sábado, 26 de junho de 2021

Profanação

 

Vermelho de lábios

todo os tempos possíveis

Escuto os sons da TV

e olhos pesam

Notícias me apavoram

mais que o vento

Azul de lápis

profanei o papel

A vida é encanto

sem possibilidades

E somos marionetes

de nós mesmos

Jóia sem valor

o diamante era falso

A velha balança

erra todo peso

Fomos condenados

na primeira instância

Pequenas ruínas

são nossas saudades

Daquelas nossas asas

só sobraram as penas

E nossa maldade

se fez mais banal

O relógio parado

me lembra compromissos

Eu só vejo o mar

com todos os olhos

Até aqueles outros

que não têm mais luz

Não posso ser descrito

com inúteis palavras

Os bobos riram

sem entender a piada...

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Grande Canção Pequena


A porta está aberta, mas o prisioneiro não quer sair...
A festa começou, mas não queremos mais festejar...
Os dias se repetem, são iguais, mas todos diferentes...
Os mercados estão cheios e os bolsos vazios...
Me cansei tanto que não posso mais chorar, os anos pesam como se carregasse pedras ou remasse nas galés. Todos os dias são dias de novas tempestades, impossível escapar delas. Eu pedi abrigo, mas ninguém me deu...
O sol invadiu a janela, mas não pôde me aquecer...
Tudo é tão lento independente de sua velocidade...
As luzes piscam noite adentro, mas sem nenhum encanto...
A maldade continua machucando inocentes...
As formigas carregam solenemente um grande cadáver, os nossos sonhos que morreram quase agora. Tudo acaba perdendo seu sentido, não há respostas para tantas perguntas. Eu sou o cão sem dono, como estou assustado...
As mãos estão trêmulas, mas é de ansiedade...
O amor foi embora, nem sequer me disse adeus...
O rio corre para o mar, não me deu sua atenção...
Os burgueses constroem muralhas, mas elas cairão...
Toda diferença é igual, somos susceptíveis às mesmas ilusões. Os olhos governam nossas inúteis mentiras, nossos pés sangram em plena mudez. O carro está sem freio, entramos na contramão da história...
Anjos ou demônios, todos eles têm asas...
Brinquei com o perigo, me transformei nele...
Não há mais fome, só existe agora rotina...
A mentira agora é fato normal, é a nova moda...
Um menino oferece balas nos sinais, implorando pelo que já tinha direito. O dia seguinte acaba matando o anterior, a compaixão apenas existe nos dicionários. Minha cabeça dói demasiadamente, mas meu maior problema sou eu mesmo...
Faltam armários, todos eles estão ocupados...
A nossa vergonha acabou se perdendo, a selva é enorme...
Cada enigma perdeu a validade, joguem fora...
Saudade agora é dispensável, fere demais...
Escuto o barulho do silêncio, não sei o que é e não desejo saber mais. Consigo guardar tanto, mas sem precisar de espaço algum. Não iremos mais discutir nunca mais, prefiro uma estrela vadia qualquer... 
Existe apenas tábuas, a salvação acabou...
O vidro se multiplica, depende da altura...
Narciso não pede mais nada, somente imobilidade...
Tudo está no fim, dispensei as estrelas dos meus céus...

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 102

Lógica ilógica, é o que temos. Vários espinhos em nossa carnes, nada percebemos antes de nos ferirmos. A fragilidade de seres e coisas acabou contribuindo com nossas tragédias, inevitável, tudo assim o é e será por toda eternidade. Os ventos perderam a direção e agora tanto faz, se acariciam ou se ferem...


...............................................................................................................


Foda-se! Eu não te chamei em conversa alguma... Deixa que essa minha embriaguez compense um pouco mais essa minha tristeza enquanto meus dias se acabam me torturando amenamente mais um pouco... Eu não sei o que há atrás daquela porta, mas isso não importa, se surgem novas rimas ou não. As folhas caem sempre, algumas até na noite escura para não serem sequer notadas. O encanto de alguma água já me basta desde que não sejam mais minhas lágrimas...


...............................................................................................................


Uma ciranda, uma grande brincadeira de mau-gosto duvidoso. Aplausos para os medíocres que a chuva não alcançou. Amargo: deve ser esse o gosto da maioria das bocas, com beijos ou não. Eu escolho a parede onde esconderei minha cara para chorar até que fique exausto, mas mesmo assim sei que ainda ficarei um pouco mais vivo ainda. Queria ter a habilidade de meu gato e não enxergar mais encantos ou perigos, é tudo quase igual. Uma gigantesca folia é o que eu quero, até que o final diga na minha cara: Aqui estou...


