domingo, 24 de janeiro de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 93

 

Todos esperam

sabendo

ou sem saber...

Os bons e os maus

os são e os loucos

os sábios e os tolos

os tranquilos e os desesperados...

Todos sabem

esperando

ou fugindo dela...

Os que têm tudo ou nada

os que amam ou odeiam

os que a querem ou a evitam

os com tempo ou os atarefados...

E ela vem sempre 

cumprir sua tarefa...


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Muitas canções passaram por meus ouvidos

cada uma delas do seu jeito e com sua cor

As que eu quis ou que vieram por acaso

as que tento lembrar ou as que tento esquecer

Grandes sinfonias ou simples assovios

cada uma delas com seu tempo e sua forma

Mas acabei descobrindo a melhor de todas elas

a melhor de todas as canções - é o silêncio...


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Muitos pensam que são o que não são

muitos são aquilo que não pensam

o gato pode até ser o cão

mesmo que em nada se pareçam...

E a vida gargalha de nossa idiotice...

Muitos pensam no sim e falam não

muitos dizem o que não querem dizer

e evitam qualquer uma explicação

que a razão possa em si conter...

E a morte gargalha de nossa idiotice...


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Não quero mais passar por aquela rua

aquela rua é sua

nela vejo somente coisas que me entristecem

e meus medos crescem

Não quero mais ver sua cara debochada

eu não sou mais nada

e aquele cara que está consigo me debochando

não sei até quando

São tantas casas feias nessa rua tão triste

nada mais existe

e eu não quero mais me lembrar o que passou

nem sei mais quem sou

Não quero mais passar por aquela rua

aquela rua é sua...


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Teus cabelos

eram quase vermelhos

sob um sol de antes

eu usava alguns códigos

que acabei esquecendo

não me levem agora

deixem-me sofrer

bem mais um pouco

até que meu amor

se dissipe de uma vez...


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Domingos

quase segundas

assim são todas as coisas

tudo passa

não há pedras do destino

o silêncio mesmo existindo

é algo proibido

Canções

só arremedos 

do que sentimos e não sentimos mais...


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Talvez uma festa

comemorando o nada que ficou

espalharemos nossas cinzas

por qualquer mar que aparecer

e iremos embora

sem ao menos nos despedir

(despedidas são perigosas,

pode significar um novo encontro)

e agora que tudo passou

posso lhe dizer com relativa calma:

tem horas que compensa ser cego...


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Um lugar bem antigo

antigos fatos

antigas histórias

Frio e quente também

noites de SãoJão

e intermináveis parques

fantasias e adivinhações

dias de água

inúmeras delas

e a minha satisfação

mesmo quando não era

Um automóvel preto

rodando em ruas antigas

em que eu perdi...


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Todo Poema É Um Milagre



Todo poema é um milagre,

um milagre malfeito, mas um milagre... 

Um milagre do amor

(mesmo com desamor), 

mesmo com dor,

mas um milagre...

Às vezes nos força pular no abismo

sem ter asas,

em outras, faz que andemos no chão

mesmo sendo pássaros...

Todo poema é bonito,

mesmo quando feio, mas sempre bonito...

Ele expressa em palavras

aquilo que as palavras não dizem...

Sua exatidão tem a mestria

que só raios de sol ou velhos sons

podem (ainda que raramente) ter...

Eles nos faz andar por tortuosos caminhos

sem direção alguma

mas acaba nos levando mais além...

Todo poema é uma pintura,

até cegos olhos podem vê-lo,

até os mortos podem senti-lo...

Tem a liberdade de quebradas correntes,

paredes que foram derrubadas,

gritos vindos de toda uma multidão...

Foi o poema que venceu as batalhas

e fez todos os conhecidos prodígios

e até os que nunca foram 

e não serão conhecidos jamais...

Todo poema é um milagre,

o milagre de manter o poeta vivo

quando já deveria estar morto...

