quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Ah! Isso Pra Mim É Tira-Gosto...

Ficar alguns dias sem comer?

Achar que isso é vida e apenas sobreviver?

Querer falar e ter que ficar calado?

Ser inocente e ter que se passar por culpado?

Ah! Isso pra mim é tira-gosto...


Levar dias trancado fora da cela?

Ficar imaginando o impossível igual novela?

Ter fé no futuro que não vai acontecer?

Não olhar no espelho para nem querer se ver?

Ah! Isso pra mim é tira-gosto...


Ter como companhia apenas seus cães?

Repetir monotonamente todas as suas manhãs?

Ter que se contentar com menos que pouco?

Achar que uma hora dessas vai ficar é louco?

Ah! Isso pra mim é tira-gosto...


Você fazer e o outro levar a recompensa?

Seu problema ser maior do que aquilo que pensa?

Andar com cuidado para não cair na rua?

Seriamente duvidar se após a morte a vida continua?

Ah! Isso pra mim é tira-gosto...


Ver que na verdade nada lhe adiantou?

Chorou sozinho sem saber onde foi que você errou?

Seu desespero não lhe causa mais algum medo?

Achar que é essa vida é um malvado brinquedo?

Ah! Isso pra mim é tira-gosto...


Quem você ama é quem lhe maltrata?

Seu bolso está furado e sem nenhuma prata?

Seu melhor amigo lhe passou para trás?

Já não chega de sofrimento e ainda tem mais?

Ah! Isso pra mim é tira-gosto...


Com o tempo a gente acaba se acostumando?

É num grande filho-da-puta que estou me tornando?

É essa a lição que eu vim aqui para aprender?

Que viver é quase a mesma coisa que morrer?

Ah! Isso pra mim é tira-gosto...

É café-pequeno como já diziam os antigos...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Um Retrato de Velhice 1 ( Miniconto )

A única coisa que nos salva é que as pancadas que o tempo nos dá, também sai distribuindo para os outros, aliás, para todos. Os meus cabelos embranqueceram? Sim! Mas de outros milhares também... Meus dentes já não são os mesmos? Claro! Mas de um sem-número de outros... Dores na coluna nem se fala! Acompanhamos a mesma marcha como andarilhos em um grande deserto... E sem camelo, seja dito, sem camelo! Quanto mais se vive, a criança se distancia, ainda que permaneça lá dentro. O jovem sai correndo para não sei aonde. Até o adulto sai correndo de forma disfarçada para não passar vergonha. Temos então que nos conformar com tal coisa... Depois que até o tempo cansa, aí sim, vem o final que não será igual ao da novela - partimos sem sequer dar adeus. Se seremos chorados ou não, lembrados ou não, isso é uma outra história... 

A Grande Batalha das Jabuticabas Brancas ( Miniconto )

Deve ter sido lá pela década de 70. Querem saber por que eu acho que sim? Porque eu me lembro que naquela mesma época, um dia na varanda da casa de titia eu falava com mamãe que ela possuía a idade de Cristo, foi mais eu menos naquela época. Naquela época existia naquela parte da frente do quintal, lado direito de quem estava, um pé de bacuícas. Não era lá muito soberbo e nem imponente, mas pontual. Pontual sim! Coitado. Todos os anos, na mesma estação, dava seus frutinhos. Aquelas bolinhas brancas, aveludadas, com aquela massa clarinha e aquele caroço. Era doce? Na verdade, na verdade, eu pelo menos nunca descobri. Mal começavam a dar e lá íamos nós, geralmente eu e meus primos arrancá-los. Alguns nós até tentávamos comer, mas estavam azedos demais. Os outros, em maior quantidade, era o nosso maior objetivo. Memoráveis batalhas eram travadas, joga daqui, joga de lá. Divertimento puro de crianças que éramos, para riso do meu tio Zico e para desespero da minha tia Doca e seus inúmeros palavrões. A árvore foi cortada para ser construída a casa do meu primo mais velho, o tempo se passou, passou... Nunca mais soube de algum pé igual, ninguém que eu perguntei, conhecia. Será que era alguma árvore tão rara assim. Passados tantos anos, acabo descobrindo na internet que a tal bacuíca é uma frutífera parente da famosa jabuticaba, só que com frutos claros. Aquele nosso velho pé não foi extinto, existem muitos iguais por aí. Fico até muito contente, deve ter gente provando seu sabor depois de madura, e quem sabe? Outras batalhas ocorram entre outros meninos... 

