sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ser peixes. Temos abismos de variados tamanhos com alguns de poucos centímetros. E o pequeno poderia ter sido maior do que o mundo. A morte é apenas uma continuação da história em outro volume...


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Esperemos o bom resultado, mesmo que ele não venha, faz parte da nossa luta. Esperemos a ternura chegando, mesmo que ela demore demais, cansaço também faz parta do jogo. Esperemos o sonho batendo na porta, mesmo que o medo nos aflija, até a covardia pode ser uma forma de coragem. Esperemos que a chuva caia, mesmo quando isso signifique frio, apagar o fogo das florestas depende dela...


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Cela sem porta é onde estamos presos. Pena sem data prevista de término. Assim estamos. Máscaras sem disfarçar nada. Doença sem apresentar sintomas. Assim estamos. Céu sem altura alguma. Abismo sem profundidade. Assim estamos. Ternura desprovida de qualquer carinho. Medo que nos leva adiante. Assim estamos. Loucura sem sinal evidente. Tolice travestida de sanidade. Assim somos...


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Não há valsa triste, desculpe-me poeta. Os instrumentos estão calados, eu nem quero saber mais de choro. Rir sim. Por que não? Molhar o rosto? Nunca mais... Talvez molhe com alguma chuva que me pegou de surpresa no meio da rua. Iminente susto, só isso. Nessa hora, talvez eu abra as velhas asas e saia voando sem destino certo...


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Mil poemas eu fiz... Não sei se por necessidade, por hábito ou vício. Olho as paredes como um detetive, talvez descubra uma história mais bonita do que a minha. Vejo as juras que as árvores sofreram, sofreram sorrindo, a dor do amor até compensa. Dispensarei apenas ler as lápides, a minha um dia bastará. Mil poemas eu fiz... Ou até mais...


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A poesia é uma grande intrometida, é sim! E se disfarça com vários nomes. Se mete nas prescrições  dos médicos, aí ela se chama - esperança. Faz parte dos discursos inflamados dos políticos honestos, seu nome é outro - solidariedade. Entra nas receitas de bolo que as mães herdaram das avós, recebendo outro nome - ternura. Se esconde nos risos e nas falas das crianças brincando, podemos então chamá-la - inocência. E ainda, no grito do soldado ferido mortalmente no front, com o nome de - despedida... A poesia é uma grande intrometida, é sim! Um velho camaleão que adora brincar...


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Nada mais velho do que o novo. Acabaram de inventar o que já havia antes. A crueldade ainda continua andando sobre a terra. A paz esqueceu de pousar sobre nossas cabeças. Os rios continuam pois é a sua tarefa até secarem. Pelo mesmo motivo, os poetas nunca descansam...

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Mando e Desmando

Mando e desmando

Faço e não faço

Estou dançando

Em pleno espaço...


Acabou o suco

Quem poderá nos salvar?


Rindo e não rindo

Faço e não faço

Estou caindo

Em pleno espaço...


Meu cão latiu

Quem estará chegando?


Corro e não corro

Faço e não faço

Subindo o morro

Em pleno espaço...


O pirilampo voou

Quem agora é o sol?


Choro e não choro

Faço e não faço

O papel não decoro

Em pleno espaço...


Com tantos desmandos

O que a vida quer de mim?...


(Extraído do livro "O Espelho de Narciso" de autoria de Carlinhos de Almeida).

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Alguns Poemetos Sem Nome N° 321

Monto teu corpo pedaço à pedaço

Como um menino monta um quebra-cabeças

Componho todos os teus nuances

Como um paisagista que acordou inspirado

Escolho tuas cores uma à uma

Qual um pintor com a mais infinita alegria

De minha alma sairás suave ou não

Como um escultor que enxerga o amanhã

Como um cantor que solta a voz

Mesmo quando ninguém o escute

É isto que consigo fazer agora e sempre

Mesmo quando a obra sejam versos...


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Sem sombra de dúvida

Sem mero acaso

Não há passeio algum

Para esta jornada

Chamada vida

Aqui estamos todos

Sem nenhuma exceção

Para darmos o melhor

Mesmo quando o preço

Seja - a morte...


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Eu sou o fantasma do que era

Com minhas angústias e aflições

Eu sou a madrugada fria

Em que o silêncio dá mais medo

Eu sou o medo de cada guerra

Que cada manchete anunciou

O tombo e o riso e a maldade

Que acaba sendo tal cotidiano...


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Era uma hora qualquer...

E as nuvens assim gritavam

Querendo anunciar a chuva

Que certamente cairia...

Era uma hora qualquer...

E o luto quase festejava

Porque repetia lições

Que teimávamos não aprender...

Era uma hora qualquer...


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- Não insista! - Gritei para mim mesmo

Enquanto meus pés iam sangrando

Caminhando atrás do arisco amor...

- Pare, seu idiota! - Avisei zangado

Para o desejo teimoso e arriscado

Que ia ignorando todo o abismo...

- Vá rindo, bobão! - Falou o espelho

Enquanto ia mirando o meu rosto

Esperando mais um dia ir morrendo...


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Espero asas, senhor, espero asas!

Como quem não sabe a rota de fuga

Mas que tanto necessita dela!

Espero sonhos, senhor, espero sonhos!

Igualzinho quem sonha mesmo acordado

Pois sem sonhos não se pode viver!

Espero amores, senhor, espero amores!

Pois sem amores serei apenas arremedo

Daquilo que nunca quis realmente ser!

