói?

O maior dos covardes pode ser o herói?

Qual foi a roupa que o rato roeu afinal?

Nós podemos ir dançar sob o temporal?


Quem sou eu na fila do grão?


Posso colocar mais mostarda no salgado?

Quem é que sabe o que é certo ou errado?

Por que foi o fevereiro que engoliu janeiro?

Por que o último acabou sendo o primeiro?


Quem sou eu na fila do vão?


Será que morri e ainda não me deitei?

Tudo que ainda não vivi um dia viverei?

Quem morre mais: nosso corpo ou a alma?

Quem acaba traumatizando todo trauma?


Quem sou eu na fila do quão?


Sou chato porque faço perguntas demais?

Enfeitei teus cabelos com as flores astrais?

Vou acabar com o que acabou acabando?

Por que? Onde? Como? Será? Quando?


Quem sou eu na fila do tão?...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Inquisitionis

O beijo é da boca

Ou a boca é do beijo?


Vamos olhar para todas as águas possíveis

No mais contrito de nossos silêncios

Enquanto jogamos algumas pedrinhas

E pensamos naquilo tudo que já passou...


O céu tem muitas estrelas

Ou muitas estrelas têm o céu?


Mesmo que sejam passados muitos carnavais

Todos serão fotografados pela lente dos olhos

E serão bem guardados pelo baú de memória

E a chave será guardada em nossa alma...


A chuva vai cair no chão

Ou o chão subirá até a chuva?


Que o amor passe por aquela porta aberta

E seja malvado mais que qualquer existente

Nem por isso iremos esquecer das suas carícias

Assim como a rosa nunca esquece do espinho...


O mar tem muitas marés

Ou as marés têm muito mar?


Nossa loucura é a única que nos salvará

Mesmo se toneladas de bombas venham do alto

Ou algum vírus inventado ande pela terra

Atendendo pedidos que nunca foram feitos...


A flor é da borboleta 

Ou a borboleta é da flor?


Não dei todos os beijos que seriam suficientes

Para encher de alegria todo o ar em torno

Mas continuei andando de mão nos bolsos

Até que ache aquilo que não procurei mais...


O Criador fez a criatura

Ou a criatura fez o criador?


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

E Tempos

Tempos idos...

De grande tecnologia e nenhuma

De risos sórdidos que deram em nada

O balé agora está calado definitivamente

Em ossos podres que nem mais existem...


Asas quebradas...

A terra agora vai devorando a água

E a inconsequência que nos mata

Ainda tem alguma piedade restante

E nos tira do meio desse caos...


Alguma etilidade...

Ergamos a taça quebrada de vidro sujo

Enquanto a poeira vai nos perseguindo

E acabará então nos encontrando

Não importa se aqui ou muito longe...


Perguntas inúteis...

Não há mais boca e nem há mais língua

E a vã promessa de um céu indeterminado

Não nos salvará de um célere naufrágio

Que faz surgir assombrações medrosas...


Tempos idos...

Sem caixas de metal quase venenosas

Que agora nos escraviza mais cruelmente

Mas sem a fama que o louco teve um dia

Enquanto escondíamos toda essa fumaça...


Talvez descanse em paz...


Para T.J.C.T - in Memoriam. 


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 27 de março de 2025

Palavras Modernas 6

O que ele tinha nojo agora engole.

O que está preso na gaiola não escapole.

Até quem não vale nada tem sua prole.

Estamos na idade da pedra e não é mole.


Eu posso ser um deus e tomar birita.

Estamos tão sós e isso é que me irrita.

Ela é tão feia e mesmo assim tão bonita.

Terminei de fazer uma estátua e ela grita.


Todo mendigo agora tem conta no banco.

A vida nada mais é que um cheque em branco.

Em eras passadas apanhamos de tamanco.

Meu coração agora só vai pegar no tranco.


Toda a alegria é apenas mais um engodo.

Eu não quero mais a metade quero é todo.

Misturando terra e água teremos o lodo.

Toda vez que tento ser bom é que me fodo.


Eu pra poder escrever acordo de madrugada.

Cada moda que surge é a mais nova piada.

Quem tem valor acaba é não valendo nada.

Qualquer dia vai ter aluguel até pra calçada.


O que ele tinha nojo agora gosta.

O que vale na vida não tem resposta.

Até quem não vale nada vale bosta.

Até morrer agora é mais uma proposta...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Elixir dos Ventos

Eis porque teus olhos vulgares

Me são tão raros

Me são tão caros...


Ventos vindos do norte

Ventos rindo da morte

Assim...

Jardim...


Eis porque tua boca deboche

Me é tão macia

Me é tão vadia...


Ventos vindo do carnaval

Ventos rindo do temporal

Assim...

Em mim...


Eis porque teu corpo comum

Me é minha presa

Me é minha mesa...


Ventos vindo da alegria

Ventos rindo da fantasia

Assim...

Clarim...


O pajé fez o elixir

E eu bebi...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 26 de março de 2025

Era Um Pobre Velho Sem Coca-Cola


 Aquilo que não como é o luxo que tenho...

Ora, por que não? Meu tempo assim merece...

