sábado, 15 de novembro de 2025

Um Zé (Miniconto)

Nem todo Zé é igual, isso está mais que provado e comprovado. Alguns foram grandes figuras, possuem seus nomes escritos nos livros de história, outros, menos famosos, ainda assim estão na memória de alguém que conviveu com eles. O Zé que eu vou falar, pelo menos, tem seu nome lembrado pela quantidade de filhos que fez e olhe lá. Não sabia ler e nem escrever, não era honesto, não gostava de trabalhar. Não gostava de banho! Um dos seus muitos apelidos era Zé Cascão (muito merecido). Era bonito pelo menos? Isso nunca foi. Até se vestir, se vestia muito mal e andava de um jeito que deu jus para um outro apelido - Dez pras Duas. Falava bem? Se falar "goraná" ao invés de guaraná, então falava... Mas que tinha sorte de vem em quando, isso tinha. Certa vez foi na favela comprar maconha e colocou muita dentro de uma lata de tinta. Estava tendo uma incursão policial. Zé passou, cumprimentou os policiais e estes nem pediram para revistar ele nem nada. Quem ia acreditar que um maluco daqueles, um pobre coitado estava com uma carga daquelas? Pois bem, esse era o Zé. Teve centenas de erros como qualquer ser humano, mas ele caprichou. Teve milhares! Até o dia que mudou de casa e foi morar no cemitério... Mas isso é coisa pra muitas vezes.

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Uma Multidão de Eremitas

Todo o oposto. Assim será.

Assins e assados. Não mais.

Portas fechadas. Sem portas.

Meu desespero. Me acalma.

Barato. Os olhos da cara.

Mãos cheias. De dedos.

Sou moderno. O mais velho.

Quase morri. Foi ontem.

Fui socado. Como agradeci.

Cada ferida. Dói bem mais.

Pura pornografia. Bem inocente.

Morreu ontem. Casou amanhã.

Sobras geladas. O próximo rango.

Folia passada. Gosto amargo.

Poderia ser. Mas até foi.

O dedo do meio. Língua de fora.

Frango assado. Perdeu a fama.

Jogos de inferno. Calemos o bico.

Confeitos metálicos. Vinil sem vitrola.

Abacaxi da jaqueira. Rua marinha.

Imortal falecido. Gigante anão.

Expulso pra dentro. Subiu abaixo.

Chegará ontem. Joalheria para pobre.

Risco tranquilo. Perigo hospitaleiro.

Elefante fitness. Filosofia da tolice.

Sapatos descalços. Feras medrosas.

Cinema cego. Estética tímida.

Tara tão pudica. Hotel ratoeira.

Comida com fome. Projeto improvisado.

Paz guerrilheira. Bola quadrada.

Cachaça sem álcool. Água ressecada.

Minha fé incrédula. Tudo quase nada.

Assim será. Todo o oposto...


(Extraído do livro "Palavras Modernas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Chá Para Os Escorpiões

Chá para os escorpiões.

Sabedoria para os tolos.

Eu vim de urbano agreste.

Aqui tem moedas caseiras.

Por que queremos isso?


Pombos do heavy metal.

Não me pagaram nada.

Faço máscaras mudas.

Ele perguntou a resposta.

Nos afogaremos no seco?


Fome quase diária.

Estertores saudáveis.

Um murro digital.

Surpresa esperada.

A caveira sabe sorrir?


Enjoo proposital.

Guerra pacífica.

Dados sem dados.

Fogo para esfriar.

Rir agora é ofício?


Vida real fictícia.

Alegria na necrópole.

Feijoada de arroz.

Mosca higiênica.

O espantalho se espantou?


Chá para os escorpiões.

Acabou a vaselina.

Estranho no meu lar.

A miséria luxuosa.

Por que queremos isso?


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Os Sobreviventes

De gravata (ou coleira?)

Sem nunca tirar o salto

Tudo é quase normal

Num abismo de dois minutos

(Dois minutos e pouco)

Depois do final - sobreviveram...


De barriga cheia (ou não?)

Destino tão igualzinho

Multidão de miseráveis

Nunca passaram na televisão

(O anonimato até a morte)

Depois do final - sobreviveram...


De cima da laje (mais alto?)

Menino ou passarinho

Tudo dá no mesmo

Só o tempo nos dirá

(O tempo sabe de tudo)

Depois do final - sobreviveram...


Sambando no asfalto (tá quente?)

A passagem da loucura

Num carnaval ausente 

Onde todas as manhas

Marcam sua presença

(Até um próximo ano)

Depois do final - sobrevivemos...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

 

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Está Consumado (Um Poema de Calmo Desespero)

Para apagar basta estar aceso...