Espero asas, senhor, espero asas!

Como quem já ganhou todos os céus

Mas ainda precisa ir buscá-los!...


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Vou me perdoar pelos erros que cometi,

Cada um dos que fiz foi com a intenção de acertar.

Vou esquecer todos os amores que não tive,

O amor nunca acaba, só se transforma.

Vou desprezar cada nova ruga que aparece,

São como os passos por essa longa estrada.

Vou tentar dançar mesmo sem saber os passos,

Quem sabe uma hora eu acabo acertando?

sábado, 23 de novembro de 2024

Momo Sapiens


Pensa que sabe, mas não sabe

Pensa que quer, mas não quer

Pensa que tem, mas não tem


Poesia sem qualquer graça

De dedos sujos na tela...


Acha que é rei, mas é escravo

Acha que é feliz, mas é triste

Acha que é esperto, mas é otário


Mosca pousando na merda

E depois na comida...


Se sente bonito, mas é tosco

Se sente bom, mas é malvado

Se sente o campeão, mas é perdedor


Anomalia que se espalha

Destruindo tudo que vê...


Morre de fome, mas desfila

Morre de inveja, mas é enganado

Morre de sono, mas não dorme


Carnaval provido de pleno luto

Morte desfilando na avenida...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 320

Mistura de misturas misturada

Eis a cabeça do poeta entrenuvens

Não tem sossego em hora alguma

Não tem paz em nenhuma entrerua

As palavras lhe abordam

E os sonhos sussurram aos seus ouvidos


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Se perguntarem por mim diga que não sabe

Se indagarem se tem me visto fale que não

Que não sabe de nada e não me vê faz tempo

Que até ia perguntar pela mesma coisa

É que eu ando meio que distraído

Fugindo da maldade dos homens

E brincando no meio das nuvens...


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Eu nunca fui rio.

Eu nunca fui mar.

Eu nunca fui céu.

Tudo que escrevo tem a pequenez

Das pobres pedras vadias

Que percorrem o mundo

(Suas ruas)

Mesmo quando este

Não é nada demais...


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Filosofia cheia de incertezas

Fórmulas milagrosas do nada

Esmoleres de apertos de botões

Nada ensina o imprevisível

Disfarçar a realidade não adianta

Só o tempo sabe o que diz...


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Todos os dias acabam implorando para serem diferentes, mas acabam sendo tão iguais. Com seu começo mais ou menos enganoso, fazendo promessas que nem sempre cumprem. Preparando planos que acabarão falhando. Carros andam na rua e não sabemos se a máquina apenas obedece ou quem as conduz. Toda tragédia tem sua data, não há um dia que estas falhem. Frio ou quente, tanto faz, o tempo não se importa com isso. Os coveiros trabalham cansativamente, mas trabalham. Copos serão enchidos e vazios em sua rotina. Todos os dias acabam implorando para não serem tolos, mas os homens é que são...


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Todo perto acaba sendo longe demais para essas pernas que um dia me obedeceram, mas hoje teimam que não. Agora não conheço mais os passos na areia da praia que tanto gostava, nem da feira do bairro com sua confusão que apreciava. Tudo continua existindo, certamente que sim, mas talvez eu não e nem me dei conta disso...


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Escolho as palavras dos versos que talvez nem sejam lidos, isto perdeu sua importância. Os poetas não conseguem engolir as palavras, acontece o milagre e elas acabam indo se transformar os versos. E os versos são mais eternos do que se possa pensar...

Tempus Viatoribus

 

Não saber

que não sabe

que não sabe...


Uma canção estranha

Uma febre tamanha

Uma grande façanha...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


Numa triste calçada

Numa torpe caçada

Numa bruta cilada...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


Eis a tal selva urbana

Eis a tal fúria humana

Eis a tal febre insana...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


O carro está quebrado

O destino está traçado

O recado já está dado...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


Viajo o tempo inteiro

Janeiro após janeiro

Esperando o fevereiro...


Não saber

que não sabe

que não sabe...


(Extraído do livro "Pane Na Casa das Máquinas" de autoria de Carlinhos de Almeida).

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Cuscuz Na Farinha

É, é, é cuscuz na farinha

Raça humana - erva daninha

Vou comer churrasco grego

Pra despachar meu carrego

Vou vender salgado velho

Assim desse jeito eu avermelho

Cadê aquela minha muda?

Ah, ontem foi deus-nos-acuda...


É, é, é cuscuz na farinha

O melhor refrigerante - coxinha

Só bebo água se for pelo nariz

Vai rolar um pagode lá na Matriz

É desgosto ao gosto do freguês

Tomar banho só uma vez por mês

Cadê o toucinho que tava aqui?

Foi dar um passeio de javali...


É, é, é cuscuz na farinha

Agora o Apocalipse - é fichinha

Só queremos o que não queremos

Ficou o barco quebraram os remos

Foram-se os dedos ficaram os anéis

Vamos lotear o céu para os fiéis

É o rato que corre atrás do gato?

Seja inteligente pra comer mato...


É, é, é cuscuz na farinha

Raça humana - erva daninha...


(Extraído do livro "Maluqueci de Vez" de autoria de Carlinhos de Almeida).

Alguns Poemetos Sem Nome N° 322

O amanhã é o hoje com requintes de ontem. Todo amor acaba sentindo raiva de si mesmo. Os pássaros acabam invejando as serpentes que queriam ...