sábado, 20 de dezembro de 2025

Matemática Urgente

Eu sim, eu não, eu nada, eu tão...


Na vez passada escapei de rede

Andei por todas as ruas tão sozinho

Coloquei na alma o perfume da rosa

Sem ao menos importar com espinho...


Eu tive, eu tenho, eu vou, eu venho...


Pulei de um abismo pra poder voar

Mesmo esquecendo que não podia

Entrei por dentro do rabo da noite

E fui fingindo que não era mais dia...


Eu calo, eu berro, eu acerto, eu erro...


Achei finalmente quem é que amo

Mesmo caminhando ao fim do mundo

Quero beijá-la na boca uma eternidade

Mesmo que o tempo dure um segundo...


Eu corro, eu paro, eu distraio, eu reparo...


Mesmo não sobrando quase nada

Assim mesmo tudo é um recomeço

Todos os meus erros aqui estão

Pois cada erro tem seu próprio preço...


Eu bom, eu mau, eu rua, eu quintal...


Não tendo mais nada o que fazer

Nem sei mais o gosto que eu prefiro

Adeus para todos os que estão presentes

Já chegou a hora e eu me retiro...


Eu sim, eu não, eu nada, eu tão...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

De Escolhas

Escolher a sua marca de cerveja.

Ou sua miséria particular.

Viver como quem morre

Ou morrer como quem vive.

Guardar velhos desesperos.

Estar sempre ausente em presente.

Comprar correntes mais novas

No mercadinho do seu bairro.

Brincar somente de roleta-russa.

Ter um celular de sinais de fumaça.

Comer sempre da mesma rotina

Como um vampiro de filmes retrô.

Eis a pornografia de um anjo.

O convidado vip que chegou nu.

Aqui temos blasfêmia suficiente

Para fazer uma new inquisição.

Os melhores filósofos são indigentes.

O canibal quase morreu vegetariano.

Tudo tem seu cheiro sui-generis

Mesmo quando não temos olfato.

Os marginais compraram a marginália.

Tatuagens de bambu para insensíveis.

Qualquer hora teremos uísque sem álcool

Para pitangas compradas na feira.

Quem não foi puta um dia quase foi.

Virar a cara para o passado não o destrói.

O espelho me ensinou bem mais

Do que qualquer espinho que me feriu.

Mamãe eu não quero mais mamar.

Minha aldeia é no meio de suas pernas.

O que eu escrevo é a mais autêntica mentira

Que nem Vinicius sem morais algumas...


(Extraído da obra "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Minimalismos 2 (Algumas Aldravias)

 

Os

Verdadeiros

Demônios

São

Os

Humanos


...................................................................................


Nem

Sempre

Vencedor

É

Quem

Vence


...................................................................................


O

Acaso

É

Um

Grande

Mestre


...................................................................................


A

Covardia

Nem

Sabe

Mais

Correr


...................................................................................


Somos

Mais

Inúteis

Do

Que

Antes

Minimalismos 1 (Algumas Aldravias)

Desconheço

Pobreza

Como

A

Minha

É


...................................................................................


A

Noite

Acabou

Engolindo

O

Dia


...................................................................................


Temos

A

Vida

Temos

A

Morte


...................................................................................


Sem

Aviso

Que

Chega

Felicidade


...................................................................................


Vida

E

Morte

Nunca

Irão

Descansar

 

Entre Espelhos e Molduras

Tudo em tom quase vermelho

(Inclusive as velhas lâmpadas em quase neon)

Não sei falar quase pouco

(Mesmo ficando calado por vários séculos)

Era pedra? Ou era flor?

(Lápides quase certidões de nascimento)

Manhosamente está dormindo

(Numa cama de nuvens que faltam as asas)

Meus sapatos agora andam sós

(Não são cachimbos e nem entortaram bocas)

Letras agora são os grãos

(E na praça fazem moradia alguns miseráveis)

Eis a lucidez de molhados cabelos

(Cada gomo de cereja irá construir mais anéis)

É como uma crua massa de bolo

(As abelhas estudam para irem para a faculdade)

Nunca mais terei um sono algum

(Atravessei o Atlântico para comer as castanhas)

Qualquer cachaça barata vale

(Ela batuca nas panelas mais que desesperadamente)

Doem os dentes que não mais tenho

(E conto mais uma piada com um fim mais trágico)

A loucura perdeu a sua tenra idade

(E no canteiro de alfaces também crescem tesouras)

Era tão rico que comia até merda

(Me sinto uma formiga sob botas cheias de açúcar)

Toda uma geração já foi embora

(Os causídicos acabaram sequestrando os guaranás)

A arte virou um peru de Natal

(No velho mosteiro atiravam muitos tiros de carabina)

Até o Diabo agora tem vigílias

(E eu sou mais livre para escolher as minhas correntes)

Tudo agora vai se derretendo

(Mesmo quando entre espelhos e molduras nada sobrou)...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Nem Todo Delírio Delira

Nem todo delírio delira. Assim como nem tudo que parece ser normalidade é...

O tempo não acaba com nada, sob as camadas sucessivas de sujeiras, as cicatrizes continuam apontando o dedo para o réu. O mesmo riso sem graça continua lembrando o tombo mal dado que aconteceu na rua, em pleno dia, com tanta gente vendo...

Nem todo delírio delira. Do mesmo jeito que a maldade depois de se tornada padrão quer parecer boa...

Até a miséria tem lá sua riqueza, uma que ninguém quer roubar, ninguém sabe que ela existe. Como pobres humanos que somos, usamos palavras mais absurdas, nada nunca nos pertenceu e nunca nos pertencerá, eis a maior das verdades...

Nem todo delírio delira. Toda estética é escrota e vive pedindo esmolas para poder sobreviver...

Tudo caminha para seu oposto, cada contramão acaba sendo o único caminho. A morte é a única provida de lógica, a vida é um grande deboche, mesmo que seja a única que valha alguma coisa...

Nem todo delírio delira. A mudança é a palavra de ordem, a transformação vem escrita na bula...

Me deixem quieto neste meu canto, olhando o mundo e suas artimanhas mais idiotas. O que não vem agora, poderá demorar bem mais e aí mesmo é que eu não quero...

Nem todo delírio delira. Os loucos e os niilistas acabaram de passar com seu bloco tão animado...


(Extraído da obra "Teoria do Medo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Um Monstro Bem Criado

Deixou a carne, 

roeu os ossos...

Disse que estava certa,

estando totalmente errada...

Colocou no mundo

querendo parecer dádiva...

Até tragédias

geram outras mais...

Ensinou quase tudo,

menos o que é viver...

Agora divida os erros

e esqueça os acertos...

Fique nessa cama

simplesmente apodrecendo...

Olhe para os dias

até que eles também morram...

Ria de desespero

e diga que achou até graça...

Ele é um monstro bonito,

especialmente agora...

Um monstro que ama dinheiro

e não tem piedade...

Que aprendeu apanhando

e agora ensina batendo...

Que irá um dia ao inferno,

mas depois de você...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Matemática Urgente

Eu sim, eu não, eu nada, eu tão... Na vez passada escapei de rede Andei por todas as ruas tão sozinho Coloquei na alma o perfume da rosa Sem...