quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Toda Forma


Na primitiva companhia de si mesmo. Sim. São pedrinhas perigosamente jogadas num poço abandonado. o choro após a corrida.
Nunca, nada, nenhuma. Não tive culpa alguma e por isso mesmo mais fui condenado. Condenado porque o chão estava sob meus pés.
Não há mistério algum. A não ser nas coisas mais óbvias. Elementar meu caro Watson. As bolas de gude nada mais são que paraísos vitrificados em suas mãos nuas. Quem saberá mais que isso?
Cores e formas juntas numa sagrada alquimia. Está lá, apenas veja. Está lá, apenas ouça. Está lá, apenas seja e nada mais pergunta. Porque perguntas foram feitas para não serem respondidas, assim como os doces para apenas serem olhados.
São passos de escada que não quero subir. Um dia escorreguei de uma delas. Nunca mais quero subi-las. Por isso em meus sonhos, delas escorrego e rio e rio e ainda procuro mais. Assim como neles vôo sem nunca ter tirado os pés do chão. Porque as alturas que gosto e quero nunca saíram de dentro do meu peito.
Atrás da bola – nunca corri. Cansa-me o espaço que não seja o infinito. Mas o menino corria o tempo todo atrás dele mesmo. E em palavras como essa nunca mais mostrou como ser um triste – só assim viveu.
Viveu em ternas e falsas fantasias. Em mais do que conservadas mentiras que lhe feriram menos.
Não se iluda meu amigo. Centenas de palavras poderão ser ditas, mas nenhuma delas de nada valerá como as que não puderam. As que não puderam são as únicas que valem bem mais.
Não se iluda meu amigo. A minha loucura e a sua não são idênticas, são as mesmas, só que vivem em peitos diferentes. São a mesma água percorrendo rios em outras terras. Os nossos desvarios têm o mesmo gosto, são só outras bocas que os comem. Os nossos passos cambaleiam embriagados do mesmo jeito, são apenas outros os licores que bebemos.
Como gosto de poemas. São dos poucos que me trazem tristezas sem me ferir. Como gosto de canções. São as únicas que me lembram sem me desesperar. Nada que foi voltará, mas nunca partiram.
Aquele que apontou seu punhal em minha direção, não peça perdão. Nunca é que o nunca perdoarei, mas porque não se precisa pedir o que já se tem. A morte não me traz mais medo do que ir em direção ao fim da alegria...

O Que Há Entre as Nuvens?

Imagem relacionada
Em minhas mãos nada teve. Entre meus dedos tal como sonhos escorriam pedidos e sonos. Quem é capaz de me julgar? Não foi como em livros coloridos que eu queria ter que a vida passou. Nem como os decalques que nem sempre colocava em meu caderno.
Olhar para o alto mesmo quando o sol queima ainda é bom. Menos para os que esperam a noite em desatino.
Existem sonhos e sonhos. Alguns são tão pequenos como o mundo e outros tão grandes que implodem o peito. Maldades podem ser feitas camufladas em belos tons e justificáveis aos olhos de quem não chora.
Nunca mais, nunca mais façam assim. Deixem que cada caminho siga seus espinhos. Deixem que cada cor cumpra o seu papel. Não encontrem um mau lugar no coração de quem chora.
Mais que quaisquer guerras, há maldade e tristeza em pequenos gestos que se escondem, mas nunca morrem.
Foi assim:
O menino olhou a antiga tela de televisão e quiz um sorvete. Pediu sabendo que não ia ser atendido, mas foi. Nossa! Será que os sonhos às vezes acontecem? Não, meu querido! Sonhos quando se realizam são cruéis demais para que se acabem.
- Obrigado, papai!
- De nada, põe ali na geladeira.
Como seria bom porque se quiz...
- Posso abrir ou o senhor abre?
- Só abre quando eu mandar. Eu que comprei... Quer abrir? Que abra o seu...
E assim foi. A tortura de ver e não poder. Um simples sorvete, desses de pote de metal e estampa colorida. Um dia, dois, um mês, um ano, nem sei mais quanto. Ferrugem e gelo.
Um belo dia, a senhora visita foi lá em casa, era noite, após a janta.
- O que é isto?
- Sorvete...
- Se não abrir, estraga.
- Então pode abrir, vamos comer...
Mas estava estragado, não dava mais. Aquilo ali foi mais que um sorvete, foram dias e dias de tortura para olhos pequenos numa alma torturada. Mais que os gritos que vinham da masmorra do castelo, assim gritou meu silêncio.
Por que fizeste isto? Eu era o menino que não te escolheu com tuas loucuras, mas que no fundo te amava. Era o menino que compreendia toda a tua tristeza que não se importava com a minha. Era o menino que trouxeste ao mundo para mostrar que nada havia de bom. Era apenas um sorvete, custou tão pouco, não precisava ser alimento para sua maldade, mas assim o foi.
Passados tempos e ruas, quando penso naqueles dias que a mente tenta esquecer, não consigo. Nunca mais comi sorvete de coco. Talvez o analista tente explicar, mas com certeza é a homenagem do menino que nunca parou de chorar...