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Parto Exagerado

Bêbado no meio da festa

Distribuindo margaridas inexistentes.


Meu nome não importa mais

E aliás nunca importou.

Eu sou apenas o que acende velas

E que nunca é atendido.


A noite é apenas meu dia

Nunca soube falar a língua dos anjos.


Uma garrafa de vinho é quebrada

Para comemorar o meu mal.

Eu sou apenas aquele último da fila

Que acaba todos os dias.


No dia em que partir

Partirei só e sem uma despedida.


As fantasias agora foram se rasgando

Assim como os muros caíram.

Alguém deve ter lançado alguma pedra

E isso assustou todos as aves.


Cada um tem o seu pedaço

E o meu acabou indo ao chão.


O mar quase me engoliu num dia quente

Antes tivesse assim engolido.

Mãe me perdoe por essas múltiplas dores

Desse meu parto meio exagerado...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Da Natureza das Cores

Nada aquém e nada além.

Apenas a palidez do tempo que engole tudo.

De uma vez sem ao menos mastigar. Voraz.

Sem choro. Menino obediente. Tem medo de apanhar.


Era aquarela. Agora é sombra. Nada mais.

Aquele amor escrito em árvore. Ou em paredes.

Ficou lá atrás. Como um vídeo que passa.

Como uma moda que acaba. Acabou a liquidação;


A bela ficou feia. Sem justificativa. Sem perdão.

Os dentes apodreceram. Caíram. Junto aos sorrisos.

Não é pessimismo. Nunca foi. A realidade é o que é.

O sonho é uma droga. Que dá barato. Até que mata.


O chumbo não está mais na tinta. Corre nas veias.

A tela não morre. Se inutiliza. Quem morre é o pintor.

Os versos sempre gritam. O poeta é que se cala.

De uma vez. De sempre em vez. Já não importa.


A liberdade também é uma corrente. Um cárcere. A cela.

O engano tem seu papel. Decorou a fala, Quer palmas.

A maldade ri de tudo. Sem ela o bem seria apenas falha.

As folhas caem. As flores murcham. Não há eternidade.


Eu um dia te amei. Quase me matava. Hoje não ligo.

Se tive asas. Não lembro. Nem se eram negras ou não.

Apenas isso. Um caos com mania de ordem, Discreto.

Nada aquém e nada além. Só isso. Só isso...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Um Pequeno Poema de Talvez ( Mania )

Talvez seja loucura

(ou quase isso, doutor?)

ao tirar a tinta das teclas

do velho computador...


Só sei que no meio da noite

urina e poesia me acordam...

Só sei que sou um velho

perdido num quase deserto...


Antes era pela rua

uma vontade incontrolável de voltar...

Agora estou por aqui

não precisa mais disso...


Eles chegarão desesperados

como a criança no parto...

Talvez seja loucura

(ou quase isso, doutor?)...

Ou É Um Bolero Ou É Um Tango

 

Mudou a embalagem, o produto continua o mesmo

É outro carnaval, mas repetimos a nossa fantasia...


Assim como a tristeza,

Continua a mesma,

Só o choro é diferente...


Mudaram os rostos, mas ainda são todos humanos

A moda é sempre a moda, apenas serve de engano...


Assim como o sonho,

Continua vindo,

Mesmo se impossível é...


Mudaram as casas, aquelas antigas não estão mais

Assim como as ruas que não sabem como envelhecer...


Assim como o espinho,

A saudade nos fere

E como faz até sangrar...


Mudaram os destinos, ficou feio aquilo que era bonito,

O que era bom acabou ficando apenas uma maldade...


Assim como um bolero,

Também é um tango

Mostrando o que é destino...


