quarta-feira, 16 de junho de 2021

Poema Arretado

 

Deixem-me falar o que quero,

palavras são perfumes que não vimos,

mas que acabam dominando o ar.

Dançar nas horas mais impróprias,

não me importo se são horas tristes,

eu sou triste vinte e quatro horas por dia,

mas ainda continuo por aqui e vivo.

A vida é apenas uma comédia mal encenada,

esqueceram de dar o script para os atores...

Eu sou apenas um passarinho sem dono,

desconheço o que é uma gaiola

e, apesar de estar ferido, os alçapões falharam.

Amo quem eu quero, mesmo que isso doa,

amar é pular sem o paraquedas

esperando que algum milagre aconteça,

mesmo sabendo que as probabilidades falham...

Regras? Foram feitas para serem quebradas,

eu sou o macaco que entrou na loja de cristais.

Decência? A puta teve mais decência

ao pagar o lanche para o menino de rua

do que todos os burgueses unidos em um só...

Os loucos possuem mais conhecimento

do que os sábios imaginam ter,

há mais hospícios pelas ruas

do que em mais tristes celas...

Eu queria tua nudez por toda eternidade

mesmo que isso significasse 

o fim permanente de todas as coisas.

Eu sou quem grita no meio da escuridão

assustando todos os meus monstros,

nenhum deles é mais perigoso do que eu...

Não há caminho que eu não conheça

e perigo do qual eu não deboche...

Sou o autor de minhas desventuras,

o carpinteiro da minha própria cruz.

Eis que na minha madrugada chega o sono,

mas eu não queria poder acordar,

talvez o dia não seja menos cruel...


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...