sábado, 27 de fevereiro de 2016

Por Que Você Não Me Perguntou?


Por que você não me perguntou
Porque eu sempre sorria pra você
Enquanto as coisas todas lá de fora
Sempre fizeram de mim apenas um triste?

Por que você não me perguntou

Porque havia aquele ar de sonhador
Enquanto a nossa rotina corroía os dias
E cada hora era uma direção ao nada?

Por que você não me perguntou

Porque aqueles corredores me davam medo
Se na verdade parecia que tudo dava certo
E ainda parecia que estava tudo bem?

Por que você não me perguntou

Porque dentro do meu anjo havia um demônio
E o demônio maquinava os planos mais vis
E a febre ia me consumindo aos poucos?

Por que você não me perguntou

Porque eu lhe achava a mais bela de todas
A melhor de todas as amigas
E as minhas pretensões eram de louco?

Por que você não me perguntou

Porque eu tinha tanto medo assim da morte
E mesmo que ela não tenha vindo até agora
É ainda a maior companheira da solidão?

Por que você não me perguntou

Porque daqueles versos bobos e malfeitos
Que teimavam de brotar de um peito vazio
Cheio apenas da esperança dos condenados?

Por que você não me perguntou

Porque eu achava que as coisas podiam ser diferentes
E uma história feliz poderia ser escrita finalmente
Num papel que agora jaz jogado num canto?

Por que você não me perguntou?

A sua bondade acabou virando maldade
E a sua partida pelotão de fuzilamento
E a sua ausência apenas o desespero pelos segundos...

Por que você não me perguntou...


(Para Mônica de Souza Araújo, onde estiver, ontem, hoje e sempre amada).

Nada É


Nada é...
Tão bom que não possa ser desfeito,
Tão ruim que não tenha um jeito,
As rosas do jardim estão abrindo
Enquanto os nossos dias já vão indo...

Nada é...

Tão rude que não tenha um carinho,
Tão só que só possa estar sozinho,
Os sonhos brincam lá perto do céu
Enquanto a morte vem trazendo o véu...

Nada é...

Tão sério que não posso rir duma piada,
Tão medroso que não vá pela estrada,
Os meninos estão sempre aí correndo
Enquanto todos corpos vão envelhecendo...

Nada é...

Tão chato que não chame alguma atenção,
Tão nobre que não tenha segunda intenção,
Eu só sabia que não sabia que sabia
Enquanto a minh'alma cheia tava vazia...

Nada é...

Tão belo que não cause nenhum medo,
Tão público que não tenha nenhum segredo,
As coisas dançam no maior de todos os bailes
Enquanto não percebemos todos os detalhes...

Nada é...

Tão divino que não possa ser também profano,
Tão cruel que não possa uma vez ser humano,
Eu fui feliz e isso foi muito tempo atrás
Enquanto hoje com tanta coisa não tenho paz...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Insaneana Brasileira Número 99 - Tantos Medos, Tanto Não