...............................................................................................................


Na tua rua (se é que se pode chamar assim) sinto o amargo dos que perderam o senso de humor e se recusam à rir. Juro solenemente não rir mais (as lágrimas acumuladas acabam sufocando-os) Eu apenas caminharei lentamente, lentamente, como os que vão cair ou voar de vez (não sei o que farei, isso não depende de mim...)...


...............................................................................................................


Eu acabo me forçando em dizer que está tudo bem, mas, na verdade, nunca esteve. Forço-me à pular em um carnaval que veio fora de época. As minhas colombinas possuem a beleza trágica de certas carpideiras que começaram seu ofício na flor da idade. Assim é a nossa raça humana, na verdade antes das primeiras palavras ditas, o choro é o que mais rapidamente aprendemos. Digam o inverso se quiserem, contra fatos argumento algum permanece. Eu acabo me forçando à voar, mas faltam-me asas, não tenha alguma, somente as penas...


...............................................................................................................


Escondo-me nas ruas com disfarces improváveis. Gestos que chamam atenção. Gritos incontidos e longos que me enrouquecem. As cores mais berrantes são o que visto. Tudo se inverteu. Nos dias em que vivemos. Todo silêncio significa perigo. E o que não é novidade. Acaba nos assustando...


...............................................................................................................


Esqueci uns versos noutro bolso. Deveria tê-los decorado. Vai que uma poesia mais bonita poderia ter nascido... Não lembro mais de uma rota de fuga. Todo perigo é iminente e contínuo. Nunca sabe quando o fim começa... Os sonhos me perseguem, impiedosos como sempre. Cada segundo é um soldado que cai no front para nunca mais se levantar. Por isso, meu amor, deixe-me dormir até nunca mais acordar...


...............................................................................................................


Toda estética acaba sendo somente improvável. Não são as cores que mudam, são os olhos. Todo amor acaba sendo meramente banal. Só quem é cego consegue sonhar algo que seja mais bonito. A minha perfeição é inexistente ao outro. Isso é que nos acaba salvando dessa tal de banalidade.


...............................................................................................................

domingo, 20 de junho de 2021

SobreNada

água doce, água salgada,

ou tudo ou nada,

água quente, água salgada,

ou tudo ou nada,

em todas as cenas,

grandes ou pequenas,

mais entediantes

ou apenas interessantes

pinguins sobre a geladeira,

saudades de qualquer maneira,

um fado enfadonho

de pesadelo ou de sonho,

estava feliz uma hora atrás,

estava contente, não estou mais,

sou pobre, sou rico,

eu fico e não fico,

eu quero e não quero,

eu corro ou espero,

rosa ou margarida,

como é morta a vida,

o peão comeu o rei,

eu faço que sei mas não sei,

a noite amanhecia,

meu grito silencia,

um trago é um trago,

amaldiçoo ou consagro,

o almoço ou a janta,

a puta que é santa,

eu matei a própria morte,

foi questão de sorte,

os duques ou os ases,

os escravos e os capatazes,

as subidas ou as quedas,

são meus chips ou os Vedas,

é Quixote e Rocinante, 

o mendigo é elegante,

eu sou fã da lua cheia,

meu castelo de areia,

me perseguem virgens loucas,

fazem mil caras e bocas,

meu velório é anteontem,

meu escondi sob essa ponte,

fiz uns versos tão normais,

quero logo os carnavais

água mole, água empedrada

ou tudo ou nada

água séria água engraçada

ou tudo ou nada...


(Extraído do livro "Insano de Carlinhos de Almeida).


Falha Nossa

 

