sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Nasceu


Eu sou o filho do ciúme, da desavença, do desatino, não há versos que eu possa fazer só de alegria, porque se fizesse não era só um triste, estaria mentindo.
Fugir pra nascer – eis a questão. Foi tanta lágrima sem choro e preces aos deuses pra que corresse tudo bem.
Nasceu. De olhos azuis que o tempo roubou. De jeito tranqüilo que se perdeu em outras eras. Um brinde a isso talvez. Meu filho é perfeito? Perfeito é som do vidro se quebrando em mil partes e o líquido cor de sangue em sagrada libação.
Perfeita é a chama do lampião que entortou teus olhos e que velou tua sorte. Perfeito é o mundo aos teus olhos que nada viam além dos sonhos e isso bastava. O que tiveste pela frente nada foi do que a confirmação de que os homens nascem apenas para a morte.
Nasceu o menino. Enfim a sobrevivência de alguns sonhos. Enfim a razão de alegria que se transformou em crueldade. Façam-no chorar, mostrem-lhe a injustiça antes do tempo em que a maldade devia chegar. Diga-lhe que os seus sonhos são como ele é – nada. E de nada façam a sua existência.

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