Desses que andam por aí... Como um sexo casual de plenos desconhecidos... Nem sequer os nomes... Nem sequer uma vez antes... E as modas que já foram embora... Vamos ser abusados... Cantar o mundo em profanidades mais que satisfeitas... Muito cheiro e pouca cor... Nada nos impede do ilógico... Nada impede a nossa sandice que muda as letras dos versos... Tudo imperfeito como deve ser... Espaços muito grandes e pequenas celas... Caras envelhecidas pelo excesso de juventude... Nada mais... Nada menos... A morte perdeu seu charme... E os asfaltos andam ocupados com seus novos dormitórios... Aqui tem... Ali tem... Mas em lugar nenhum ocorrem notícias boas... Muito chique... Rir sem motivo algum é a nova piada... Quanto mais tecnologia mais rudeza... Quanto mais nada enchemos nossos bolsos... E uns cabelos esvoaçam por aí pedindo para serem puxados com toda a força... Doem os dedos... Doem os dentes... Segredos contados em públicas cerimônias... Eu me confundo... Nós nos confundimos... E o pecado se redime perante a divindade que nem notou nada... As telas brilham... E vão aumentando de tamanho até chegar ao oceano que já não é mais... Fim de semana e cerveja... Contas atrasadas e um cheiro de abismo... Nada mais... Não me façam perguntas fáceis de se responder... Detestamos o óbvio... Abominamos a verdade... E até os famosos choram pelos cantos porque fazem o que não deveriam fazer... Ninguém faz nada... Tudo é rio... E os rios não precisam de combustível em seus tanques poeirentos... Mil poemas foram escritos e é preciso mais um tanto... Invencionices à parte parece que está tudo bem... Mas o apagão não demora à chegar... Eu queria beijar sua boca e era só isso... Eu queria poder falar elogios que não existem nem na boca dos bêbados... E minhas palavras são acentuadas erradamente por puro descuido... Nada mais... Nada menos... Os quatro cavaleiros agora são funcionários no jóquei clube e capricham na sua apresentação... Eu sou apenas um apenas... Com as melhores e as piores intenções também... Correr no tempo... Escapar de todas as ocasiões fugazes que nada adiantam para nossa pressão arterial... Duvido que há dúvidas... Os filósofos erraram... Quanto mais virtudes... Mais vícios... O silêncio berra de tempos em tempos no fundo da biblioteca pública... E a moreninha gostosa decidiu fazer sexo em cima da mesa com gemidos delirantes... Não há mais o que é... O que era chegou de mochila nas costas pronto para dominar o mundo... Nada de ideias e de ideais altruístas ao extremo... Eu erro sempre que puder... Mesmo que capriche no meu esforço para isso... Odeio conselhos... Os deboches são mais ternos às vezes... Mas olhe que eu só disse às vezes... Nem sei do que gosto mais... Se os gostos que senti uma vez e nunca mais sentirei... Ou os que nunca provei e me afligem todos os dias... Porque estamos cheios de um vazio enorme... Ninguém me falou de estatísticas... Ainda bem... Estou surdo até a próxima estação de caça... Joguem milho aos pombos... Joguem pétalas de rosa no que deu certo... Ou quase... Mil vezes já morri e mil vezes ainda morrerei... É tanta informação que a sala de jantar ficou vazia... Eu deliro... E me firo... E prefiro... Que eu escorregue pelas escadas... E dê muitos rasantes voos no meu pesadelo favorito... Sem orgasmos... Por favor... Apenas as penetrações valem a pena... Nada mais rude do que a rosa que acabou de morrer... E nada mais terno que a bomba que explodiu em frente às câmeras... A serpente da piscina cabe entre meus dedos... E a maior mágica que temos é o não... 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Faltam Andorinhas


Faltam andorinhas ou quaisquer outros vidros
No céu dos que não mais sonham...
Um dia, há muito tempo, eu acho pelo menos,
Haviam outros ares que o menino respirava.
E eram tão bons todos os dias, mesmo os solitários,
Em que achar formas de se divertir, já divertia...

Faltam estrelas ou quaisquer outros desenhos

No céu dos que não mais anoitecem...
Um dia, era muitos os de ócio, eu sentia pelo menos,
Ir ao parque de diversões à noite era tão bom.
Eu respirava o ar que vinha do mar com a avidez
Dos que sentem uma coisa estranha sem saber de onde...

Faltam doces ou quaisquer outro deleites

No céu dos que teimam em ficar por aqui...
Um dia, eu fui o primeiro da fila, eu acho pelo menos,
Quando nada sabia e isso era até muito bom.
E meus sonhos não possuíam alguma forma precisa
Como se eu fosse o maior dos pintores abstratos...

Faltam brinquedos ou quaisquer outras magias

No céu dos que ainda sentem medo...
Um dia, eu fui senhor de mim mesmo, eu acho pelo menos,
Os ursos de pelúcia também cantavam e falavam.
E mesmo os desenhos da televisão preta-e-branca
Eram o bom começo para muitas aventuras...