Divagação



Divagar devagar

amar mesmo não amando

Chorar e não chorar

Sabe-se lá até quando


Fui ao mar

meus pés ficaram n'areia

Sem pensar

soltei uivos na lua cheia


Estou lá ou aqui

isso agora pouco importa

Eu dormi, não dormi

minh'alma está morta


Sonho? Pesadelo?

não importa a questão

Atendam meu apelo

me tirem logo dessa prisão...


 

Necessária Dança

 


Dançar até não poder mais,

Dançar e dançar até cair,

Dançar sob estes temporais

E sob o outro que há de vir...


Dançar em volta de fogueiras?

Sim! Com certeza, sim, senhor...

De todas as formas e maneiras,

Mesmo se ainda existir a dor...


Dançar para frente e para trás,

De improviso ou marcado passo,

De qualquer jeito, agora tanto faz,

Se temos o mundo ou não há espaço...


Dançar sozinho ou acompanhado,

Como um sábio ou com um louco,

Dançar sempre, até ficar cansado,

O tempo todo ainda é muito pouco...


Dançar no deserto, dançar no cais,

Sambar na avenida, dançar um blues,

Dançar de negro, de cinza, rosa, lilás,

Dançar como um rei ou totalmente nu...


Sem instrumento ou com a orquestra,

Dançar sozinho ou com todo o mundo,

Com quem é bom ou quem nada presta,

Dançar com um santo, como vagabundo...


Dançar até não poder mais,

Dançar como velho ou uma criança,

Dançar sob nossos temporais,

A vida, esta necessária dança...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Vertigem


Senti uma vertigem sem tamanho

vendo a fumaça do cigarro voando

ele tinha pressa, muita pressa

 de encontrar as nuvens e pedir perdão

pelos pecados que não cometeu...

Escutei sons quase estranhos

que não tinham mais limites de tempo

Seriam velhas canções ressuscitadas?

Não me encontro em condições

para julgar tal impasse apresentado...

Era alguma visagem aquela?

As roupas não estavam mais rasgadas

e no meu rosto agora de menino

habitava aquele meu velho sorriso

como já não tenho faz muito tempo...

Onde estão minhas lágrimas?

Como num passe de mágica

todas elas desapareceram do rosto

apesar de deixarem seu rio salgado

tão misterioso quanto o mar...

Uma sombra se aproximou de mim

não era a minha própria sombra

nem sequer era uma assombração

era apenas a sombra da solidão

que dá mais medo que qualquer outra...

Senti uma vertigem sem tamanho...

Apenas Poesia


 

Apenas um ponto,

um conto, 

um fato,

um detalhe,

um segundo, 

um minuto

ou a eternidade...

Apenas um resto,

uma protesto,

um prazer, 

uma agonia,

uma noite,

um dia

ou senão o nada...

Apenas uma pista,

uma lista,

uma estrela,

uma ilusão,

uma praga,

uma vela,

ou o sono vindo...

Apenas um cisco,

um risco,

um pedido,

um desdém,

um demais, 

um porém

ou o fim de papo...

Apenas um apego,

um sossego,

uma dúvida,

uma dádiva,

um caderno,

um acaso

ou um até mais...

Apenas uma gaiola,

uma esmola,

um aceno,

um disfarce,

uma máscara,

um enigma

ou o que nos restou...

Apenas um teste,

uma peste,

uma correria,

um boato,

uma fatalidade,

um devaneio

ou o que não virá...

Apenas um toque,

um choque,

uma feira,

uma trapaça,

um esquecimento,

um vazio

ou aquilo que quebrou...

Apenas um espaço,

um cansaço,

uma despedida,

uma saudade,

uma maratona,

uma confusão

ou um acerto de contas...

Apenas um oceano,

um humano,

um pateta,

um sofrido,

um mártir,

um pilantra

ou um qualquer...

