Teu nome já diz o que és. A rota que o dia toma mesmo quando nos debatemos, nos esperneamos e não queremos. E quando eu acordava com vãs esperanças, mesmo assim me vencias.
Cedo, com o sol ainda na preguiça de chegar ao seu lugar, acordava e sentia que um dia aquilo passaria, mas eu mesmo não sabia se queria partir ou ficar.
E as mesmas coisas eram feitas. E eram repetidas passo a passo, mas nunca eram as mesmas. Hoje, passado tanto tempo, o eu menino que habita em mim tem saudades daquilo tudo, até do que me fez sofrer. Ah! Água do mesmo poço que ainda existe, tantas vezes refletiste meus olhos tortos e riste nas mesmas ondas das pedrinhas que lá joguei.
Não penses que foi por acaso, velhos corredores, que meus pés passaram e ainda passam por lá, fazer parte da mesma ainda eternidade que choro exatamente porque não passa.
No carro preto e depois no branco, as mesmas ruas sem calçamento seguiam seus passos e me viam nos quadriculados sem jeito ao encontro do medo. Medo de não ser o melhor, medo de uma hora pra outra rir quando devia chorar. Medo de ter medo enfim.
Enfileiradas as mesmas carteiras, antigas e insondáveis, de onde a madeira talvez se pudesse, falasse de liberdades insanas de ventos e chãos que os livros em preto-e-branco mal careteavam.
Muitos rostos já se passaram. Alguns até hoje viraram aqueles que dormem um sono profundo. Mas na verdade não estão lá e nunca estarão. Estarão aqui, comigo, um a um, mesmo que não queiram e serão eternos como eu sou, do mesmo jeito, da mesma forma sem que nenhum mal e nenhum tempo os aflija.
Ah, meu amigo! O menino que te escreve estas linhas não te deu o beijo que queria nas róseas faces e nem dizer o tanto que te achava bonito. Não estranhes, não era a maldade que veio depois que te beijaria, era o amigo que chorava depois da tua partida. Que nomes tens ou pelo menos tinhas? Guardo comigo como aquelas ruas de chuva e mais do que ninguém poderia eu sabê-lo. Não precisas sorrir de novo (mesmo que assim eu o quizesse) porque mais que um guardião de sei lá que lendas guardo eu num pouco da minha eternidade.
Ah, minha amada! Onde estás? Presa em alguma mesmice? Não sei. Só sei que continuas bela aqui, bela como foi um dia a minha paixão, fogueira e brisa ao mesmo tempo, pedaços de sono que não dormi. Se um dia, o orgulho da mulher que te tomou conta quizer rir de alguma coisa, diga que ria de mim, diga que ria do menino mais feio e desajeitado de todos, mas que foi o teu mais fiel amante.
Ah, meus queridos! Onde estão? A colisão fatídica do auto não os matou, mesmo dilacerando os sonhos que escorriam em tuas mãos, não os pegar. Porque o lugar que lhes é maior que um segundo e enquanto houver nuvens nos céus e cantorias nas bocas, aí estarão as suas presenças. A única coisa que não disse é a que queria realmente falar – a bondade que sempre tivestes só um dia falhou e nesse dia foi com o menino e isso sempre fez o menino chorar. Não que fosse possível evitar os choros, mas esses na verdade o menino nunca quiz.
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