Faltam amores ou quaisquer motivos de viver

No céu dos que já perderam de uma vez seus olhos...
Um dia, eu te amei como ninguém amou, eu acho pelo menos,
Eu queria esconder um segredo que nunca consegui.
Eu te seguia passo por passo como um ladrão que faz barulho
E que nunca terá nenhum de seus pecados perdoado.

Faltam andorinhas, faltam andorinhas...

Livre


Voo livre
Salto livre
Todas as coisas que não tive
Os cigarros que não fumei
Os enigmas que não sei
Os amores que não amei

Voo livre

Salto livre
O que morreu no peito vive
Os países que não andei
Os resultados que adulterei
Os temores que não terei

Voo livre

Salto livre
Toda rua tem seu declive
As batalhas que não travei
O porto seguro que não cheguei
O trono de que não fui rei

Voo livre 

Salto livre
O fantasma que cada um convive
A pintura que não enxerguei
O sucesso que não farei
A tentativa que falhei

Voo livre

Salto livre...

Padrões Modernos, Moderno Padrão

Eu tenho fome de palmas, tenho fome de chamar atenção. Quero aplausos delirantes, quero uma brasa viva em minha mão. Eu quero visitar todo mundo, quero pegar o avião. Conhecer coisas e lugares, saber qual a sua extensão. Enquanto outros poetas voam, eu rastejo pelo chão. E se quase todos são imortais, isso é uma outra questão. Eu vivo e morro no dia-a-dia, por uma simples exaustão. Eu queria um grande amor, isso foi pura ilusão. Por querer muito amar, enfrentei um pelotão. Faça seu último pedido, está vindo a escuridão. O jantar já está pronto, é fato ser um anão. O gato já foi pro telhado, foi por pura diversão. Só temos ideias fixas, é por pura inanição. Eu quebro todas as regras, pela noite como um ladrão. Por evitar os meus dias, todos eles são de cão. Os corredores são labirintos, eu nunca fui bom cristão. Eu rezava rezas contrito, fazia minha oração. A casa era pequena, mas lá estava meu coração. E tantas coisas mais que impossíveis, eu agora sou um camaleão. Sem motivos pra sonhar, assim como todos vão. Podia ser diferente, uma chance entre um milhão. Morrem pessoas todos os dias, mas ninguém testemunha a execução. Vamos evitar a fadiga, o ridículo sem discrição. Todos temos planos secretos, mas nada vale um tostão. Batemos todos os recordes, de viver sem compreensão. E se vierem as festas de junho, me dê logo esse quentão. Preciso esquecer tudo isso, sou um deus sem religião. Meus olhos ficaram tortos, foi culpa do lampião. Minhas sinceras desculpas, não vai se repetir meu barão. Ela até me deu um beijo, mas foi apenas tesão.
Eu tenho em mim muitas almas, cada qual com sua inscrição. Quero mistérios intrigantes, acabou toda a minha razão. Eu não quero sair daqui, me deixem em contemplação. Desconhecer tudo que existe, meu rosto sem expressão. Enquanto muitos estão rindo, muitos também não estão. E todos os tiros são fatais, um à um é diversão. Eu leio as notícias do dia, mentiras de montão. Eu queria um grande amor, que não fosse só paixão. Faça o seu último pedido, sua última refeição. O esquema está montado, vamos enganar o bobão. O rato está bem escondido, é por pura precaução. Só temos idéias fugazes, por pura fixação. Eu infrinjo todas as leis, não existe marcação. Por me jogar frente aos carros, como o gato que foge do cão. Os labirintos sempre existiram, desde o tempo de Adão. Eu fazia os meus feitiços, já morri na Inquisição.  A casa era bonita, acabou sua estação. E tantas coisas mais que possíveis, eu dispenso explicação. Sem motivos pra respirar, o vício é a repetição. Poderia estar contente, uma chance na imensidão. Morrem pessoas todos os dias, é o carro na contramão. Vamos evitar a bobagem, só as roupas da estação. Temos nossos segredos, eles precisam de publicação. Cumprimos todas as metas, mas por pura vacilação. E se vierem as festas de fim de ano, cumpri a minha missão. Meus olhos ficaram negros, quase foi um sermão. Minhas sinceras desculpas, não farei mais isso não. Ela até me deu um beijo, mas foi apenas tesão...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quem Não Sabe de Mim Sou Eu