Apenas uma poesia,

uma folia,

um acordo,

uma discussão,

um minuto

ou a eternidade...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Firme e Forte


 Firme e forte

em minhas dúvidas e angústias

entre meus medos e pesadelos

humano como sempre...


Estando na presença incômoda

de mim com eu mesmo

não adianta ter asas

sem poder voar...


Livre e livre

com as minhas pesadas correntes

acabo confundindo tudo

felicidade e ilusão...


Cheio de tédio

percebo todos indo ao nada

com milhares de conselhos

que nem mesmo seguem...


Como um cachorro acuado

vejo as más notícias

que enchem as páginas

de todo nosso destino...


Quase com ódio

faço minhas orações

para cumprir meu papel

não acreditando em mais nada...


Ontem eu a vi

e senti o impossível

gelar meus ossos

em forma de silêncio...


Eu sou o rei

de um reino de futilidades

como um rolo compressor

que me esmaga...


Quero dormir novamente

dormir para sempre

mas o esquecimento

esqueceu de existir...


Não mais chorar

essa deve ser a meta

mais difícil

mas a mais desejada...


 Firme e forte

em minhas dúvidas e angústias

entre meus medos e pesadelos

humano como sempre...


Firme e forte 

como a morte...


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Deixem O Poema Em Paz

 


Deixem o poema em paz

ele não precisa de adereços inúteis

e nem preciosismos sem sentimento

Deixem que ele brote a alma do povo

que ele grite por todas as ruas

chame a atenção em todas as praças

que ele saia da boca do cego na feira

com seus defeitos mais que necessários

Deixem que seja a palavra de ordem

na boca de todos os apaixonados

que brote do peito dos poetas

como se fosse um tiro que saiu

das entranhas de todas as almas

Deixem que se encha de lugares-comuns

que ele xingue e esbraveje quanto quiser

que ele saia das mãos do operário analfabeto

ou dos seios caídos da dona-de-casa

ou do moleque que vende balas no sinal

Deixem o poema viver como quer

numa folha de jornal com restos de comida

que alguém deu para o cachorro de rua

ou no salgado que a puta pagou

para o menino que tinha fome

ele sabe mais do que os sábios

reza mais que muitos monges

é andarilho que conhece as estrelas

e chama cada uma por seu próprio nome

Deixem o poema estar onde quiser

dentro de capas bem trabalhadas

ou em paredes sujas de muitas ruas

andando entre anônimos ou famosos

ele faz aquilo que bem quer

Deixem o poema em paz...

Alguns Poemetos Sem Nome Número 92


Faço tudo que posso para não morrer

mas morro um pouco em cada dia,

Desvio-me dos espinhos para não sofrer,

mas isso é apenas estratégia vazia


Vejo o tempo que passa sempre à correr

e os sonhos correm mas nada lhe alcança,

nada pior pode enfim me acontecer

a não ser sobrar à me torturar a esperança...


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Era frio o dia,

o mais frio de todos

sem sombra alguma de dúvida.

Era mais cinza a cor,

não havia outra,

para cobrir as paredes da caverna.

Era um silêncio mortal,

mais triste ainda,

porque ouvia as batidas do meu coração...


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Livre como um pássaro preso,

invento novos símbolos

para que os malvados não percebam.

Através das grades mando sinais

que sobem aos céus com velocidade.

Talvez a resposta para tanta saudade

seja toda essa lembrança,

talvez seja amanhã o eu-pássaro

jazendo no fundo da gaiola...


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Eu não acredito mais nos pássaros,

eles passaram voando

e não escutaram os gritos de minha tristeza

e não tiveram pena de mim,

não me levaram...

Eu não gosto mais das estrelas,

elas atrapalharam meus cálculos

com todo o seu brilho

e ainda ficaram a noite toda

rindo da minha cara...

Eu não quero mais os sonhos,

eles foram malvados por demais

e feriram-me todos os instantes

mostrando-me cruelmente

que o inferno pode ser bem perto...


