Tento cravar minhas unhas
nas velhas paredes desta sala
enquanto esse vendaval implacável
me tira da minha zona de conforto...
Por favor, me deixem!
Me deixem acordar todos os dias
como mais um pateta qualquer,
encher meu pobre estômago de cafeína,
sufocar meu desgraçado pulmão
de mais alguns miligramas de nicotina
e tentar sonhar com sonhos
que nunca vão acontecer...
Tento mentir à mim mesmo,
dizendo que tudo irá melhorar...
O tempo será sempre o mesmo,
seja ele olhado no espelho velho do banheiro,
manchado com respingos de creme dental,
ou aquele da selfie que se tira
num banheiro do shopping...
Minhas rugas continuarão seu trabalho
de fazer o rosto do menino
se transformar numa triste careta...
Tento esquecer algo
que agora nem sei mesmo o que é,
olhando as nuvens tão bonitas,
mas que são indiferentes demais...
Tudo é oposto daquilo que desejamos...
Tudo dará exatamente errado...
O caos faz sua lição de casa
como o menino bem comportado que é...
Usamos palavras insuficientes
para expressar o concreto que não existe...
Vida e morte não são estados,
são apenas condições,
há mortos mais vivos que os vivos
e o vice-versa nesse caso funciona muito bem...
Talvez esse poema seja lido daqui um século,
mas aí será tarde demais...
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