sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Minimalismos 1 (Algumas Aldravias)

Desconheço

Pobreza

Como

A

Minha

É


...................................................................................


A

Noite

Acabou

Engolindo

O

Dia


...................................................................................


Temos

A

Vida

Temos

A

Morte


...................................................................................


Sem

Aviso

Que

Chega

Felicidade


...................................................................................


Vida

E

Morte

Nunca

Irão

Descansar

 

Entre Espelhos e Molduras

Tudo em tom quase vermelho

(Inclusive as velhas lâmpadas em quase neon)

Não sei falar quase pouco

(Mesmo ficando calado por vários séculos)

Era pedra? Ou era flor?

(Lápides quase certidões de nascimento)

Manhosamente está dormindo

(Numa cama de nuvens que faltam as asas)

Meus sapatos agora andam sós

(Não são cachimbos e nem entortaram bocas)

Letras agora são os grãos

(E na praça fazem moradia alguns miseráveis)

Eis a lucidez de molhados cabelos

(Cada gomo de cereja irá construir mais anéis)

É como uma crua massa de bolo

(As abelhas estudam para irem para a faculdade)

Nunca mais terei um sono algum

(Atravessei o Atlântico para comer as castanhas)

Qualquer cachaça barata vale

(Ela batuca nas panelas mais que desesperadamente)

Doem os dentes que não mais tenho

(E conto mais uma piada com um fim mais trágico)

A loucura perdeu a sua tenra idade

(E no canteiro de alfaces também crescem tesouras)

Era tão rico que comia até merda

(Me sinto uma formiga sob botas cheias de açúcar)

Toda uma geração já foi embora

(Os causídicos acabaram sequestrando os guaranás)

A arte virou um peru de Natal

(No velho mosteiro atiravam muitos tiros de carabina)

Até o Diabo agora tem vigílias

(E eu sou mais livre para escolher as minhas correntes)

Tudo agora vai se derretendo

(Mesmo quando entre espelhos e molduras nada sobrou)...


(Extraído da obra "O Livro do Insólito e do Absurdo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Nem Todo Delírio Delira

Nem todo delírio delira. Assim como nem tudo que parece ser normalidade é...

O tempo não acaba com nada, sob as camadas sucessivas de sujeiras, as cicatrizes continuam apontando o dedo para o réu. O mesmo riso sem graça continua lembrando o tombo mal dado que aconteceu na rua, em pleno dia, com tanta gente vendo...

Nem todo delírio delira. Do mesmo jeito que a maldade depois de se tornada padrão quer parecer boa...

Até a miséria tem lá sua riqueza, uma que ninguém quer roubar, ninguém sabe que ela existe. Como pobres humanos que somos, usamos palavras mais absurdas, nada nunca nos pertenceu e nunca nos pertencerá, eis a maior das verdades...

Nem todo delírio delira. Toda estética é escrota e vive pedindo esmolas para poder sobreviver...

Tudo caminha para seu oposto, cada contramão acaba sendo o único caminho. A morte é a única provida de lógica, a vida é um grande deboche, mesmo que seja a única que valha alguma coisa...

Nem todo delírio delira. A mudança é a palavra de ordem, a transformação vem escrita na bula...

Me deixem quieto neste meu canto, olhando o mundo e suas artimanhas mais idiotas. O que não vem agora, poderá demorar bem mais e aí mesmo é que eu não quero...

Nem todo delírio delira. Os loucos e os niilistas acabaram de passar com seu bloco tão animado...


(Extraído da obra "Teoria do Medo" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Um Monstro Bem Criado

Deixou a carne, 

roeu os ossos...

Disse que estava certa,

estando totalmente errada...

Colocou no mundo

querendo parecer dádiva...

Até tragédias

geram outras mais...

Ensinou quase tudo,

menos o que é viver...

Agora divida os erros

e esqueça os acertos...

Fique nessa cama

simplesmente apodrecendo...

Olhe para os dias

até que eles também morram...

Ria de desespero

e diga que achou até graça...

Ele é um monstro bonito,

especialmente agora...

Um monstro que ama dinheiro

e não tem piedade...

Que aprendeu apanhando

e agora ensina batendo...

Que irá um dia ao inferno,

mas depois de você...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Cada Um É Um Mundo

Cada um é um mundo

Um grão de poeira

O universo inteiro


O time que torce

A comida que gosta

A roupa que veste


Cada um é uma sina

Aquilo que tem demais

Aquilo que não tem nada


A merda que faz

Os livros que leu

Ou o que nunca fez


Cada um é um desenho

Um desenho bem feito

Ou um papel no lixo


O tempo que respirou

O remédio que fez mal

Ou o caso perdido


Cada um é uma piada

Um viral na internet

Ou uma lápide apagada


O que matou mais de um

O que mijou perna abaixo

Ou que fingiu nem ver


Cada um é um enigma

Uma pergunta esquecida

E aquele caso encerrado...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Todo Tempo

 

Todo tempo, tempo nenhum...

Vamos correr apressados

Para algum ponto de nós mesmos

Antes que os espelhos nos devorem

E as sobras sejam jogadas fora...


Todo tempo, tempo nenhum...

Uma sobra do ourives sumiu

E para nosso mais calmo desespero

A culpa sempre será a nossa

E de mais ninguém por isso...


Todo tempo, tempo nenhum...

Uma canção já é o bastante

Para a voz que há nesta garganta

Assim como todos os rios

Possuem uma mesma água só...


Todo tempo, tempo nenhum...

Um vento apenas e suas notícias

Algumas boas e outras nem tanto

Ele é como fosse um carteiro

E traz o que lhe mandaram trazer...


Todo tempo, tempo nenhum...

Um tempo, tempo nenhum...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Céu para Os Cães (Miniconto)

Deve existir um céu para os cães. Para os homens, isso eu não sei. Poucos merecem isso, então por que fazer um espaço tão grande pra tão pouca gente? Mas para os cães tenho certeza, ah, isso eu tenho. Tia Ruth deu você pra mim, não me lembro se era filhote da Lambreta, mas foi ela que me deu, isso é quase certo. Papai lhe deu o nome de Lassie, apesar de ser uma cadela, coitado, ele pensou que era um cão e lhe deu, apesar de ser mestiço, parecia mais com um pastor alemão, deveria ter sido Rim-Tim-Tim, mas não foi. Você foi um dos únicos amigos meus de infância. Nunca me machucou, não zombou da minha cara, sempre que eu queria me agradava e brincava comigo. Nunca me pediu nada em troca, só carinho, atenção e um pouco de comida, já que naquele tempo nem se vendia ração para cães nas lojas, pelo menos nas daqui e um simples lugar pra se abrigar. Pena que papai teve aquela ideia idiota de lhe colocar numa corrente passeando por cima do muro da dona Amália que no nosso lado era mais baixo. Fomos para São Gonçalo passar uns dias e quando chegamos você tinha pulado pro outro lado e acabou enforcado por uns poucos centímetros. Ser humanos só fazem merda mesmo. Eu me lembro que chorei muito, hábito que não perdi até hoje, mesmo passados mais de meio século. Você deve estar bem, muito bem, lá em cima. Quem sabe me deixam ficar pelo menos na porta pra poder lhe ver um pouco? Chorei novamente ao escrever isso...    

Minimalismos 1 (Algumas Aldravias)

Desconheço Pobreza Como A Minha É ................................................................................... A Noite Acabou Engolin...