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Cara ou coroa

ruim ou boa

O relógio não perdoa

Mas a tristeza dá bom-dia

ao contrário da alegria...


Ímpar ou par

amar ou desamar

É tudo que há

Só não posso escolher

entre viver e morrer...


Sim ou não

alívio ou aflição

O destino na contramão

Há coisas que não entendo

Nem os versos que vou lendo...


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Surpresas esperadas

ilusões caídas e quebradas

tudo é vidro, tudo é vidro

cada caminhada não deixa rastros

solitariamente vamos e vamos

até não podermos mais...


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Vamos brincar?

Dispense aquele brinquedo bacana

que custa caro na loja...

Quer se divertir?

Prepare-se para ter risos

como nunca teve antes...

É simples... É muito fácil...

Contemos as estrelas,

ou desenhemos nas nuvens,

amemos sem querer retribuição,

fechemos os olhos e enxerguemos o infinito...

Vamos brincar?...


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Ela não me olha mais...

Isso pouco me importa...

Sigo meu caminho,

passo pela sua rua,

como os loucos 

que não ligam mais 

para tal coisa...


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Um Poema e O Caos


Tento cravar minhas unhas

nas velhas paredes desta sala

enquanto esse vendaval implacável

me tira da minha zona de conforto...

Por favor, me deixem!

Me deixem acordar todos os dias

como mais um pateta qualquer,

encher meu pobre estômago de cafeína,

sufocar meu desgraçado pulmão

de mais alguns miligramas de nicotina

e tentar sonhar com sonhos 

que nunca vão acontecer...

Tento mentir à mim mesmo,

dizendo que tudo irá melhorar...

O tempo será sempre o mesmo,

seja ele olhado no espelho velho do banheiro,

manchado com respingos de creme dental,

ou aquele da selfie que se tira 

num banheiro do shopping...

Minhas rugas continuarão seu trabalho

de fazer o rosto do menino

se transformar numa triste careta...

Tento esquecer algo 

que agora nem sei mesmo o que é,

olhando as nuvens tão bonitas,

mas que são indiferentes demais...

Tudo é oposto daquilo que desejamos...

Tudo dará exatamente errado...

O caos faz sua lição de casa

como o menino bem comportado que é...

Usamos palavras insuficientes

para expressar o concreto que não existe...

Vida e morte não são estados,

são apenas condições,

há mortos mais vivos que os vivos

e o vice-versa nesse caso funciona muito bem...

Talvez esse poema seja lido daqui um século,

mas aí será tarde demais...

Audissonância

 


Folhas tortas

em quadriláteros dissonantes

de puro prazer ou aflição...

Inventei alguns dias...

Perdi minha localização

em meio ao meu caos

e danço mesmo sem chuva

e em alguns funerais...

Pássaros lentos

formam desenhos no céu

enquanto alguns anjos choram...

Estou livre... Livre! Livre!

Para escolher calmamente

a corrente que mais 

me aprouver...

Os vendilhões do templos

estão muito contentes

com o resultado do jogo...

Ela é tão linda!

Eu posso contar seus ossos

enquanto ela se droga

entre rosas azuis...

Quem está aí? Quem está?

Achem a morte entre espelhos

e não haverá mais medo...

Subir ou descer

é só uma questão

de ponto de vista...

Tantos chapéus

para uma só cabeça...

A terra não é voraz

mas o tempo é...

Os domingos são domingos

até se tornarem

meras segundas-feiras...

Acabaram-se as violas

as enluaradas nem se fala...

Os poetas andam ocupados

em falar o óbvio repetidamente

e ir ao fast-food...

Trinta segundos 

é mais que suficiente

para nos deixar entediados...

Firme e forte

como prego no angu!

(Como dizia 

o grande morto...)

O ouro dá cor

para todas as cores...

Selva, selva, selva,

eis a mais nova

das palavras...

