quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Todos Nós

A Educação e o Muro | O Retalho
Todos nós, todos nós...
Os vendidos, os comprados, os bandidos, os mal amados...
Um grande rebanho, uma matilha de cães adestrados, debaixo do mesmo sol, andando sem rumo ao nada. Qual é a novidade? Qual é a promoção? Vamos achar uma nova fila, mais um motivo qualquer para poder respirar mais um pouco...
Todos nós, todos nós...
Os aceitos, os recusados, os perfeitos, os aleijados...
Os grandes farsantes de um tempo inexistente, só existe ilusão, todos os relógios são apenas mera aparência. O que é a verdade? O que não é a mentira? Vamos comer mais um bocado, talvez a nossa dignidade permaneça mais um pouco...
Todos nós, todos nós...
Os subversivos, os acostumados, os discursivos, os calados...
A confusão de meros passantes cheios de medo, medo de uma violência que nos pertence, casa um deu seu pedaço de contribuição. Onde é a porta de saída? O remédio dará resultado? Vamos banalizar a infelicidade cada vez mais, fingir que não escutamos mais grito algum...
Todos nós, todos nós...
Os inocentes, os condenados, os decentes, os tarados...
Os nossos peitos são uma grande caixa de surpresas, nenhuma previsão acontece de forma exata e o imprevisto nos derruba no chão. De onde vêm tantos sustos? De que arma saem tantos tiros? Desconhecer certas evidências é uma forma de prevenção como outra qualquer...
Todos nós, todos nós...
Os vestidos, os pelados, os compridos, os encurtados...
Os esconderijos são igualmente inúteis para qualquer defesa, os juízes batem seus martelos por pura força do hábito. Quantas vezes já choramos escondidos? Quantos sustos ganhamos? Em nossos diários escondemos muitas bobagens inconfessáveis...
Todos nós, todos nós...
Os miseráveis, os abastados, os notáveis, os disfarçados...
Existe apenas o caminho e o fim dele é apenas uma impossibilidade, até a esperança acaba cansando. Quantas perguntas ficaram engasgadas? Quantos tropeções nos feriram? Ocupar espaço e gastar oxigênio é a nossa meta...
Todos nós, todos nós...
Os aplaudidos, os desprezados, os bem-nutridos, os esfomeados...
A santidade de alguns é igual ao inferno de muitos, a arte e a loucura dançam um tango solene. Vamos bater palmas para a tolice? Vamos dar o nosso voto para a maldade? A fila para a morte nunca pára...
Todos nós, todos nós...
Os vendidos, os comprados, os deprimidos, os exaltados...
Todos nós, todos nós... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Insalubre (Miniconto)

Insalubre era a casa dela (se é que podia ser chamada de sua ou ser chamada de casa). Qualquer favela tem coisa bem melhor. Sem porta, sem j...