(Extraído do livro "Escola dos Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Todas As Manhãs Sabem

O amanhã? Não sabe nada!

Mas todas as manhãs sabem...


Muitos acordam, alguém dorme...

Uns para comer, outros com fome enorme...

Muitos respirarão, outros não vão respirar...

Para uns dia de sorte, para outros de azar...


Uns carros andam, outros batem...

Os pássaros cantam, os cachorros latem...

Haverá alguns acertos, haverá muitos erros...

Hoje terão algumas festas, também seus enterros...


Uns cigarros são acesos, outros apagados...

Alguns mantêm a calma, muitos são desesperados...

Uns ficam em silêncio, outros causam muito alvoroço...

Alguns vão pras estrelas, muitos vão pro fundo do poço...


Uns são perdoados, para outros não há perdão...

Alguns ganham um sim, muitos acabam dizendo não...

Hoje pode ser o dia da caça, ou também ser do caçador...

Pode estar cheio de ódio, pode estar pleno de tanto amor...


O amanhã? Não sabe nada!

Mas todas as manhãs sabem...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Janela de Olhos

 Abertos para a escuridão,

Fechados para o mundo...


Eis o destino de um solitário,

Que não sabe escolher as palavras,

Que faz delas as mais inúteis escravas,

Um só, um bobo, aquele otário...


Fixados no velho espelho,

Inquietos para a vida...


Eis a sina que não foi ensinada,

Que acontece tudo por simples acaso,

Nem vida ou morte cumprem seu prazo,

Até a janela ficar então fechada...


Secas para o que acontece,

Molhadas para o inexistente...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

A Priori ou Da Invisibilidade da Morte

Mesmo quando a vítima é o alvo

Ainda assim não o é -

Há sempre um pouco de esperança...


Morte invisível que tentamos enganar...


Até a rosa que durará bem pouco

Tenta sorrir entre espinhos -

Pensa que o jardim é sua propriedade...


Nenhuma máscara é suficiente o bastante...


O pássaro canta sempre dia após dia

Desconhecendo o real perigo -

Aí vem o menino malvado com atiradeira...


Nenhuma exclamação detém a interrogação...


Ontem o mar estava calma até em demasia

E agora aconteceu o inusitado -

Ele foi arrancar alguns pedras lá do cais...


O que era sagrado agora é o mais profano...


O bem e o mal estão pulando amarelinha 

Enquanto a vida vai nos batendo -

E a morte vem fazer seu trabalho incansável...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Maniqueísmo Quase Poético

Fico cego enxergando

Fico tolo sabendo

Fico mudo cantando

Fico sóbrio bebendo...


Eu sou dois e quase nenhum...


Fico limpo cagando

Vejo o sol escurecendo

Fico imóvel dançando

Só subo se for descendo...


Peço esmolas porque sou rico...


Oro sempre blasfemando

Eu só acredito descrendo

Sou solitário em um bando

Só diminuo crescendo...


Só insisto por não ter razão...


Eu só acerto se falhando

Só tenho fome comendo

De luto comemorando

Sou analfabeto só lendo...


Tava devendo o que não gastei...


Meu milho não tá brotando

A ferida não está doendo

Meu cavalo acabou voando

O peixe afogado está morrendo...


Quanto mais feio mais bonito que é...


Só sou honesto quando roubando

Minha saúde só vem se adoecendo

A honestidade está me roubando

O meu alívio está me doendo...


Somos apenas maniqueísmo e nada mais...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Pelas Paredes

O tesão que eu tem por ela

Me faz errar a conjugação

Conjugo o verbo errado

Sem a menor distração


O tesão que eu tem por ele

Me faz confundir a estação

Se é certo ou se é errado

Não faço a mínima questão


Não me importam outros poetas

Se faço errado ou não faço não

Poesia não enche a barriga

Poesia não compra nem o pão


O tesão que eu teve nela

Me faz encarar o pelotão

Me dê aí mais um cigarro

Vou me encontrar com o Cão


O tesão que eu teve nele

Me faz ser mais um bobão

Ser apenas mais uma folha

Que amarelou caiu no chão


Não me importa o moralismo

O nem e o porém e o senão

Ainda sobram alguns versos

Pra fazer mais uma canção...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

domingo, 12 de outubro de 2025

No Estreito Túmulo dos Vivos

Ele paga os seus boletos.

