quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Bitter Dreams

Bitter dreams

O fundo do copo

O resto do prato

A desilusão que virá para não mais voltar

A cicatriz que vai ficar de vez em nossa pele...


Bitter dreams

A saliva seca

O olhar vago

A festa que acabou sem nem ter começado

A fogueira que se apagou com essa chuva...


Bitter dreams

A folha seca

A rosa morta

O ódio que se travestiu em amor por hábito

O beijo enjoativo com seu hálito mais bêbedo...


Bitter dreams

A saudade doída

O plano falho

A velhice que chegou da forma mais tristonha

A solidão que acaba sendo uma rota de fuga...


Bitter dreams

O show adiado

O parto arriscado

A janela que teve seu vidro quebrado com pedra

O despertar de uma manhã muito mais mal dormida...


Bitter dreams

O dano irreparável

A senha perdida

Os quatro tiros dados nas costas dela no jardim

O meu sonho que talvez seja apenas um pesadelo...


(Extraído do livro "Farol de Nulidades" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Paranoia Assintomática

Desejos disfarçados com qualquer lógica,

Lógica barata inserida em qualquer frase,

Frase aplaudida sem possuir motivo algum,

Motivo pra temer a morte que é inevitável,

Inevitável  coisa mais do que sempre natural,

Natural e histérica como multidão qualquer...


Qualquer invenção sobretudo a mais que barata,

Barata que é destruída com esse nosso tempo,

Tempo que nos traz apenas feias rugas de presente,

Presente invertido de troianos destruindo gregos,

Churrascos gregos vendidos em quaisquer esquinas,

Esquinas em que nos espera com a mesma violência...


Violência que nos espera com carnavalesca fantasia,

Fantasia de que nossa vitória inexistente será certa,

Certa ciranda que vai nos deixar mais que tontos,

Tontos com a droga que nós não sabemos se usamos,

Só usamos na mais precisa e desastrosa embriaguez

Embriaguez de tudo aquilo que há de forma inútil...


Inútil é todo aquele que só sabe viver junto ao medo,

O medo é apenas o que há de mais certo e inevitável,

Inevitável como nossas fiéis e traiçoeiras necessidades,

Necessidades construídas pela areia de qualquer ilusão,

Ilusão que não percebe que um dia tudo passará,

Passará como se fosse apenas mais aquele vento...


O vento estranho como qualquer macabro calafrio,

Calafrio que gera apenas os gritos mais que inúteis,

Inúteis é aquilo que também somos, apenas pacientes,

De um grande hospício que deve ser chamado de mundo,

Mundo feito apenas dos mais meros e paranoicos desejos,

Desejos disfarçados com qualquer inexistente lógica...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Aquela Casa Que Não Existe Mais (Miniconto)

Tem lugares que já passamos que continuam no mesmo lugar, estão lá, de pé. Mesmo que o tempo tenha maltratado, envelhecidos, assim como faz com as pessoas, ainda assim, estão lá. A casa que fui criado, por exemplo, depois de comprada, ninguém mais morou lá, mas continua existindo. Não sei como está, mas está lá. Mas aquela pequena, que existia no beco do beco, não. Como assim no beco do beco? Era assim, existia um beco na rua e depois do final, existia uma outra entrada, lá no final, para o lado direito e essa casa era a penúltima. Uma casa bem diferente, sabe? A fachada dela direta no beco, sem janela nem porta alguma, uma pequena entrada, que virando à esquerda dava pra outro corredor, com uma pequena varanda. Na varanda, a entrada da sala, a sala tinha uma janela antiga de madeira, caseira. Do lado direito, o único quarto com outra janela caseira. No lado esquerdo, a entrada pra cozinha que tinha um pequeno basculante para o corredor de entrada. Na cozinha uma pequena entrada que dava para um vão, onde havia o banheiro e uma outra saída para a varanda. Todas as portas também caseiras, menos o quarto, nele não havia porta alguma. Mas fomos felizes ali, sobretudo eu e mamãe, no tempo em que moramos sós. Depois que nos mudamos, fui até lá. A proprietária vendeu barato, poderíamos ter comprado. Quem comprou, colocou abaixo, uma pena, ela poderia continuar lá, mesmo não sendo mais ocupada. Tenho fotos do interior dela. Fomos tão felizes... 

Penguê-Penguá

Penguê-penguá 

espinha de peixe não dá pra fumar...

Fugi da escola

pra pedir esmola

ou fui jogar bola...


Penguê-penguá

matei o caboclo por um guaraná...

Cacei na cidade

fui pedir caridade

só achei maldade...


Penguê-penguá

pro lado de fora não dá pra entrar...

Comeu um chiclete

pagou um boquete

foi de patinete...


Penguê-penguá

quem tá duro não pode emprestar...