As fechaduras importam

mais que as portas...

Hambúrgueres com molho

bem caprichado...

E céleres operações

com mais que os dedos...

São dispensadas 

todas as apresentações...

A mentira agora

é o prato do dia...

E uma alucinação só

não me completa mais...

Somos sadomasoquistas sem tesão...

Bailarinos em cacos de vidros...

Doidivanas sem sequer

conhecer tal palavra...

Tomo meu energético

com esperanças de infarto...

O último à sair

acenda a luz...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Me Esqueça

 


Não toque em mim,

Toda felicidade tardia é uma tristeza

Que vem nos cobrar dívidas maiores...

Não me olhe,

O meu luto poderá lhe lembrar

Que a morte é para todos...

Não fale comigo,

Eu não tenho boas notícias

E isso pode incomodar bastante...

Bloqueei o meu número,

Me exclua das redes sociais,

Isso não importa mais...

Se eu passar na sua rua,

Finja que não me viu,

Muito da vida é só fingimento...

Se souber de alguma notícia ruim,

Pode até comemorar,

Tudo tem seus dois lados...

Evite falar meu nome,

Esqueça meu endereço,

As lembranças morrem também...

Onde estarei amanhã

Não tem importância alguma,

Acho que nada mesmo é imprescindível...

Morremos inúmeras vezes,

Nem damos conta disso,

Você mesma que o diga...

Esqueça de mim,

Eu sou mesmo um malvado

Que nunca vai lhe esquecer...


Embriaguez Poética Acompanhada de Tristeza

 


Eu bebo o sol,

preciosamente gota à gota

sem derramar nenhuma ao chão.

Muito poetas riem da minha cara

porque, afinal de contas,

eu não aprendi a sorrir...

Isso não importa,

não tem importância alguma,

sentir sim é o que importa.

Como quase sempre sinto

a infinita dor do cachorro

que dorme desesperado

em qualquer calçada...

Eu respiro o dia,

sem precisar enfeitá-lo

com algo que nunca existiu.

Muitos outros também rirão

minha rudeza faz parte de mim

assim como o que está perto...

Viver é simples em demasia,

por isso nos confundimos

com tudo que o óbvio nos oferece.

Eu errei de endereço

(minha vista anda cansada),

indo parar no começo da vida

me esquecendo que era o fim...

Eu engulo a chuva,

não porque eu goste,

nem tudo que existe, gostamos.

Muitos poetas viram o rosto,

acham que a alegria resolve,

mas ela acaba e é pior...

Isso não importa,

o cinza também é cor,

mesmo que não aceitemos.

Como quase sinto

o infinito medo do pássaro

que sem asas tenta voar

pulando do abismo...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Estar, Estar

 


Estar morto, estar perto,

Estar torto, estar certo,

Depende apenas de como vemos, 

Hoje vivos, amanhã morremos...

Estar calmo, não estar,

Fechar os olhos ou olhar,

Estamos despertos, nós dormimos,

Nós ficamos atentos e nem vimos...

Estar na fila, estar no protesto,

Estar oculto, estar manifesto,

Ser poeta, ser o herói do dia,

Estar de luto, cair na folia...

Estar presente, estar passado,

Estar de frente, estar de lado,

Não ser mais nada, ser tudo,

Ser o defendido ou o escudo...

Estar deserto ou estar mar,

Estar desperto ou delirar,

Ir pra sarjeta, viver na mansão,

Ir pela mente, seguir o coração...

Estar ciente, estar inocente,

Estar na boa ou estar doente,

Tudo é tão simples e complicado,

Eu não tenho nada, sou abastado...

Estar todo vazio, estar cheio,

Estar por dentro, estar alheio,

É uma tempestade, é uma bonança,

Todo velho agora já foi criança...

Estar tranquilo, estar lutando,

Estar perdendo, estar ganhando,

Não importa mais o resultado,

Se o próprio amor tem desamado...