Com Bons Olhos

Resultado de imagem para menino de óculos
Com bons olhos vejam a história. Não o julguem – apenas olhem. Cada passo, enfadonho ou triste, mas digno de pena e atenção. Bem cedo veio o vidro e depois o inútil corte. Por quê? Porque a luz que o guiava foi a sua perdição, nos cantos escuros do quarto nada foi e tudo ainda.
Não entendeu o que eu disse? Nada posso mais lhe falar do que a linguagem surda do coração. Qual Quixote há muito perdido em sua lucidez, cantemos cada triste figura passada em antigos desenhos.
Eu quiz e quiz cada vez mais ser alguma coisa fora de mim mesmo e quanto mais resisti fui eu mesmo e cada vez mais.
Feio fiquei quanto mais queria a beleza. Mau quando queria cantar para os céus. Triste no meio da festa. Sem amores ontem, hoje e sempre. Não sei quantas dores senti, mas que as tive isso sim, tão certo como uma conta em exagero.
Minha avó ia morrer. Mas o que era a morte fora do que eu sentia? Pois bem, façam-lhe por menos. Se o menos pudesse ser feito. Mas nós fugimos do berço e invadindo a sala de aula, recebemos a nós mesmos nossa única e insana lição de piano. Fique com o lado direito que eu fico com o outro lado.
Por que choram? Olhem, ela não morreu, apenas dorme. O sono que muitos dormem e ainda não acordaram. Quando morrer, apenas dormirei, e cada eternidade na verdade é tempo algum.
Se até aqui nada entendeu, repetes os muitos que vi...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Pedaço de Mim Mesmo

Imagem relacionada
E eis que tão triste
Sou um pedaço de mim mesmo
Aquele que não mais existe
Um tiro que foi a esmo
E ainda que ainda teime
Na teimosia de uma espera
E o coração bata e o peite queime
Formou-se apenas a fera
A fera que te espreita
A fera que vaga entre os vivos
Que fará um crime sem suspeita
Que te dará todos os motivos
De ser o menos dos menos
De chorar mais do que ela chora
E verás os gestos pequenos
Que se viram e vão embora
Pois nesse dia escuta bem
O meu silêncio doerá mais
E a mágoa que por aí vem
Não te deixará em paz
Eis que tão triste
Sou um pedaço de mim mesmo
E se alegria ainda existe
Devo atirá-la a esmo
E o que ainda gosta
Do pouco que ainda sou
Há de virar as costas
Por saber quem me matou
Cuida de se afastar de mim
Protege-te da minha fera
Por mais que chegue o fim
Te aguardo em outra esfera
Te aguardo em outros abismos
Tem aguardo no nosso inferno
E te darei também cinismo
Do jeito mais doce e terno
Morte! Onde estás?
Fim! Meu amigo ainda não veio...
Olha o espelho e verás
Como és mesquinho e feio...
Eis que tão triste
Sou um pedaço de mim mesmo...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Nasceu


Eu sou o filho do ciúme, da desavença, do desatino, não há versos que eu possa fazer só de alegria, porque se fizesse não era só um triste, estaria mentindo.
Fugir pra nascer – eis a questão. Foi tanta lágrima sem choro e preces aos deuses pra que corresse tudo bem.
Nasceu. De olhos azuis que o tempo roubou. De jeito tranqüilo que se perdeu em outras eras. Um brinde a isso talvez. Meu filho é perfeito? Perfeito é som do vidro se quebrando em mil partes e o líquido cor de sangue em sagrada libação.
Perfeita é a chama do lampião que entortou teus olhos e que velou tua sorte. Perfeito é o mundo aos teus olhos que nada viam além dos sonhos e isso bastava. O que tiveste pela frente nada foi do que a confirmação de que os homens nascem apenas para a morte.
Nasceu o menino. Enfim a sobrevivência de alguns sonhos. Enfim a razão de alegria que se transformou em crueldade. Façam-no chorar, mostrem-lhe a injustiça antes do tempo em que a maldade devia chegar. Diga-lhe que os seus sonhos são como ele é – nada. E de nada façam a sua existência.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Rotina

