Tudo em tom quase vermelho(Inclusive as velhas lâmpadas em quase neon)
Não sei falar quase pouco
(Mesmo ficando calado por vários séculos)
Era pedra? Ou era flor?
(Lápides quase certidões de nascimento)
Manhosamente está dormindo
(Numa cama de nuvens que faltam as asas)
Meus sapatos agora andam sós
(Não são cachimbos e nem entortaram bocas)
Letras agora são os grãos
(E na praça fazem moradia alguns miseráveis)
Eis a lucidez de molhados cabelos
(Cada gomo de cereja irá construir mais anéis)
É como uma crua massa de bolo
(As abelhas estudam para irem para a faculdade)
Nunca mais terei um sono algum
(Atravessei o Atlântico para comer as castanhas)
Qualquer cachaça barata vale
(Ela batuca nas panelas mais que desesperadamente)
Doem os dentes que não mais tenho
(E conto mais uma piada com um fim mais trágico)
A loucura perdeu a sua tenra idade
(E no canteiro de alfaces também crescem tesouras)
Era tão rico que comia até merda
(Me sinto uma formiga sob botas cheias de açúcar)
Toda uma geração já foi embora
(Os causídicos acabaram sequestrando os guaranás)
A arte virou um peru de Natal
(No velho mosteiro atiravam muitos tiros de carabina)
Até o Diabo agora tem vigílias
(E eu sou mais livre para escolher as minhas correntes)
Tudo agora vai se derretendo
(Mesmo quando entre espelhos e molduras nada sobrou)...
(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).