Fulano sicrano

é quase humano

debaixo do pano...


Penguê-penguá

aqui é daqui e de lá é de lá...

Fuma a bagana

essa semana

seu Zé Banana...


Penguê-penguá

se eu não paro não vou acabar...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Contenda de Perguntas e Respostas Entre O Ser e Um Espelho

- Toma cuidado, muito cuidado. Nem sempre me farás perguntas e quando eu responder, minhas respostas te trarão satisfação alguma...

- Como assim?

- Mau começo este teu, não questione meus métodos, fui feito para permanecer em silêncio, sendo este malvado ou não. Nada depende de mim, não sou eu que faço tua tristeza ou tua alegria. Notaste que fico no canto em que me deixaram e que o tempo também há de acabar comigo aos poucos?

-...

- Eu aos poucos apresento manchas que acabarão tirando minha nitidez, assim como todos os seres acabam trazendo suas rugas tanto de velhice quanto do gasto, sendo este necessário ou desnecessário...

- Mas porque isso acontece?

- Bela pergunta! Se não fosse tão óbvia e por esse motivo, tão idiota... Por acaso não observaste o começo de todas as coisas? Tudo começa a acontecer da melhor forma possível e depois... Ah, depois, meu pobre amigo, transforma-se no que chamamos de final... Olhe em torno, talvez entenda melhor...

- Me dê um exemplo, por favor...

- Um exemplo? Poderia te dar dezenas, centenas, milhares deles, milhões até, já que tudo nesta roda é parecido, mas nada é igual. Imagine só, um breve passeio neste seu bairro... Imaginou?

- Sim...

- Pois bem, imagine que está passando na porta do boteco da esquina e por um motivo que não importa, ele está agora lotado. Esqueça para isso, qual o dia da semana ou o horário, pouco importa para o que eu quero dar como exemplo...

- Está lotado...

- Imagina agora que estão todos bebendo...

-  Estão todos bebendo...

- A maioria, senão todos, estão bebendo algo de algum teor alcoólico.

- Alguns, ficarão embriagados, outros um pouco tontos...

- Exato! E enquanto isso, alguns também se envenenarão, complementando sua bebida com tabaco... Continuando o que eu pedi para que notasse, imagina que alguns são do gênero masculino e outros do feminino. Imaginou?

- Sim. Mas e aí?

- Aí que está, meu caro amigo, aí que está!

- Não entendi...

- Pois bem, veja só, é um boteco, um bar, uma birosca, um botequim, uma barraca, seja o nome que seja dado. O que estão fazendo?

- Bebendo...

- Isso é bom ou é mau?

- Creio eu que mau...

- Mau por que?

- Porque o mau geralmente não traz nenhum benefício à saúde...

- Concordo plenamente, concordo plenamente... Mas se não faz bem, por que estão bebendo? Por que estão gastando seu dinheiro (que sabe-se lá como obtiveram), seu tempo e sua saúde?

- Talvez por vício ou ainda, por outro motivo...

- Boa resposta, boa resposta... Mas não totalmente exata...

- ?

- O vício, na verdade, pouco importa. Veja bem, não estou defendendo ninguém pelo motivo de beberem, quero apenas mostrar o porquê pedi para imaginar tal local e circunstância.

- Prossiga.

- Então. Agora façamos o inverso...

- Como assim?

- Pois bem, o boteco não existe mais, a pequena multidão não há também. Agora existe cada ser, seja qual formos imaginar, chegaremos no mesmo ponto...

- Ainda não entendi...

- É simples, muito simples mesmo. Por exemplo, vou escolher um deles, aquele ali mesmo serve. Está bem?

- Pois não...

- Olha seus cabelos brancos, sua barba malfeita, sua roupa não muito nova e nem muito limpa, seus dentes um pouco cariados, suas unhas já pedindo para serem cortadas e sujas também...

- Continue...

- Seus chinelos já um pouco desgastados, sujos como o resto do conjunto. Talvez tenho no bolso um celular que comprou de segunda mão, para ser igual à maioria que existe por aí. De vez em quando ele entra nas redes sociais para rir daquilo que tem que rir, mesmo que não ache tanta graça assim...

- E...

- Agora observemos mais um pouco. Suas mãos cheias de calos, por conta da profissão que possui - é um pedreiro, por exemplo.

- Um pedreiro...

- Sua idade pouco importa, se sabe ler e o que leu até agora, não interessa. Não interessa para quem ele fará alguma obra, só interessa o que vai construir e se por isso alguém pagará um preço quase justo e se não será sacaneado por ele, o que alguns pedreiros acabam fazendo...

-...

-  Hoje ele é só isso - um pedreiro. Que mora numa casa em alguma rua deste bairro, desta cidade, deste estado, desta região, deste país. deste continente, deste planetinha.

-...