Resultado de imagem para menino da era vitoriana
Teu nome já diz o que és. A rota que o dia toma mesmo quando nos debatemos, nos esperneamos e não queremos. E quando eu acordava com vãs esperanças, mesmo assim me vencias.
Cedo, com o sol ainda na preguiça de chegar ao seu lugar, acordava e sentia que um dia aquilo passaria, mas eu mesmo não sabia se queria partir ou ficar.
E as mesmas coisas eram feitas. E eram repetidas passo a passo, mas nunca eram as mesmas. Hoje, passado tanto tempo, o eu menino que habita em mim tem saudades daquilo tudo, até do que me fez sofrer. Ah! Água do mesmo poço que ainda existe, tantas vezes refletiste meus olhos tortos e riste nas mesmas ondas das pedrinhas que lá joguei.
Não penses que foi por acaso, velhos corredores, que meus pés passaram e ainda passam por lá, fazer parte da mesma ainda eternidade que choro exatamente porque não passa.
No carro preto e depois no branco, as mesmas ruas sem calçamento seguiam seus passos e me viam nos quadriculados sem jeito ao encontro do medo. Medo de não ser o melhor, medo de uma hora pra outra rir quando devia chorar. Medo de ter medo enfim.
Enfileiradas as mesmas carteiras, antigas e insondáveis, de onde a madeira talvez se pudesse, falasse de liberdades insanas de ventos e chãos que os livros em preto-e-branco mal careteavam.
Muitos rostos já se passaram. Alguns até hoje viraram aqueles que dormem um sono profundo. Mas na verdade não estão lá e nunca estarão. Estarão aqui, comigo, um a um, mesmo que não queiram e serão eternos como eu sou, do mesmo jeito, da mesma forma sem que nenhum mal e nenhum tempo os aflija.
Ah, meu amigo! O menino que te escreve estas linhas não te deu o beijo que queria nas róseas faces e nem dizer o tanto que te achava bonito. Não estranhes, não era a maldade que veio depois que te beijaria, era o amigo que chorava depois da tua partida. Que nomes tens ou pelo menos tinhas? Guardo comigo como aquelas ruas de chuva e mais do que ninguém poderia eu sabê-lo. Não precisas sorrir de novo (mesmo que assim eu o quizesse) porque mais que um guardião de sei lá que lendas guardo eu num pouco da minha eternidade.
Ah, minha amada! Onde estás? Presa em alguma mesmice? Não sei. Só sei que continuas bela aqui, bela como foi um dia a minha paixão, fogueira e brisa ao mesmo tempo, pedaços de sono que não dormi. Se um dia, o orgulho da mulher que te tomou conta quizer rir de alguma coisa, diga que ria de mim, diga que ria do menino mais feio e desajeitado de todos, mas que foi o teu mais fiel amante.
Ah, meus queridos! Onde estão? A colisão fatídica do auto não os matou, mesmo dilacerando os sonhos que escorriam em tuas mãos, não os pegar. Porque o lugar que lhes é maior que um segundo e enquanto houver nuvens nos céus e cantorias nas bocas, aí estarão as suas presenças. A única coisa que não disse é a que queria realmente falar – a bondade que sempre tivestes só um dia falhou e nesse dia foi com o menino e isso sempre fez o menino chorar. Não que fosse possível evitar os choros, mas esses na verdade o menino nunca quiz.

Não Quero Dormir


Não quero dormir – pensou o menino. Esperarei com os olhos sondando a noite a chegada do dia. No de ontem eu chorei, provavelmente chorarei no próximo, mas mesmo assim quero pensar que não. É engraçado como as coisas são, chamam de sonho aquilo que vemos no sono, mas se existem sonhos bons e sonhos maus, na verdade não podem ser sonhos. São só coisas que vemos quando os olhos fecham e nada mais.
Os sonhos são diferentes. São aqueles que mandam no dia, fazem que enxerguemos sem os olhos e falemos sem palavra alguma. Como o beijo da menina mais bonita da sala, o brinquedo novo que dificilmente ganharemos, a briga que venceremos ou os países que queremos pisar.
A menina pode não ser tão bonita, o brinquedo pode não ser tal legal, a terra nova pode não ter tal encanto. Mas é aquilo que queremos e isso que dá beleza e distingue os sonhos. Nos sonhos são o que queremos.
Por isso não quero dormir – pensou de novo. Quero pensar na luzinha do quadro do santo que tem na sala. Que vive aceso o tempo todo, mas que só na noite dá luz. Eu o vejo com carinho, nunca o toquei, mas sempre esteve lá. Um dia, de repente vão tirá-lo, talvez quem o invoque perca sua fala, talvez as paredes caiam, o teto desmorone, mas sempre estará lá.
As pálpebras pesam, pesam e pesam, a boca abre, abre e abre. Lá fora o bacurau que me assustou quando fui lá fora ainda canta o seu amanhã-eu-vou, mas eu sei que não poderá entrar aqui.  
E como sempre, acabei dormindo...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Circus Brazilis


Falsas baianas
Jogam búzios na calçada
Falsas teorias
Que nos levam à nada

Minha terra tem palmeiras

Já mataram o sabiá
Tentamos de qualquer maneira
Ninguém poderá escapar
Você senta na mesa e come
Consome qualquer bobagem
Dá suas lágrimas por um nome
Nisto faz a sua viagem!

Queridos meninos

Jogando bola na praça
Queridas lágrimas
Que caem pela vidraça

Minha terra tem mais vida

Nossa vida tem mais dores
Como é triste quem não pode
Quem não tem TV a cores
Nós vendemos o que temos
Não sabemos o que mais
Todo dia agradecemos
Por andar sempre pra trás!

Belos corpos

Que deitam comigo
Belas ruínas
Que não dão abrigo

Ao sonhar sózinho à noite

Mais prazer encontro lá
Sou mais um cara-pintada
Sem dinheiro pra gastar
Você vê cada mentira
Você vê cada furada
Mas talvez você prefira
Esta terra encantada!

Qualquer um

Vai pro congresso
Qualquer um
Faz seu sucesso

Minha terra tem palmeiras

Já mataram o sabiá
Tentamos de qualquer maneira
Ninguém poderá escapar
Você senta na mesa e come
Consome qualquer bobagem
Dá suas lágrimas por um nome
Nisto faz a sua miragem!!!

