segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Insaneana Brasileira Número 97 -Terríveis Faces

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Só vejo faces. Os corpos sumiram tem muito tempo. A multidão talvez tenha até pés e eu não os vejo. Faces variadas. De todos os tipos. Faces novas. Faces velhas. Faces novas envelhecidas. Faces velhas com quase inocência nova. E um som surdo e ensurdecedor nos mata aos poucos. E um temporal que não veio ainda nos ameaça...
Só vejo faces. O desejo domina a nossa escassa saliva. E rimos sem motivo. São alguns dias e o mundo em torno de nós morreu. É o réquiem da rotina que se esfacela num trágico acidente. Quando muito é nada. Quando nada é muito. E há desgostos de todos os tipos em nossos cadernos de anotações...
Só vejo faces. E algo que lembra uma imaginação perdida em coisas bobas. Só vejo copos esvaziados e pensamentos vadios. A porta-estandarte não morreu para decepção nossa. Não há nenhum romantismo. E os versos poucos que existem são diabólicos arranjos de passados dias que apenas vêm se vingar de seus carrascos...
Só vejo faces. E uma alegria que me enfurece faz meus ossos doerem. E meus músculos desobedecerem e tudo em torno é a poeira de uma tempestade no deserto que não presenciei. Não há imaginação porque insólito e inédito são apenas pratos do dia. Viva o absurdo! Definitivamente as porcelanas brancas com desenhos azuis acabaram se quebrando...
Só vejo faces. E como canibal ultramoderno que sou desejo devorá-las. Eu sou o mal e nunca neguei tal coisa. Eu sou o caos que remexe folhas mortas no dia deixado pra trás. Eu sou a vida no seu último suspiro. Eu sou cada chance perdida. A pureza bruta e cruel que não conhece signos e símbolos. O amor que mata seu próprio criador. A criatura se vingando da não pedida existência e sofrimento...
Só vejo faces. E nada se afasta nem um til disso. E todos me reconhecem mesmo estando sob disfarce. E todos riem de mim sem o saber. E as altas montanhas caem apenas em meu pensamento. O cara há muito morreu e eu fiz dezenas de libações enigmáticas sobre seu esquife. E ele nunca saberá o gosto da maldade que fez...
Só vejo faces. E belas tranças de material sintético. E impensadas versões de operetas baratas. E o desconhecimento de palavras mais rebuscadas que podem ter um certo charme. O faraó e sua rainha passeiam placidamente pelo calçadão entre os mortais. Só o faraó tem alma. Mas quem precisa dela? ...
Só vejo faces. E nem sei quando foi ontem. E nem sei quando será amanhã. Só vejo elefantes flutuarem pelo ar aceso. E restrições criadas por simples mortais. O que é meu é do povo! Mas nada possuo de alheio ganho. Nem meus versos aparecem com medo de tal loucura. E nem meu palhaço toma tento de pintar a cara...
Só vejo faces. E um mel estranho sem abelhas vai brilhando em esquecidas colmeias. Há apenas um zumbido parecido com qualquer coisa. E o álcool sobe à cabeça como um convidado ansiosamente esperado que contará histórias engraçadas. Mil vezes mil vezes mil vezes riremos mesmo sem entender. Que os jornais ganhem seus vinténs e que quem já foi dane-se para lá. Lamentos foram feitos para os cartórios...


Só vejo faces. E prevejo as novas cruzes até a próxima redenção...

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Carliniana XLV (Indissolúvel)

  Plano A... Plano B... O amor é uma pedra Que teima se dissolver na água Quem poderá consegui-lo? Plano A... Plano B... O pássaro encontrou...