A minha vaidade não acabou, só usa uma máscara...

A morte é mais um brinquedo em minha mão...

Cada um come o seu pedaço na hora que quer...

Nunca fomos... Mas mesmo assim sempre seremos...


Aquilo que não bebo é a falta que sinto...

Ora, por que não? Tudo se repete sem percebermos...

Toda novidade é obsoleta, a próxima lhe mata...

A puta é aquela que esconde sua inocência nas ruas...

A maldade é o abismo do abismo do abismo...

Velhas páginas... Quanto mais amareladas, mais novas...


Aquilo que não respiro é o que mais me sufoca...

Ora, por que não? Há várias drogas disfarçadas...

Nunca seremos o futuro, mas sim o passado...

O morcego é um pássaro que ama a escuridão...

Eu me permito a todas as loucuras possíveis...

Dançar na praça... Mesmo em dias de muita chuva...


Aquilo que não vejo é o que mais me cega...

Ora, por que não? Até as máquinas adormecem...

As preces falham, os gênios erram nos pedidos...

Todo erro é plausível se assim foi desejado...

Eu só me vesti de vermelho quando fui um clown...

Hoje sou apenas um velho que nem Coca-Cola tem...


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida").

segunda-feira, 24 de março de 2025

Colibri com Soluço

Aproveita que tá caro, freguesa!

As bananas bateram co'pé na buinda

E foram se maquiar lá no bananal...


É fresquinho de anteontem, freguês!

Meu patuá agora só usa pato B

Na mais correta de todas indecisões...


Tá cheinho de mosca, freguesa!

S'eu pudesse pegava ela de tapa

Pra fazer ela desaprender tudinho...


Eu passei meleca, freguês!

Eu cumprimentei hoje Tatuíno

Sem saber que o pobre tinha morrido...


Isso é perfume de virilha, freguesa!

Comer na marmita agora é banquete

Pois botamos o pastor pra pastá...


Oh, my God! Vê se pode:

Um cabrito virar bode...

Ah! Num fode...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Samba Insólito

Samba no depósito de lixo

Samba no lixão

Jogamos fora com o pé

Pegamos de volta com a mão.


Todo morto sabe o que faz

Sai logo de cena

Não toma café na madrugada

Nem come biscoito de maisena.


Samba no meio do tiroteio

Samba sem razão

Toda folia acaba saindo fora

E nos deixa numa só escuridão.


Todo veneno sabe o que mata

Mata o que satisfaz

Carreguem logo esse bombardeiro

Com todas essas bombas de paz.


Samba na laje que não foi feita

Samba na escuridão

Toda tocaia acaba dando errado

Culpado pro pelotão.


Todo poeta sabe onde erra

Repete as rimas até se enjoar

Não ama mesmo se está amando

Só gargalha se quer chorar.


Samba dentro do aeroporto

Samba no avião

Morro todo dia bem cedinho

Pra não perder esta ocasião...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Calado!

Cinema mudo...


Todos os cantos do mundo tornados um

Com alguma precisão que eu mesmo não sei

Fenômenos com nomes mais arranjados

A ciência tem apetite de certas novidades...


Cinema surdo...


A borboleta não voa mais como voava antes

A pólvora explodiu mesmo estando molhada

Minhas manias tem mais um certo ineditismo

Foi somente culpa minha pisar na serpente...


Cinema cego...


Dispensei aquela minha tara que era pra ontem

Fabrico todas estas minhas solidões em série

Talvez nem mais a chuva caia por sobre o telhado

As madrugadas agora são apenas sem medo algum...


Cinema mudo...


Eu nunca mais vi nem uma e nem vi mais a outra

Nosso futuro é um pássaro com asas de chumbo

O mercador de Veneza agora mora em Nova Iguaçu

Passar as férias no Inferno é uma opção qualquer...


Só cinema...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 23 de março de 2025

Maracatu Atônito

Uma rima elétrica.

Ele gozou antes da hora.

Maria tem vários nomes.

Nosso sonho alafiou. 


Odara, odara, odara! 


Hoje quase domingo.

Damos farofa pra rua.

Meu nome é quase Charles.

Nunca mais fui no norte.


Odara, odara, odara!


Fritada não é omelete.

Capriche neste seu angu.

Quebraram as correntes.

Cantemos mesmo calados.


Odara, odara, odara!


Carcará não mata mais.

Mascamos essas giletes.

Não perguntamos mais.

Não há mais biscoito.


Odara, odara, odara!


Uma rima etérica.

Ele morreu antes da hora.

Maria tem várias fomes.

Nosso sonho alafiou...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

quinta-feira, 20 de março de 2025

A Arte da Arte

Agora quero falar de sabiás.

De rouxinóis. E de pitangas.

Como todo estrangeiro daqui mesmo.


Tenho palavras mais engolidas.

Que não encontraram uma garganta.

E acabaram ficando por esse chão.


Agora quero cortar meus pulsos.

Conter minha ira. Matar o medo.

Como quem vai para não voltar.


Tenho versos mais ariscos.

Que fogem entre meus pobres dedos.

E conseguem voar para bem longe.


Agora quero todas as madrugadas.

