segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Deixem O Poema Em Paz

 


Deixem o poema em paz

ele não precisa de adereços inúteis

e nem preciosismos sem sentimento

Deixem que ele brote a alma do povo

que ele grite por todas as ruas

chame a atenção em todas as praças

que ele saia da boca do cego na feira

com seus defeitos mais que necessários

Deixem que seja a palavra de ordem

na boca de todos os apaixonados

que brote do peito dos poetas

como se fosse um tiro que saiu

das entranhas de todas as almas

Deixem que se encha de lugares-comuns

que ele xingue e esbraveje quanto quiser

que ele saia das mãos do operário analfabeto

ou dos seios caídos da dona-de-casa

ou do moleque que vende balas no sinal

Deixem o poema viver como quer

numa folha de jornal com restos de comida

que alguém deu para o cachorro de rua

ou no salgado que a puta pagou

para o menino que tinha fome

ele sabe mais do que os sábios

reza mais que muitos monges

é andarilho que conhece as estrelas

e chama cada uma por seu próprio nome

Deixem o poema estar onde quiser

dentro de capas bem trabalhadas

ou em paredes sujas de muitas ruas

andando entre anônimos ou famosos

ele faz aquilo que bem quer

Deixem o poema em paz...

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