Ela paga as suas prestações.


E os cabelos de ambos embranquecem

Mesmo antes da hora.


Ele é lesado nos impostos.

Ela é lesada nas taxas.


E o encanto de qualquer uma coisa

Acaba desaparecendo.


Ele obedece as redes sociais.

Ela obedece os políticos cruéis.


E não há mais tempo para nada

Nesse arremedo de vida.


Ele é escravo do capital.

Ela é escrava do tempo.


Até o tesão acaba acabando de vez

Como se fosse uma doença.


Ele bate cabeça pra moda.

Ela bate cabeça pros algoritmos.


Os mamulengos sofrem cada vez mais

Na mão de meninos traquinas.


Ele trabalha pra seus vícios.

Ela trabalha pra suas futilidades.


Nossas cidades são apenas labirintos

Sem ter saída alguma.


Ele se envenena com a poluição.

Ela se envenena com agrotóxicos.


Os prédios desabam sobre as cabeças

Enquanto magnatas gargalham.


Ele não pode nem mais amar.

Ela não pode nem mais sonhar.


Nossos olhos estão cegos mesmo vendo

Porque os dias são escuros.


Ele pensa que é um ser humano.

Ela pensa que poderá ser feliz.


Mas ambos não sabem que já morreram

E isso aqui é apenas seu inferno...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

É Um Pecado Só

 

É um pecado só

Se há perdão ou não, nunca saberemos...


Eu me alcoolizo sem um gole sequer

No fundo dessa caverna chamada circunstância

Onde os infelizes jamais morrem...


É um delito só

Não vi a contramão, o carro acabou batendo...


Já não me drogo faz muito tempo

E todas as vezes que porventura enlouqueci

Nem sabia o que estava fazendo...


É um crime só

Menino mal educado, abri a boca e xinguei...


As asas acabaram se cansando

E eu agora dispenso o céu que não quero

E nem tampouco algum inferno...


É um pecado só

Te amar? O mais grave dos pecados...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Carliniana CVI ( Até Sem Respirar Se Possível For )

Eu corro atrás de versos

como o miserável atrás de comida...


Não falarei mais nada

e que aquele perdão mais antigo

possa então afinal chegar...


Estou na beira do mar

e ainda contarei muitas ondas...


Acordo no meio da noite

para me transformar em fera

mesmo antes da lua cheia...


Faço mais tais prodígios

apenas estalando meus dedos...


Vou gargalhando em vão

entre os corredores da memória

neste grande manicômio...


As borboletas estão exiladas

entre estas flores que morreram...


Eis que a vista escurece

como de repente sempre esteve

e eu não reclame jamais...

Eu Vi (Miniconto)

Sabe aquele negócio de psicologia de multidões? Funciona mesmo. Depois do primeiro galo cantar, todos os outros cantam. A primeira ovelha pulou no barranco? Depois dela cai um monte... E assim vai. Depois da primeira vaia, da primeira palma, depois do primeiro "pega!" todo mundo sai correndo atrás. E lá estava eu, conversando com o antigo "Borracha" que tinha cortado os cachinhos de funkeiro, trocado de guarda-roupa, com a Bíblia debaixo do braço, tentando me converter com um linguajar todo diferente e mais adequado, quando passa correndo uma multidão. - O que houve? -perguntou ele. - Um caminhão do gás tombou lá no canal da Sete! Nem deu tempo de comentar nada, a Bíblia foi jogada na minha mão e lá vai ele, saiu correndo o antigo "Borracha" que devia estar voltando das férias. Mal deu tempo de vê-lo correndo com seu botijão na cabeça indo pra casa e só depois voltou para pegar o livro. Só que no outro dia, o Sargento Beto foi nas casas de quem pegou e fez as pessoas devolverem andando pela rua com os tais botijões na cabeça... 