Sinais de Fumaça


compre figas faça fugas
meça o tempo com a régua
passe à ferro suas rugas
nesta batalha sem trégua
compre discos faça riscos
mesmo se não valer a pena
existem sinais característicos
em nossa alma pequena
compre metas faça setas
mesmo em direção ao nada
nestas tendências secretas
forma-se a nossa estrada
compre vento faça tento
coma as flores de veludo
aonde irá o lamento
se o telefone está mudo
compre celas faça telas
mostrando a noite dos dias
nos dias de nossas mazelas
poderão haver alegrias
compre tendas faça lendas
com suas histórias de araque
ainda temos várias prendas
na cartola do mandrake
compre festas faça frestas
onde qualquer coisa passa
aonde ardem as florestas
estão os sinais de fumaça
compre fugas faça figas
peça lento com a mente
traçe a ferro suas ligas
neste mundo tão doente
compre riscos faça discos
se isto vale um poema
existem rituais cabalísticos
que ainda requerem tema
compre setas faça retas
mesmo na direção errada
nessas tendências retas
como uma curva fechada
compre tento faça vento
como as cores de tudo
se formará o elemento
discurso de um surdo mudo
compre telas faça celas
mostrando o sol lá fora
num entra e sai das janelas
sem esperar sua hora
compre lendas faça tendas
ouça o som do atabaque
ainda temos várias vendas
que nos livram do ataque
compre frestas faça festas
onde se engana a massa
aonde ardem as testas
estão os sinais de fumaça!!!

Medidas Extremas

Resultado de imagem para protesto
A revolução de nossos olhos
O nosso olhar revolução
Veremos o que não vimos
Aprenderemos dizer não!
A moda é foda!
O gesto é indigesto!


A rebeldia de nossos ouvidos
Os nossos ouvidos rebeldia
Exigimos o que nos pertence
Devolvam a luz do dia!
O povo é novo!
A história é inglória!



O motim da nossa boca
A nossa boca motim
Clamando à todos os deuses
Antes que chegue o fim!
O pranto é canto!
A pele é dele!


O levante de nossas mãos
As nossas mãos levante
Querendo o fim das mentiras
Que chegam cada instante!
A cura é pura!
A paz é mais!


A revolta de nossas pés
Os nossos pés revolta
Alertando às vezes em vão
Que o mar vem e volta!
A valsa é falsa!
O terno é eterno!


A revolução de nossos olhos
O nosso olhar revolução
Veremos o que não vemos
Aprenderemos o coração!
A moda é foda!
O gesto é protesto!

O Grande Vício


Respire esta fumaça
Faça este sacrifício
Viver é uma grande pirraça
Viver é um Grande vício
Dar de cara com o obstáculo
Sangrar mas ir andando
Não parar com o espetáculo
Rir enquanto se vai chorando

Assista esta trapaça

Perceba este indício
Viver é uma grande farsa
Viver é um grande vício
Caminhar sem um objetivo
Não ser amado mas amar
A importância de ser vivo
Consiste em de vivo estar

Beba desta cachaça

Suporte este malefício
Viver é uma grande ameaça
Viver é um grande vício
É andar tateando no escuro
É cantar espantando o medo
Saber que o mal do futuro
Pode chegar mais cedo

Olhe esta vidraça

Observe este precipício
Viver é uma grande chalaça
Viver é um grande vício
Há tantos caminhos falsos
Quem estará certo afinal?
Andamos com pés descalços
O vidro quebrou foi mal

Testemunha essa massa

Exerça este ofício
Viver é uma grande graça
Viver é um grande vício
Esqueça do que foi ontem
Nem lembre sua fantasia
Morrer é passar na ponte
Que leva à um outro dia

Respire esta fumaça

Faça este sacrifício
Viver é uma grande pirraça
Viver é um grande vício
Não correr do obstáculo
Sangrar e ir caminhando
Não se pára com o espetáculo
Vamos rir enquanto chorando

De Um Cínico Número 4 ou Não Há Milagres

Imagem relacionada
Não há milagres no céu
Não há milagres no mar
Não há milagres no véu
Nem há milagres no estar


Os milagres que conheço
São tão fáceis de achar
Todos eles têm um preço
Que você pode pagar
A boca que você beija
A luz de qualquer olhar
Vale o preço de uma cerveja
De madrugada num bar


Não há milagres na parte
Não há milagres no total
Não há milagres na arte
Nem há milagres no banal


Os milagres que conheço
São tão fáceis de curtir
Eles são como o adereço
Que você pode vestir
A flor que nasce bela
E a juventude do moço
Como aquela luz da janela
Tudo cabe no seu bolso


Não há milagres no bem
Não há milagres no mal
Não há milagres no além
Nem há milagres no jornal


Os milagres que conheço
São tão fáceis de saber
Os anjos têm endereço
As bocas precisam comer
Os mitos são inventados
Os heróis e suas batalhas
Aos ricos os bons bocados
Aos pobres suas migalhas


Não há milagres no púlpito
Nem milagres no terreiro
Não há milagres no súbito
Nem há milagres no corriqueiro


Os milagres que conheço
São tão fáceis de achar
E minh"alma que esqueço
Ainda está no mesmo lugar
Tão triste e desiludida
Sem nada que a consagre
Sabendo que esta vida
É o nosso único milagre


Não há milagres nos profetas
Não há milagres nos perversos
Não há milagres nos poetas
Mas talvez exista nos versos!!!

jogos do sol


O sol brinca conosco
Em dias de chuva se esconde
Vai pra trás das nuvens
Vai pra onde? Vai pra onde?


