O vendaval levanta folhas... E levanta as saudades que moram no peito de um sonhador qualquer... Eram dias passados contados como um rosário que arrebentou... Um vidro bonito que acabou de cair no chão...
O vendaval levanta folhas... Muitas delas... Iguais às da fogueirinha que o menino tinha prazer em acender... Era um tempo inocente e mau como muitos outros... Ainda bem que existe saudade e o tempo não volta atrás... A saudade transforma tudo em coisa boa...
O vendaval levanta folhas... Pode ser aviso de chuva ou não... Quando o céu escurece temos tanto medo... Mas quando se ilumina nosso coração salta de mais alegria... Mas tudo é complicado porque ambos moram no mesmo lugar...
O vendaval levanta folhas... Sem mãos ele é habilidoso... Sem pés corre mais ligeiro... Sem olhos nos persegue o tempo todo... Sem boca nos profere maldições inocentes que fazem chorar... Sem poesia nos traz figuras mais bonitas... Está sempre reclamando suas dádivas...
O vendaval levanta folhas... Seja quente ou seja frio - pouco importa... É nossa sina atravessá-lo em total solidão... É a marca que possuímos gravada na alma... É um dia após o outro em imprevisível rotina... Cada pedaço de um quebra-cabeças que falta uma peça... Não sabemos de nada...
O vendaval levanta folhas... Como pesadas pedras fossem... Atingindo todos os alvos possíveis... Modificando todas as paisagens... Emprestando todo o cinza e todo o marrom... Fala num idioma sem letras as mais ponderáveis coisas possíveis... E num chão de quadrados sem ângulos faz seu bailado...
O vendaval levanta folhas... E traz águas também... Muitas águas também... Foram as águas que vieram de longe... Para uma festa que não aconteceu... Para a vida que agoniza e não morre... Como é teimosa toda celebração... E como todos os paradigmas se completam em celestiais batalhas...
O vendaval levanta folhas... E elas vão dançando... E dançando...
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