sexta-feira, 25 de junho de 2021

Grande Canção Pequena


A porta está aberta, mas o prisioneiro não quer sair...
A festa começou, mas não queremos mais festejar...
Os dias se repetem, são iguais, mas todos diferentes...
Os mercados estão cheios e os bolsos vazios...
Me cansei tanto que não posso mais chorar, os anos pesam como se carregasse pedras ou remasse nas galés. Todos os dias são dias de novas tempestades, impossível escapar delas. Eu pedi abrigo, mas ninguém me deu...
O sol invadiu a janela, mas não pôde me aquecer...
Tudo é tão lento independente de sua velocidade...
As luzes piscam noite adentro, mas sem nenhum encanto...
A maldade continua machucando inocentes...
As formigas carregam solenemente um grande cadáver, os nossos sonhos que morreram quase agora. Tudo acaba perdendo seu sentido, não há respostas para tantas perguntas. Eu sou o cão sem dono, como estou assustado...
As mãos estão trêmulas, mas é de ansiedade...
O amor foi embora, nem sequer me disse adeus...
O rio corre para o mar, não me deu sua atenção...
Os burgueses constroem muralhas, mas elas cairão...
Toda diferença é igual, somos susceptíveis às mesmas ilusões. Os olhos governam nossas inúteis mentiras, nossos pés sangram em plena mudez. O carro está sem freio, entramos na contramão da história...
Anjos ou demônios, todos eles têm asas...
Brinquei com o perigo, me transformei nele...
Não há mais fome, só existe agora rotina...
A mentira agora é fato normal, é a nova moda...
Um menino oferece balas nos sinais, implorando pelo que já tinha direito. O dia seguinte acaba matando o anterior, a compaixão apenas existe nos dicionários. Minha cabeça dói demasiadamente, mas meu maior problema sou eu mesmo...
Faltam armários, todos eles estão ocupados...
A nossa vergonha acabou se perdendo, a selva é enorme...
Cada enigma perdeu a validade, joguem fora...
Saudade agora é dispensável, fere demais...
Escuto o barulho do silêncio, não sei o que é e não desejo saber mais. Consigo guardar tanto, mas sem precisar de espaço algum. Não iremos mais discutir nunca mais, prefiro uma estrela vadia qualquer... 
Existe apenas tábuas, a salvação acabou...
O vidro se multiplica, depende da altura...
Narciso não pede mais nada, somente imobilidade...
Tudo está no fim, dispensei as estrelas dos meus céus...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...