Quem não sabe de mim sou eu
Desde há muitos e muitos carnavais
Repito sempre as mesmas rimas
E continuo querendo e querendo mais

Eu desconheço por onde ando
Só sei contar as ondas que vêm no cais
E essa febre que me está queimando
Termina a alegria dos meus quintais

Quem sabe de mim não sou eu
O amor acabou sendo meu capataz
Ela não quer e acaba tendo toda razão
Eu no jogo joguei fora aquele meu ás

Eu esqueci como a gente vai e anda
Sem ao menos olhar pra vida e pra trás
E que algemas é que nos prendem
Sem mesmo estarmos em Alcatraz

Quem não sabe de mim sou eu

Visto minha fantasia duma cor lilás
Nem sei pra onde é que vou seguindo
Mas ainda estou correndo dos temporais

Eu fatalmente um dia irei embora

Mas a minha falta em nada mais faz
Nunca terei uma história que seja bela
Eu sumirei nestes meus tremendais

Quem não sabe de mim sou eu

Desde há muitos e muitos carnavais
Repito sempre as mesmas rimas
E continuo querendo e querendo mais...

Transtornos Metais


Foi apenas um acidente de percurso
Aquele abraço de um grande amigo urso
Simplesmente uma ideia que não veio
De tornarmos o bonito em algo feio
Foi um tombo ferindo tombo ralando
Dúvida cruel entre agora e até quando
Apenas mais alguns segundos perdidos
E lendas vindas dos bons tempos já idos
Foi uma confusão que tragou tempestade
E a ida sem volta de alguma cara-metade
Eu gritando mudo como se isso resolvesse
E tivesse mais alguma coisa que ainda cresse
Foi um cálculo errado que morava na cabeça
E o mau conselho daqueles de cresça e apareça
No meio faltava mais algo que apenas ar
Faltava qualquer bom motivo pra continuar
Foi apenas um bando de maribondos hostis
E bons sentimentos se transformando em vis
E mais ondas vinham por um vaivém impreciso
E era apenas um susto sem ter nenhum aviso
Foi apenas um plano que virou uma mancada
E algumas verdades que não sabemos de nada
E prometemos solenemente à não repetir a rima
E ficarmos sem tesão mesmo se pintar um clima
Foi apenas um acidente de percurso
Aquele abraço de um grande amigo urso...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Cantemos


Cantemos ainda que sem voz
Cantemos ainda que sem motivos
Aqui estamos, aqui estamos nós
Por um triz é que estamos vivos

Cantemos ainda que sem poder

Porque às vezes a voz nos falta
Cantemos até a alegria de morrer
Delirantes de uma febre bem alta

Cantemos ainda que pelos ares

Porque a praça está agora vazia
Cantemos apesar de todos pesares
Da nossa vida ser apenas vadia

Cantemos ainda por uma última vez

Cantemos ainda uma vez ainda mais
Sem nos preocuparmos com fim de mês
Querendo apenas nossos dias de paz...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Marina Não Foi Pro Mar

Marina não foi pro mar, não foi pro mar
Não foi pra nenhum lugar, nenhum lugar
Apenas ficou parada, como suspensa no ar

Haviam muitos lugares pra Marina poder ir

Lugares distantes ou ainda pertinho daqui
Alguns lugares tristes, outros pra se sorrir

Marina não foi pro mar, não foi pro mar

Não foi pra terra, nem tampouco foi pro ar
Ficou apenas presente neste meu pensar

Haviam muitos enganos pra esta nossa vida

Muitos planos pra fechar aquela tal ferida
Mas a nossa felicidade ficou assim perdida

Marina não foi pro mar, não foi Marina

Não foi pro mar, ficou ali na mesma esquina
Não teve nenhuma coisa boa, foi sua sina...