Está sempre sorridente
Em dias quentes quer mais
Testemunhas de nossos crimes
Faz brilhar os metais


Brilha por cima dos berços
Também acompanha funerais
Visita todas as terras
Beija as ondas dos cais


Faz carícias naquela moça
Também percorre o corpo do rapaz
Viu muitos dias de guerra
Viu poucos dias de paz


Sobe ao alto dos morros
Reflete a cor dos murais
Ficou na porta dos olhos do cego
Onde não entrará jamais


Foi deus em muitos altares
Veio dançar com os mortais
Depois acendeu as bandeiras
Que brincam pelos quintais


O sol brinca conosco
Em dias de chuva se esconde
Vai pra trás das nuvens
Vai pra onde? Vai pra onde?

paisagem moderna com fonte cristalina

Resultado de imagem para chafariz antigo
eu vejo uma paisagem eterna
como uma luz nesta neblina
é uma paisagem moderna
com sua fonte bem cristalina
marchamos obedientes
por entre as gentes
informes
em nossos uniformes
galantes
em passos claudicantes
os arranha-céus nos olham
o choro dos céus não molham
por certo certos estamos
mas em que lugar chegamos?
somos seres humanos
demônios debaixo dos panos
fabricamos guerras e lixos
matamos terras e bichos
fazemos qualquer negócio
tristeza beleza e ócio
escravos de sôfrega busca
um pirilampo qualquer nos ofusca
sedentos retirantes
bebemos qualquer instante
quem é que não quer
ser aquilo que não é?
à todos nós interessa
chegarmos ao nada com pressa
quem não está interessado
em puxar a brasa pro seu lado?
use pra tudo o seu riso
mate se for preciso
eu vejo uma gravura eterna
como uma cruz de rotina
é uma paisagem moderna
com sua fonte cristalina
viver é um vício
sexo é o início
respirar com sacrifício
na beira de um precipício
morrer é mais uma viagem
nesta doce e podre paisagem...

A Dança dos Mortos


vamos dançar como dançam os mortos!
com os olhos tortos
como um cego olharia
com o olhar mais puro
tateando no escuro
sem pai sem mãe sem tia!

vamos dançar como dançam os mortos!

com naus sem portos
como um bobo partiria
com o coração partido
com a boca cheia de gemidos
sem coragem sem emoção sem covardia!

vamos dançar como dançam os mortos!

com os ossos tortos
como um coxo andaria
em direção ao estreito leito
do ataúde de seu próprio peito
sem dor sem mágoa sem alegria!

vamos dançar como dançam os mortos!

com risos indispostos
como um lobo uivaria
esperando sem saber o Quê
enquanto o nada continua à crescer
sem noite sem tarde sem dia!

vamos dançar como dançam nós!

com um grito sem voz!
com um grito sem voz!!!

Competição


tiro de meta
tiro da seta
tiro da reta

no frio os gatos se encolhem e dormem

no medo os homens se calam e correm
na vida os sonhos nascem e morrem

ri do amigo

ri do perigo
ri do castigo

no fogo os metais se aquecem e [fundem

no amor tristeza e alegria se [confundem
na fome as carnes se ferem e se [contundem

chega de trama

chega de drama
chega de lama

na fumaça os velhos dogmas se escoram

no bolso dos ricos é que os pobres moram
no rodar do tempo as carpideiras choram

filho da luta

filho da bruta
filho da puta

nas decepções os desejos se arrefecem

no tesão os nossos sexos crescem
na fila de espera todos envelhecem

vida de castro

vida de astro
vida de rastro

no estado em que as coisas se encontram

nos caminhos que as evidências apontam
nas brincadeiras malvadas que nos aprontam

tiro de meta

tiro da seta
tiro da reta
(Sepetiba, RJ, 20-06-1998)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Brincadeira de Gato e Rato


o gato convidou o rato.
vamos dançar cirandinha!
o sol atravessa o furo.
o passado já virou futuro.
a saudade virou doença.
o frio quebrou os ossos.
o vinho engoliu a vinha!

o gato conquistou o rato!

vamos dançar cirandinha!
a vida tropeça no escuro.
o hesitado se tornou seguro.
a irrealidade virou crença.
o rio levou os nossos.
o vindo engoliu o vinha!
(sepetiba, rj, 20-06-1998)

Imagem do Desengano


Hoje não sei
Amanhã não serei
A não ser
A imagem distraída
De uma fantasia quase vida
Que sonhou só em sê-lo
Sem medo do sétimo selo
Gato brincando com novelo...

Hoje não sei
Amanhã não terei
A não ser
A visagem retratada
De uma fantasia quase nada
Que sonhou só em tê-lo
Sem enredo de ótimo cabelo
Gato brincando com novelo...