Para soltar tem que estar preso...


Estarei consumado estarei sim

Como a flor que morre no jardim

Como a cabeça que muda de ideia

Não houve nenhuma palma na plateia...


Para amar basta só enlouquecer...

Para duvidar antes tem que se crer...


Vou ficar parado cheguei na estação

Tudo agora é inverno nada é verão

As nuvens caíram lá de cima num pulo

E eu nunca consegui pular este muro...


Doer de tanta ternura é que queremos...

Mas uma simples moeda nós não temos...


Eis o grande enigma que está lançado:

Estarei calmo ou estarei desesperado?

Já falei tantas vezes em alguma calma

Mesmo quando fugiu do peito a alma...


Para ficar sonhando é preciso voar...

Para estar por aqui é preciso estar...


(Extraído do livro "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 359 *

A mais bela das canções - o silêncio...

A melhor das companhias - a solidão...

Uma moto passa na rua de madrugada...

Mas afinal de contas quem será?

Nenhum pássaro noturno se manifesta...

Deve ser o frio desta noite quase absoluta

Em que até os medos foram dormir...


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Todos os meus sonhos são estranhos

Vão do nada para lugar nenhum

E simplesmente - acabam...

Nos sonhos eu acho que sei que são

Mas acabo fingindo que não sei

Isso faz parte da minha parte...

Ah! A vida é uma festa!

Só esqueceram de me convidar...


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Oia eu aqui de novo

Imperfeito como sempre

Mal-humorado

Nem bom e nem mau

Na corda bamba

De todos os sonhos

Ora insatisfeitos...


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Passarim não cantou

Virou fumaça

(Mais pressa ainda)

Pra alçar o céu

Com nuvem or não

Passarim não cantou

Hoje choveu...


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Papai comprou uma rifa e ganhou

Era a rifa de uma bolsa feia e desajeitada

Mas ele deu a bolsa pra minha mãe

Minha mãe ficou sem jeito de não usar e usou

Até que perguntou pra mim se tava feia

(Hoje entendo que ela queria a verdade)

E eu todo sem jeito querendo agradar:

Tá linda, mamãe! Tá linda...


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Qual é o teu nome? ...

Não, esse não! Esse é o profissional,

O de guerra ou sei lá qual...

Geralmente esses são bonitos

(Em sua maioria, claro)...

Eu quero saber aquele outro,

O outro que quando a professora

Fazia a chamada na escola

Você levantava esse dedinho lindo

E dizia: Presente!...


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Ainda tem gente que diz 

Que não sou tão velho assim...

Pois sou do tempo da televisão

Que tinha tubão pesado

Caixa toda de madeira

Destaque no meio da sala

E que levava uma eternidade

Pra aparecer a imagem 

Todinha em preto-e-branco

Na hora do Vila Sésamo...

Ainda tem gente que diz

Que não tou tão velho assim...

Carliniana CXIV ( Todos Os Mitos Sem Caverna )

A mentira em alta a verdade em baixa.

Qualquer tolice é o prato para os tolos.

Se mate e ganhe aquele lindo brinde...


O pobre quer se empobrecer mais ainda.

O rico é o urubu que está embaixo.

Use a moda mais escrota e tudo bem...


Nossa ignorância mais do que funcional.

Só sabemos escrever aqui nestes celulares.

Meu deus agora se chama pelo nome de TV...


O medo só vem quando ele chega.

Queremos o vírus de todas as novidades.

Quem está fora da rede social morreu...


Toda sabedoria é para os que são chatos.

Eu bebo para passar mal e até vomitar.

Se não passo vergonha algo errado aconteceu...


Depois do morango do amor a merda do amor.

O meu corote é bem mais do que sagrado.

Viver sem motivo é o maior motivo de todos...


Fiz uma tatuagem escrita: Odeio tatuagem!

Coma só agrotóxicos e seja mais que normal.

O que o tempo me dá eu mesmo destruo...


Vi ontem um radinho de pilha e ganhei um susto.

Sentar numa cadeira na calçada é um suicídio.

Qualquer poema serve desde que fale mentiras...


Hoje teremos self-service de comida estragada.

Está aberta a temporada de caça aos fatos.

Me chamaram de vagabundo: grato pelo elogio...


Filosofia deve ser de comer ou então de beber.

Quanto mais me explicam menos eu entendo.

Estou com uma orelha bem atrás da pulga...

Um Zé (Miniconto)

Nem todo Zé é igual, isso está mais que provado e comprovado. Alguns foram grandes figuras, possuem seus nomes escritos nos livros de histór...