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Insaneana Brasileira Número 98 - O Tito

Decisões decisivas decididamente à decidir. 
Como se faz o mundo? De sonhos baratos e imbecilidade ambulante. A nova moda está na praça e em comerciais de meio tostão a dúzia. Temos aqui todos os programas necessários. Palavras contadas como moedinhas. E quem sabe daqui algum tempo relíquias de algum museu de nom sense...
Eis aqui o passaporte mágico.
Eu aperto botões que comem dedos e sorriem na minha cara. Compro o que nunca verei. E assisto coisas que nunca entendi. E a sinonímia é a palavra-chave para o bom desentendimento. As ovelhas e o abismo - combinação perfect. Apesar de que alguma cigarra ainda cantar cansada.
Novos currais não param de ser feitos.
O mundo acelerou seu giro para não me dar tempo mais nenhum. Quase-segredos nos fazem falantes todos os dias. Papo reto - juro falar somente a verdade desde que ela não seja a verdade e nada mais de verdade. Papo torto - eu farei tretas e memes de acordo com cada freguês. 
Cada rosto um desgosto. 
Todas as velhas lendas passeiam por ruas antigas e se lamentam de muito o que foi feito. Nada estava certo e falamos bem de quem errou. Nada houve de bom. Muito menos bondade e etcetera e tal. A estatística é na verdade a serpente que fez Eva degustar uma maçã comprada no mercadinho da esquina. São novos tempos de cada vez mais velhice.
Faça o que se fizer tudo se complica.
Os lados se igualaram desde o tempo em que não se media o tempo. E teorias tantas são tantas teorias que nem mesmo a mente pode mentalizar. Eu quero água e morreria afogado para poder bebê-la em extremo. Mas antes de tudo quero a sede que não tenho.
Como vai o nosso paciente?
Num emaranhado de fios que estão vindo de não sei quantos postem. Desculpem mas não sei falar perfeitamente como os que esquentaram os bancos das universidades. E nem os que enchem de louros as academias. Uma folha só no feijão já basta. E olha que eu juro que até queria um pouco mais.
A nova música é viral. 
E quanto mais ridícula é melhor. Para que não se entenda nada. É muito perigoso para a nossa saúde já abalada em filas e fotos para as redes sociais. Eu quero e não quero. Eu posso e não posso. Agora sei coisas que nem os deuses sabiam. Mas eles ainda continuam sorrindo do meu tamanho econômico.
Eu tenho um "tito" e quem vai ser meu candidato?...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Quase Nada

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Quase nada eu te dei
Quase nada tu me deste
Não sei o que guardarei
Se sobrou o que preste...

Quase nada eu colhi

Quase nada me sobrou
Sei que ando por aí
E ninguém se importou...

Quase nada agora tenho

Quase nada tem esperança
Nem sei mais donde venho
Não restou nem lembrança...

Quase nada eu herdei

Quase nada tive então
E de tudo o que esperei
Só me sobrou a canção...

Quase nada... Quase nada...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Insaneana Brasileira Número 97 -Terríveis Faces