Estar no frio, estar com calor,

Estar no vazio, estar no amor,

Estar por dentro, estar por fora,

Não quero mais, eu quero agora...

Estar morto, estar perto,

Estar torto, estar certo,

Depende apenas de como vemos, 

Hoje vivos, amanhã morremos...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Uma Flor







Uma flor, uma flor

é o que temos,

não é girassol 

e nem margarida.

Na sua estação,

enche os galhos

e enfeita as ruas,

amarela o chão.

Uma flor, uma flor

é o que temos, 

clareia a vida

mas nem é lâmpada.

Tem toda a eternidade,

mesmo sem tempo,

nem toda efemeridade

acaba doendo.

Uma flor, uma flor

é o que temos,

não é manacá

nem outra qualquer.

Ela traz vida e morte,

traz sono e inquietação,

nem sei mais nada,

acho que era você...

sábado, 9 de janeiro de 2021

The Great Circus

 


The world is a circus ...

Who are the clowns?

It's us!

We laugh for no reason

and we cry too ...

Only crying is true ...


The world is a great show ...

Who are the actors?

It's us!

We use our masks

and we keep the sadness ...

Only loneliness accompanies us ...


The world is a big dream ...

Who are the insomniacs?

It's us!

We try not to have nightmares

but we ended up having ...

Until another day is born ...


Just clowns ...

Média

 

Mídia

Média

Idade 

Cidade

Casas mal feitas e palácios bonitos

Carnavais alegres e meninos aflitos

Suspiros de saudade olhos compridos

Verdades eternas e sistemas falidos

Mídia

Média

Coragem

Miragem

Vodca barata e baratos refrigerantes

Tudo igual e nada mais como antes

Saias rodadas muitas bundas de fora

Ontem ainda vai acontecer agora

Mídia

Média

Solidão

Multidão

Lixo exposto e luxo mais ostentado

Corrida para morte e o resto parado

Guerras aplaudidas e flores pisadas

Mesmo gritando a boca está calada

Mídia

Média

Comédia

Tragédia

Caminho à pé e carro na contramão

Resposta definitiva e uma outra questão

Era uma festa e virou uma pancadaria

Há o mesmo perigo na noite e no dia

Mídia

Média

Vivi

Morri...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Explicância

Margaridas tortas

Em portas mortas

Verdes puxados para o lilás

Eu queria mas não queria

A luz fresca do dia

Apesar dos temporais


Estava perto

O incerto mais certo

Eu nunca mais fui ao cais

Já foi embora um dezembro

E eu nem mais lembro

Onde estão os festivais


Quero urgente

A premente semente

Que invadirá os quintais

Eu até plantei a esperança

Mas até ela me cansa

Na guerra ou na paz


Podre do rico

Explico e complico

É fogo nos canaviais

Como é incerta a certeza

Mais certa a tristeza

Até não poder mais...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Sol Maneiro

 

Escrevo sobre o que quiser

palavras aos montes da minha boca

linhas feito rios correm no papel

Acho que ainda estou vivo...

Xingo por puro prazer

e grito por questão de arte...

A bomba quase explodiu

enquanto eu conhecia de perto

os mais variados tons de folha...

Não existem almas para tantos verões!

Tudo cabe na palma de qualquer mão

e qualquer não pode ser bem vindo...

As declarações são misteriosas

mas imprescindíveis ao seu modo...

Tento evitar de repetir

mas existem muitos pudins e erros...

Nunca fui mestre de alguma coisa

e não reivindiquei coisa alguma...

Aliás, não existem mais aliás...

Gosto de sair sambando pelas ruas,

principalmente quando não é carnaval...

Existem várias cachaças

e sobretudo as que não embriagam...

Nossos dentes são sobreviventes

de uma grande e constante tempestade...

São tantas as escolas que existem

mas nem todas elas dão diplomas...

Nas pontas dos abismos 

a brisa é quase sempre mais agradável...