Falha nossa... Os nossos sonhos mais mesquinhos acabam destruindo a inocência de todos. Como um vírus novo que mata sem piedade nossa indiferença por alheias lágrimas acaba matando muitos, o tiro pega na vítima e igualmente no atirador...
A vida que não para, a morte que só chega, o tempo sempre com fome, assim é, simples falha nossa...
Falha nossa... Construímos mais destruição do que as tempestades, as bombas caem por sobre os prédios.  Todos os terremotos não se igualam aos nossos erros. Os quatro Cavaleiros são nossos convidados, estão conosco em cada esquina, em cada rua, invadem os lares por todos os meios...
Nossa tristeza fabrica lágrimas, há mais sal nelas do que em todos os mares juntos...
Falha nossa... Transformamos todos os seres humanos em ratos, em urubus ou em máquinas, ou ainda seres híbridos dos três. Cada esperança é apenas um deboche, toda fé é uma grande mentira. Cada furo na canoa tem nossa autoria...
Quanto mais lições temos, mais desaprendemos, a teimosia de se curar sem o remédio, nos mata mais depressa ainda...
Falha nossa... O menino de rua que desprezei pode ser meu futuro assassino, o negro que humilhei e matei era meu irmão, o gay que eu hostilizei tinha mais moral do que eu, não respeitamos nem quem possui o maior dos dons - gerar vida. O mendigo que negamos um pão pode ter um lugar melhor que o meu depois de pararmos de respirar...
Sou um bom cidadão que só pensa em ganhar aquilo que nunca poderei dizer que é meu de verdade...
Falha nossa... A mentira repetida continua sendo mentira, os bichos possuem mais virtudes do que eu, minha inteligência faz que eu entre em labirintos, mas não ajuda à sair deles nunca. Eu penso que dou as cartas desse jogo sujo, mas o crupiê do destino é o mais exímio dos ladrões...
A praga de Caim é minha herança, me embriago mais com falsas promessas do que o bêbado que o cão vira-latas lambe a cara...
Falha nossa... As sarjetas estão cheias, os infernos também estão, eis o nossa grande cartão de apresentação, eis o que temos feito sem vergonha alguma. Nos puteiros há mais moral do que em muitos lares assépticos e bem-comportados. Nossa sociedade é um lago de águas limpas, mas com lama no fundo...
A velhice chegou e acabei de tirar meu diploma de completo idiota de perder tanto tempo com futilidades sérias...
Falha nossa... A mãe matou o filho, o filho matou a mãe, agora a ordem dos fatores não altera o produto. Os demônios agora tremem com nossos desatinos e os anjos já nos viraram a cara. Eu transformo o mundo numa grande lixeira e nem me importo...
Não posso falar dos burgueses porque meu sonho é ser um deles, igualmente sujo...
Falha nosso, tenho vontade de bater nos peitos até estourar meu coração e dizer bem alto: Mea culpa, mea culpa, mea putíssima culpa!

(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Poema Arretado

 

Deixem-me falar o que quero,

palavras são perfumes que não vimos,

mas que acabam dominando o ar.

Dançar nas horas mais impróprias,

não me importo se são horas tristes,

eu sou triste vinte e quatro horas por dia,

mas ainda continuo por aqui e vivo.

A vida é apenas uma comédia mal encenada,

esqueceram de dar o script para os atores...

Eu sou apenas um passarinho sem dono,

desconheço o que é uma gaiola

e, apesar de estar ferido, os alçapões falharam.

Amo quem eu quero, mesmo que isso doa,

amar é pular sem o paraquedas

esperando que algum milagre aconteça,

mesmo sabendo que as probabilidades falham...

Regras? Foram feitas para serem quebradas,

eu sou o macaco que entrou na loja de cristais.

Decência? A puta teve mais decência

ao pagar o lanche para o menino de rua

do que todos os burgueses unidos em um só...

Os loucos possuem mais conhecimento

do que os sábios imaginam ter,

há mais hospícios pelas ruas

do que em mais tristes celas...

Eu queria tua nudez por toda eternidade

mesmo que isso significasse 

o fim permanente de todas as coisas.

Eu sou quem grita no meio da escuridão

assustando todos os meus monstros,

nenhum deles é mais perigoso do que eu...

Não há caminho que eu não conheça

e perigo do qual eu não deboche...

Sou o autor de minhas desventuras,

o carpinteiro da minha própria cruz.

Eis que na minha madrugada chega o sono,

mas eu não queria poder acordar,

talvez o dia não seja menos cruel...


domingo, 13 de junho de 2021

Briga de Gato

moralistas esmeraldas cinzas

expulsas do coro de anjos

faraós condenados à terem 

suas almas pelo resto da vida

(e muitas mágoas também)

eu uso meus andrajos mais ricos

escondendo minha humana condição

a apatia matou mais que a morte

e há muitos mortos confundidos

(mortos nunca sonham)

sou o mais abstrato dos concretos

e preparo maçãs envenenadas

como um novo conceito edipiano

que estará na moda ontem

(todas elas chegam atrasadas)

as moedas são muito relativas

podem servir de abismo

como podem ser um redentor

que acabou vindo sem cruz

(todos os carrascos oram)

todos os dias acabam sendo meus

sobretudo aqueles que não queria

a borracha para apagar o destino 

não vem no nosso material escolar

(e falta sempre no mercado)

pombos verdes vão caminhando

enquanto fazem seus chutes a gol

experimentando velhas receitas

o almoço já está servido

(mas nossa fome não acaba)

a briga de gato está no fim

houve um terremoto lá em cima

as paredes quase ruíram

mas todos agora se salvaram

(algumas flores são de vidro)...