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Só vejo faces. Os corpos sumiram tem muito tempo. A multidão talvez tenha até pés e eu não os vejo. Faces variadas. De todos os tipos. Faces novas. Faces velhas. Faces novas envelhecidas. Faces velhas com quase inocência nova. E um som surdo e ensurdecedor nos mata aos poucos. E um temporal que não veio ainda nos ameaça...
Só vejo faces. O desejo domina a nossa escassa saliva. E rimos sem motivo. São alguns dias e o mundo em torno de nós morreu. É o réquiem da rotina que se esfacela num trágico acidente. Quando muito é nada. Quando nada é muito. E há desgostos de todos os tipos em nossos cadernos de anotações...
Só vejo faces. E algo que lembra uma imaginação perdida em coisas bobas. Só vejo copos esvaziados e pensamentos vadios. A porta-estandarte não morreu para decepção nossa. Não há nenhum romantismo. E os versos poucos que existem são diabólicos arranjos de passados dias que apenas vêm se vingar de seus carrascos...
Só vejo faces. E uma alegria que me enfurece faz meus ossos doerem. E meus músculos desobedecerem e tudo em torno é a poeira de uma tempestade no deserto que não presenciei. Não há imaginação porque insólito e inédito são apenas pratos do dia. Viva o absurdo! Definitivamente as porcelanas brancas com desenhos azuis acabaram se quebrando...
Só vejo faces. E como canibal ultramoderno que sou desejo devorá-las. Eu sou o mal e nunca neguei tal coisa. Eu sou o caos que remexe folhas mortas no dia deixado pra trás. Eu sou a vida no seu último suspiro. Eu sou cada chance perdida. A pureza bruta e cruel que não conhece signos e símbolos. O amor que mata seu próprio criador. A criatura se vingando da não pedida existência e sofrimento...
Só vejo faces. E nada se afasta nem um til disso. E todos me reconhecem mesmo estando sob disfarce. E todos riem de mim sem o saber. E as altas montanhas caem apenas em meu pensamento. O cara há muito morreu e eu fiz dezenas de libações enigmáticas sobre seu esquife. E ele nunca saberá o gosto da maldade que fez...
Só vejo faces. E belas tranças de material sintético. E impensadas versões de operetas baratas. E o desconhecimento de palavras mais rebuscadas que podem ter um certo charme. O faraó e sua rainha passeiam placidamente pelo calçadão entre os mortais. Só o faraó tem alma. Mas quem precisa dela? ...
Só vejo faces. E nem sei quando foi ontem. E nem sei quando será amanhã. Só vejo elefantes flutuarem pelo ar aceso. E restrições criadas por simples mortais. O que é meu é do povo! Mas nada possuo de alheio ganho. Nem meus versos aparecem com medo de tal loucura. E nem meu palhaço toma tento de pintar a cara...
Só vejo faces. E um mel estranho sem abelhas vai brilhando em esquecidas colmeias. Há apenas um zumbido parecido com qualquer coisa. E o álcool sobe à cabeça como um convidado ansiosamente esperado que contará histórias engraçadas. Mil vezes mil vezes mil vezes riremos mesmo sem entender. Que os jornais ganhem seus vinténs e que quem já foi dane-se para lá. Lamentos foram feitos para os cartórios...


Só vejo faces. E prevejo as novas cruzes até a próxima redenção...

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Tudo Que Deu Certo

Tudo aquilo que afinal deu certo
Talvez tenha dado certo por estar errado
O impossível pode estar bem perto
E a continuação pode ser o caso encerrado

Ouço vozes mudas agora cantando
Uma das mais silenciosas de todas sinfonias
O movimento do sem-parar agora parando
E as noites mais escuras em todos os dias

Tudo aquilo que afinal deu certo
Pode ser o limite entre a loucura e a razão
No meio dos homens há um grande deserto
E as flores já nos chegaram fora da estação

Escuto as mentiras que são mais sinceras
Faço discursos inflamados pruma praça vazia
Vamos dar muitos legumes e frutas às feras
Acaba de ser canonizada mais aquela vadia

Tudo aquilo que afinal deu certo
É apenas o tênue limite entre certo e errado
O impossível sempre nos chega bem perto
E aquele nosso futuro é uma coisa do passado...

