Deixem o poema em paz
ele não precisa de adereços inúteis
e nem preciosismos sem sentimento
Deixem que ele brote a alma do povo
que ele grite por todas as ruas
chame a atenção em todas as praças
que ele saia da boca do cego na feira
com seus defeitos mais que necessários
Deixem que seja a palavra de ordem
na boca de todos os apaixonados
que brote do peito dos poetas
como se fosse um tiro que saiu
das entranhas de todas as almas
Deixem que se encha de lugares-comuns
que ele xingue e esbraveje quanto quiser
que ele saia das mãos do operário analfabeto
ou dos seios caídos da dona-de-casa
ou do moleque que vende balas no sinal
Deixem o poema viver como quer
numa folha de jornal com restos de comida
que alguém deu para o cachorro de rua
ou no salgado que a puta pagou
para o menino que tinha fome
ele sabe mais do que os sábios
reza mais que muitos monges
é andarilho que conhece as estrelas
e chama cada uma por seu próprio nome
Deixem o poema estar onde quiser
dentro de capas bem trabalhadas
ou em paredes sujas de muitas ruas
andando entre anônimos ou famosos
ele faz aquilo que bem quer
Deixem o poema em paz...
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