Providências Tomadas

Resultado de imagem para acendendo a vela
Acender a vela
Fazer a prece
E o quebranto
Nem tanto
Olhar o mundo
Fechar os olhos
Comer jornal
E ser normal
Fazer fumaça
Contar os niqueis 
Ir no enterro
O novo erro
Chegar na praça
Correr de medo
Ficar os anéis
Ao invés
Catar cavaco
Dizer besteira
Como os loucos
Aos poucos
Lamber sabão
Queimar tuia
Ser um iogue
Ou um hot dog
Dançar maxixe
Tocar corneta
Não ter viagra 
É uma praga
Catar coquinho
Ser esquecido
Fumar cigarro
É um sarro
Ficar na boa
Entrar na fila
Ir no banheiro
Não ter dinheiro
Crer em tudo
Calçar sapatos
Lavar a mão
Morder o cão
Cortar o cabelo
Lixar a unha
Ser só mais um
Ou nenhum
Coçar o saco
Roer os ossos
Ouvir apelos
Ou pesadelos
Chora de tédio
Rir de saudade
Cheio de cana
O fim-de-semana
Beber uma coca
Comer um sanduba
Dar graças à Deus
Porque comeu
Entrar em campo
Marcar um gol
Correr pro abraço
Mais um fracasso
Ir no cinema
Ganhar uma paquera
Uma grande ideia
Lá na plateia
Acender a vela
Fazer a prece
Quebrar o encanto
E o quebranto
Nem tanto!

(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

De Um Cínico 2 ou O Que Eu Quero


eu quero a infância perdida
eu quero a inocência roubada
o que restou desta vida
o que ficou na calçada
e a tua cara lambida
triste e tão debochada

eu quero o gozo dos pares
eu quero a insistência dos ecos
a fumaça que sobe nos ares
a cachaça pelos botecos
a tristeza vinda dos lares
mil canções feitas de tecos!

eu quero a ciência dos loucos
eu quero a beleza da dama
o mundo que morre aos poucos
se afogando na lama
os pedidos vãos e roucos
de todo idiota que ama!

eu quero a palavra falsa
eu quero cânticos profanos
o que se esconde na calça
bem debaixo dos panos
puta velha dance a valsa
com o michê de quinze anos!

eu quero a dor de ressaca
eu quero a sede maldita
o brilho vindo da faca
a saudade fazendo fita
o desespero de um babaca
por uma bunda bonita!

eu quero a distância perdida
eu quero a vitória frustrada
e a tua cara lambida
que já ficou na calçada
o que restou desta vida
somente isto e mais nada!!!
(Sepetiba, 03-06-1998)

(Extraído do livro "Só Malditos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Motivos Pra Nada


quando você sentir que o logo o ar esfria
e escutar que a chuva vai caindo na calçada
quando sentir que a sua alma está vazia
e a sua mente ao pensar desesperada
lembre-se que a vida é uma folia
mas a vida é um motivo pra nada!

a vida tem valor de sua teimosia

uma pirraça com a cadência exagerada
de um coração que hesita noite e dia
uma probabilidade as vezes enganada
e a morte vem mesmo que tardia
mas a morte é um motivo pra nada!

e o temor da morte é só uma picardia

pois nossa alma é uma coisa maculada
mais que o corpo esta carne vadia
umas vezes doída e outras tantas gozada
vem o sonho que tudo e todos inebria
mas o sonho é um motivo pra nada!

o sonho é tudo aquilo que se queria

pra nossa mente ficar embriagada
que nos dá a sensação de uma alegria
como se fosse uma bebida destilada
a bebida desta vida que é uma folia
mas a vida é um motivo pra nada!!!
(Sepetiba, RJ, 03-06-1998)

Palavras Modernas


Fome e capricho
Luxo e lixo
Tormento e alegria
Casos e casas
Pernas e asas
João e Maria
Novela e realidade
Notícia e verdade
Fiz e faria
Feia e bela
Cidade e favela
Devoção e Mania
Encanto e espanto
Meio e canto
Mãe e tia
Praga e reza
Flutua e pesa
Luto e folia
Beija e morde
Ruído e acorde
Voou e caía
Morro e praia
Calça e saia
Dama e vadia
Carrão e carroça
Elogio e troça
Japão e Bahia
Dedos e anéis
Assim e ao invés
Fogão e pia
Vulcões e atóis
Olhares e faróis
Chorava e ria
Mansa e brava
Aspirador e piaçava
KGB e CIA
Miniaturas e painéis
Centavos e réis
Arranha e acaricia
Paz e engano
Papel e pano
Solo e parceria
Quantia e xis
Pulmão e nariz
Solitude e companhia
Desenhos e letras
Honestos e mutretas
Internet e telepatia
Silêncio e frase
Efeito e base
Governo e tirania
Caviar e angu
Alemão e zulu
Trepava e paria
Carne e fruta
Lazer e luta
Pedra e macia
Machões e gays
Peões e reis
Engambela e sacia
Anjo e saci
De nada e merci
Tagarela e afonia
Mandos e pedidos
Ricos e fodidos
Bolo e fatia
Menor e adulta
Prêmio e multa
Antecipa e adia
Quebra e junta
Esquece e assunta
Conserto e avaria
Modas e eternas
Flores e fuzil
Abra as pernas
Ninguém viu
Palavras modernas
A puta que pariu!

(Extraído da obra "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de 
Almeida).