Como Já Dizia Nirinha: Cara de Um, Cu de Outro

É melhor morrer do que estar morto

O melhor churrasquinho de gato é aqui

Compre sua vela que já vem acesa


Papagaio só gosta de sorvete de biscoito?


No tempo da antiga frango tinha pena

Dentro dos caixões se escondem verdades

A maré não está mais nem pra água


Na hora da pressa o jacaré sai consegue voar?


Agora lançaram crocks feitos de marfim

Depois do carrinho de mão vem agora o de pé

Vou na Índia tomar uma cana e volto logo


Aonde vendem patinetes de gelatina de morango?


A nova moda é sair pulando de costas por aí

Vamos comer muitas paçocas enquanto tem fofocas

Trazer uma melancia no bolso é sempre tão útil


Vamos construir uma fábrica de fósforos queimados?


Desacreditar também é uma forma de acreditar

Tocar reco-reco e tomar champanhe é o par mais ideal

Vamos ver páginas de humor para chorar muito


Qual é o novo pesadelo teremos para a noite de hoje?


A tática é nu com óculos escuros pra não perceber

A mitologia agora não dispensa os livros feitos de cristal

Ganha um bônus quem cair desmaiado em plena rua


As novelas são mais reais que a própria realidade?


Numa mata de plástico acendi lâmpadas de gesso

Comprei sapato novo pra dançar no meio do lamaçal

Agora não tem mais alguém pra segurar o tchan


Não é que você foi a primeira a ir logo depois?...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 11 de outubro de 2025

À Sombra dos Pés de Abacaxi Tocaremos Pandeiros e Violinos Tão Contentes

Fui sorteado com um remédio desses de tarja preta!

Agora posso colecionar muitos balões e funis à vontade...


Um balde de lama para o cavalheiro da mesa 54343

Enquanto ele escuta a balada "Os Encantos da Surdez"

Tocada pela banda "Os Galetos da Zona Sem Zona"

Enquanto acontece o tiroteio diário do nosso bairro...


Acabei até esquecendo qual era o meu nome!

Agora quem xingar minha mãe eu posso agradecer...


Abriu uma nova fábrica de papel higiênico reciclável

Que fará concursos periódicos de qual maior bochecha

E distribuirá cestas básicas para todos os milionários

Especialmente os que forem famosos e caguem perfume...


Marimbondo frito é uma delícia sem ter igual!

Provem nossa cachaça em pó sem álcool algum...


Percebam o sotaque bem falado do nosso ranger de dentes

Enquanto acendemos palitos de fósforos que foram acesos

E dançamos todos juntos "Macaúba, Sua Bosta Nenhuma"

Enquanto a banda "The Fuleiros" capricham no reco-reco...


É um dedo enfiado no furico e o outro enfiado também!

Leiloca depois dessa não gosta mais de rima alguma...


Tupi or not tupi comi jabuticaba até que me entupi

O melhor remédio para qualquer doença é entrar na fila

A doença acaba morrendo de velha e vai enterrada

Já dizia Manoel Fernando antes de ter virado um egum...


É tchaca-tchaca e nheco-nheco até o dia clarear!

Vende-se autênticas falsificações de cópias falsificadas...


Já dizia o novo ditado: "Pra castigo todo corno é pouco..."

Seus olhos são lindos e a remela que tem neles mais ainda

Devo e não nego e não pago mais nada se assim não puder

O mico é o mais rico que tem no mundo muitos pagam ele...


O cara foi preso por roubar figurinhas do WhatsApp!

Zé Cascão tomava banho pelo menos uma vez no ano...


Sábio é quem sabe contar pelo menos os dedos das mãos

O dos pés é um pouco mais complicado e tem seu perdão

Ganhei um preservativo com sabor boleto e entendi logo

Dá pra ganhar seus trocados com merdas pelas redes...


Pobre do Calico que agora só corre se for de automóvel!

Um dia mando essa intolerância à lactose mamar no boi...