- Que possivelmente foi traído pela mulher ou por um irmão ou por um amigo. Que já sofreu como a maioria na mão de políticos safados, corruptos, ladrões. Que até agora teve que ir algumas vezes ao cemitério levar algum parente, amigo ou até um desconhecido... Que sabe que um dia chegará sua vez, mas mesmo assim nem gosta de falar nesse assunto...

- Aonde quer chegar?

- Aonde quero? Simples, muito simples... Ao inverso...

- Como assim, o inverso?

- Veja bem, o que eu pedi para que fosse imaginado, é certamente o final. Olhemos o começo. Ele, todos os seres humanos, apenas crianças, que começaram sendo amparadas, cada uma ao seu modo. Algumas em barracos, outras em casas comuns, em casas mais suntuosas ou até em palácios. mas amparadas. Chorando quando queriam alguma coisa, queriam comer, estavam sujas queriam dormir ou sentiam algo desagradável...

- Crianças...

- Sim, crianças, apenas isso, crianças, nada mais do que crianças... E o tempo foi então passando, a maldade, a tristeza, a solidão, todas essas coisas acabaram vindo. Umas viraram assassinos, outras ladrões, outras miseráveis, outras inúteis, outras putas, a ralé do mundo. Enquanto isso outras conseguiram algo menos ruim. E preste atenção: não melhor, apenas menos ruim...

-...

- Um dia todos irão embora, seres e coisas. Para onde? Os homens tentam responder isso. Mas quem realmente o saberá?

- Triste, mas verdadeiro...

- Ah! Agora entendeste o porquê não gosto de responder perguntas? Mesmo assim entendeste a minha resposta?

- Acho que sim...

- Então, faz logo o que vieste fazer. O dia já veio, eles nem sempre são amigos...

Alguns Poemetos Sem Nome N° 364 *

Todas as vezes que falo

acabo falando sozinho, é assim mesmo...

Espelhos não respondem, 

são tímidos demais...

Estrelas nem me olham,

elas têm mais o que fazer...

As nuvens também ficam caladas,

não gostam de dar respostas...

As ondas queriam me responder,

mas não ouviram a pergunta...

Todas as vezes que falo

acabo falando sozinho, é assim mesmo...


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O amor nos escolhe, 

Nós nunca o escolhemos...

Ele geralmente apronta tocaias

E acabamos feridos...

Aqueles que deram certo

Só são propagandas para nos enganar...


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Ainda guardo um bilhete

Em que você disse finalmente

Tudo o que deveria ter dito antes...

Pois é, acontece isso,

Você acabou indo embora

E que deixou escrito

Parecia com tiros na minha execução...


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É que eu perdi o medo,

Principalmente das coisas 

Que deveria ter bem mais...

De que adianta ter medo da escuridão?

Minha alma consegue ser mais do que ela...

De que adianta ter medo da tristeza?

Ela consegue ser mais alegre do que eu...

Por que tentar acabar com a solidão?

Faço dela uma companhia como qualquer outra...

É que eu perdi o medo,

Perdi até medo do medo...


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Em qualquer lugar do mundo,

Em qualquer,

Flores resistirão aos bombardeios,

Crianças brincarão mesmo entre destroços,

Suspiros serão dados por amores eternos,

Ideias novas acabarão surgindo,

Malvados fecharão os olhos para sempre,

Em qualquer lugar do mundo,

Em qualquer...


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Não tenho culpa, não temos culpa,

Mesmo sabendo não imaginamos

Qual será a hora exata que acontece...

Achamos que a mocidade ficará conosco

Enquanto fazemos algumas brincadeiras

De extremo e malvado mau-gosto

Até que chegue a nossa vez...

Eu tenho culpa, nós temos culpa...


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Toda a simplicidade acaba sendo complicada

Porque forçamos caminhos que inexistem...

Quem somos nós para inventar cores?

Toda a ternura acaba nos machucando

Porque queremos o que nem sempre há...

Quem pode mandar no amor que manda?

Toda luz acaba sendo a nossa cegueira

Porque nem sempre o dia acaba sendo bom...

Por que nos esquecemos que há noturnas aves?...

Nunca Saberemos (Miniconto)

Nunca saberemos, isso é bem certo. O tempo nos separou, querendo ou não. Eu daqui faço perguntas sem obter respostas, fecho os olhos e reclamo que o dia é mais uma noite. Tudo envelhece e a tristeza fica por nossa conta. Todos os velhos passaram por pontes que agora quebraram. Assim como os culpados um dia foram inocentes. Poderia ficar falando nomes (alguns inventados, outros não) até o final dos tempos, ou pelo menos, o final dos meus tempos... 

Bitter Dreams

Bitter dreams O fundo do copo O resto do prato A desilusão que virá para não mais voltar A cicatriz que vai ficar de vez em nossa pele... Bi...