Como todo burguês despudorado
Guardo em mim todas as contas
Os tapetes estão cheios por baixo
E nos armários nem se fala...
O meu carrão de luxo vai velozmente
Sonoramente como um deboche
Para os miseráveis da vida
E com vontade de matar um deles...
A vida é assim e assim sempre será
Alguns são lixos mais agradáveis
E outros apenas um simples lixo
Neste pesadelo quase freudiano...
Encho meus pulmões feito condenado
Crucifico mais um herói por dia
Enquanto faço minhas lições de casa
E com o meu politicamente careta...
Crueldade em todas as tintas
Mosquitos esmagados nas paredes
Passarinhos de asas cortadas
Pedaços de calçadas disputados...
Cada qual com seu pesadelo
Mesmo que invejando o alheio
Cada qual com sua mazela
Esperando ter a ferida do outro...
Fazemos lives para nós mesmos
Numa solidão nunca antes testada
Um Apocalipse mais que particular
Onde não há mais cavaleiros...
Vamos arrumar caprichosamente
Como espantalhos sem milharal
E colocar uma máscara na outra
O até quando é ilustre desconhecido...
Como todo ser humano inumano
Inventor de meus próprios fantasmas
Assassino de todas as inocências
Escrevo de moedas e de números...
Estou sempre entrando em crise
As mãos tremem no volante esportivo
Qualquer morte virou número
Covas só crescem na vertical...
Vamos fazendo esse grande espetáculo
Sem ter graça nenhuma e não terá
Porque vivemos entre os escombros
De uma cidade de sinistros palhaços...
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