Não sei porque o nome dele é Venéreo só que achei legal

O Zé Figode agora só bebe cerveja quando ele bode

Uma invasão de joaninhas está prevista para ano que vem

Comprem logo suas louças quebradas na nossa promoção...


O cara tinha tanta sorte que ganhava até sem apostar!

Essa canastra de ouro só é válida para os canastrões...


Sou eu o mais famoso de todos os desconhecidos daqui

Agora a nova moda será o sensacional morango do horror

Traga aqui a sua roupa nova que nós a rasgamos todinha

E ainda ganhe aquele delicioso drinque de feito querosene


Fui sorteado com um remédio desses de tarja preta!

Agora posso colecionar muitos rojões e fuzis à vontade... 


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Pois Esse Trem Vai...

Pois esse trem vai pra casa do caralho!

Ninguém estranhe, é isso mesmo...

Sai levando tudo que é passageiro,

Velho, criança, adulto, feio, bonito, pobre ou rico...


Não precisa de combustível, nem de eletricidade,

Não tem maquinista, nem obedece sinal nenhum...


Pois esse trem vai pra puta que pariu!

Ninguém evita, nem paga nada...

Sai levando tudo que é passageiro.

Infeliz, feliz, babaca, esperto, quem comeu ou foi comido...


Não enferruja nunca, nem conhece o que é enguiço,

Nem feriado, dia santo, nem conhece o que é horário...


Pois esse trem vai pra porra!

Nunca foi parado, nem teve acidente...

Ele mesmo é que pode ser o acidente.

Homem, mulher, diplomata ou matuto, bacana ou fodido...


Não tem camelô dentro dele, tem espaço pra todo mundo.

Não tem ninguém enchendo o saco, nem pra lhe roubar...


Pois esse trem vai pra Diabo que te carregue!

Não tenha medo, não adianta se cagar todo...

Cagado até é pior, vai assim mesmo...

Sábio, ignorante, urbano, matuto, santo ou amaldiçoado...


Não para nunca, não tem estação nenhuma pra parar.

Não vai sentir mais fome, nem vai ter mais sede...


Pois esse trem vai pra casa do caralho!

Ninguém estranhe, é isso mesmo...

Sai levando tudo que é passageiro,

Pai de família, degenerado, ateu, fiel, vilão ou herói...


Já descobriu qual é esse trem, seu merda?

Até agora ninguém veio reclamar dele...


(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Aquele Nome (Miniconto )

Pois não estranhem, no mundo não há mais o que estranhar. Com esses tempos em que vivemos, as invenções surgem em qualquer momento e, por isso mesmo tal banalização. Cada vez nosso riso está mais rápido que nem o próprio tempo. O nome dele? Ah! O nome dele ninguém sabia... Talvez seus pais ou algum parente mais próximos. Mas para os outros era esse - DiMerda. Estranho? E o que não é hoje em dia? Pois mais estranho que direitistas arrependidos ou um Deus sem saber o que faz, garanto que não há... Pois eu vou explicar o porquê desse apelido maravilhoso. Nasceu de uma mentira. O cara vivia dando uma de que era DJ, mas ninguém nunca tinha visto. Até que um dia tinha uma festa na cidade e o que foi contratado sofreu um acidente e não poderia comparecer. O infeliz não pode dizer não e lá foi ele... Mal sabia ligar a aparelhagem e o baile foi aquele fiasco total. Na hora o prefeito subiu na cabine de som e gritou bem alto: Você é um DJ de merda! Só que o político não sabia que o microfone estava ligado e metade da cidade escutou, a outra metade no outro dia também soube. Daí para DiMerda foi um pulo, caiu como uma luva. Pegou e não saiu mais. Depois disso o miserável até fez um curso, não é um profissional ruim, mas o nome nunca mais saiu... 