Dono das fogueiras. Senhor da fumaça.

Proprietário de noturnas alegrias.


Tenho dores mais intensas.

Algumas somente em minha alma.

A mesma alma que não sei se tenho.


Agora quero a arte da arte.

Não sei quais labirintos andarei.

E morrer se tornou mais um detalhe...


(Extraído do livro "Pane na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 19 de março de 2025

Assim Calou Zaratustra

Colocaram fogo no cabaré -

Não há mais bailarinas desnudas

Com suas hair pussy tão desejadas...


A coxinha estava na geladeira - 

É apenas mais um sonho tropical

Que traz o tesão que não temos...


É complicado ser simples -

Ainda mais com tantos castelos

Construídos pelas nuvens sem céu...


Não fui e nunca mais serei -

E a lógica do capitalismo burguês

É tão ilógica como qualquer uma...


O Mandrake está sem cartola -

Mas aquele uísque falsificado

Pode nos inocentar de um crime...


Uma dupla de três é mais legal -

Eu surfo nas ondas do teus cabelos

Como cavalgo em cavalos selvagens...


O vizinho reclamou do barulho -

Principalmente do que eu não faço

Como as escritas chinesas do faraó...


Comerei sabiás no almoço -

Para o jantar escorpiões fritos

Talvez sempre valem a pena fazer...


Um frango assado com pixilinga -

Causará mais frisson nos jovens

Do que o viral da semana passada...


O testa-de-ferro já enferrujou -

Eu sou avô do meu próprio pai

E sou primo daquele meu tio...


Nem água agora cai de graça -

Fechem logo todas as portas

E abram também todas as janelas...


Ainda iremos cantar na praça -

Com vozes emprestadas de pássaros

Que fazem desmaiar as violetas...


Colocaram fogo no cabaré -

Zaratustra acendeu mais um cigarro

E ficou calado ali no seu canto...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

A Grande Arte de Comer Malmita

É porque dona Mora não mora mais lá...

Tá tudo beleza até o chuchu...

Na manga da camisa mangaram de mim...

Casa de ferreiro lambe até pedra...

Minha comida pode até ser comida...

O peixe tá nadando no nada...

Ele peida na farofa só seus peidos...

Quase que abriram o abricó...

Dois mais dois é quase dois meu pois...

O arroz doce ficou amargo...

Bota mais arroz no prato pro rato...

Filosofia é só pra filósofo...

Quero dar um piripaque só de araque...

Marta agora foi pra Marte...

Bapo envelheceu e quase que morreu...

A dupla sertaneja caiu na cerveja...

A perereca foi no casamento usando beca...

Ela só fala francês em italiano...

Marimba nunca mais vai roubar o pão...

Gangan arrota hoje e caga amanhã...

Fui catar uma pitanga lá pro Ipiranga...

Comer malmita sua louca é com a boca!...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 18 de março de 2025

Alguns Poemetos Sem Nome N° 339

Na sala de jantar que não possui

O menino rói os biscoitos velhos que achou.

Na enfermaria suja com sua limpeza

O paranoico espera seus assassinos.

Na esquina de avenida perigosa

A puta espera quem irá lhe comer.

Estes são pequenos pedaços de mundo

Longe de todas as palmas e holofotes...


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Admiro os poetas que possuem sentimentos

Suficientes para falar somente do amor

Mesmo quando seus espinhos ferem sem querer...

Bato palmas para aqueles que escrevem

Querendo mostrar suas fórmulas mágicas

Mesmo quando lhes falta magia para isso...

A minha poesia não tem nada disso não tem

São apenas insistentes rabiscos

Feitas num papel velho com um toco de lápis...


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Está em falta romances românticos

(O velho tesão bebeu muita vodca)

Também não há palavras certeiras

(Nossa defesa agora nos fere mais)

E as ilusões que sobem ao palco

(Acabaram de desmaiar de fome)...


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Não goze tão rápido

Nunca se sabe a próxima vez.

Não sonhe tão alto

A altura das nuvens dá vertigem.

Não ria demasiadamente

Nem toda piada é engraçada.

Não chore quase sempre

É parte da nossa sina chorar...


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Cárcere privado - eis o que é

As ruas não são mais minhas

E só poderei ter os pássaros

Que por acaso aqui pousarem

Eles devem ter pena de mim

Foi o sol que lhes avisou...


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A imaginação nos permite façanhas

Depende apenas de nós quais delas


Eis agora mesmo que mal posso andar

E tenho medo de cair novamente na rua

Em alguns escassos segundos apenas

Poderei visitar alguns lindos bazares

Em uma cidade chinesa bem distante


A imaginação nos permite façanhas

Depende apenas de nós quais delas...


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A pedra caiu na poça d'água

A poça d'água se feriu com isso

O choro da poça d'água começou

Levou muito tempo para parar

E eis então a origem dos lagos...


 

Poesia Gráfica LXLI

A MINHA POESIA REDONDA É QUADRADA A MINHA POESIA QUADRADA É REDONDA A MINHA ÁGUA SOBE MORRO ACIMA O MEU PÁSSARO VOA PELO CHÃO O MEU AMOR ME ...