VAMOS SONHAR


NÃO VAMOS SONHAR COM AS CERTEZAS,
ELAS FORAM FEITAS PARA SEREM INCERTAS.
O TEMPO É UM BEBERRÃO INCORRIGÍVEL
E OS DIAS FILHOS DE PAIS DIFERENTES.

VAMOS SONHAR COM COISAS LOUCAS,
AS COISAS LOUCAS QUE SE DESFAZEM NO AR,
COMO A ÁGUA QUE EVAPORA E NINGUÉM VÊ
COLCHA CINZENTA, SUICÍDIO LÍQUIDO.

NÃO VAMOS SONHAR COM A MORTE,
UM CAPÍTULO DE NOVELA NO SÁBADO,
UMA MOÇA BONITA FANTASIADA DE BRUXA,
BANQUETE BIOLÓGICO QUE NÃO ACONTECEU.

VAMOS SONHAR COM A VIDA,
A VIDA É UM BILHETE DE LOTERIA PREMIADO,
UMA SAUDADE INFINITA FEITA DE CORES,
DANÇA MISTA DE LÍBIDO E INOCÊNCIA.

NÃO VAMOS SONHAR COM A NOITE,
A NOITE TEM DONO PARA CADA MINUTO,
NOSSA CÚMPLICE EMPRESTA SUA MÁSCARA
E NOS CEDE SEU CORPO PARA CHOROS E SONOS.

VAMOS SONHAR COM O DIA,
VER OS REFLEXOS DO SOL SOBRE OS METAIS,
SOMBRAS DE ARRANHA-CÉUS NOS COLORINDO,
GATOS SE BANHANDO NO AFÃ DA PREGUIÇA.

NÃO VAMOS SONHAR COM A GUERRA,
HÁ UM JUÍZO EM CADA MANCHETE,
UM HOLOCAUSTO EM REUNIÃO DE FAMÍLIA
E UMA BOMBA ATÔMICA PARA CADA PEITO.

VAMOS SONHAR COM A PAZ,
  BRINQUEDO NOVO NA MÃO DE UM MENINO,
MAÇO DE CIGARROS NO BOLSO DE UM SÓ,
ÚLTIMO BAR NA MADRUGADA NO MEIO DA SEMANA.

NÃO VAMOS SONHAR COM O SONO,
VAMOS SONHAR ACORDADOS,
LIVRES, DESPERTOS, MAIS DO QUE NUNCA,
VAMOS SONHAR QUE SONHAMOS COM A VIDA.
(SEPETIBA, RJ, 16.02.1992)

CIÊNCIA


TUDO É PURO EINSTEIN.
FLORES E MÁQUINAS.
BEIJOS E CIFRÕES.
HOMENS E MULHERES.
ORAÇÕES E BLASFÊMIAS.
PARADOS ANDAMOS.
QUIETOS EM GRITOS.
EU CHEGUEI CEDO EM CASA!
ÀS SEIS DA MANHÃ...
NÃO FALEI NADA.
MAS EM COMPENSAÇÃO...
OUVI DEZ IDIOTAS
FALANDO AO MESMO TEMPO!
IDIOTAS REPLETOS DE BOM SENSO
PAIS DE FAMÍLIA E PRECONCEITOS ANTIGOS
ERROS CONFIRMADOS
DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO.
TUDO É PURO JORGE BENJOR.
SUINGUE PURO DANÇANTE DANÇADO.
SABENDO QUE ALGUÉM TINHA RAZÃO
AO ESPERAR QUE UMA MAÇÃ
CAISSE EM SUA CABEÇA.
NOITES E DIAS.
VIRÚS E ANTIBIÓTICOS.
A BÍBLIA DE MILLÔR FERNANDES.
O MEU MEDO CONSTANTE.
SERVIDO ACOMPANHADO DE VINHO.
TODOS NÓS NOS SERVIMOS.
CINCO SENTIDOS.
CINCO SENTINELAS.
A BOCA É A PORTA.
E OS OLHOS - JANELAS.
O DESTINO NÃO ESTÁ NEM AÍ.
RIMOS E CHORAMOS SEM MOTIVO.
GIRASSÓIS E DAMAS-DA-NOITE.
LÍRIOS CRUÉIS E CACTOS TERNOS.
ROSAS INDIFERENTES E ERVAS AMIGAS.
TUDO É PURO NADA.
A FELICIDADE É UM CAÇA-NÍQUEIS.
BARALHO DE CARTAS MARCADAS.
JOGO DE DADOS VICIADOS.
FLORES E ESPINHOS.
BEIJOS E MILHÕES.
HOMENS E MENINOS.
ORAÇÕES E PROPAGANDAS.
PARADOS CORREMOS.
QUIETOS E INQUIETOS.
EU CHEGUEI CEDO EM CASA!
ÀS SEIS DA MANHÃ...
JURO QUE BEBI POUCO!
SÓ TRINTA COPOS...
TUDO É PURO EINSTEIN.
ALIÁS... PURO EINSTEIN NÃO!
TUDO É PURO FRANKSTEIN...
(SEPETIBA, RJ, 05-05-1994)

