sábado, 6 de dezembro de 2025

Alguns Poemetos Sem Nome N° 363 *

Estamos cegos enxergando tudo

O barulho incomoda nossa surdez

Nossa impaciência sabe esperar

Nossos segredos são publicados

Toda tecnologia nos deixa primitivos

O riso é quase sempre chorado

É por isso que somos humanos?


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Eu já vi tudo que não gostaria ver

Fui testemunha de crimes inexistentes

Provei do último pedaço dos carnavais

Fogueiras apagadas me queimaram

Amei o ódio com solene convicção

Ri sem motivo pela mais simples praxe

Sou apenas mais um célebre desesperado

Em que até as palavras me deixam tonto.


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Era um dia de festa e eu não sabia

Meus cálculos eram exatamente opostos

Quase me afoguei em um mar inexistente

Acompanhei rios que estavam secos

Sonhei com as águas mais improváveis

Apontei para todas as estrelas possíveis

Virei as costas para a fé e fui andando

Quis devorar as mais inocentes quimeras

Era um dia de festa e eu não sabia

Geralmente choramos quando nascemos...


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Não faça indagações...

Esqueça as perguntas...

As respostas geralmente ferem mais...

Nunca ajude a tristeza...

Se ela chegar que venha sozinha...

Nós não a queremos nunca...

Lembre apenas do que vale a pena...

Dos gestos mais ternos possíveis...

Dos muitos sonhos que temos...

Não faça indagações...

A verdade sempre chega...


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Eu quero dançar! Eu quero dançar!

Perto do fogo ou dentro dele!

Pouco me importa aonde vai ser...

Eu quero voar! Eu quero voar!

As asas eu mesmo arranjo!

Voar em abismos ou em céus...

Eu quero gritar! Eu quero gritar!

Mesmo acordando a vizinhança!

Será um grito ou meu canto?...


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Esse é o espelho. Um bom ouvinte.

Um bom observador também.

Fale para ele todas as suas dores

E mostre como o tempo é malvado.

Não espere resposta alguma dele.

Sua timidez é muito grande.

Ele permanece calado o tempo todo.

A única coisa que você fazer é confessar.

Não se despeça dele em hipótese alguma.

Ele prefere que você acabe voltando...


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Quero evitar ter ciúmes dela...

Afinal de contas não tem culpa de sua beleza.

Quero ficar bem perto dela...

Mesmo que isso signifique que lhe incomodo...

Quero rir sem motivo algum...

Isso faz parte da minha loucura incurável...

Quero poder lhe trazer um carnaval...

Um carnaval meio diferente e quase eterno...

Quero morrer perto dela...

Porque assim quem tem amor nunca morre...

Carliniana CXXIII ( Teoria Geral dos Beijos )

Tudo semelhante diferente sempre é...

Por tal fato joguemos milho aos pombos

Numa despreocupação mais preocupante 

Como quem tem que contar as gotas do mar

Antes que todas as estrelas sejam desligadas...

Todo silêncio acaba mais gritando...

Lá vem nossa maior convicção sem ter fé

Com vários nomes que acabamos esquecendo

Enquanto o tempo vai rasgando nossas roupas

E as nossas cicatrizes agora são mais comuns...

Nosso tesão acabou indo embora...

A casa grande e a senzala estão carcomidas

Enquanto senhores e escravizados repousam 

Engolidos pela mãe que um dia pariu todos

E que não dá declarações nos vãs noticiários...

Bondade e maldade são feijão e arroz...

Sem palhaços não existem tais folias de reis

Aquela inocência restante não será preservada

A nudez desconhece todos os existentes castigos

E os ventos agora estão fracos demais para algo...

Eu morri anteontem e só hoje me dei conta...

Minha memória é uma pedra perdida pelas ruas

Estou quase me mudando e indo morar em nuvens

Nenhuma poesia é o suficiente para a minha fome

Eu sou o estranho que estranha a estranheza...

Cuspo no chão molhado tentando imitar lágrimas

Deveria ter beijado todas as bocas ao meu alcance

Mesmo que isso tivesse cheiro de heresia e profanação

Afinal de contas nem todos os pecados são crimes...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Filosofia Pura

Até o que foi morto não morre

O que está parado é o que mais corre

Quanto mais cego é que enxergo

Quanto mais digo não é que não nego

O que vem de mim eu não conheço

Tudo que é de graça é que tem preço

Tudo que se desconhece endereço...


Não existe bala perdida só tem achada

O que tem valor é que não vale mais nada

A beleza é só o fruto de um feio acaso

Quando eu chego na hora é que me atraso

Cada barco ancorado não tem proteção

E o dono de cada dia presente é o Cão

E quem manda em toda a fome é o pão...