Pobre de mim, camaleão!

A vida passa em preto-e-branco...

O cinema fica sempre vazio

com exceção das matinês...

Mesmo quando a Chiquita

falta aos seus compromissos...

Eu vou viver mais cem anos

até que alguém me esqueça...

Escrevo sobre o que quiser

palavras aos montes da minha boca

até sobre esse sol maneiro

que não está mais aqui...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Alguns Poemetos Sem Nome Número 91


Eu olho as gotas de chuva

 e me pego pensando:

De onde vieram?

Que caminho percorreram

até chegar aqui?

Devem ter visto coisas bonitas

porque a chuva ri...

Mas também devem ter visto

algumas coisas tristes

porque gotas são lagrimas...

Mas vale a pena toda aventura

e eu agora queria ser chuva...


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Eu sou como o Caos, abram alas para mim! Eu venho acompanhado da solidão, acariciado pela tristeza, procurando entre todas as ruas desta tumultuada cidade, alguns abismos para me jogar. Trago a vida e a morte nas mãos e brinco com elas como um menino no sinal que sorri em troca de algumas moedas. Ah, mas que delícia! Trago em meu peito as feridas dos espinhos da paixão e como bom amante, trato bem de cada uma delas. Não sei quanto tempo me resta, gostaria de viver pelo menos mais um dia do que me cabe. Oro por isso. Eu sou a própria tempestade, anjo e demônio ao mesmo tempo, abram alas para mim!


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Os retratos são bons...

O retratos são maus...


A saudade mata sem matar...

A tristeza chega sem avisar...

E o que fazer mais não há...


Os retratos são bons...

Os retratos são maus...


O desejo foi apenas desejo...

Foi um pesadelo malfazejo...

Nem tudo que enxergo vejo...


Os retratos são bons...

Os retratos são maus...


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Nem frio, nem calor. Apenas tempos de várias guerras, umas visíveis, outras nem tanto. A cidade em chamas, mesmo quando tudo parece tranquilo. Meninos amedrontados dentro de uma noite violenta e velada. Rostos paralisados numa careta em um espelho velho. Só a fome é demais. Um bando de espectros em intermináveis filas. Nada é tão real quanto a ilusão. O paciente teve um infarto fulminante e passa muito bem. Temos facas de três gumes. Nem frio, nem calor...


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Cortes sem sortes

Sangro sem uma gota sequer

Nem sei o que vejo

Não tive sequer um carinho

Eu sou o alvo e sou a seta

O tempo todo

Insetos volteiam a lâmpada

Bem maior do dia

Sem cartas e sem mangas

Minhas velhas roupas

Mais novas que minh'alma

Quero somente ensaiar

Um novo ritual mágico


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Eu queria ter a idade dos ventos, juro solenemente que queria! Ventos não envelhecem nunca, eu envelheci. Queria aprontar alguma e você só poderia me xingar...

Eu queria ter a carícia dos ventos, ah, como eu queria! Se pudesse escolher alguma cor dessas, lhe cobriria do vermelho de algumas rosas sem dono, dessas que crescem em jardins esquecidos...

Eu queria ter a malícias dos ventos, isso sim, eu queria! Ventos não possuem sombras e não poderia ser seguido por nenhum desses malvados pesadelos...


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Impossível é o que queremos

humanos somos...

E nas palavras que arquiteto

enveneno-me, escorpião...

Sonhos que são pesadelos

fecho meus olhos...

A madrugada perigosa

ofereceu-me os préstimos...

Tudo é perigoso, muito,

sobretudo querer...


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Brincadeiras - o que o destino nos apronta. Um cara excêntrico e com pouca empatia. Coincidências - o que a vida nos aflige. E muitas e muitas palavras que nos lembramos quando já é tarde demais. Eu não consigo parar o relógio, ninguém consegue. Essa é a maior ilusão que podemos fabricar e nos machucar...


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Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...