(Extraído da obra "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Era Só Isso Que Eu Esperava

 

Camaleões

quase que leões

em seu certeiro golpe

sem ter nenhum galope...

As pontas queimam no cinzeiro

e os cigarros morrem por inteiro...

Delírios é o que temos

e nossos fantasmas fazemos...

O incauto

acaba falando alto

revelando seu segredo

alguns tolos não possuem medo...

Eu me teimo

e me queimo

num só pacote 

sem que ninguém note...

Estão em todos os planos

um inferno só com humanos...

Humanos quase o são

nem sim e todo o não...

Dromedários

compõem os cenários

de uma tristeza absoluta

onde ninguém me escuta...

Tome um gole

ninguém mais escapole

da corda no pescoço

do velho ou do moço...

É pimenta

no meio da venta

e entre morangos

e alguns tangos

não sei se prefiro

ou me retiro...

A saudade

é maldade

que fazem comigo

desde um tempo antigo...

Sou um tolo

e foi sem dolo

um amor mais malvado

que tem me maltratado...

Ilusão desfeita

sob suspeita

acabou o afã

e o enterro é amanhã...

Era só isso que eu esperava,

um choro que não se acabava...

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Fatídico

Tristes imagens aí estão,

meu coração ficou surdo

aos meus apelos...

As caras pintadas nada disfarçam,

as mesmas coisas se repetem...

Pode ser insistência minha 

falar mais da tristeza...

Mas o que não é?

Flores talvez tragam alguma esperança,

mas acabam morrendo também...

Nossa vontade é apenas um disfarce,

temos contratos que não assinamos,

são metas que não cumprimos

e deixamos nossa vergonha de lado...

É tão difícil entender 

ao nosso próprio entendimento,

ainda mais quando o amor entra de sola...

Sou mais antigo que o mundo,

mais novo que qualquer novidade

e trago comigo toda a sabedoria

que os imbecis pensam ter...

Roubaram a minha máscara 

e o espelho agora me tortura,

como um filho-da-puta qualquer...

Mande logo, mais um trago,

bata com força o copo na mesa,

talvez eu acabe acordando,

passe um pouco desta bebedeira

de pensar que ainda estou vivo...

Soltos

Soltos, soltos. Os meus sonhos tão tristonhos. Os balões dos corações. As ideias sem plateias. As  calmas sem almas. As esperanças sem cobranças. Os amores sem dores. As conversas mais diversas. Estou sozinho porque perdi o ninho. Soltos, soltos...

Soltos, soltos... 

Como será minh 'alma em breve,

em uma a terra pesada ou leve,

nem importa se não exista,

a morte é sempre prevista...

Soltos, soltos. Os pesadelos arrepiam meus cabelos. As farsas são minhas comparsas. Sentindo tudo fico mudo. Pego a aflição na mão. Ninguém repara na minha cara. Eu fui no céu buscar meu anel. Eu fui no mar buscar teu olhar. E fui lá embaixo ver o que mais acho. Soltos, soltos...

Soltos, soltos...

Nem que se acabe o carnaval,

será eterno esse meu quintal,

não tem dia e nem tem hora,

mesmo sabendo que vou embora...

Soltos, soltos. As meninas estão nas esquinas. A sobrevida não é vida. O poder nos faz sofrer. Cada laço é um fracasso. Nem sempre ver me faz crer. Não existe mais emoção no coração. Com tudo perto fiz um deserto. Está tudo errado mesmo acertado. Soltos, soltos...

Soltos, soltos...

Para mim eu sou um estranho,

toda saudade não tem tamanho,

agarrei na tábua e não me salvei,

perdido nessa selva sem lei...

Soltos, soltos. Faço meus malabarismos em abismos. Não são nossos os nossos ossos. Peguei um trem para o além. Não mais dormi porque amanheci. Cada veneno é tão pequeno. Não pare não essa nossa canção. O concreto é bem mais discreto. Acendi a fogueira de outra maneira. Soltos, soltos...