O ano que vem vai matar o atual ano

Ninguém sabe aí qual o nome do fulano

As cadeiras da morena não são para sentar

Toda rua pode parecer que é o nosso lar

O arranha-céu não pode arranhar nada

Quem não sobe nunca na vida é a escada

O palhaço é que nunca faz palhaçada...


A cabeça que não pensa é a do prego

Quanto mais eu não aceito é que relego

Nem toda vida é parecida com a novela

Não existem todas as cores numa aquarela

Nem todo remédio vem trazendo a cura

Nem toda fruta que se come já está madura

Nem toda pura filosofia é filosofia pura...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Diferente

O poeta que se diz ser alegre - mente

Porque não existe amor que satisfaz

O destino diz que traz mas não traz

Da tristeza um algo que seja diferente...


O sábio que diz saber - não sabe

Pois o saber é um algo mais ausente

Não sabemos o que no peito cabe

Nunca sabemos o que está na frente...


O covarde é aquele que se diz valente

Pois ninguém consegue enganar a morte

Ter dinheiro não significa ter a sorte

É questão de uma conta errada somente...


Nossa trilha sonora - é um samba-enredo

Cada brinquedo é uma distração aparente

Pois é do dia que se deveria ter mais medo

Pois é nele que pisamos sem ver a serpente...


O poeta que diz estar alegre - mente

Porque nenhuma guerra pode trazer paz

O destino é água que a sede não satisfaz

E fazer poesia é uma coisa muito diferente...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Pois Todo Tempo É Pouco

Todo tempo é pouco,

muito pouco...

Para ir ao encontro de coisas simples,

para os gestos mais singelos,

para beijos escondidos,

para uma ternura sem limites...


Todo tempo é pouco,

muito pouco...

Para rir das coisas mais engraçadas,

para alcançar as nuvens,

para cantar junto aos pássaros,

para repetir juras antigas...


Todo tempo é pouco,

muito pouco...

Para colocar barquinhos na água,

para intermináveis brincadeiras,

para decifrar alguns enigmas,

para exercitar a velha inocência...


Todo tempo é pouco,

muito pouco...

Para trazer novamente a paz,

para agarrar todos os sonhos,

para contar todas as estrelas

e para dizer que a amo sem limite algum...


Todo tempo é pouco,

muito, mas muito pouco, mesmo...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida). 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Isso Aqui Não É Nada

Várias janelas abertas no navegador

Por certo uma grande e falsa esperança

Que nada alcança, que nada alcança

E só aumenta essa minha triste dor...


Cada dia esperando o que não acontece

Um sucesso ignorado sem nunca chegar

Uma fumaça que subiu e sumiu pelo ar

Ou uma não escutada e desesperada prece...


Vários poemas que são escritos tão à toa

Mentiras que eu não quero mais dizer

Uma vida após essa que eu não posso crer

Uma alegria que não tem sido nada boa...


Um sono precioso que acabou sendo roubado

Uma madrugada que eu poderia ter dormido

Que não faz sentido, não faz nenhum sentido

Assim como não faz tentar sonhar acordado...


Isso aqui não é nada, nada, não mais é nada

E eu não sei nem mesmo se posso chamar vida

Esse sangue que escorre sem ter uma ferida

Ou se foi apenas uma grande e feia mancada...


(Extraído da obra "Escola de Mortos" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Gut-Gut Maneiro III

São dois irmãos show de bola:

Praga-de-Mãe e Mãe-de-Praga...


Sabão é sabão

E se não fosse sabão não seria Sabão

O cara ganha muito dinheiro

Ou no penico ou no banheiro

Gente famosa tem fama

Quem não tem bebe lama...


São dois irmãos show de bola:

Vale-Nada e Nada-Vale...


Cascão é cascão

E se não fosse cascão não seria Cascão

O cara só bebe coca-cola

Ou mais coca ou mais cola

Gente famosa tem fama

Quem não tem cai da cama...


São dois irmãos show de bola:

Tudo-de-Ruim e Ruim-de-Tudo...


Lambão é lambão

Se não fosse lambão não seria Lambão

O cara só bebe pinga pura

Ou da clara ou da escura

Gente famosa tem fama

Quem não tem come grama...


São dois irmãos show de bola:

Puta-Merda e Merda-Puta...


Piolhão é piolhão

Se não fosse piolhão não seria Piolhão

O cara só come se for resto

Você não presta ou eu não presto

Gente famosa tem fama

Quem não tem faz é drama...


São dois irmãos show de bola:

Não-Presta e Presta-Não...


(Extraído do livro "Insano" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 363 *

Estamos cegos enxergando tudo O barulho incomoda nossa surdez Nossa impaciência sabe esperar Nossos segredos são publicados Toda tecnologia ...