IN(DEFINIÇÕES) 3

SIM É SIM
NÃO É NÃO
BORBOLETAS FEITAS DE METAL
AGULHA E LINHA E DEDAL
O SOL DESCONHECE A ESCURIDÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
AMORES FEITOS DE MENTIRA
TRISTEZA E CORDA E LIRA
O DESEJO DESCONHECE A RAZÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
FELICIDADE EM ESTADO DE CHOQUE
SAMBA E REGGAE E POP ROCK
O FRIO DESCONHECE O VERÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
CLARO-ESCURO E TANTOS TONS
DOCE MALDADE DOS BONS
O DOENTE DESCONHECE O SÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
SINCERIDADES MAIS OBSCENAS
VIDAS E MORTES E CENAS
A NUVEM DESCONHECE O CHÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
PIOLHOS E PIMPOLHOS AOS MONTES
PÁSSAROS NÃO QUEREM PONTES
O TELHADO DESCONHECE O PORÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
ESPERE OUTRO DIA LINDO
COM A INFLAÇÃO BEM SUBINDO
A FLOR DESCONHECE O CANHÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
POR MENOS DE TRINTA PRATAS
EU BOTO FOGO NA MATA
O FUMO DESCONHECE O PULMÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
HISTÓRIAS DO ARCO DA VELHA
E TUDO MAIS É PILHÉRIA
O GATO DESCONHECE O CÃO

SIM É SIM
NÃO É NÃO
TALVEZ TODO O MEU TALVEZ
FIM DO ANO OU FIM DO MÊS
O SIM DESCONHECE O NÃO!!!
(SEPETIBA, RJ, 04-05-1998)

(IN)DEFINIÇÕES 2

NÃO É A CANÇÃO - É O APELO
NÃO É O SONHO - É O PESADELO
NÃO É A HORA - É O MOMENTO
NÃO É O TODO - É O ELEMENTO
NÃO É A BRINCA - É À VERA
NÃO É O LULU -É A FERA
NÃO É O PERFUME - É O CHEIRO
NÃO É A COZINHA - É O BANHEIRO
NÃO É VINHO - É A AGUARDENTE
NÃO É O MÉDICO - É O DOENTE
NÃO É A ROSA - É A BOMBA
NÃO É O CORPO - É A SOMBRA
NÃO É A TRANSA - É A FODA
NÃO É O LIMITE - É A MODA
NÃO É O JUIZ - É O PRESO
NÃO É A LEVEZA - É O PESO
NÃO É A ALEGRIA - É O FRACASSO
NÃO É A DANÇA - É O CANSAÇO
NÃO É O PROJETO - É O ACASO
NÃO É A CORRIDA - É O ATRASO
NÃO É A CONJECTURA - É O FATO
NÃO É O ELOGIO - É O BOATO
NÃO É A FOLIA - É O ENTERRO
NÃO É A DESCULPA - É O ERRO
NÃO É O PULO - É O TOMBO
NÃO É O DISFARCE - É O ROMBO
NÃO É A REZA - É A PRAGA
NÃO É A PIADA - É A SAGA
NÃO É O QUADRADO - É A BOLA
NÃO É A DÁDIVA - É A ESMOLA
NÃO É O HERÓI - É O RAMBO
NÃO É O HINO - É O MAMBO
NÃO É O VUDU - É O PROGRAMA
NÃO É A ÁGUA - É A LAMA
NÃO É O AMOR - É O CLIMA
NÃO É A VERDADE - É A RIMA...
(SEPETIBA, RJ, 27-03-1998)

Contraste

Resultado de imagem para sol nublado
a chuva é o choro do sol
o sol a alegria do dia
de fatos fazemos um rol
alegrias e tristezas um mol
um jogo de futebol
quem é que te ganharia?

a chuva no primeiro páreo
o sol a alegria do dia
os sonhos lá no armário
no teatro do imaginário
lembranças de um otário
quem de mim lembraria?

a chuva é a marca do tento
o sol a alegria do dia
beber de cada momento
e ser barco e vela e vento
e ser feliz à contento
quem é que conseguiria?


a chuva é o fim do sonho
o sol a alegria do dia
no meu olhar tristonho
a tua imagem suponho
e nela toda emoção eu ponho
quem é que te roubaria?

a chuva é o choro do sol
o sol a alegria do dia
de fatos fazemos um mol
alegrias e tristeza um rol
um jogo de futebol
quem é que te ganharia?
(Sepetiba, RJ, 20-08-1997)

Alcatraz

Resultado de imagem para alcatraz
há segredos em qualquer rosto
há segredos em qualquer alcatraz
cada soldado no seu posto
cada rei com seu ás
cada dia com a sua tristeza
cada minas com as suas gerais
há segredos em cada tristeza
há segredos em qualquer alcatraz
cada verso na sua linha
cada fome pedindo mais
cada fofoca com a vizinha
cada transa no banco de trás
há segredos em cada novela
há segredos em qualquer alcatraz
cada boca na sua favela
cada voto pra barrabás
cada pereira com sua pereira
cada tiro na pomba da paz
há segredos em cada besteira
há segredos em cada alcatraz
cada tristeza com o seu dia
cada dia com seu atrás
cada um com sua teimosia
cada roxo com seu lilás
há segredos no queu queria
há segredos em qualquer alcatraz!!!
(sepetiba, Rj, 25-03-1997)

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...