Soltos, soltos...

Versos são o que me restou,

de tudo aquilo que não prestou,

eu até tentei, mas foi em vão,

agora vou pela escuridão...

Soltos, soltos,

como pássaros agora engaiolados...

domingo, 6 de junho de 2021

Quando Não Chegar Janeiro

Quando não chegar janeiro,

Quando não mais chegar...

De nada me adiantou suportar as outras estações, 

Ver as folhas mortas caindo no chão,

Sentir o frio do inverno fazer doer meus ossos,

Como a mãe que teve um aborto espontâneo...


Quando não chegar janeiro,

Quando não chegar...

Todos esses rostos guardados em minha mente

Só servirão para maior tortura,

Cada um deles será uma história boa e morta,

Ingredientes para criar o monstro da saudade...


Quando não chegar janeiro,

Quando não chegar...

Fevereiro também não dará suas caras,

Não haverão as mais sujas fantasias,

Não comemorarei mais um aniversário

Daquela infâmia que só soube me torturar...


Quando não chegar janeiro,

Quando não chegar...

E março me trouxer sutis tristezas

Dos dias que não comemorei o bastante,

Todo enfeitado de margaridas e outras flores

E quase estarei sufocado num oceano vazio...


Quando não chegar janeiro,

Quando não chegar...

E até os outros meses ficarem confundidos,

O tempo então não mais a mim pertencer,

Estarei em outras terras existentes ou não,

Procurando afinal uns outros dias mais...


Quando não chegar janeiro,

Quando não mais chegar...

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Mesma Coisa

 

Mesma coisa, humanos que somos...

A vida? É apenas um respirar...

Os mesmos pecados, mesmos erros,

Sem por, nem tirar...

Somos todos iguais, todos nós...

Temos a mesmas idiotias...

A mesma tristeza e suas lágrimas,

O riso com suas alegrias...

Não adianta tentarmos correr,

A mesma santidade, o mesmo tesão,

A morte que sempre chega,

Sem abrir nenhuma exceção...

Quando somos os alvos,

São abertas as mesmas feridas...

Tudo vem, tudo acaba passando,

Em inevitáveis partidas...

As mesmas bocas, fechadas ou não,

As mesmas línguas, os mesmos dentes...

Compromissos que não fizemos,

Nos trazem as mesmas correntes...

A mesma espera, quanta demora,

Isso nos provoca a impaciência...

A criança se torna adulta,

Foi-se embora a inocência...

A mesma cova, apenas chão,

Depois de um dia tudo apodrece...

Quando chega o perigo,

Não só o covarde estremece...

Morreu a flor, esvaziou o jardim,

A folha caiu e está morta...

Quem come ou tem fome,

É quase sempre o que importa...

Mesma coisa, mesmo mortal,

Prepare a bagagem para partir...

Se for ainda muito cedo

Pelo menos para se divertir...

O mesmo Deus e o mesmo Diabo,

Sendo descrente ou tendo fé...

Uma pedra é apenas pedra,

É apenas o que ela é...

Diferentes tribos, terras , povos,

Tão iguais em sua desigualdade...

Apenas sonhamos, nunca temos,

O que chamam de felicidade...

Nem somos certos, nem somos errados,

Somos o tempo passando...

O que veio, o que vai embora,

A mesma coisa que estou sonhando...

terça-feira, 1 de junho de 2021

Outra Lua

 

Não me importo,

muitas são as surpresas,

o bem e o mal acabam se confundindo,

no meu coração ainda há vagas...

Esqueci as lições de casa,

a sobrevivência se desespera

e enquanto seus gritos ecoam,

todos os apáticos dormem...

Trocaria minha eternidade

por um momento de esperança,

sentindo que o amor

não me feriu feito um espinho...

Eu sou igual a mim,

as dores me ensinaram

que até espelhos podem mentir

e a brincadeira sempre começa...

Fogo e água matam igualmente,

todos os tesões são iguais,

estômagos sempre doem,

o tempo dança sobre os caixões...

A estética dispensa detalhes,

a beleza não é imune à tristeza,

tudo acaba morrendo um dia

imerso na mais fria solidão...

Chamem depressa os lobos,

preciso uivar junto à eles,

depois corremos na madrugada

procurando nossas presas...

Voem seres da escuridão,

toda pressa é muito pouca,

vamos ganhando a altura

até não podermos mais...

Não me importo,

muitas são as desilusões,

todo sono será acordado,

poderão acabar os pesadelos...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...