Insaneana Brasileira Número 96 - Estreiteio

Caminhos e caminhos pra nós andarmos. E mais nada. Fique sastisfeito com isso. Palavras invertidas e situações avexatórias. Mais nadica. Nem um pio sá moço. Nem dois dedos de prosa na porta da tenda. Cada qual com seu cada um. E versos mal folgados que nem roupa dada. O difunto era maiorzinho. E nos conformes somos humildes. Como quem perde todo dia e ainda acha que ganhou...
Rezas feitas em segredo dum murmúrio que foi apenas inventado. Que  são Bento lá do céu de um espirro e por um acauso olhe pro chão. Nada tem tino. Nada tem galhardeio. Tudo vem pela metade. Tudo vem pelo meio. Meias metades. Meias verdades. E faróis acesos sem percisão. Ah, cara! Por que você fez esta porra?
Por que e por que e por que?
Um vazio que dói num peito onde não deveria doer. Porque lá dentro nem coração tem mais. As batidas é o . mal-acostumado de sair por aí andando. Ai ai ai. Já começou a merda da cantilena. Olha que eu reclamo com o bispo! Olha queu falo diretinho com o dono do Céu! Copio tudo e mais um pouco. Na sordidez barata de dez contos.
Dez contos ou dez moedinhas das menorzinhas. Daqueles que muleque dispensa pra ir na bala. Ajoelha e se lambuza de besteiras bem coloridas com uma cor só. Era o discurso real do filósofo. Eu filosofo filosofia filosoficamente. E tenho medo de rancar esse dente.
Aliás tenho emedo de tudim. Medo de moto cair. Medo de carro bater. Medo de ganhar as contas. Medo de periquito brabo. Medo de sonho avesso. Medo de conta atrasada. Medo até de medo. E de roupa manchada.
Quatro dias por ano pra enlouquecer. Um pouco mais que o comum. O velho na fila sambando o que o camelô botou bem alto. Música bem antiga num tom moderninho. Se é que se possa dizer. Sucesso hoje e brega aminhã. Eu faço o que eu quero. Quatro dias que são cinco e são seis e são sei lá quantos e são. Ai meu São Miguel Paulista eu nunca fui lá. E na verdade nem quero ir...
Muita maldade num copito só. Veneninho dos bons. E assim mesmo. Muita maldade num copito só. Como nos filmes e também nos desenhos. Que eu dê muita sorte. Em fazer coisas sérias que todos possam rir. Rir sem motivo tal qual desespero. Rir entendendo a história que não existe. Às pampas e também à beça. Como sempre. Não escolhemos as letras das palavras. E nem o resto do que poderia ser.
Faço alarde e entremeios que até bonitos quase ficam. É o norte e o sul num jeito de ver. A mesmice dos trios elétricos à gás ou à lenha sim. A garrafa cheia de café na cozinha e o calor rachando até os fantasmas. Nom sense. Nom dance. Nom pense.
Faço alarde e entejuntos quem me dera. Quem me dera sombras na água brilhando e sem pensar estou pensando. Faça isso. Faça aquilo. Não faça acolá. Não cola. Sem razão com razão de tentar que o bando voe sem asas ou sem pressa. Que venha a zanga. E o sangue escorrendo do nonada que se coçou por engano. É sol e não é. Muitas promessas feitas pra não serem cumpridas. Promessas não-cumpridas compridas.
Eu não sou um demônio. Sou dois de uma vez e quase três. Há em mim todas as esperanças por nenhuma. Amadurecendo que nem fruta no mato que não tem nem passarim pra comer. Nem pedra de moleque e nem bodoque de índio. Eu sou a conta quase certa que se fez por si só. Alma sozinha. Calma mesquinha. Cada gorjeio mais lindo que o outro. Sem nada. Só só.
Puta merda que susto! Um susto passado rentinho mais que a Brasil no Caju. Do que a Piaí em qualquer hora. E no mais samba sem suor e sem cerveja. Caetano me perdoe pela heresia. Eu escrevi até hoje como o mártir que nem sabe o que é seu martírio. Rimas com o lírio e o delírio. Não se faz mais. Ame ou mame-o. Quase isso. Ou quase aquilo em quilos bem pesados. Tudo solo. Tudo dolo. Tudo imolo. Tudo bolo.
Caminhos e caminhos pra nós andarmos. E mais nada...

Garota de Aluguel

Vem sentar no meu colo
Não tenha vergonha de mim
Eu posso ser um pouco mau
Mas não sou tão mau assim...

Vem minha putinha safada
A nossa vida não vale nada...

Vem beijar minha boca
Não tenha nem nojo de mim
Eu posso ser mais um louco
Mas ainda tenho um jardim...

Vem minha putinha safada
Como uma louca, descabelada...

Vem ser minha novamente
Não tenha nenhum medo de mim
Vou apenas percorrer sua pele
Linda pele tim-tim por tim-tim...


Vem minha putinha safada
Como toda a pressa, acelerada...

