Ficar alguns dias sem comer?
Achar que isso é vida e apenas sobreviver?
Querer falar e ter que ficar calado?
Ser inocente e ter que se passar por culpado?
Ah! Isso pra mim é tira-gosto...
Levar dias trancado fora da cela?
Ficar imaginando o impossível igual novela?
Ter fé no futuro que não vai acontecer?
Não olhar no espelho para nem querer se ver?
Ah! Isso pra mim é tira-gosto...
Ter como companhia apenas seus cães?
Repetir monotonamente todas as suas manhãs?
Ter que se contentar com menos que pouco?
Achar que uma hora dessas vai ficar é louco?
Ah! Isso pra mim é tira-gosto...
Você fazer e o outro levar a recompensa?
Seu problema ser maior do que aquilo que pensa?
Andar com cuidado para não cair na rua?
Seriamente duvidar se após a morte a vida continua?
Ah! Isso pra mim é tira-gosto...
Ver que na verdade nada lhe adiantou?
Chorou sozinho sem saber onde foi que você errou?
Seu desespero não lhe causa mais algum medo?
Achar que é essa vida é um malvado brinquedo?
Ah! Isso pra mim é tira-gosto...
Quem você ama é quem lhe maltrata?
Seu bolso está furado e sem nenhuma prata?
Seu melhor amigo lhe passou para trás?
Já não chega de sofrimento e ainda tem mais?
Ah! Isso pra mim é tira-gosto...
Com o tempo a gente acaba se acostumando?
É num grande filho-da-puta que estou me tornando?
É essa a lição que eu vim aqui para aprender?
Que viver é quase a mesma coisa que morrer?
Ah! Isso pra mim é tira-gosto...
É café-pequeno como já diziam os antigos...
(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).