quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Não Quero Dormir


Não quero dormir – pensou o menino. Esperarei com os olhos sondando a noite a chegada do dia. No de ontem eu chorei, provavelmente chorarei no próximo, mas mesmo assim quero pensar que não. É engraçado como as coisas são, chamam de sonho aquilo que vemos no sono, mas se existem sonhos bons e sonhos maus, na verdade não podem ser sonhos. São só coisas que vemos quando os olhos fecham e nada mais.
Os sonhos são diferentes. São aqueles que mandam no dia, fazem que enxerguemos sem os olhos e falemos sem palavra alguma. Como o beijo da menina mais bonita da sala, o brinquedo novo que dificilmente ganharemos, a briga que venceremos ou os países que queremos pisar.
A menina pode não ser tão bonita, o brinquedo pode não ser tal legal, a terra nova pode não ter tal encanto. Mas é aquilo que queremos e isso que dá beleza e distingue os sonhos. Nos sonhos são o que queremos.
Por isso não quero dormir – pensou de novo. Quero pensar na luzinha do quadro do santo que tem na sala. Que vive aceso o tempo todo, mas que só na noite dá luz. Eu o vejo com carinho, nunca o toquei, mas sempre esteve lá. Um dia, de repente vão tirá-lo, talvez quem o invoque perca sua fala, talvez as paredes caiam, o teto desmorone, mas sempre estará lá.
As pálpebras pesam, pesam e pesam, a boca abre, abre e abre. Lá fora o bacurau que me assustou quando fui lá fora ainda canta o seu amanhã-eu-vou, mas eu sei que não poderá entrar aqui.  
E como sempre, acabei dormindo...

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