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Trama Valente Para Heróis Covardes

Cada um escolhe a mediocridade que melhor couber

Mesmo que a sua seja apenas uma simples opinião


Quem não tem cão caça com o gato

Quem não tem capa usa uma toalha

Quem segura o peido ao menos solte


Cada um corcunda aprende como se deita e se levanta

Toda fatalidade é quase uma genética sem lição de casa


Toda a solidez é um tanto que mórbida

Toda a causalidade exatamente calculada

Toda palavra acaba arrancando pedaço


Cada um ser vivo é apenas o futuro ser que vai morrer

E todo preconceito é a prova cabal de porra nenhuma


Ela estava nua dentro das suas roupas

Ele estava bêbado porque bebeu água

Ele se afogou porque respirou oxigênio


Cada diamante é apenas mais um pedaço de carbono

Assim como são as cinzas contidas neste columbário


Algum remédio matou porque era a cura

Alguma voz se calou para não acordarmos

Algum veneno não era por ser suave demais


Cada estreante sabe a parte que nunca lhe coube

Tanto quanto o penetra espera receber algum susto


Meias varizes são para terem as meias idades

Meias cicatrizes pertencem a alguns meio cortes

Meios dias são os começos de noites que vão vir


Cada corpo nada mais é que mais um corpo estranho

Como o ouro que é sólido e frio mas queima tudo e todos


Nossa caspa é mais um enfeite para os pobres cabelos

Nossa dicotomia é a mesma que existiu no anteontem

Nosso sono é o mesmo que veio nessas noites passadas


Cada máscara é mais um refúgio quase que secreto

Para mais um bando de heróis que são apenas covardes...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

Balé para Principiantes Em Pontas de Pregos

Misturada mental de todos os dias

Sopros de açúcar em ares duvidosos

Estética estranha aos que são cegos

Piedades em tiros de misericórdia...


Nós somos as testemunhas oculares

De algo bem mais que invisível...


Celulares divinizados em vitrines

Calma semântica destes ricaços 

Vamos lotar de vazio todas as ruas

Intermináveis jogos de buracos...


E nós somos os alvos ambulantes

Até da tranquilidade mais insólita...


Varandas frias de noites de verão

Dificuldade aparente do mais óbvio

Sermões calculados milimétricamente

Assentos com bactérias de coletivos...


E nós somos os autores fortuitos

Desta nova tragédia quase grega...


Desfile de saltimbancos tão maníacos

Graça de comediantes só desgraçados

Doadores de miséria para os populares

Assassínio na feira livre sob a luz do sol...


E nós somos bailarinos feitos de cartolina

Em paredes de uma escola abandonada...


Curiosidade de quem não é imaginativo

Lei do Cão para donos de pets premiados

Degustação profissional de monte de lixo

Doce de leite para alérgicos em lactose...


E nós somos ganhadores do gran prêmio

De uma bela porrada no meio da cara...


Carmem Miranda baixou feito pombagira

Um dente desmaiou da boca de um banguela

Arrotei dançando fandango ontem no front

O hipertenso devorou mais um quilo de sal...


E nós somos principiantes em pontas de pregos

Tentando dançar esse balé que chamam de vida...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Porque O Dia É Uma Canção

Porque o dia é uma canção

Feita de notas dissonantes

Entre beijos de desconhecidos

E socos de quem se ama...


A primeira pedra quem encontrar

Darei um bom dia...


Porque o dia é armadilha

Feito um abismo mais claro

Que só cai quem assim quer

Com palavras vacilantes...


A primeira ave que encontrar

Irei voar com ela...


Porque o dia é uma poesia

Feita de rimas previsíveis

Em que o talento do poeta

Caiu e quebrou ao chão...


A primeira flor que me ver

Darei reverências...


Porque o dia é uma batalha

Igualzinho a de um faminto

Que vê um prato de comida

E não pensa duas vezes...


 A primeira tristeza que ver

Darei esse meu riso...


Porque o dia é uma crueldade

Dessas que uma só é muitas

E quebra nossos brinquedos

Até que então choremos...


A primeira estrela cadente 

Esta será a minha...


Porque o dia é uma canção

E mesmo sem a letra cantarei...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Ah! Isso Pra Mim É Tira-Gosto...

Ficar alguns dias sem comer? Achar que isso é vida e apenas sobreviver? Querer falar e ter que ficar calado? Ser inocente e ter que se passa...