domingo, 21 de dezembro de 2025

E...

Esperei em não esperar mais nada

Quando muito alguns gatos-pingados

Talvez que venham para o nosso jantar...


Regras algumas daqui e outras de lá

Meu coração apertado tal não-sei-quê

Como um final de novela fracassada...


Talvez o tênis velho seja aproveitado

Para algum caminho inusitado surgindo

Entre a fumaça do que nem incendiei...


Mares-de-rosa também possuem espinhos

E talvez a bebida gelada possa cair no chão

No exato momento que faríamos o brinde...


O costume deixou um pouco mal-acostumado

Ao menino que gostava de brincar na areia

De uma praia que agora nem pode mais ver...


Tragam-me aquele me resto de sono de volta

Pois todas as mágoas acabam se misturando

Enquanto todos os dezembros querem morrer...


Fulano e sicrano e beltrano fazem a ciranda

E mesmo não sabendo quais são os seus nomes

Pedimos licença para também poder brincar...


A velha louça de família está agora quebrada

O velho camafeu de ouro agora já enferrujou

E eu acabei me cortando sem ter uma lâmina...


Tudo agora se transformou numa fila única 

Onde minhas palavras e meus gestos nada valem

Sendo que os riscos porque passei falharam e...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sábado, 20 de dezembro de 2025

Quase Meia-Noite (Miniconto)

É quase meia-noite. Deve ser sim. Só sei que hoje é o último dia do ano, isso é. De vez em quando esqueço a minha própria idade, depois lembro. A de muita gente que já foi na minha frente, esqueço. Não é minha culpa, juro que não é. A vida vem da morte, é o que dizem. Acaba obedecendo ela. Tudo que nasce morre um dia, é a verdade. Mas veja bem, hoje é o último dia do ano, é sim. Juntei o que podia, dessa semana que passou, sabe? Fumei menos, bebi menos cana, o que sobrou deu pra passagem. Não vou lá pra Copacabana. Eu sei que lá tem bastante gente, gente com mais grana do que eu, gente fodida igual a mim, muito gringo também. Mas lá a competição é bem maior, ah, isso é. Mistura tudo, quem vai correr atrás do seu com quem vai passar a perna nos outros. Preferi vim pra cá, dei um pulo no muro, peguei o trem, depois a van. Cheguei. Aqui não tem muita gente com grana, mas tem gente que bebe também. É só não dar mole, pego muita lata hoje. As garrafas de champanhe do pessoal da curimba, nem ligo, já foi tempo que vidro valia alguma coisa, hoje uma merreca que não vale a pena. Ainda bem que não choveu mais estes dias. O clima aqui anda meio pancado das ideias, não se sabe mais se é verão ou o que é. Já começaram a tocar funk, mais tarde vai ser pagode. Nem quero saber. Não tenho relógio, meu celular tá ruim, mas quando der meia-noite escuto os fogos no céu, os cachorros desesperados e muita gente fazendo promessa pra não cumprir. É cada um com seu cada um, se vierem me desejar, eu também desejo: Um Feliz Ano Novo! 

Minimalismos 3 (Algumas Aldravias)

Façamos

Poses

Por

Mais

Puro

Desespero 


..................................................................................


Que

Não

Era

Agora

É

Mais


...................................................................................


A

Novidade

Ficou

E

Acabou

Envelhecendo


...................................................................................



Quem

Não

Chora

Não

Sabe

Rir


...................................................................................


Hoje

Não

Teremos

Nada

Para

Amanhã

Matemática Urgente

Eu sim, eu não, eu nada, eu tão...


Na vez passada escapei de rede

Andei por todas as ruas tão sozinho

Coloquei na alma o perfume da rosa

Sem ao menos importar com espinho...


Eu tive, eu tenho, eu vou, eu venho...


Pulei de um abismo pra poder voar

Mesmo esquecendo que não podia

Entrei por dentro do rabo da noite

E fui fingindo que não era mais dia...


Eu calo, eu berro, eu acerto, eu erro...


Achei finalmente quem é que amo

Mesmo caminhando ao fim do mundo

Quero beijá-la na boca uma eternidade

Mesmo que o tempo dure um segundo...


Eu corro, eu paro, eu distraio, eu reparo...


Mesmo não sobrando quase nada

Assim mesmo tudo é um recomeço

Todos os meus erros aqui estão

Pois cada erro tem seu próprio preço...


Eu bom, eu mau, eu rua, eu quintal...


Não tendo mais nada o que fazer

Nem sei mais o gosto que eu prefiro

Adeus para todos os que estão presentes

Já chegou a hora e eu me retiro...


Eu sim, eu não, eu nada, eu tão...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

De Escolhas

Escolher a sua marca de cerveja.

Ou sua miséria particular.

Viver como quem morre

Ou morrer como quem vive.

Guardar velhos desesperos.

Estar sempre ausente em presente.

Comprar correntes mais novas

No mercadinho do seu bairro.

Brincar somente de roleta-russa.

Ter um celular de sinais de fumaça.

Comer sempre da mesma rotina

Como um vampiro de filmes retrô.

Eis a pornografia de um anjo.

O convidado vip que chegou nu.

Aqui temos blasfêmia suficiente

Para fazer uma new inquisição.

Os melhores filósofos são indigentes.

O canibal quase morreu vegetariano.

Tudo tem seu cheiro sui-generis

Mesmo quando não temos olfato.

Os marginais compraram a marginália.

Tatuagens de bambu para insensíveis.

Qualquer hora teremos uísque sem álcool

Para pitangas compradas na feira.

Quem não foi puta um dia quase foi.

Virar a cara para o passado não o destrói.

O espelho me ensinou bem mais

Do que qualquer espinho que me feriu.

Mamãe eu não quero mais mamar.

Minha aldeia é no meio de suas pernas.

O que eu escrevo é a mais autêntica mentira

Que nem Vinicius sem morais algumas...


(Extraído da obra "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Minimalismos 2 (Algumas Aldravias)

 

Os

Verdadeiros

Demônios

São

Os

Humanos


...................................................................................


Nem

Sempre

Vencedor

É

Quem

Vence


...................................................................................


O

Acaso

É

Um

Grande

Mestre


...................................................................................


A

Covardia

Nem

Sabe

Mais

Correr


...................................................................................


Somos

Mais

Inúteis

Do

Que

Antes

Minimalismos 1 (Algumas Aldravias)

Desconheço

Pobreza

Como

A

Minha

É


...................................................................................


A

Noite

Acabou

Engolindo

O

Dia


...................................................................................


Temos

A

Vida

Temos

A

Morte


...................................................................................


Sem

Aviso

Que

Chega

Felicidade


...................................................................................


Vida

E

Morte

Nunca

Irão

Descansar

 

E...

Esperei em não esperar mais nada Quando muito alguns gatos-pingados Talvez que venham para o nosso jantar... Regras algumas daqui e outras d...