segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Um Poema e O Caos


Tento cravar minhas unhas

nas velhas paredes desta sala

enquanto esse vendaval implacável

me tira da minha zona de conforto...

Por favor, me deixem!

Me deixem acordar todos os dias

como mais um pateta qualquer,

encher meu pobre estômago de cafeína,

sufocar meu desgraçado pulmão

de mais alguns miligramas de nicotina

e tentar sonhar com sonhos 

que nunca vão acontecer...

Tento mentir à mim mesmo,

dizendo que tudo irá melhorar...

O tempo será sempre o mesmo,

seja ele olhado no espelho velho do banheiro,

manchado com respingos de creme dental,

ou aquele da selfie que se tira 

num banheiro do shopping...

Minhas rugas continuarão seu trabalho

de fazer o rosto do menino

se transformar numa triste careta...

Tento esquecer algo 

que agora nem sei mesmo o que é,

olhando as nuvens tão bonitas,

mas que são indiferentes demais...

Tudo é oposto daquilo que desejamos...

Tudo dará exatamente errado...

O caos faz sua lição de casa

como o menino bem comportado que é...

Usamos palavras insuficientes

para expressar o concreto que não existe...

Vida e morte não são estados,

são apenas condições,

há mortos mais vivos que os vivos

e o vice-versa nesse caso funciona muito bem...

Talvez esse poema seja lido daqui um século,

mas aí será tarde demais...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...