Vem rir de toda a minha impotência
Das vezes que falho e que faço assim
Mais que uma foda má e maldada
Como quem não está nem afim...

Vem minha putinha safada
Menina com a vida toda errada...

Vem sentar no meu colo
Não tenha vergonha de mim
Vem inspirar meus poemas
Antes que chegue o meu fim...

Vem minha putinha safada
Sem a inspiração não sou nada...

(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).


Simplicidade

Resultado de imagem para prateleiras cheias de brinquedos
É tudo um brinquedo
Enigmas são fáceis de entender
Acabou-se o nosso medo
Não temos mais o que temer

As coisas estão claras
Até o invisível dá pra ver
E até as joias mais raras
São tão fáceis de obter

É tudo uma brincadeira
Não temos mais o que temer
Felicidade à nossa maneira

É tudo que podemos ter...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Alegria Segundo C.A.


É o almoço na sala
É a reunião
Um santo remédio
Pra solidão

É a pipa no alto é o jogo de bola

É o beijo no rosto é o selinho
A surpresa de assalto é a escola
Uma rosa que é dada sem espinho

São as férias chegando

É o verão
O que melhor guardo
No coração

É a fogueira acesa por acaso

É o urso de pelúcia abraçado
O perdão dado pelo atraso
Alguém dormindo ao teu lado

São os primos brincando

É o São-João
É aquela roda-gigante
Na imensidão

É uma piada contada escondida

O cigarro aceso oculto no banheiro
É o resultado da nossa corrida
Quando a gente chegou primeiro

São os fogos subindo pro céu

Como é tudo lindo
E no seu tempo mais certo
As flores se abrindo

Alegria! Alegria! O circo chegou..

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Alguns Trios


antes que eu faça aquela bobagem
por favor mintam sinceramente
e me digam que isso foi uma miragem

dormimos muito mal todos os sonos

mas não temos nenhuma culpa
a verdadeira culpa foi de seus donos

velhas paixões está tudo agora passado

mas não podemos reclamar
é o que temos de melhor pelo mercado

não há amor! é um velho assim o fala

deve ter razão ou certeza
o tempo até ao nosso coração ele cala

os relógios aos poucos enlouqueceram

loucos para sempre serão
aqueles tolos que na história creram

tudo é questão de jeito e questão de gosto

nem todas as flores são de setembro
existem algumas delas que nascem em agosto

os fantasmas existem! eu os vi ainda ontem

eram fantasmas do meus sonhos
que um dia qualquer atravessaram a ponte

não podemos cantar nem gritar nem dançar
só podemos olhar para a vida
é o que podemos quando muito apenas olhar

dormem todas as nossas mais belas recordações

dorme tudo tão mais tranquilamente
e as andorinhas acabam vindo com seus verões

escuto algumas músicas inúmeras vezes sem enjoo

porque em muitas das que gosto
acabo levantando bem mais alto aquele meu voo

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Tudo Que Não Deu Certo


Tudo que não deu certo acabou dando
E às vezes eu me pego rindo ou chorando
Como se as duas coisas fossem uma só
E o que sobrou da estrada foi nada foi pó
E é que eu ainda posso ir e cair na folia
Se não for quatro que seja apenas um dia
Reclamo de nada boca calada bom menino
Faço rimas tão raras tão claras meu destino
Mais um dia acabou outro chegou pra morrer
Não procuro eterna caverna pra me esconder
Estou aqui e ainda em todos os outros lugares
Nos bares nos mares em ares apesar dos pesares
Tudo que não deu certo agora não importa
Vou abrir as janelas e talvez feche a porta
Como se a minha casa fosse o meu próprio ser
Veja só aqui estamos sós apenas eu e você
Você que me acompanha dentro da escuridão
Que está tão longe mas tão perto do coração
Você que me viu andar por aí só e desesperado
Que me escutou lamentar ter alguém do lado
Eram vários planos e nenhum deles deu certo
Eram humanos no meio deste meu deserto
Estou aqui e ainda em todos os outros lugares
Lamentando esperando poder respirar outros ares...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...