Eu não sei nada... Desconheço a maioria das biografias ilustres que ilustram os sábios livros que enchem as bem comportadas estantes. Eu sou o povo. E o povo é enganado vinte e quatro horas por dia. E os dias são como são...
Eu não sei nada... Novas teorias da origem do Universo? Não faço ideia quais são. A tristeza é uma venda para os olhos e o medo da fome traz nuvens cinzas para todos os meus passos. Viver é delirar com uma febre que ainda não existe...
Eu não sei nada... As cores dos panos baratos e das mil invenções expostas no nada me atrapalham. Um Picasso e um Rembrandt são tão semelhantes ao Dali jogado num canto qualquer. E as mais antigas recordações pintam mais outros quadros...
Eu não sei nada... E as minhas teorias são apenas divagações que minha mais profunda idiossincrasia produz sem que nem mesmo perceba. As moscas voam e pousam irritantemente nos lugares mais improváveis brincando com a sua própria morte. Os relógios também podem errar...
Eu não sei nada... E falo sobre a morte todos os momentos como um compromisso do daqui há pouco. E os agentes funerários olham para o telefone com a ansiedade de seus niqueis brilhantes. Como vamos colocar os sapatos se faltam os pés? E como dançarmos se desconhecemos os passos?
Eu não sei nada... E escrevo coisas óbvias e sem mérito algum. Gritar para os surdos e fazer gestos para os cegos acabou sendo nosso ofício. Virar o rosto em outra direção é comum porque as testemunhas estão em falta no mercado...
Eu não sei nada... E me drogo com os venenos mais permitidos. E me lanço em abismos que me deixarão ferido e vivo. Não reclamarei mais das dores que comigo fizeram amizade. Nada é bom dentro deste humano contexto...
Eu não sei nada... Desde o dia em que abri meus olhos...
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