Rimas sem propósito algum
Alguns sóis e olhe lá
A falsa cigana me enlouquece
Com tragédias banais
Juro que serei um bom menino
Até que faltem novas ideias
Tudo é quase tão parecido
Que vamos ao chão sem tropeçar
A ninfeta expõe a bunda no Instagram
Para ser motivo de chacotas
De milhares de almas
E algumas masturbações solitárias
A fila dos ossos aumenta
Até dobrar a esquina da dignidade
E nada está acabado
Eu limpo minhas cavidades nasais
Com meus curtos dedos
Tentando debalde inventar
Novos estrangeirismos eufêmicos
Para minhas tragédias biológicas
Parabéns grandes poetas amorosos
Eu ultimamente só conheço
Murais em preto-e-branco
Seriam murais ou muralhas?
Juro pelos bigodes de Frida
Um otimismo desses baratos
Como Schopenhauer engasgando
Por uma piada que ainda
Vai escutar qualquer dia desses
Passarinhos cantam pela manhã
Esperando nossas novas cagadas
Só mais um gole e perderei o juízo
Só mais um trago e o encontrarei
É irrelevante nossos papéis
A não ser para nossos espelhos
Viver é apenas uma escada
Mal percebemos e miau!
O apresentador sorri do meu tédio
A felicidade é o fiado
No bar do português da esquina
Sumiram os cordões dos meus sapatos
A estética me deixou sozinho
No meio daquela minha festa
Não vou ao meu enterro
Vai ser um golpe de estado
Como um outro qualquer
Todo destino é quase canino
Todos os sons vão embora
Deveríamos ter mais guarda-chuvas
E passistas rezando
Que o carnaval acabe logo
Respeite minhas tolices
Que eu respeito as suas
Dispenso a injeção
E faço cara feia para o remédio
O que se deixa de fazer é pior
Todos os pobres semblantes
Acabam sendo gêmeos
Nem eu mesmo me respeito
Quando escolho amores sujos
Vamos começar a partida
Com nossa bola de cristal
O vento sopra quase tudo
Só não sopra a si próprio
Nenhuma surpresa se surpreende
Uma letra tudo muda
A barba cresceu no rosto do adolescente
E isso é deveras muito sério
Nada se constrói com desatino
Nem coreografias espetaculares
Vamos jogar pedrinhas no poço
Até que não exista mais nenhuma
E os encantos fujam para longe
Cada um é maniqueísta ao seu modo
Está em todas as manchetes
Cada qual perdoa a si mesmo
Desde que não seja o outro
Quase engoli a mosca
Que fez mergulho em meu copo
E chorei de emoção por novelas
Confundo-me com grandes contagens
Os segundos são réus confessos
E estimativas não estimam ninguém
Nos revoltamos por conveniência
E a nossa zona de conforto se extinguiu
Letra por letra tenhamos cuidado
Caixas de Pandora enchem os mercados
Eu espero encontrar a cigana pela rua
para saber do meu passado
(do presente já me desespero
e o futuro já não quero mais...)
(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).